Loe raamatut: «A Garota Que Se Permite»
A Garota Que Se Permite
Contents
Untitled
Chapter 1
Chapter 2
Chapter 3
Chapter 4
Chapter 5
Chapter 6
Chapter 7
Chapter 8
Chapter 9
Chapter 10
Chapter 11
Chapter 12
Chapter 13
Chapter 14
Chapter 15
Chapter 16
Chapter 17
Chapter 18
Chapter 19
Chapter 20
Chapter 21
Chapter 22
Chapter 23
Chapter 24
Chapter 25
Chapter 26
Chapter 27
Chapter 28
Chapter 29
Chapter 30
Chapter 31
Chapter 32
Chapter 33
Nota de Agradecimento
Untitled
A GAROTA QUE SE PERMITE
Série Coffeesão #2
Bria Quinlan
A Garota Que Se Permite
Direitos autorais © 2017 por Bria Quinlan
Tradução: Elaine Lima
Todos os direitos reservados. Sem limitar os direitos de autoria reservados acima, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada ou introduzida em um sistema de recuperação, ou transmitida, de qualquer forma ou por qualquer meio (eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro) sem a permissão prévia, por escrito, da autora.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação da autora ou são usados de forma fictícia. A autora reconhece o status de marca registrada e os proprietários de marcas de vários produtos referenciados nesta obra de ficção, que foram utilizados sem permissão. A publicação/uso dessas marcas não é autorizada, associada ou patrocinada pelos proprietários das marcas.
1
UM
— VOCÊ ESTÁ TERMINANDO COMIGO?
Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Toda vez… toda vez que pensava que esta semana não poderia piorar… BAM! Algo acontecia.
— Vamos lá, Kasey. Você não pode ficar tão chocada assim com isso — disse Jason, olhando para mim por cima do jantar muito agradável e muito caro para o qual ele me convidou, um sentimento de pena brilhando através daqueles olhos semicerrados.
Eu respirei fundo, desviando o olhar para me concentrar, porque isso simplesmente não fazia sentido.
— Você realmente está fazendo isso esta noite? Sério mesmo? — Naquele momento, estava mais chocada do que de coração partido. Embora, pensando bem, provavelmente o coração partido atacaria assim que eu estivesse sozinha em casa, em meu apartamento… meu muito, muito vazio apartamento.
Eu teria que me sentar no chão para ter a minha merecida crise de choro.
— Lamento que você esteja tão surpresa — disse Jason, embora não parecesse nem um pouco triste.
— Surpresa? Eu ia me mudar para morarmos juntos neste fim de semana.
Ele inclinou a cabeça para o lado e olhou para mim como se estivesse fazendo gracinha para uma criança. — Você não vai mais poder se mudar agora, não é?
— Bem, não. Se você está terminando comigo, eu não posso, não é? — Minha voz disparou. Soava um pouco histérica até mesmo para meus próprios ouvidos. No fundo da minha mente, percebi que as pessoas estavam começando a olhar em nossa direção. Jason odiava isso.
Ele estendeu a mão sobre a mesa e envolveu a minha mão, dando um aperto forte. Até mesmo seu falso conforto era… bem, falso.
— Se você se mudasse, como pagaria a sua metade do aluguel? Como você seria capaz de arcar com suas despesas?
Arcar com minhas despesas? Nós estávamos namorando por quase três anos e agora ele estava me dando um pé na bunda porque eu não seria capaz de pagar o aluguel por alguns meses em um apartamento que era dele?
— Dá um tempo, Jason. Perdi meu maldito emprego ontem. Você acha mesmo que eu não tenho nada no banco? Você escolhe o dia seguinte em que fui demitida para fazer isso? — A histeria se foi. Em seu lugar, meu copo emocional foi preenchido até a borda com uma raiva quase cega.
— A economia está ruim — disse ele, encolhendo os ombros como se nada disso realmente importasse. — Quem pode assegurar que você vai encontrar algo rapidamente?
