Loe raamatut: «Vindo Do Céu Livro 1»
Índice
Vindo do Céu
"Vindo do Céu. Livro 1"
Personagens
Esta história é ficção e qualquer semelhança com pessoas ou eventos reais são coincidência.
Editora Tektime
Vindo do Céu
Livro 1
Elena Kryuchkova, Olga Kryuchkova
Traduzido por Patrícia Frohlich
"Vindo do Céu. Livro 1"
Escrito por Elena Kryuchkova, Olga Kryuchkova
Copyright © 2021 Elena Kryuchkova, Olga Kryuchkova
Editora Tektime
www.tektime.it
Traduzido por Patrícia Frohlich
Todos os direitos reservados
Capa - Imagem de Mystic Art Design do Pixabay (Mysticsartdesign)
Personagens
Inglaterra
William Adamson - professor de Mitologia e História Antiga
Alice Adamson - médium, irmã de William
Chris Aldridge - advogado de Alice e seu futuro esposo
Genevieve Adamson-Parker - mãe de William e Alice, foi casada com Harold Adamson e depois, com Raymond Parker
Grace Adrian - irmã de Harold, tia de William e Alice, dona de uma rica propriedade escocesa
Esta história é ficção e qualquer semelhança com pessoas ou eventos reais são coincidência.
O nome das pessoas reais que viveram no passado está na nota de rodapé, mas, a descrição de suas vidas nesta história é fictícia.
Esta história é completamente ficção.
Livro 1. Herança Escocesa
Capítulo 1
Londres, Inglaterra - 1870 durante o reinado da rainha Victoria1.
Nos distritos da cidade de Londres 2, Islington, em uma das muitas ruas, uma casa de tijolos vermelhos permaneceu por cem anos. Os irmãos, William e Alice Adamson viveram ali. O pai da família, Harold, morreu de ataque cardíaco, a mãe, Genevieve sendo mais nova do que seu falecido esposo e ainda mantendo-se atraente, casou-se uma segunda vez, passado o luto. Seu segundo marido, Raymond Parker, era considerado um homem rico.
William recém tinha passado dos trinta anos, mas, apesar da idade, o homem ainda não tinha sua própria família. Ele ensinava Mitologia, História Antiga e Fundamentos da Arqueologia em uma escola para mulheres que não era muito prestigiada em Londres. Claro, a renda do sr. Adamson era modesta, às vezes ele escrevia artigos de história, arqueologia e análise da mitologia que eram publicados com bastante sucesso, mas, sua profissão era mais para a alma e conhecimento do que pelo dinheiro. Visto que não trazia muita renda.
Em sua juventude, William fez parte de uma missão arqueológica francesa à Mesopotâmia, iniciada pelo governo francês e liderada pelo famoso diplomata e orientalista francês, Fulgence Fresnel3. A expedição durou três anos e terminou em 1854, uma enorme quantidade de material valioso foi coletado. Julius Oppert4 participou da mesma expedição, de quem então William tornou-se amigo e ainda mantém correspondência, Fresnel permaneceu, para sempre, em Bagdá.
Depois de seu retorno da expedição, Julius foi reconhecido como cidadão honorário francês por suas conquistas em arqueologia e história. Julius tem origem franco-alemã: francês por parte de mãe e alemão por parte de pai. Ele estudou o material obtido, durante a expedição, por muito tempo, especialmente as tábuas de argila com escrita cuneiforme, de seu trabalho árduo resultou o conceito científico da 'Linguagem Suméria' e o sólido trabalho entitulado 'Expedição Científica na Mesopotâmia' que foi lançado após a morte de Fresnel. Depois da aclamada publicação excepcional, Julius foi indicado professor de Filologia Assíria e Arqueologia no prestigiado College de France. Oppert permaneceu na França e começou a chamar a si mesmo de Jules à maneira francesa.
Durante a expedição mesopotâmica, Adamson era apenas um garoto, ele ajudou com escavações e tarefas de campo, no entanto, participar em uma expedição francesa deixou marcas na alma de William para sempre. Ele decidiu claramente: tornar-se um cientista e devotar-se ao estudo de culturas antigas.
