Loe raamatut: «Razão Para Matar », lehekülg 15

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CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Avery acordou em uma cama de hospital, com uma tosse muito seca e dolorida. Tudo doía em seu corpo, como se ela tivera todo seu sangue retirado e substituído por algum tóxico pesado. Havia uma bolsa de soro ligada a seu braço. O monitor de batimentos apitava em algum lugar fora de seu campo de visão.

O quarto estava cheio de balões e flores.

Em uma cadeira a seu lado, caindo de sono, estava Ramirez. Ele estava relaxado e perfeitamente arrumado, como no dia em que eles se conheceram. Usava um terno azul brilhante; a camisa branca destacava sua cor morena e seus cabelos negros, penteados para trás.

Uma enfermeira entrou no quarto.

- Você está acordada - ela notou, surpresa.

Avery abriu a boca.

- Não tente fala ainda - a enfermeira disse. – Vou ligar para o médico. Você deve estar com fome. Deixe-me ver o que eu posso trazer.

Ramirez acordou e bocejou.

- Black - ele sorriu. – Bem-vinda de volta ao mundo dos vivos.

Avery sussurrou uma pergunta muito dolorosa.

- Como?

- Três dias - ele disse. – Você esteve desacordada três dias. Cara, que loucura. Tenho que te contar. Você está no Hospital Geral de Watertown. Você está bem? Quer descansar mais? Ou quer que eu fale?

Avery nunca havia se sentido tão vulnerável na vida. Ela estava deitada em uma cama de hospital, praticamente sem poder se mexer, e além disso quase não conseguia falar.

Ela assentiu e fechou os olhos.

- Fale.

- Bem, você é louca, Avery Black. Pelo menos alguém te deu a boa ideia de me ligar e ligar para a emergência quando você estava na casa. Agora, se você tivesse esperado, talvez você não estaria aqui hoje. Mas vamos deixar isso para outra hora.

- Você pegou ele - Ramirez disse.

Ela conseguiu sorrir.

- Três tiros, todos certeiros. Um na cintura, um no coração e o último na cabeça. Está morto. Sem mais garotas para ele. Você tem sorte de estar viva - ele sussurrou. – Você sabia? Ele te acertou com algo muito forte. Paralisa o corpo por quase seis horas e lentamente te destrói até a morte. Os médicos nunca viram nada parecido, mas eles conseguiram criar um antídoto a partir da seringa que ele usou. Mesmo assim, o negócio ficou no seu corpo um tempo.

Ela olhou para as flores e os balões.

- Você teve muitas visitas - ele disse. – O capitão veio, Connelly também. Até Finley. Não foi tão difícil pra eles, na verdade. Todos eles me seguiram até a casa.

Ela o olhou.

Ele sorriu.

- Você pode ser louca - ele disse, - mas eu não. Eu liguei para o Connelly assim que você desligou o telefone. Eu precisava de reforço.

Avery olhou para ele, curiosa. Seus olhos castanho-escuros, geralmente brincalhões e curiosos, a olhavam com entusiasmo e cuidado, como se pudessem oferecer mais.

- E você? – Ela perguntou.

O rosto de Ramirez ficou vermelho.

- Bem - ele murmurou e tentou encontrar as palavras certas. – Eu estou aqui faz um tempo, é verdade. Só queria ter certeza que minha parceira estava bem. Além disso, eu ainda tenho que descansar pelo machucado, certo? Então, pensei: por que não fazer isso aqui? Eu me sinto um pouco sozinho no apartamento, sabe? Enfim, estou feliz por você estar bem - ele disse, envergonhado quando os dois se olharam. – Vou te deixar sozinha. O médico diz que você ainda precisa descansar.

- Não - ela sussurrou.

Suavemente, ela pegou na mão dele.

Ramirez entrelaçou seus dedos nos dela e os segurou com força.

CAPÍTULO TRINTA E SETE

Quando a notícia de que Avery estava viva e bem se espalhou, a lista de visitantes cresceu. Finley veio à tarde, junto com o Capitão O’Malley e Connelly, que ficou na porta com a cabeça baixa.