Eu não podia acreditar nisso. Não. Podia. Acreditar. Nisso. Na semana passada, tínhamos acabado de vender todos os meus móveis na OLX porque os dele já “cabiam” no lugar. Eu cancelei meu aluguel, paguei a multa pela quebra de contrato e ficaria sem-teto no final do mês… o que convenientemente aconteceria em dois dias.
— Aqui. — Ele me entregou um cartão.
Um cartão. Eu olhei para o envelope lavanda lacrado. Eu deveria abri-lo? A empresa de cartões realmente tinha um cartão do tipo Estou-te-dando-um-pé-na-bunda-mas-boa-sorte-com-tudo?
— O que é isso?
— Aí tem o primeiro mês do aluguel e metade da fiança que você pagou. Achei que era justo devolvê-lo.
Achou justo? Eu olhei para o cartão novamente, me perguntando o que ele havia escrito nele, tentada a abri-lo naquele momento. Em retrospecto, ele ter me cobrado uma fiança pelo aluguel deveria ter sido o primeiro sinal.
Certo, talvez não o primeiro.
— Então, onde exatamente você acha que vou morar?
Desprezo. Eu passei da raiva para o desprezo. Agora eu era oficialmente uma mulher desprezada.
Não é de admirar que os homens não devessem nos contrariar. Nem o inferno tinha tanta fúria como eu naquele momento, ele não chegava nem perto. Eu poderia ter estripado ele com a faca de peixe chique que descansava contra meu prato.
— Bem, eu não quero parecer sem coração — continuou Jason, estudando seu prato antes de olhar para cima com a expressão menos empática que eu já vi. — Mas agora isso não é realmente problema meu, não é?
A mulher na mesa ao lado engasgou e foi quando eu percebi que a maioria das pessoas haviam ficado em silêncio para acompanhar o melodrama que estava acontecendo na minha vida.
— Não, suponho que não. Eu acho que quando você termina com sua namorada porque ela perdeu o emprego, você pensa que nada é problema seu. — Empurrei minha cadeira, me envolvi em minha jaqueta Ann Taylor e peguei minha bolsa. — Ah, espera! Sabe qual é o seu problema?
Ele balançou a cabeça, um pequeno sorriso puxando sua boca em pontas cruéis de cada lado.
— Conseguir tirar a mancha de Bordeaux de sua Caxemira. — Peguei nossa garrafa de vinho pela metade e despejei na cabeça dele. — Boa sorte com isso.
Eu saí furiosa, um punhado de aplausos seguindo em meu rastro. Lágrimas de raiva quase me cegaram quando cheguei ao saguão.
— Por favor, permita-me. — O recepcionista empurrou a porta e segurou-a para mim, enquanto eu marchava para a noite fria de primavera. — Boa sorte, senhorita.
Sim. Eu precisaria de muita sorte.
2
DOIS
EM FRENTE AO RESTAURANTE, encostado na calçada ao lado, estava o BMW M5 de Jason. Apenas parado lá, totalmente inocente. Claro, o carro não me ofereceria uma carona para casa e Jason tinha escolhido um restaurante longe de uma estação de ônibus ou metrô.
Mas, lá estava ele. Bem ali. Jason era do tipo que não achava necessário ter que pagar pelo estacionamento com manobrista e achar aquela vaga tinha sido uma sorte idiota.
Esperei um momento para ver se ele sairia do restaurante para me checar. Se talvez… apenas talvez, ele fosse humano o suficiente para querer se certificar de que eu estava bem e me oferecer uma carona para casa.
Quando dois minutos se passaram comigo me adaptando à leve brisa fria do ar noturno, percebi que de jeito nenhum ele desperdiçaria um bife perfeitamente bem preparado. Ele provavelmente tirou o suéter, jogou-o em uma garçonete para colocá-lo na água e voltou a comer.