Infelizmente William não pode gabar-se do sucesso brilhante como Oppert, no entanto, Adamson devotou considerável tempo ao trabalho científico, escrevendo artigos para várias publicações acadêmicas. Ele também teve acesso ao catálogo com a descrição dos materiais trazidos na expedição de Fresnel e manteve comunicação ativa com Oppert. Adamson não deixou de aproveitar o trabalho de decifração dos cuneiformes sumérios feito por Julius Oppert e alguns famosos orientalistas fundadores da Assiriologia5como Henry Rawlinson e seu aluno George Smith6. Como resultado de tantos anos de esforço, obteve a versão, em letras, de muitas traduções das tábuas de argila mesopotâmicas e sua adaptação para o inglês. A este trabalho, Adamson chamou de 'Mitos Sumérios'. Ao estudar as traduções, ele chegou à conclusão de que as antigas divindades mesopotâmicas, como as gregas e romanas, tinham todos os vícios humanos, conforme mostram os registros antigos.
Depois de um tempo, analisando seu trabalho, Adamson expôs uma hipótese extremamente ousada: as antigas divindades mesopotâmicas não eram apenas um mito, mas, criaturas vivas - de carne e osso - representantes de uma civilização mais desenvolvida que vieram de outra região para o território da antiga Mesopotâmia, ou, talvez de outro mundo.
De acordo com uma das lendas, literalmente recontada por Adamson, em tempos remotos ao norte da cidade-estado suméria de Uruk7, foi erguido o complexo do templo dourado de Inanna - a deusa da fertilidade, amor e colheita. Alega-se que traços deste outrora magnífico complexo do templo foi descoberto pelo geologista e arqueologista britânico William Kenneth Loftus em 1894, os ancestrais sumérios chamavam este lugar de E-anna. Era um lugar sagrado e murado, local de sacrifícios para a deusa Inanna, contendo três templos ali.
Conforme William sugeriu, o complexo do templo foi destruído por um desastre natural, o palpite não surgiu por acaso: Oppert decifrou um fragmento de uma das várias, semi preservadas, tábuas de argila lá dizia: "Por sete dias o céu esteve coberto de escuridão, relâmpagos retumbavam, rios transbordaram suas margens e a terra tremeu... os templos da deusa Inanna desapareceram sem deixar traços..."
Então o sr. Adamson ficou com a pergunta: o templo de Inanna foi destruído em uma inundação? Mas, mais de um documento histórico não menciona um dilúvio naquele período histórico.
Uma expedição de William K. Loftus sugeriu que Uruk foi o primeiro povoado na Mesopotâmia, isto foi claramente evidenciado pela poderosa muralha que o cercava. Durante a pesquisa, fragmentos de colunas com mosaicos decorativos e várias esculturas de divindades antigas foram encontrados; as escavações iniciaram no local onde os anciãos se reuniam - o Prédio Vermelho - construído com tijolos vermelhos e o complexo do templo da deusa Inanna, mas, os fundos destinados para a expedição de Loftus foram gastos e o trabalho precisou ser parado urgentemente.
Com o passar dos anos, o sr. Adamson sonhava em equipar, por conta própria, uma expedição arqueológica e pesquisar o legado do santuário, no entanto, tal empreitada custaria muito dinheiro e Adamson simplesmente não tinha. Ele levava a humilde vida de um professor. Infelizmente os fatos permaneceram os fatos: a falta de recursos financeiros não permitiu que o professor de História e Mitologia realizasse seu sonho, claro, o aspirante a cientista tentou encontrar patrocinadores entre pessoas ricas interessadas em história antiga e busca por artefatos. Porém, todo seu comprometimento não foi coroado de sucesso: ninguém quis patrocinar uma expedição com tantas perspectivas 'fantasma'. Embora o fato da existência do complexo do templo e da própria Uruk ser provado por William Kenneth Loftus, durante todo este tempo, pouco mais de vinte anos desde o dia da expedição dele, ninguém ousou ir até as proximidades da lendária Uruk. No mundo científico, a possibilidade de pesquisar o complexo do templo dourado de Inanna era muito cético e William Adamson era professor de uma universidade pouco conhecida, suas aspirações apenas causaram sarcasmo e um sorriso indulgente entre acadêmicos respeitáveis e colecionadores de antiguidades. No entanto, Adamson não perdeu a esperança e continuou procurando por patrocinadores para a futura expedição.