- Maluco. - O’Malley disse. – Tinha um jardim inteiro no porão, no lado oposto ao quarto ‘médico’. O cara criava todo tipo de planta alucinógena que você pode imaginar. Tinha alguns papeis com contatos por lá também, vamos começar a ir atrás disso imediatamente. Excelente trabalho, Avery.

- Descobrimos tudo sobre os corpos, também - Connelly entrou na conversa. – Ele devia amar As Três Graças, da mitologia grega. Eram seguidoras da deusa Vênus: três jovens que adoravam a beleza. Achamos que por isso ele as deixava daquele jeito depois de matar. Tinha um monte de desenhos pela casa.

Finley continuou mexendo nos presentes colocados na soleira da janela.

- Cacete - ele disse, - o prefeito te mandou flores? Nunca ganhei nada do prefeito. Aposto que se você tivesse ligado para mim pedindo ajuda, o prefeito teria me mandado flores também. Ramirez o cacete! Eu era seu parceiro. Eu!

O’Malley virou seu rosto para Avery.

- Nós vamos falar sobre sua falta de protocolo quando você estiver pronta. Por enquanto, descanse e melhore.

* * *

Randy Johnson visitou Avery mais tarde, naquela noite. A pequena e corajosa analista de perícia tinha um dreadlock no cabelo. Ela vestia um vestido vermelho de bolinhas e trouxe flores e um jornal. Avery tinha acabado de jantar e estava muito cansada.

- Ei, menina! – Randy disse. – Fiquei sabendo que você acordou.

Avery tentou sorrir

- Não tente falar. Não tente falar - Randy insistiu. – Eu sei que você teve um dia cheio. Só vim para ter certeza que minha garota estava viva e bem - ela abriu bem os olhos, - e para fofocar!

Ela sentou ao lado de Avery.

- Primeiro, eu acho que Dylan Connelly realmente sente algo por você. Sem brincadeira. Ele veio algumas vezes para saber do caso e duas vezes perguntou por você. Na primeira vez foi tipo ‘Ei, você já foi visitar a Black?’ Totalmente casual e tal. A segunda foi hoje. Ele falou ‘Como está a Black?’ Esse cara nunca tinha falado comigo algo que não fosse sobre o caso. Sério. Ele pode ser um brinquedinho se você quiser.

Avery fez uma expressão de desaprovação.

- Sim, ele não é para você - Randy disse, - mas Ramirez? Ele sim! Pegue esse cara, menina. Ele salvou sua vida!

Ela sorriu, mas logo voltou a ficar séria.

- Podemos falar desse assassino? Ou é muito cedo?

Avery fez um sinal de positivo.

- Trinta e seis gatos - Randy disse, sem acreditar. – Trinta e seis! Quem tem trinta e seis gatos? E três cachorros! E você quer saber o que é mais louco ainda? Todos eram fêmeas. Nenhum macho entre elas. E todas aquelas fotos na parede do porão? Não sei se você lembra, mas ele tinha fotos nojentas de todos esses gatos e cachorros que ele matou, e cada foto mostrava um estágio diferente do processo para empalhar os bichos, sabia? Todas fêmeas. Esse maluco tinha um clube próprio de menininhas. O Connelly disse que isso tem a ver com a mitologia romana, Afrodite e tal, mas eu acho que o cara só era maluco mesmo.

Um som saiu dos lábios de Avery.

Ela limpou a garganta e se esforçou para falar uma única palavra.

- Família?

- Se ele tinha parentes? – Randy perguntou para confirma. – É isso o que você quer saber? Sim! Aquele cara que se matou era tio dele. Pensei que você soubesse. Está tudo aqui no jornal - ela disse. – Tio contratou o assassino há aproximadamente um ano. O assassino conheceu todas as garotas através do trabalho. Encontrou todas elas quando vieram até o escritório.

Ela colocou o jornal no peito de Avery.

A manchete dizia “Assassino de universitárias capturado”, com uma foto de um dos crimes. Uma retranca menor dizia “Advogada desacreditada que se tornou policial está em estado crítico”, com um artigo sobre como ela havia deixado a cena de um crime viável para encontrar o real assassino.

- Você é uma heroína! – Randy comemorou.

