Para Sempre e Um Dia

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“Eu sei tudo sobre quais plantas crescem em quais estações”, disse Roy a Chantelle. “Posso ajudar você a escolher as variedades certas.”

Ele estava levando Chantelle muito a sério, o que deixava Emily encantada. O pai estava até carregando um bloco de anotações e uma caneta com penas cor-de-rosa, para escrever os suprimentos de que precisavam.

“Em que esquema de cores você está pensando?”, Perguntou Roy de maneira profissional.

“Amarelo e rosa”, disse Chantelle. “Ou arco-íris.”

“Excelente”. Ele anotou algo em seu bloco de notas. “Vamos precisar de vidros novos”, acrescentou. “Para deixar a estufa à prova d'água e mantê-la aquecida. Que tal irmos a um armazém de construção?”

Chantelle assentiu animada. “Podemos ir para a floricultura de Raj pegar as sementes das flores.”

“Você tem suas próprias ferramentas de jardinagem? Luvas? Avental?”

Chantelle disse que não com a cabeça. “Então, teremos que conseguir tudo isso também”, explicou Roy. “Todo jardineiro precisa de roupa apropriada. Você ficaria linda em um avental xadrez verde”.

Chantelle sorriu e Emily percebeu que estava sorrindo da mesma maneira. Ver seu pai criando vínculos com a criança era um momento que guardaria para sempre. Agradeceu a Trevor em silêncio por ter lhe dado um presente tão generoso, que permitiu que um momento tão lindo acontecesse.

Daniel bagunçou o cabelo de Chantelle. “Vamos. Vou levar você e vovô Roy até a cidade.”

Eles passaram pelo jardim de Trevor e pelos gramados, na direção da entrada da pousada, onde a caminhonete de Daniel estava estacionada.

“Você também vem, Emily?” perguntou Chantelle quando chegaram ao carro.

Ela abriu a porta de trás e ajudou-a a entrar. “Eu não posso”, explicou. “Minhas amigas estão chegando. Amy e Jayne. Você se lembra delas”.

Chantelle fez uma careta. Ela não gostou muito das amigas que Emily tinha em Nova York da última vez que vieram. Emily não podia culpá-la. Elas não eram tão carinhosas e calmas como o vovô Roy. Fechou a porta e Daniel ligou o motor da caminhonete.

“Divirtam-se!”, gritou, acenando para sua família.

Pode não parecer a imagem convencional de uma família, mas era sua e isso era o que importava para Emily.

Assim que viraram a esquina e sumiram de vista, Emily viu o carro de Amy aparecer do outro lado. De repente, lhe ocorreu que, apesar do dia anterior ter sido uma loucura, agora é que a loucura estava prestes a começar.

CAPÍTULO TRÊS

“Desculpe o atraso!” Amy exclamou enquanto saía do carro. “Eu quis muito resolver tudo em um dia, mas houve um problema com um de nossos fornecedores japoneses e demorou um século para resolver.”

“Um pesadelo de marketing”, Jayne acrescentou, saindo do lado do passageiro. “Combinado ao fato de termos de ficar em um hotel nojento de beira de estrada”.

“Estou feliz por terem chegado”, Emily respondeu, abraçando-as.

Amy abriu o porta-malas e começou a tirar várias sacolas. Emily observou que ela trouxe muita bagagem.

“Para que tudo isso?” perguntou, levantando uma caixa da parte de trás. Pesava uma tonelada.

“Coisas para o casamento”, respondeu Amy. “Amostras para esquemas de cores. Tecidos. Fragrâncias. Um monte de coisas”.

“Mas já está tudo organizado”, protestou Emily.

Amy revirou os olhos. “Você vai mudar de ideia várias vezes. Até o último segundo. Que tipo de amiga eu seria se não tivesse trazido algo para cobrir todas as eventualidades?”

Emily riu. Não conseguia se ver mudando de ideia, mas confiava em Amy. Além disso, sua amiga estava sempre mais feliz quando tinha um projeto, por isso havia se tornado uma empresária de sucesso ainda na adolescência.

“Cadê o gostosão?” perguntou Jayne.

“Você quer dizer, Daniel?” respondeu Emily, levantando uma sobrancelha. “Ele foi à cidade com Chantelle e meu pai. Foram comprar algumas coisas para consertar a estufa”.