***
... Depois da morte de seu pai e do segundo casamento de sua mãe, William vivia com sua irmã mais nova, Alice. Ela passou, recentemente, dos vinte e cinco anos, mas, não tinha marido ou filhos, em parte, isso se dava pelo fato de que Alice, contrária à opinião pública (que dizia que uma mulher deveria se casar!) não quis começar uma família e, de fato, não havia homens que quisessem se casar com ela. Alice tinha má reputação.
Quase dez anos atrás, quando Alice ainda era muito jovem, ela juntamente com seus pais e o irmão mais velho, foi visitar uma rica tia (prima de seu pai, Grace Adrian) em uma propriedade escocesa perto de uma cidadezinha. Um dia a menina sair para caminhar e desapareceu, os pais e tia Grace alarmaram toda a vizinhança e a polícia. Procuraram a garota por todo o lugar, na floresta que havia perto, em todos os prédios abandonados, infelizmente em vão.
A polícia ouviu testemunhos de vizinhos, dos pais, de William e de conhecidos da tia Adrian e então descobriram que um trupe de circo havia passado, recentemente, pela cidade. Alice assistiu a vários espetáculos e admirou a apresentação dos acrobatas trapezistas, especialemente de um deles, o acrobata era jovem e bonito e uma menina de quinze anos bem poderia ser carregada, incapaz de resistir à beleza e ao corpo forte de um jovem homem. Portanto, a polícia decidiu que Alice apaixonou-se e deixou a cidade com a trupe de circo, isto explica seu desaparecimento.
Enviaram seus homens atrás do circo e para sua surpresa, quando a polícia os alcançou, ninguém no circo sequer tinha ouvido falar do desaparecimento de Alice. O belo jovem acrobata foi interrogado, mas, infelizmente ele não conseguiu dar explicação sobre o misterioso desaparecimento da menina. A polícia nunca conseguiu obter informações sobre o envolvimento do acrobata na fuga de Alice Adamson, porém, eles suspeitaram de que ela discutiu com seu amado e deixou o circo. Artistas de circo são muito amigos uns dos outros e são um por todos e todos por um, por isso eles ficaram em silêncio e fingiram não saber nada sobre a fuga da garota. A polícia voltou para a cidade e anunciou aos Adamson que a filha deles não foi encontrada, embora, houvesse a possibilidade dela retornar para casa em breve.
Genevieve e Harold já pensavam que nunca mais veriam a filha novamente, mas, qual foi a feliz surpresa deles quando ela apareceu poucos dias depois, conforme a polícia havia sugerido. O fato de Alice parecer, de alguma forma, diferente e mais confiante em si mesma não passou despercebido ao olhar atento da mãe. A mulher pensou que a razão para tudo era a precoce intimidade da filha com um homem, Genevieve e tia Grace, imediatamente, chamaram uma médica para a casa, a fim de que examinasse a fugitiva e para a grande alegria de mãe e tia, Alice mostrou-se virgem.
Contudo, Alice foi severamente repreendida por ter 'fugido com um acrobata' e foi colocada em prisão domiciliar. Embora a própria fugitiva não parasse de afirmar que esteve no mundo das fadas8 e passou lá não menos, nem mais, mas, muitos anos enquanto que no mundo humano apenas poucos dias se passaram. Obviamente que ninguém acreditou na história contada por Alice, achando que ela retornou porque o acrobata havia a abandonado.
Apesar do fato de tão lamentável incidente ter acontecido na distante Escócia, rumores do desaparecimento da jovem Alice Adamson alcançou Londres, os jornais estavam cheios de fofocas, detalhes obscenos e toda o tipo de invenções. Um dos cronistas até mesmo escreveu um diário que Alice, supostamente, mantinha em sua estadia no país das fadas, as histórias dele eram muito bem-sucedidas e Londres estava apenas esperando pelo próximo capítulo a ser publicado, a circulação da imprensa amarela decolou. O cronista ganhou um bom dinheiro com suas invenções e iniciou seu próprio negócio.
A reputação da família Adamson ficou severamente prejudicada, várias pessoas suspeitas e representantes da imprensa amarela estavam constantemente rondando a casa da família. Os pais da fugitiva finalmente perderam a paz e estavam pensando em deixar a capital e mudar para outra cidade, entretanto, o pai da família, antes de partir precisou vender seus negócios: várias lojas, infelizmente não conseguiu um valor razoável para elas. Os compradores, após lerem os jornais, tentaram barganhar as propriedades de Harold Adamson. A família teve que ficar em Londres preocupada com o ridículo e a fofoca por um longo tempo, todo isto prejudicou grandemente a saúde dos pais, especialmente a do pai.