Era difícil para Avery pensar em si mesma como uma heroína ou algo do tipo. Sua mente estava muito confusa para focar em algo por muito tempo, e seu corpo seguia paralisado, com dificuldade para se movimentar.

Heroína. Não era o que ela queria. Nunca foi o que ela queria. Ela só queria fazer a coisa certa, acabar com esse tipo de cara pra sempre.

Para se redimir, ela se deu conta. Para se redimir de algo que na verdade ela nunca conseguiria.

Ela sentiu os olhos pesados, e com tanto sono, era difícil para ela acreditar que poderia um dia voltar a caminhar.

CAPÍTULO TRINTA E OITO

Na manhã de quinta, surpreendentemente, Avery acordou alerta e bem melhor fisicamente. Ela conseguia mover os braços com facilidade, sentar-se sozinha e pensar com clareza. Uma conversa rápida com a enfermeira da manhã confirmou que os músculos de sua garganta já estavam mais fortes.

Era difícil lembrar do que aconteceu na casa. Ela conseguia ver os cachorros, todos os gatos, e as paredes estranhas do porão, feitas de madeira e com quadros por todos os lados. Havia inclusive uma imagem assustadora de Edwin Pesh com seus dois olhos brilhando, pulando de um lado a outro do quarto. Como ela tinha conseguido sobreviver? Ela só lembrava do sussurro e do rosto de Ramirez.

A porta se abriu, e Avery olhou assustada. Seu coração disparou de repente: Rose entrou no quarto.

- Mãe! – Ela chorou e abraçou Black com força. – Eu estava tão preocupada!

Avery fechou os olhos e abraçou sua filha com a mesma força. Lágrimas caíram em seu rosto, enquanto o abraço apertado aqueceu seu coração.

Avery lembrou-se daquele almoço triste e da mensagem que havia deixado para Rose antes de estupidamente entrar sozinha na casa do assassino.

Ela voltou, pensou. Minha Rose voltou para mim.

Momentos depois, Rose a soltou e disse:

- Eu liguei para todo mundo. Não tinha ideia de onde você estava. Ninguém me dizia nada. Finalmente, o seu capitão me ligou e me disse que você estava aqui e acordada. Eu vim assim que pude.

Avery sorriu, quase sem poder falar em meio as lágrimas.

- Mãe, eu estava mal pela maneira em que nós deixamos as coisas. Desculpe. A semana inteira, tudo que eu pensava era: se minha mãe morrer, eu vou ter que conviver com o que eu fiz pelo resto da vista. Desculpe. Eu só…

Lágrimas caiam pelo rosto de Avery.

- A culpa é minha - ela disse. – Não se culpe, Rose. Eu sou a culpada. Eu sou sua mãe, e eu prometo fazer a coisa certa.

As duas choraram e se deram as mãos. Avery sentiu todo o peso que havia estado em suas costas todos aqueles anos irem embora aos poucos. Isso, ela percebeu, era o que realmente estava a reconstruindo. Mais do que pegar qualquer assassino.

Elas conversaram muito, como nos velhos tempos, e não soltaram as mãos por horas. Finalmente, Avery sentiu, era hora de voltar a viver.

* * *

Ramirez voltou a aparecer perto do almoço. Ele parecia mais relaxado, em uma calça jeans e camiseta rosa de botão, com tênis brancos.

- Ei, Avery - ele disse como se morasse ali. – Eu trouxe almoço - e levantou uma cesta de piquenique. – Espero que eu não esteja sendo muito chato, mas minha mãe sempre disse que o caminho para o coração de uma mulher é através do estômago.

- Você está tentando chegar no meu coração? – Avery perguntou.

- Você sabe - ele disse sem a olhar nos olhos. - Você salvou minha vida. Você é minha parceira. Eu salvei sua vida.

Ele a olhou.

Os olhos castanhos buscaram os sentimentos mais íntimos dela.

- Se você não quiser que eu fique - ele acrescentou e abriu a cesta cheia de frango frito, cerejas e refrigerante, - acho que eu poderia simplesmente ir para casa.

Avery sorriu.