Eu olhei para o BMW.
Eu olhei para o manobrista.
Eu olhei para o BMW novamente.
Para ser justa, o carro não tinha feito nada contra mim. Mas, como uma extensão de Jason, essa noite desastrosa e tudo o que estava errado na minha vida agora, aquele era um alvo muito bom. Escorregando ao lado do pneu dianteiro, tirei a tampa da válvula de ar. Com minha chave, eu leeeeeeentamente deixei o ar sair do pneu com um suave shuuuu até que o aro descansou no chão.
Em seguida, passei para o próximo pneu… e o próximo.
Considerei deixar um pneu cheio só porque parecia fora do lugar. Mas, pensando bem, aquele pequeno assobio de ar era extremamente catártico. Então, eu esvaziei aquele também.
Sentando em um banco na calçada, chamei um táxi, esperando não ter motivo para me estressar com mais essa despesa mais tarde. Ignorei o ar frio da noite de fim de verão e esperei.
Jason levou mais sete minutos para finalmente aparecer. Eu me perguntei se ele tinha comido a sobremesa. Provavelmente. Provavelmente se certificou de pedir aquele pudim que eu amava, só por maldade.
Ele fingiu não me notar e definitivamente não notou todos os pneus vazios. Até ele abrir a porta. Então ele percebeu que o carro parecia um pouco mais baixo do que o normal. Então ele olhou para os pneus. Então para mim.
A expressão em seu rosto… foi uma coisa linda.
Ele não se aproximou de mim ou contornou o BMW. Ele apenas gritou comigo por cima do capô.
— Você cortou meus pneus?
— Não. Eu nunca cortaria os pneus de ninguém. Nem mesmo os seus — Então, só porque eu admitia para mim mesma que aquilo tudo tinha ficado um pouco ridículo… não importa o quão catártico fosse, eu adicionei: — Cresça.
O sujo falando do mal lavado. Bons tempos.
— Então eles magicamente esvaziaram? — Venenoso. Como eu nunca percebi esse traço venenoso nele?
Três anos sem perceber? Aquilo parecia demais, mesmo para alguém tão focada nos estudos e carreira quanto eu. Comecei a questionar todas as conversas em que ele dizia ser o mais esperto, mais esperto do que todos ao seu redor, e percebi que esperto provavelmente não era a palavra certa. Eu realmente estava cega. É melhor eu me tornar um pouco mais atenta se quiser sobreviver no mundo como uma adulta.
E talvez devesse parar de insistir que a gelatina era um grupo alimentar. Mas, alguns padrões permanecem conosco mesmo depois de crescer.
— Eu não sei sobre mágica. Quer dizer, o que é mágica, afinal? Acho que teria sido mágico se meu táxi tivesse chegado aqui antes de você decidir ver se eu fui pega pedindo carona. Mas, infelizmente, ainda estou esperando. — Eu sorri para ele. Um daqueles sorrisos largos e brilhantes que na verdade dizem: Ha Ha Na Sua Cara em vez de Ei, Você é Bem Fofo. Chega de sorrisos fofinhos para ele. — Então, eu suspeito que o mundo da magia está morto.
Peguei um jornal que alguém havia deixado no banco e fingi ler. Deve ter parecido algo bobo a se fazer ali sob a luz fraca do poste, mas parecia um adereço lógico para esta farsa na qual eu estava finalmente assumindo um papel ativo.
— Você acha que pode simplesmente rasgar meus pneus e eu não vou chamar a polícia? — Ele já estava discando. — Alô? 190? Sim, quero denunciar uma agressão. Não, eu não estou ferido. Não fui eu quem foi agredido.
Neste ponto, eu estava tendo dificuldade em acreditar que ele ligou para o 190, que ele estava chamando aquilo de uma agressão. Sem mencionar que eu realmente tinha namorado esse idiota por trinta e três meses. Isso era mais de um mês para cada ano da minha vida.