Uma visita ao mundo das fadas não passou sem deixar traços em Alice, alguns anos depois, quando a menina tornou-se oficialmente adulta, ela começou a interessar-se por esoterismo e a predizer o futuro. Os pais e o irmão mais velho pensavam que o motivo pelo estranho comportamento de Alice, era seu amor não correspondido pelo acrobata, um estilo de vida recluso e a não existência de um noivo digno. Teimosamente, a família não admitia que as previsões de Alice eram suficientemente precisas algumas vezes, seus pais consideravam isso uma coincidência. Apenas William pensava de vez em quando: "Talvez minha irmã tenha mesmo visitado as fadas? E deram a ela poderes sobrenaturais?" Contudo, William era materialista, embora ensinasse mitologia e pensando sobre a essência da vida, concordou com seus pais novamente duvidando das habilidades de Alice.
Muitos anos depois, o pai, faleceu de ataque cardíaco, esta história escocesa causou enorme estrago em sua saúde. Genevieve, herdando as lojas do marido e suportado o luto prescrito, casou-se de novo. Desta forma, a casa ficou para William e Alice. Genevieve estava feliz com seu segundo marido, ela tentou o seu melhor para esquecer o passado e teve pouco contato com seus filhos, especialmente com sua filha.
Alice, finalmente vendo-se livre dos cuidados insistentes da mãe, ousou iniciar seu ofício e há muitos anos, de tempos em tempos ela faz previsões corretas (sobre a família e vizinhos, algumas vezes, depois de ler as páginas policiais, sobre crimes cometidos) a garota decidiu abrir sua prática de médium, tão em voga. Desde muito tempo ela domina a previsão do futuro, adivinhações por tarô e bola de cristal, sabe interpretar sonhos, pratica vários rituais mágicos (para amor, prosperidade na família, boa sorte nos negócios) e o mais importante, Alice conduziu, com muito sucesso, sessões que estavam tornando-se cada vez mais na moda. Seus apreciadores estavam dispostos a pagar qualquer quantia apenas para poderem comunicar-se com espíritos de parentes falecidos ou de celebridades.
Desde a antiguidade, as pessoas se comunicam com espíritos, incluindo pessoas mortas. A explosão do espiritualismo varreu o mundo em 1848 depois que surgiram reportagens sobre duas irmãs americanas, Catherine e Margaretta Fox, alegaram entrar em contato como espírito de um mascate que foi morto pelos ex-proprietários da casa em que moravam9.
O espiritualismo era especialmente problemático para Genevieve, anteriormente, ela lutava de todas as formas contra as 'inovações' da filha, a proibindo de ler literatura esotérica, ainda mais que na Inglaterra, o espiritualismo estava ganhando cada vez mais popularidade. Várias sociedades de prática de canalização espiritual10 surgiram: médiuns ofereciam seus corpos, temporariamente, para a permanência do espírito de pessoas falecidas, servindo como uma conexão entre o mundo dos vivos e o dos mortos e Genevieve considerava-se uma cristã, espirituais e médiuns não eram mais do que charlatões ou até mesmo um produto das forças escuras.
A mãe privou Alice de ter qualquer dinheiro de bolso, mas, ela ainda assim conseguiu arranjar livros de magia de vez em quando em lojas especializadas, para Genevieve, isso era um mistério: onde a filha conseguia o dinheiro? Então, ela decidiu rebaixar-se ao ponto de seguir a filha quando esta saísse para uma caminhada. Genevieve não pode colocar a filha sob prisão domiciliar, pois, Alice já tinha chegado à idade adulta e para sua grande surpresa, Genevieve viu Alice colocar um xale colorido nos ombros, sentar-se a uma mesa dobrável em um dos cruzamentos mais movimentados que ficava a três quadras da casa e começou a ler tarô para todos e foi assim. O primeiro impulso da mãe foi correr até a filha, agarrar sua mão e arrastá-la dali, mas, ela se conteve decidindo conversar com Alice em casa. Suas palavras não tiveram o efeito apropriado na sua filha. Depois que se casou novamente e saiu da casa, Genevieve experimentou um alívio indescritível, mentalmente, jurou nunca mais passar pelas portas daquela casa.