Durante os tempos difíceis em sua vida, ela havia sempre procurado a companhia de homens como Ramirez. Não, ela se deu conta. Não exatamente como ele. Os outros caras estavam sempre se esquivando, jogadores, mais interessados em um caso de uma noite do que em uma relação de verdade. Mas Ramirez, ela pensou, Ele é querido. E fofo. E parece mesmo se importar.

Ele é seu parceiro! Sua mente respondeu.

E daí? Black pensou. Essa é a nova Avery, e a nova Avery pode fazer o que quiser.

- Fique - ela disse com um sorriso malicioso. – Eu amo almoçar.

CAPÍTULO TRINTA E NOVE

Avery recebeu alta na sexta-feira.

Ramirez a buscou e a levou até seu carro, que estava estacionado a meia quadra da casa do assassino. Quando passaram em frente ao local, Avery olhou profundamente.

- Você está bem? – Ramirez disse. – Não te assusta isso?

- Estou bem - ela respondeu.

Ela não se sentia bem, e sim mais do que bem.

Tudo na vida dela parecida diferente agora, para melhor. Ela tinha planos de voltar a ver Rose logo. Ramirez havia feito companhia todos os dias no hospital. Os cartões que ela recebeu no quarto do hospital haviam ajudado também. Muitas pessoas haviam enviado desejos de melhoras, fazendo com que ela percebesse que, mesmo quando havia se sentido sozinha nos últimos três anos, ela não havia estado de fato sozinha.

Avery saiu do carro e sorriu para Ramirez.

- Bem - ela disse, - eu fico por aqui. Obrigada por tudo.

- Você vai voltar para o escritório?

- Sim.

- Você quer que eu vá junto?

- Não, está tudo bem. Aproveite seu descanso. Tenho certeza que vou ter que te colocar em outra situação de vida ou morte logo, logo.

Ramirez deu um sorriso vitorioso.

- Espero que sim.

O caminho até o escritório foi extremamente emocionante para Avery. Excitação e medo se misturaram em seus pensamentos. Mesmo tendo resolvido o caso, ela havia passado dos limites algumas vezes: ignorando ordem diretas do comandante e deixando a cena de um crime para ir atrás de seu instinto sobre Edwin Pesh.

Vai ficar tudo bem, pensou. Você pegou ele.

Na garagem da polícia, agentes a olharam, levantando os dedos e os punhos quando ela passou.

- Mandou bem, Black! - Alguém gritou.

O elevador para o segundo andar ficava logo após a garagem, dentro do piso térreo do A1. Quando Avery apareceu, metade dos agentes bateram palmas. Alguns a ignoraram e seguiram trabalhando, outros fizeram caras neutras, como se fossem forçados a concordar com seus companheiros mais animados. Para a maioria deles, no entanto, Avery deveria ser celebrada.

Ela levantou a mão humildemente, abaixando o olhar.

- Obrigada.

No segundo andar, a recepção foi ainda mais forte. Por pelo menos um minuto, todos no Esquadrão de Homicídios pararam para pode aplaudir.

- Assassinos que se cuidem! – Alguém gritou.

- Você pegou ele, Black!

- É bom ter você de volta!

Finley foi em sua direção. Relutante para encostar ou dar a Black uma congratulação muito física em frente aos outros, ele deu um leve tapa nas costas dela e apontou para seu rosto.

- Aí está minha parceira - ele disse. – Vocês viram? Nós resolvemos crimes! Esses assassinos de merda não têm chance com Black e Finley juntos.

- Voltem para o trabalho - O’Malley ordenou da porta de sua sala. – Black, no meu escritório.

Connelly a olhou de sua mesa. Ele acenou brevemente, com uma cara feia, antes de voltar a trabalhar. Para Avery, parecia que ele estava apenas mexendo em qualquer papel apenas para parecer ocupado. Ela manteve o olhar nele. Depois de alguns segundos, como ela esperava, ele voltou a olhar. Irritado por ter sido flagrado, ele resmungou e saiu caminhando.

- Feche a porta - O’Malley disse. - Sente-se.

Avery fechou a porta e se sentou.

- É bom ter você de volta - ele disse desviando o olhar. – Como você está?

- Estou melhor. Obrigada.

- Como eu disse no hospital, temos algumas questões para resolver. Vamos começar por isso aqui.