Talvez Eu fosse a idiota.
— Não — continuou ele, ainda me olhando por cima do capô. — Ninguém se feriu. Bem, não exatamente ferido… Não tenho certeza de qual era a arma… Não, eu não preciso de uma ambulância. Só de um policial.
A essa altura, o recepcionista havia saído para se juntar ao manobrista. Os dois sussurraram e olharam na nossa direção. Eu ouvi uma risadinha escapar de um deles.
— Meu carro… Ela atacou o meu carro… Bem, os pneus estão furados… Isso importa? Eu quero um policial e quero um agora!
O Natal chegava na mesma época todos os anos. Talvez, só por diversão, eu mandasse a ele uma cópia de Como fazer amigos e influenciar pessoas. Você sabe, com um pequeno bilhete legal grudado falando sobre suas habilidades pessoais e um desejo de boa sorte com a vida.
— Tá. Mas é melhor ele se apressar. O que eu faço se ela tentar ir embora? — Ele olhou na minha direção novamente, colocando a mão no capô e acariciando a pintura levemente. — O que você quer dizer com eu não posso segurá-la contra a vontade dela? Tá. Mas é melhor eu ouvir as sirenes nos próximos três minutos.
Ele desligou, enfiou o celular no bolso e apontou o dedo para mim a quatro metros de distância. — Não vá a lugar nenhum.
Pela primeira vez desde que chamei o taxista, estava meio que torcendo para que ele se perdesse. Podia até valer a pena ser fichada só para assistir ao ataque de raiva de Jason.
Quando o policial apareceu alguns minutos depois, havia uma nítida falta de sirenes. Fiquei quase desapontada.
O policial saiu do carro e olhou para o BMW. Ele balançou um pouco a cabeça enquanto pegava um bloco de notas no carro, endireitou a boina e se dirigiu para Jason.
— Qual seria o problema aqui, senhor?
Ah… Eu já gostei desse cara. Se o tom neutro de sua voz mostrava como ele realmente se sentia sobre esta situação, eu realmente gostei dele. Nem me importaria de ser presa por alguém que percebia o quão ridículo era tudo aquilo.
— Meu carro foi agredido.
Eu realmente não conseguia acreditar que ele não tinha repensado o termo desde que desligou a chamada do 190.
— Ela — disse ele, apontando o dedo em minha direção novamente. — Quem agrediu.
Voltei a fingir que lia o jornal e a ignorá-lo.
— Ela agrediu o seu carro? — O policial estava andando ao redor do carro pela segunda vez e se agachou para olhar o pneu dianteiro que estava mais próximo das luzes do restaurante. — Os pneus não foram cortados.
— Eles estão vazios. — Jason soou como se isso fosse o equivalente a um crime de guerra em massa.
— Mas eles não foram cortados. Alguém só tirou o ar.
— Mas, eles estão vazios. — Jason finalmente deu a volta no capô e continuou vindo em minha direção. Antes que eu soubesse o que ele faria, ele agarrou meu braço e me colocou de pé. — Ela esvaziou os meus pneus. Eu quero que ela seja presa.
Como eu tinha namorado um idiota daquele? Sério? Eu provavelmente deveria consultar um terapeuta apenas para descobrir se superei qualquer tipo de estupidez sob as quais tinha vivido nos últimos anos.
Claro, para ver um terapeuta, eu precisaria de um plano de saúde.
— Me solta! — Tentei puxar meu braço, mas ele apenas me agarrou com mais força, seus dedos cravando-se na minha pele através da lã clara da minha jaqueta. — Estou falando sério. Me solte!
— Senhor, tenho que te pedir para soltá-la.
Agora o policial, que ergueu uma sobrancelha para o meu jornal, estava vindo em nossa direção.
— Senhora, você viu alguém esvaziar os pneus desse cara?
— Bem, não estou aqui há muito tempo.
— Há quanto tempo está aqui? — perguntou ele.