Agora que Alice estava livre, ela organizou no primeiro andar da residência, no escritório do pai, uma sala para receber visitas e conduzir sessões de comunicação com espíritos. Para encontrar clientes, colocou anúncios em um jornal de reputação duvidosa na sessão especial 'mágicos e cartomantes', em pouco tempo Alice tinha uma clientela constante e seus serviços eram frequentemente recomendados por conhecidos.
Apenas William suspirava de vez em quando, cansado da interminável campainha (especialmente aos domingos) e dos estranhos caminhando pelo primeiro piso da casa. Ele ordenou que os empregados abrissem a porta, mas, eles constantemente reclamavam que a casa havia tornado-se um terreiro, expressando seu desagrado a William. Os empregados mais antigos lamentavam que a sra. Genevieve havia deixado a casa: em sua presença, Alice jamais ousaria arranjar tal coisa!
William estava irritado, o trabalho no próximo artigo estava lento, ele até já tinha se mudado para o quarto mais retirado da casa, no sótão, assim não veria nem ouviria nada e deu para sua irmã completa liberdade de ação. A velha empregada não aguentou e demitiu-se, Alice imediatamente enviou um anúncio e encontrou uma nova empregada que muito disposta, abria a casa para os visitantes, afinal, eles traziam um rendimento sólido.
Quando William tentou, mais uma vez, conversar com sua irmã sobre seu ofício, no café da manhã, Alice replicou em um tom impaciente de objeção: "precisamos manter a casa, pagar a empregada, a lavanderia, o jardineiro. Coma! E você precisa de um terno novo também! Tive que calcular o último salário para o cocheiro, vendi a carruagem. O seu salário mal cobre todas as despesas. Se você lembra, nosso pai não teve tempo de deixar um testamento, mamãe ficou com tudo e ela, como você sabe, não tem intenção de repartir conosco. Então seja paciente, querido irmão!"
William desanimou. Ele sentia confusão e vergonha: ele é um homem crescido com educação, ganhava muito menos que sua irmã-médium. De repente, o gato, chamado Coon passou pela mesa, orgulhoso com sua cauda espessa, ele fez a volta da vitória em torno da sala de jantar, subiu no colo de Alice e ronronou convidativamente: como se pedisse por algo apetitoso, Alice serviu o creme em uma tigela e colocou em frente ao bichano.
Coon apareceu na casa dez anos atrás, depois de uma viagem, desventurada, para a Escócia, este nome foi dado a ele pelo pai por causa de sua cauda fofa de guaxinim. Coon tinha caráter, comportamento e hábitos interessantes, em tempos idos ele adorava comer só a melhor comida: peixe cozido e carne em pequenos cubos. Agora Alice obrigava a empregada a cuidar dele,
no entanto, Coon era muito apegado a Alice. Ele gostava de sentar em seu escritório e contemplar os visitantes, as mulheres gostavam muito dele. Alice acreditava que o gato via espíritos e podia se comunicar com eles, mas, o gato recentemente desenvolveu um mau hábito: começou a caminhar de noite. Coon deixava a casa ao final da tarde e voltava pelas seis da manhã, tocava na campainha, com a pata (Alice amarrou uma longa corda, especialmente para que o gato pudesse alcançar com facilidade), naturalmente, por causa da campainha, os irmãos Adamson acordavam muito cedo. A empregada apressava-se para deixar o gato entrar, dizendo:
"Gatinho, você veio! Entre! Agora vou alimentar você!"
Coon andava ocupadamente para dentro da casa em direção à cozinha.
William ficou irritado na primeira vez, não conseguiu mais pegar no sono, teve que se levantar e lavar. No café da manhã ele repreendeu sua irmã:
"O gato estava tocando a campainha de novo! Por que você ensinou isto a ele?"
"Ele aprendeu sozinho", Alice replicou e comentou com moral: "além disso, Deus ajuda a quem cedo madruga."
Lutando para conter sua irritação, William falou:
"Não é mais fácil fazer um pequeno buraco na porta para ele? Ao menos deixe ele passar de dia e de noite."
Alice grunhiu e prometeu:
"Irei pensar na sua proposta..."