Ele leu algo em um pedaço de papel.

- Por que você abandonou a cena do crime na casa do Villasco?

- Ele não era o assassino - ela respondeu.

- Como você sabia disso? – Ele perguntou e olhou, curioso. – O cara deu um tiro na própria cabeça. Trabalhava na Devante. Fim de caso.

Avery franziu a testa.

- Não parecia para mim. Ele disse algo sobre família. Não consigo lembrar exatamente, mas parecia que ele estava acobertando alguém. Não havia minivan na casa, nem um quarto para taxidermia. Ele parecia sozinho e com medo. Isso estava me incomodando. Eu não podia deixar passar, e na lista que o McGonagle me deu, eu tinha mais um nome para checar.

- Como Edwin Pesh se tornou suspeito?

- Ele morava em Watertown. Fazia sentido que o assassino morasse em Watertown ou Belmont, devido a direção que o carro dele tomou depois do Lederman Park e de Cambridge.

- Então você abandonou seu parceiro e a cena do crime por causa de um pressentimento e foi para Watertown sozinha.

- Não era minha intenção.

- Espera aí, não agora. Primeiro responda a pergunta.

- Sim, foi isso.

- Por que você ligou para o Ramirez? Ele não está trabalhando. E a emergência?

- Assim que eu vi a minivan eu liguei para o Dan. Eu vi que precisava de ajuda. A ligação para a emergência foi de dentro da casa. Eu estava assustada com os animais.

- Por que não ligou para Connelly ou Thompson? Ou até Finley. Todos eles eram da sua equipe.

Avery levantou o olhar.

- Sinceramente? Eu não sabia se podia cofiar neles.

- Então você decidiu confiar em um cara que estava se recuperando de uma facada? Não foi uma boa, Avery. Deu certo. Ramirez foi esperto o suficiente para chamar reforço, mas eu esperava mais de alguém que eu acabei de promover a detetive líder. Eles são seus colegas de equipe agora e você tem que aprender a trabalhar em equipe.

Quando Avery era advogada, era cada um por si. Mesmo quando ela era designada para trabalhar com outros advogados em um grupo de pesquisa, cada um tentava fazer melhor que o outro para se sair bem com o chefe. Aquela havia sido uma experiência letal, sem alma, e Black havia carregado consigo essa experiência para o A1.

- Eu posso melhorar - ela disse.

- Bom, ninguém te recebeu muito bem desde que você começou aqui em cima, eu sei. E até você dar conta sozinha dos West Side Killers, você era totalmente persona non grata no andar de baixo também, sabia? As coisas mudaram agora, Avery. Você acabou de resolver um caso público enorme.

- Vou voltar para o Esquadrão? – Ela perguntou.

O’Malley levantou as sobrancelhas.

- ‘Vou voltar para o Esquadrão?’ Sério? Você ignora minhas ordens para ficar fora do caso. Deixa a cena de um crime. Ignora seus parceiros e quase acaba morta. Você acha que merece voltar para o Esquadrão de Homicídios?

- Sim - ela disse com um olhar determinado. – Eu acho.

O’Malley sorriu.

- Como eu vou dizer não para uma heroína?

Ele sorriu ainda mais.

- Claro que você vai voltar! Agora saia daqui. Descanse o resto do dia. Volte na segunda e comece a semana do zero. E enquanto você aproveita a glória, pode me fazer um favor? – Ele a alcançou alguns pedaços de papel. – Ligue para o prefeito. Esse é o número pessoal dele. E para Miles Standish também, o dono da Devante. Eu vi que os dois mandaram flores e cartões no hospital.

Ele se levantou e a cumprimentou, fazendo com que ela se sentisse realmente tocada.

- Excelente trabalho, Avery.

CAPÍTULO QUARENTA

No sábado pela manhã, Avery limpou seu apartamento.

Caixas de fotos foram vasculhadas, assim como artigos de jornais da época em que ela defendeu Howard Randall; roupas que ela usava quando advogava, tudo de sua vida passada, uma vida que já não a definia. Ela guardou fotos de Rose e algumas roupas que não tinham significado especial, mas jogou o resto todo no lixo.