— Bem, meu namorado… quero dizer, ex-namorado, me trouxe até aqui para o meio do nada…
— Meio do nada? — Jason não conseguia nem me deixar terminar uma frase. — Estamos a cinco quarteirões do Village.
— Qualquer lugar sem uma estação de metrô é o meio do nada. — Eu aprendi essa lição da maneira mais difícil ao procurar o meu primeiro apartamento na cidade.
— Eu estava tentando dar a você uma última refeição agradável.
— Você estava…?
— Senhora. Há quanto tempo? — Agora o policial estava se dirigindo a mim com aquele tom neutro e um olhar ilegível.
— Meu ex-namorado me largou porque eu perdi meu emprego. Ele disse que eu seria apenas um peso morto. Depois disso, vim aqui para esperar um táxi. Então, praticamente o tempo que leva para um táxi chegar aqui.
O policial deu um leve sorriso. Quase imperceptível. Bem leve. Talvez eu estivesse imaginando, mas tinha quase certeza que não. Eu realmente gostei dele. Eu me perguntei se eles tirariam minhas impressões digitais. Aquela coisa saía com sabão? Eu esperava que isso não afetasse meu pedido de seguro desemprego.
— Bem, não muito tempo então? — perguntou o Policial Indecifrável.
— Creio que não.
— Você não está engolindo essa, está? — perguntou Jason me sacudindo, fazendo meus dentes baterem um pouco.
— Senhor, solte-a antes que eu o jogue na parte de trás do meu carro.
— Mas ela agrediu o meu carro.
— Não é possível alguém agredir um carro. Mas você pode agredir uma mulher. Se você não a soltar, vou levá-lo à delegacia e mandar rebocar o seu carro. Com os pneus vazios.
Posso realmente ter me apaixonado. Toda aquela situação era o meu relacionamento rebote.
O que foi ótimo porque eu ficaria longe, muito longe de caras por um bom tempo.
A mão de Jason despencou. Eu duvidava que tivesse algo a ver com não me agredir e mais a ver com querer a atenção de volta em seu carro.
Assim que ele me soltou, o policial chamou o manobrista e o recepcionista.
— Algum de vocês viu alguma coisa acontecer com este carro?
Ambos balançaram a cabeça.
— Nada? Ninguém veio e deixou todo o ar sair dos pneus?
Novamente com o balançar de cabeça.
— Ah, me poupe. — Jason caminhou entre mim e o carro, provavelmente com medo que eu fosse fazer algo com o seu bebê novamente. — É óbvio que esses dois idiotas estão mentindo.
O manobrista olhou em nossa direção e depois de volta para o policial. — Estou guardando carros desde as seis. Alguém pode ter sido capaz de fazer isso enquanto eu estava nos fundos. — Ele olhou para Jason. — É realmente uma pena que o senhor não quis pagar os cinco reais para ter seu carro estacionado.
Sim, todos nós podíamos ouvir a tristeza em sua voz.
A essa altura, as pessoas estavam paradas na janela assistindo. O policial havia tirado a boina e esfregava o cabelo escuro cortado rente da nuca.
— Então, não temos nenhum dano e nenhuma testemunha. Suponho que você terá que entrar em contato com um guincho e encerrar a noite.
— Você não vai prendê-la? — Jason parecia tão chocado que quase me senti mal por ele.
Era bom que ao menos algo não estivesse indo bem para ele esta noite. Quer dizer, além daqueles quatro pneus magicamente esvaziados.
— Pelo quê? Por ter namorado um idiota? Desculpe, mas não há lei contra isso. — O policial colocou a boina de volta na cabeça e foi em direção à viatura. — Se eu for chamado aqui novamente, vou prendê-lo por fazer uma deúncia falsa. Não importa qual seja o motivo. É melhor você torcer para que o restaurante não seja roubado.
Jason ficou olhando para ele, sua mandíbula um pouco frouxa com a falta de controle da situação.