“Seu pai, hein...” disse Jayne, balançando a cabeça com o que Emily reconheceu como descrença. “Nem acreditei quando Amy me contou. Eu não esperava por essa”.

Amy lançou-lhe um olhar penetrante.

“Que foi?” Jayne disse, defensivamente. “Só achei que ele estivesse morto.”

Então Lois apareceu para ajudá-las com as caixas. Arrastou duas ao longo da calçada e subiu com elas os degraus da varanda.

“Ela ainda está aqui?” perguntou Jayne em voz alta pelo canto da boca. “Eu pensei que você a tivesse demitido”.

Emily balançou a cabeça. “Fale baixo”, sussurrou.

Elas entraram e Lois fez o check-in. “Posso mostrar seus quartos e pegar algumas de suas caixas”, disse ela.

Amy pareceu impressionada. “Finalmente ela aprendeu a fazer seu trabalho!”, sussurrou para Emily enquanto Lois começava a arrastar algumas das malas para o andar de cima.

Emily se encolheu. Adorava suas amigas, mas elas às vezes podiam ser rudes e insensíveis.

“Preciso de um banho”, disse Jayne. “Pra tirar um pouco da sujeira do hotel decadente do meu corpo!”

Enquanto elas desapareciam no andar de cima para se acomodar e se refrescar, Emily ouviu a campainha tocar. Sabia que hoje seria agitado. Então, desceu os degraus e atendeu a porta.

Era uma jovem de óculos e cabelos negros encaracolados. Usava brincos e muitos colares de contas pendurados sobre um lenço com estampa indiana.

“Oi, eu sou Bryony”, disse ela confiante, estendendo a mão coberta de anéis.

“A amiga de Serena, da Universidade do Maine. Estou aqui para fazer o marketing do site.” Então, sorriu, mostrando uma lacuna entre os dentes.

“Claro”, disse Emily. “Entre.”

Bryony entrou, trazendo consigo um cheiro forte de incenso. Tinha um estojo para laptop pendurado em um dos ombros.

“Posso trabalhar na recepção?” perguntou ela, apontando para o lounge.

“Sim, é claro. Do que você precisa?”, respondeu Emily.

“Da senha de Wi-Fi”, respondeu Bryony. “Ah, e um café seria ótimo. Não vivo sem”.

“Então, somos duas”, Emily respondeu.

Emily foi buscar um café para Bryony, mas não teve muita chance de falar com ela porque a campainha tocou novamente. Teve que ir atender a porta.

Desta vez era um homem magro com calças de couro. Por baixo do chapéu fedora, dava para ver que ele tinha cabelos compridos. Usava óculos escuros. Ela sabia que alguns dos amigos de Daniel chegariam hoje, mas esse homem não parecia ser o tipo de amizade que o noivo teria.

“Posso ajudá-lo?” perguntou Emily.

“Eu tenho uma reserva,” disse o homem. Ele tinha um certo ar de superioridade, que emanava confiança.

Quando Emily o levou para dentro e foi para trás da recepção, ouviu sussurros vindo de algum lugar. Olhou para trás e viu Marnie, Vanessa e Tracey espiando por trás da porta da cozinha, rindo.

Quando Emily se virou, viu que o homem havia tirado os óculos de sol e, para sua surpresa, notou que seu rosto era muito familiar. Era o famoso cantor Roman Westbrook.

“Sr. Westbrook?” disse Emily, tentando manter a compostura, mas surtando ao mesmo tempo. Pensar que sua pequena pousada iria hospedar alguém famoso! Ela realmente tinha ido longe!

“Pode me chamar de Roman.”

Emily sentiu uma onda de animação percorrer seu corpo dela.

“O senhor reservou o nosso chalé por duas semanas”, observou ela, lendo em voz alta o que havia na tela do computador. Ela viu que Serena havia feito a reserva e se perguntou por que cargas d'água sua amiga não tinha lhe contado sobre o famoso cantor. Era improvável que Serena não soubesse quem era Roman Westbrook. Ela deve ter mantido em segredo especificamente para surpreendê-la.

Emily se virou e notou os dedos tremendo ao pegar as chaves do chalé. Atrás da porta da cozinha, viu Marnie, Vanessa e Tracey ainda observando, com olhos esbugalhados e risonhas. Emily sorriu para elas, com uma expressão ao mesmo tempo surpresa e animada.