As luzes estavam acesas, todas elas, algo que ela nunca havia feito antes. Quando viu as paredes coloridas, o tapete e a cozinha, ela pensou: você comprou essa casa depois do caso Randall e antes de se tornar policial; ele ainda lembra você das desgraças daquele tempo. Assim como você, esse lugar tem que mudar.

Era hora de vendê-la, ela se deu conta. De seguir em frente. Comprar uma nova casa na cidade, talvez mais perto de Rose, se ela aceitasse.

Avery foi até a sacada, olhou para céu e se deu conta de que ainda havia algo a ser feito, algo que colocaria um ponto final no passado.

Ela pegou as chaves do carro e saiu.

O caminho até a prisão de South Bay era fácil agora. Ela havia feito aquela viagem muitas vezes. Black ligou para marcar um horário para ver Howard Randall.

- Você não pode marcar horários para o mesmo dia - a mulher respondeu.

- Estou fazendo um grande esforço - Avery respondeu. – Eu estou marcando um horário.

- Desculpe, mas nós…

Avery desligou.

Na prisão, os guardas rapidamente lhe deram parabéns por encontrar e deter o que havia ficado conhecido como o Assassino das Universitárias. Mais uma vez, a agente fardada em verde estava irritada com o fato de Avery não ter marcado horário, mas reconheceu Black de fotos antigas e, agora, dos jornais.

- Você pegou aquele assassino, certo?

- Sim - Avery respondeu orgulhosa. – Eu peguei.

- Ok, você não precisa de horário marcado hoje então. Bom trabalho.

Howard Randall estava sorrindo quando Avery entrou na sala de reuniões no porão. Suas mãos estavam algemadas, em cima da mesa.

- Parabéns - ele disse.

- Obrigada - Avery respondeu.

Ele parecia mais velho do que ela lembrava, e não tão poderoso. O poder que ele tinha sobre a vida dela agora, surpreendentemente, já não existia.

Ela sentou-se.

- Eu queria dizer algo - falou. – Eu nunca disse para ninguém, mas eu sabia. – Os olhos azuis olharam profundamente para ele. – Eu sabia que você era culpado quando eu peguei seu caso. Não completamente. Digo, você foi um bom ator, mas eu tinha um sentimento de que tudo iria desmoronar por sua causa.

Randall inclinou-se para frente.

Lágrimas sinceras surgiram em seus olhos.

- Eu sei - ele sussurrou.

- Como você poderia saber?

- Eu fui pego - Randall disse. – Não tinha como negar as conexões: os dois eram alunos. Nós almoçamos e jantamos juntos várias vezes. Os assassinatos aconteceram no campus. No entanto, - ele disse com um sorriso malicioso, - eu sabia que poderia provar minha inocência para um júri, um detector de mentiras, um advogado, qualquer um, porque sabe, Avery, eu não acredito nos conceitos de certo ou errado. A morte daqueles dois alunos era a coisa certa na minha mente. Eu iria ajudar eles, ajudar o mundo. Então, eu era inocente de qualquer infração, qualquer crime. Eu estava preparado para ser inocentado e continuar meu trabalho, só que de uma maneira mais inteligente. Isso até conhecer você.

Ele deixou escapar um suspiro.

- O que eu vi? – Ele disse. – Uma linda mulher, perdida, desesperada, precisando de salvação. Você acreditava que estava fazendo a coisa certa. Você acreditava que o que estava fazendo era bom, e essa crença, essa falsa crença, estava te destruindo. Você não enxergava, mas eu sim. O único jeito que eu tinha… era te mostrar. Destruir a mentira e forçar você a encarar os escombros da sua vida.

- Por que? – Avery sussurrou. – Por que eu?

- Não é óbvio? – Howard disse. – Eu te amo, Avery.

A declaração foi muito forte para Avery. Ela virou o rosto e abaixou a cabeça.

Amor? Ele te destruiu! Será? Ela pensou. Ou será que ele te libertou daquele caminho? Não. Ele é um assassino, manipulador. Não há bondade em alguém assim. Além do mais, ela estava mais feliz do que nunca agora. A escuridão que o acompanhara nos primeiros anos de policial havia desaparecido. Sua vida como advogada agora podia ser entendida: uma tentativa desesperada de escapar de sua vida antiga e ser alguém que ela, na verdade, nunca queria ter sido.