William tentou dormir no sótão, em seu escritório, porém, o quarto pequeno era abafado no verão e gelado no inverno. Desta forma, com o humor de um criminoso condenado a ser executado, ele permaneceu em seu quarto e com o passar do tempo, acostumou-se a acordar cedo. Às vezes, imediatamente depois de acordar, ele tentava escrever os pensamentos que tinha em sonho. Todos eles com relação ao próximo artigo científico arqueológico ou correspondências com Oppert.
***
O dia começou como sempre. Coon novamente acordou os habitantes da casa com a campainha da porta, a empregada deixou o gato entrar e o alimentou. Acordado, William mentalmente chamou o gato de 'bola de pelo atravida', levantou e foi se lavar.
Logo os irmãos Adamson estavam sentados tomando o café da manhã na pequena sala de jantar, localizada no segundo andar da casa, perto da cozinha e do quarto da empregada. A empregada preparou a refeição (ela estava acostumada a levantar às seis da manhã, assim, Coon não estragaria seu humor).
Alice supreendentemente, parecia calma e pensativa.
"O que aconteceu, querida irmã?" Você está, claramente, sobrecarregada com alguma coisa..." perguntou o irmão.
"Tive um sonho hoje..." a irmã confessou. "Parece que você encontrou um tesouro! Então algumas pessoas surgiram da escuridão... eles queriam tomar seu tesouro, William!"
Mentalmente William arrependeu-se de ter feito esta pergunta a irmã: "Ah, por que eu disse isso?! Agora ela começará a dizer que isto não é bom e terá que ler as cartas..."
William teve dificuldade em acreditar nos 'sonhos proféticos' da irmã (embora muitas vezes fossem um aviso). Seus medos, infelizmente, foram totalmente justificados: a inquieta irmã-médium teatralmente levantou o olhar para o céu imaginário (o teto) e emocionalmente começou:
"Tenho certeza de que não é bom! Preciso ler as cartas!"
E sem nem ao menos terminar o chá, ela correu até a mesa do tarô, sem demora a sra. Adamson reapareceu na sala de jantar, com as cartas de tarô nas mãos e voltando ao seu lugar, começou a embaralhar com muita habilidade.
"Alice, não faça previsões durante o café da manhã! Onde estão seus bons modos?" O irmão comentou com desgosto.
A irmã simplesmente ignorou o comentário. Afinal de contas, William sempre estava desgostoso com alguma coisa. Um minuto depois, havia um leque de cartas na mesa...
"William, as cartas dizem, claramente, que num futuro próximo você terá uma reunião e algumas tentativas", disse Alice pensativamente.
"Até sei o que quer dizer..." ele riu-se em resposta. "Hoje tenho uma reunião com outro possível patrocinador para a expedição arqueológica, provavelmente irão recusar de novo... e novas tentativas vão começar..."
"Sobre o patrocínio eu posso ler as cartas de novo", disse a médium. Sem esperar por resposta, ela embaralhou as cartas e as dispôs na mesa,
olhou pensativamente. O silêncio reinava na sala de jantar. Finalmente, William não conseguiu resistir e perguntou sarcasticamente curioso:
"Então o que dizem as cartas, querida irmã?"
"Virá ajuda depois da tristeza e decepção", respondeu a irmã-médium.
Como se concordasse com a dona, Coon que estava deitado no parapeito da janela, miou expressivamente. Alice animou-se:
"Você vai ver, até o Coon confirma! E ele pode se comunicar com forças sobrenaturais!"
William suspirou e pensou: "O gato apenas miou... ou talvez bocejou... e de onde Alice tirou a ideia de que ele pode se comunicar com espíritos? Delírio... pobre garota..."
O sr. Adamson falou alto:
"Prezada irmã, provavelmente, eu terei que contar com minha habilidade em convencer o próximo patrocinador do sucesso da expedição."
A irmã sorriu maliciosamente:
"Vamos ver o que você diz quando a previsão se realizar..."
***
Depois do café da manhã, William dirigiu-se até a universidade para uma palestra.
Enquanto isso, Alice movendo-se para a sala de estar perguntou para as cartas: devo esperar pelos visitantes do dia ou não? Claro, muitos dos clientes habituais preferiam enviar um bilhete avisando, com antecedência, sobre a próxima visita. Muitos deles, acreditando em mágica e poderes sobrenaturais, podem facilmente vir sem avisar.