Eu estava tentando não me gabar da minha pequena vitória. E então, veio o meu primeiro golpe de sorte de toda aquela noite, enquanto o policial caminhava em direção à viatura, meu táxi parou.
— Ei! — O policial chamou, apontando para mim antes de entrar em seu veículo. Eu podia ver sua covinha aparecer de onde eu estava. — Você. Se comporte.
Certo. Porque meu plano era causar um caos em massa quando eu saí esta noite. Eu pulei no táxi antes que Jason pudesse me agarrar novamente.
— Para onde, senhorita?
Desabando no assento, tranquei a porta e disse: — Casa.
Ou o que seria a minha casa por mais dois dias.
3
TRÊS
INFORMEI MEU ENDEREÇO ao taxista antes de perceber que não ia a um caixa eletrônico há dias. Eu tinha um mau pressentimento sobre o que eu encontraria na minha bolsa. Quer dizer, não importa quanto tempo você namorasse alguém, quando ele te convida para um restaurante chique um dia antes de você ir morar com ele, você pensa que: ganharei joias, não que precisarei de dinheiro para o táxi.
$ 1.78
Como consegui pegar um dos poucos táxis sem maquininha de cartão? Nada bom. Mas, felizmente, sou paranoica. Sempre tenho uma nota de vinte enfiada em um dos bolsinhos internos da minha bolsa.
— Quão perto desse endereço posso chegar por vinte dólares?
O taxista deu um suspiro profundo e sofrido, como se ele não fosse levar uma outra pessoa pelos mesmos vinte dólares se eu não estivesse lá.
— Tudo bem.
Tudo bem não era exatamente um local.
— Estou tendo uma noite difícil. — Eu dei a ele um grande sorriso pelo espelho retrovisor. Mas não muito grande. Como se eu estivesse fazendo cara de corajosa. O que eu meio que estava. Com sorte, ele teria pena de mim e talvez deixasse aqueles vinte me levar um pouco mais longe do que o medidor ditava.
Quando Jason me disse que estava me largando, eu achei que devia haver outra pessoa. Que ele se cansou de mim. Eu já estava justificando na minha mente como isso poderia ter sido minha culpa.
Eu tinha me mudado para cá para fazer pós-graduação e o conheci assim que cheguei. Ele tinha sido um dos ex-assistentes do meu orientador no meu último semestre e ensinava uma das matérias uma noite por semana. Ele me colocou sob sua asa imediatamente, moldando minha educação e carreira. Meu tempo foi preenchido por estudos e ele. Minha categoria de amigos não tinha mudado e ainda era preenchida somente pelas minhas companheiras de infância e da graduação.
Então meu estágio se transformou em um cargo de assistente de gerente de projeto. Quando meu chefe conseguiu nos colocar quase na lista negra de um cliente, fui empurrada para uma posição de gerência. Tive que trabalhar duro para provar que a chance que eles tinham me dado valia a pena. Que EU valia a pena.
Eu amava aquilo. Eu amava a correria, as loucas horas e a pressão para fazer a melhor campanha de marketing que já existiu. Fiquei surpresa ao descobrir que a maioria dos meus colegas gostava de fazer a apresentação e o design, mas não a parte técnica da criação. Ou eles gostavam da criação dirigida, mas não do trabalho com o cliente.
Eu adorava tudo... do princípio ao fim. E, então, conforme eu abria meu caminho entre meus colegas entediados que gostavam de manter as coisas como estavam, deixei o resto da minha vida de lado.
Eu tinha minhas garotas de sempre. Eu tinha Jason. Eu tinha um trabalho que adorava.
O que mais eu poderia querer?
Eu quase desejei que Jason tivesse me traído. Pelo menos eu poderia ter dito que outra pessoa desviou sua atenção. Que o amor dele por ela tinha sido mais forte… ou algo assim. Ele ainda seria um grande idiota, mas, pelo menos, eu saberia que havia um motivo. Um que não fosse que eu importasse tão pouco para ele que alguns meses de aluguel em potencial eram um motivo válido para abandonar o navio.