Avery levantou-se para sair.

- Não vá - Howard implorou. – Por favor. Ainda não.

- O que mais você quer?

- Você nunca terminou sua história - Howard sussurrou, com um sorriso tímido e lágrimas nos olhos.

- Meu pai? – Ela perguntou. Você quer saber o que aconteceu?

Em silêncio, ele a olhou.

Avery se virou. Aquela parte da história nunca havia sido contada para ninguém, nem Jack, nem Rose nem os repórteres que tinham a entrevistado. Ela lembrou das pernas de sua mãe na grama, do sangue no vestido, e de seu pai, em pé com a arma na mão.

Ela respirou fundo, fechou os olhos e se preparou para encarar seus demônios mais profundas. Ela não tinha certeza se estava pronta.

- Eu escutei eles gritando - ela começou, com a voz trêmula.

Depois, parou por quase um minuto antes de continuar.

- Antes dos tiros ele estava chamando ela de puta, inútil, vadia bêbada, e ela estava dizendo coisas do tipo para ele também - ela sussurrou e olhou para Howard por um momento.

- Coisas más. Depois eu escutei o tiro e vi ele lá. Rindo, rindo de mim na verdade, como se aquilo fosse alguma brincadeira. Ele disse: ‘Me traga uma pá. Você tem que enterrar sua mãe.’

Avery olhou para Howard com lágrimas nos olhos.

- E ele me fez fazer isso. Eu fiquei lá até anoitecer. Cavei toda a cova sozinha. Meus braços tremiam, minhas pernas estavam totalmente sujas. Eu pensei, de verdade, que ele iria atirar em mim e me jogar lá junto com ela. Estava muito assustada. Cada segundo durava uma eternidade. Já estava bem escuro quando eu terminei. Não havia nenhuma luz, só das estrelas. Ele me assistiu o tempo inteiro. ‘Bom trabalho’, falou quando eu terminei. E ele me tocou. Como já havia feito antes, mas dessa vez com mais força. Acho que ele pensou que agora que tinha tomado conta da minha mãe, agora poderia finalmente se aproveitar de mim.

Ela olhou para cima e respirou fundo.

- Foi quando eu saí - ela disse. – Na mesma noite eu fugi de casa. A polícia me encontrou e tentou me levar de volta. Eu contei pra eles. Contei tudo. Poucos meses depois, eu estava sob a tutela do estado e fui adotada por uma família. Você não vai querer saber sobre essa família. De certa forma foi até pior do que meu pai.

- Eu quero saber sim, Avery - ele sussurrou como um alcóolatra que quer só mais uma dose. – Eu quero.

Naquele momento, Avery viu o que ele realmente era: sua feiura, as feições enrugadas e o olhar demoníaco. Ele a fez lembrar da história da borboleta e do casulo. Ele era como a lagarta da história, ela se deu conta: uma criatura ímpar, que poderia se tornar em uma linda borboleta, mas nunca havia conseguido.

- Você me ajudou - ela disse, com sinceridade. – Na minha vida, no caso. Eu não vou mais voltar. Não preciso mais.

Howard inclinou-se para trás e devagar, de uma forma demoníaca, sorriu. Mas diferente das outras vezes, aquele era um sorriso fraco, que mostrava uma quebra na sua confiança, que mostrava que ele não tinha mais certeza.

- Ah, você vai. – ele disse. – Vai sim.

* * *

Fora da prisão o céu estava escuro, o primeiro dia nublado em mais de uma semana. Desde o primeiro dia daquele caso, Avery pedia por dia de chuva, dias nublados que combinassem com seu humor. Agora, ela já não se importava.

Caminhando no estacionamento em direção a seu carro, Avery se sentiu mais leve do que nunca. Pela primeira vez em muito tempo, nada parecia importar. Na verdade, o ar fresco e as nuvens escuras faziam bem: o começo de algo novo.

Ela parou, sentiu a brisa gelada e, pela primeira vez em muito tempo, sentiu que tinha uma vida a sua frente.

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10 oktoober 2019
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