Alice amava a clara e arejada sala de estar, uma vez, sua mãe chamou de sala de 'pintar'. No tempo de sua juventude, esta sala era o indicador do status e boas condições materiais dos proprietários, a ordem era mantida aqui com o máximo cuidado, no caso de alguém, de repente, aparecer para uma visita de última hora.
Na casa da família Adamson, havia um sofá, cadeiras de encosto alto e uma pequena mesa redonda na sala de estar, obviamente, havia poltronas compradas pela mãe, a sra. Genevieve. As cadeiras eram diferentes em tamanho e forma: diferentes para homens e mulheres, as poltronas dos homens eram mais fundas e tinham braços largos e a das mulheres eram sem braços. A razão para isso era prosaica: na época de Genevieve, era moda as mocinhas usarem saias de creolina, em um vestido desses, era impossível sentar-se confortavelmente em um assento fundo com braços altos. Na verdade, recentemente, as anquinhas11 estão ativamente substituindo a antiquada creolina, mas, as cadeiras na casa da família Adamson continuam as mesmas.
O interior da sala de estar era complementado com uma lareira, decorada com azulejos coloridos em padrões no estilo espanhol. Acima da lareira, estava pendurado um grande espelho, havia candelabros de prata e pequenas esculturas no estilo colonial.
Genevieve projetou a sala de estar com especial amor, decorou as paredes com modernas pinturas em aquarela (daí o nome da sala - sala de pintura). Ao longo de uma das paredes havia duas estantes esculpidas que acomodavam várias pequenas coisas e fofas bugigangas artesanais que a mãe fazia. Um grande lustre coroava o interior com cúpulas de faiança pintadas à mão. Mesmo com a vinda da eletricidade nas casas ricas da Inglaterra, a sala de estar dos Adamson era iluminada com as antigas velas de cera. Alice tinha medo de luzes e lâmpadas a gás em geral, ela apenas as tolerava bem nas ruas de Londres. Não importa o quanto William a tentasse convencer de que eram seguras, todos os esforços foram em vão, Alice fez muitos argumentos contra a iluminação interior a gás. Quando estava sozinha, ela lia nos jornais sobre uma série de explosões, em casas, causadas pelo gás e por esta mesma razão, ao invés de um forno a gás, a família Adamson ainda tinha um fogão a carvão na cozinha.
Genevieve apreciava a mobília, porque alguns dos móveis pertenceram ao avô paterno de William e Alice, não é por acaso que um dos critérios de escolha dos móveis era a boa qualidade: assim durariam por muitas gerações. Então, as cadeiras do vovô ainda estavam na sala de estar, Genevieve simplesmente trocou o estofado delas.
Há pouco tempo, para grande arrependimento de Alice, um velho armário com detalhes em mármore ficou em mau estado. Genevieve orgulhosamente dizia que pertenceu à rainha Elizabeth Tudor, não era possível confirmar o fato, além disso, toda a família e os amigos da família acreditavam piamente no passado real do armário. Entretanto, mostrando muita praticidade ela pediu a William para remover os detalhes de mármore, olhando atentamente, eles pareciam deprimentes.
Alice lembrava deste armário desde a infância e decidiu desenhar um esboço e encomendou um exatamente igual em uma dessas fábricas de móveis que praticamente encheram o mercado de Londres com elegantes antiguidades falsas.
Como resultado, um armário de madeira compensada apareceu na sala de estar, pintado com aparência de mogno e papel envernizado com manchas imitava os detalhes em mármore. William piscou quando viu a nova peça de mobília, o armário realmente se parecia com o velho apenas com uma invejável diferença: este era plebeu.
Claro que em todas as casas decentes de Londres, havia um piano na sala de estar. Alice tentou várias vezes, sem sucesso, dominar este instrumento, Genevieve empenhava-se em ensinar sua filha, a forçava a sentar ao piano reta como uma vara. Alice rapidamente se cansou e estudava com relutância, a mãe estava constantemente zangada e no final, desesperada por ensinar algum talento musical para a filha, embora a própria Genevieve tocasse bem.
O segundo andar da casa era ocupado por três quartos e um quarto de hóspedes, ninguém viveu ali por muito tempo, a não ser por uma vez que Grace Adrian veio da Escócia para Londres a negócios. O sótão não era considerado um espaço de convivência, mas, debaixo do telhado ficava o escritório de William, um depósito espaçoso e uma pequena sala sem um propósito específico.
Tasuta katkend on lõppenud.