Eu inclinei minha cabeça para trás e observei as luzes passarem pela janela, passando por mim com um padrão rápido e silencioso de escuridão e luz… escuridão e luz… Parecia dizer, Você é uma idiota… Você é uma idiota.
Estava afundando. No poço do levei-um-pé-na-bunda. Bem, não a parte do término. Essa parte eu assimilei até bem rápido. Foi mais a parte sobre como foi fácil para ele me largar. Que enquanto eu estava construindo esse pequeno sonho na minha cabeça, ele estava procurando por uma colega de quarto que convenientemente pagasse metade da hipoteca e compartilhasse sua cama.
Boa sorte com isso na OLX, querido.
Nunca me senti tão dispensável em minha vida. Meu chefe até havia usado essa palavra. — Kasey, temos que fazer alguns cortes e mesmo que você faça um ótimo trabalho, infelizmente, você é dispensável.
Eu perguntei o que isso significava. O que significa ter três projetos sob sua liderança, seis pessoas subordinadas a você, vários prazos chegando nos próximos dois meses e ainda ser dispensável? Aparentemente, quando você contrata e treina grandes mentes logo que terminam o programa de graduação e que podem terminar o trabalho, mesmo que não tenham conseguido o contrato em primeiro lugar, ou administrado ele após conseguir, você é dispensável. Especialmente se cada um deles ganhasse apenas oitenta por cento do seu salário.
Que bom que eu não tinha um cachorro. Ele provavelmente teria escrito com o xixi dispensável no meu tapete e então fugido com alguma poodle atraente da rua enquanto eu estava fora.
O táxi estacionou em uma rua sob um dos belos e antigos carvalhos que ladeavam uma ampla calçada de paralelepípedos. Meu quarteirão? Não, minha rua era feita de postes padrões e calçadas irregulares. Sem árvores.
Obviamente, esse não era o meu quarteirão.
— Certo. — O taxista se virou e estendeu a mão.
Eu olhei para o taxímetro vermelho piscando. — Dezoito dólares? — Ele não só não me levaria a milha extra para casa, ele nem mesmo me levaria até completar os meus vinte dólares.
Acho que eu não era uma daquelas mulheres que dependem da bondade de estranhos.
— Isso inclui a gorjeta.
Sério mesmo? Esse cara era um charme. Ele estava fazendo Jason parecer decente. Eu estava pensando seriamente em atacar mais um carro.
Entreguei a ele os vinte e esperei.
Ele esperou.
Eu esperei.
— Você vai descer?
Poderíamos ter percorrido a última milha a essa altura.
Eu estendi minha mão. — Quem falou que eu te daria uma gorjeta?
Continuamos nos encarando até que ele colocou dois dólares na minha mão. Eu planejava dar a ele os um e setenta e oito da minha carteira como gorjeta, mas ele me irritou.
Pelo lado positivo, agora eu tenho três setenta e oito. Sim, isso salvaria o dia.
Empurrei a porta e deslizei minhas pernas o mais graciosamente que pude usando uma saia minúscula os meus saltos para ocasiões especiais ridiculamente altos. Eu me endireitei e me encontrei abandonada em frente a uma cafeteria de um bairro chique onde nunca teria dinheiro para morar. O lugar tinha aquelas pequenas lâmpadas que pareciam lâmpadas a gás dos tempos do Jack, o Estripador, e charmosas venezianas verdes em volta das janelas de moldura preta. A porta era pesada, de carvalho, o que me fez pensar que estava nos limites de uma pequena aldeia irlandesa. Olhe para mim, reconheço uma coisa encantadora quando a vejo.
Uma placa dourada e marrom na porta anunciava que eu havia chegado ao Coffeesão.