Lois apareceu no topo da escada, após ter acomodado Amy e Jayne em seus quartos. Ela parou na escadaria e arregalou os olhos ao ver Roman Westbrook em pé no corredor.

Emily lutou arduamente para manter a compostura, voltando-se para Roman e sorrindo sua melhor expressão de recepcionista profissional. “Se quiser me acompanhar, posso mostrar-lhe seu quarto”.

Ela o conduziu pelo corredor e saiu pela porta principal, virando-se para olhar para trás e ver se Lois ainda estava congelada na escada. Vanessa, Marnie e Tracey tinham saído da cozinha, andando na ponta dos pés até chegarem o mais perto possível, dando risadinhas como um grupo de estudantes. Lois galopou pelas escadas e se juntou a elas, sussurrando animadamente por baixo da mão.

Emily guiou Roman até o chalé, seu coração vibrando toda vez que se permitia pensar em quem caminhava a seu lado. Quando ela chegou na porta, destrancou-a, um pouco desajeitada por causa da emoção, e gesticulou para Roman entrar.

“Está ótimo” disse Roman, examinando o chalé, satisfeito.

Emily sentiu-se empolgada ao saber que sua pequena pousada era boa o suficiente para uma estrela pop do calibre de Roman Westbrook! Parecia um sonho.

Mostrou-lhe o quarto, o banheiro e alguns eletrodomésticos que ele teria à disposição, beliscando-se o tempo todo, pensando, Será que eu acabei de mostrar à Roman Westbrook uma máquina de lavar e secar roupa / um forno / uma cafeteira? Isto é real?

Quando chegou a hora de entregar as chaves e seus dedos se tocaram, Emily sentiu os joelhos fracos, como se fosse uma adolescente. Não era todo dia que se fazia contato pele a pele com um famoso ídolo pop!

 

“Vou deixá-lo se acomodar”, disse Emily. “A pousada está sempre aberta para os hóspedes, então sinta-se à vontade para entrar quando quiser. Temos um bar e um lounge no interior da casa maior”.

Roman deu a ela um de seus famosos sorrisos.

Ela saiu da cabana, sentindo-se leve, como se estivesse andando nas nuvens, e correu de volta para a pousada para compartilhar a experiência com sua equipe.

Quando voltou, encontrou as quatro amigas ainda rindo.

Lois estava ao lado do computador. “Foi Serena quem digitou os dados dele”, anunciou. “Aposto que não disse uma palavra porque queria fazer uma surpresa.”

“Bem, funcionou”, Marnie riu, juntando-se a Lois. Então, apontou para o computador com entusiasmo. “Meu Deus. Ele ficará aqui por DUAS SEMANAS!”

“Isso significa que ele estará aqui para o casamento!” gritou Lois. Todas começaram a chorar e comemorar ao mesmo tempo.

“Eu me pergunto por que ele está na cidade...” disse Tracey.

“Não deve estar de férias”, acrescentou Marnie. “Ele poderia passar férias em qualquer lugar do mundo. Eu duvido que queira passar aqui.”

“Talvez ele esteja gravando seu novo álbum aqui?” imaginou Tracey.

“Em que estúdio de gravação?” exclamou Vanessa.

“Talvez ele esteja gravando um vídeo!” gritou Lois, ainda mais animada. “E todas nós poderemos ser figurantes!”

A campainha tocou novamente, mas elas estavam tão envolvidas na conversa que nem pareciam ouvir; pelo menos foi o que Emily pensou, pois nenhuma se moveu. Então, ela mesma se encarregou de atender a porta.

Com sua equipe feminina fazendo barulho ao fundo, ela abriu a porta e viu três homens de pé nos degraus. Corpulentos. Tatuados. De aparência rude, jeans desbotados e jaquetas de couro remendadas. Emily se perguntou se eles faziam parte da comitiva de Roman Westwood. Seguranças, ou algo assim. Certamente não pareciam estar aqui para absorver curtir a brisa do litoral.

“Posso ajudá-los?” perguntou ela.

“Estamos aqui por causa de Daniel”, disse um deles. “Ouvi dizer que ele vai se casar com alguém de Nova York!”

Então, começaram a rir.

“Somos seus amigos”, acrescentou um deles. “Os padrinhos dele”.