Bem, isso resumiria minha noite de confusão de um jeito triste e taciturno. Além disso, a cafeína parecia uma boa ideia antes da andada de salto agulha de volta para casa.
Olhando para os meus sapatos, não pude deixar de me perguntar o que estava pensando quando os comprei. Quer dizer, eles eram caros, não eram o meu estilo, e eram incrivelmente desconfortáveis. Mas a mulher disse que meu namorado os adoraria. Eu, sendo a idiota que acabei de descobrir que era, comprei.
Agora, eu estava pagando o preço. Figurativa e literalmente.
Empurrei a porta e respirei o ar com aroma de café. O conforto e o calor aliviaram a minha pele, suavizando cada nervo que estava em alerta máximo desde que a noite havia tomado uma inesperada curva na via de solteirice. Havia coleções de cadeiras estofadas com mesinhas de centro e bancos ao redor de mesas de madeira rústicas. Uma placa de “Leitura Relaxante” repousava contra uma estante de livros no canto com uma coleção de livros usados. Ele até tinha uma lareira contra a parede oposta com a evidência fuliginosa de uso.
Como um oásis desses esteve a um quilômetro de distância da minha casa todo esse tempo e eu nunca soube?
— Posso ajudar? — Atrás do balcão, uma adolescente me olhou com desconfiança, como se eu tivesse acabado de entrar em sua casa em vez de uma cafeteria, ou que estivesse disposta a pagar.
— Vocês ficam abertos até que horas?
— Por quê?
Sério mesmo? Sem querer soar como uma velha, mas essa nova geração é um pouco estranha.
— Porque eu quero pedir um café e relaxar um pouco.
A garota barista me olhou, obviamente tentando descobrir se eu estava mentindo ou não. Quem mente sobre tomar uma bebida em uma cafeteria?
— Até às nove em uma terça-feira — respondeu ela, continuando a me encarar. — Você vai para algum lugar?
Um tanto intrometida, não?
— Não. — Agora era eu quem estava me sentindo um pouco desconfiada.
— Você não acha que está um pouco arrumada demais para só sair para tomar um café?
Bem, era verdade. — Sim.
— Você vai se encontrar com alguém?
— Aqui?
— Sim.
— Por quê?
— Você parece uma daquelas mulheres que saem tarde da noite para encontrar alguém. — Ela se inclinou sobre o balcão e olhou para meus sapatos. — Você está tendo um caso?
— Abby, apenas dê o café à mulher. — A voz era tão rica quanto os grãos de café no balcão, só que sem o retrogosto amargo.
Eu me virei, em direção à voz, surpresa com o cara da qual ela veio. Ele não era o gerente noturno típico. Ele tinha altura média, mas definitivamente era mais bonito do que a média, com um sorriso gentil e cabelo levemente despenteado.
— Olá, me chamo John. — Ele estendeu a mão sobre o balcão. — Se você está aqui para ter um caso, devo avisá-la que instalei câmeras de circuito interno depois que fomos roubados nesta primavera.
Eu não senti uma centelha quando ele apertou minha mão, mas o gesto me fez perguntar por que, por que, eu perdi os últimos três anos com Jason? Já que haviam caras realmente engraçados, legais e gostosões por aí, que provavelmente não iriam te deixar perdida no subúrbio… de novo, eu te pergunto, por quê?
— Não estou tendo um caso… infelizmente. — Não era essa a verdade? Eu era como A Anti-caso.
John olhou para a Garota Barista e depois de volta para mim. — Estranhamente, e essas são palavras que não saem da minha boca com muita frequência, tenho que concordar com Abby. Você está um tanto bem-vestida demais para só vir tomar um café sozinha.
— Bem, isso é o que acontece quando você vai para um jantar romântico e acaba abandonada e sem dinheiro para o táxi.
— Ai!
Abby deslizou o mocha pelo balcão, ainda olhando para mim como se a qualquer segundo eu fosse puxar uma arma e roubá-los.