Emily sentiu o sangue sumir do seu rosto. Estes eram os amigos “do colégio”, de quem o noivo lhe havia falado? Os que ela insistiu que fossem convidados? Os que estariamm na festa de casamento?

Abriu a boca para dizer-lhes para entrar, mas descobriu que estava sem voz. Tudo o que conseguiu emitir foi um guincho estridente e o mais fraco dos sorrisos.

CAPÍTULO QUATRO

Emily ainda estava lá, parada e boquiaberta como um peixe fora d'água, olhando para os homens tatuados que logo estariam em sua festa de casamento, quando viu a caminhonete de Daniel se aproximar.

“Deve ser o noivo!”, disse um dos homens tatuados, virando-se.

A caminhonete desacelerou até parar e Daniel saiu de um modo que não era familiar para Emily. Ela observou atordoada enquanto os três homens desciam os degraus da varanda e “atacavam” Daniel.

Espero que não machuquem o rosto dele, ela pensou, encolhendo-se ao ver os velhos amigos se reunindo.

Finalmente, o rosto de Daniel ressurgiu da confusão de jeans e couro. Seu rosto estava corado, com um sorriso largo. A essa altura, Roy tinha aberto a porta do lado do passageiro e já estava na metade do caminho. Para surpresa de Emily, ele também sorria.

“Olha só, não é que vocês três cresceram?”, brincou seu pai.

“Este é Roy?” disse o primeiro homem.

“Eu disse que era aqui!” o segundo gritou, batendo o terceiro no peito.

“Foi há décadas”, o terceiro argumentou. “Como eu iria lembrar?”

“Porque foram as melhores férias que tivemos!” exclamou o primeiro.

Roy emergiu estendeu a mão. “Stuart?”

O homem assentiu. “Sim. E você se lembra de Clyde e Evan?” gesticulou ele primeiro para o homem com a barba ruiva e desgrenhada, depois para o homem mais baixo e obeso.

“Como eu poderia esquecer aquele fim de semana quando Daniel convidou vocês para pescar?” respondeu Roy.

“Foi ótimo”, acrescentou Evan. “Sabe, acho que não nos reunimos mais desde aquele fim de semana”.

“Então vocês são os padrinhos, eu presumo?” perguntou Roy.

Stuart deu um largo sorriso. “Claro que somos. É justo que os amigos mais antigos estejam na festa de casamento”.

“Mesmo se não nos vemos há mais de uma década”, acrescentou Evan.

“Vocês conheceram a minha filha, Emily?” disse Roy, apontando para onde Emily continuava a assistir, incrédula. “Eu nunca imaginei que Daniel se casaria com minha princesinha um dia!”

Agora foi a vez dos três amigos parecerem chocados. Olharam para Emily na porta, boquiabertos. Mas, em vez de parecerem envergonhados pelo engano, Emily percebeu que estavam satisfeitos. Eles eram claramente o tipo de homem que gosta de envergonhar os outros. Ela se encolheu interiormente.

“Esta é a patroa?” exclamou Clyde. “Ora, por que ela não disse logo?”

Ele riu e correu em direção a Emily. Então, puxou-a para um abraço de urso. Previsivelmente, ele fedia a suor.

Emily tentou manter a compostura. Mas por dentro estava em pânico. Não queria julgar Daniel pela escolha das suas amizades, especialmente se fossem velhos amigos de infância – crianças pequenas tendem a escolher seus amigos ao acaso – mas ela simplesmente não conseguia conciliar os quatro juntos. Aquilo era chegar perto demais do passado rebelde de Daniel. Um vislumbre do homem que ele já foi e poderia facilmente ter se tornado se não tivesse deixado o Maine para morar no Tennessee. Na verdade, ela deveria ser grata por ele ter escolhido esses três, já que a outra opção eram os amigos do Tennessee que conheciam Sheila.

Nesse momento, Chantelle desceu da caminhonete e olhou superficialmente na direção dos três homens. Mas não se intimidou. Estava acostumada a pessoas desconhecidas na pousada e certamente já viu muitos valentões como estes quando viveu no Tennessee.

“Vovô Roy, podemos começar a trabalhar na estufa, por favor?” ela perguntou.

“É claro”, disse Roy. Voltando sua atenção para Stuart, Clyde e Evan, acrescentou, educado como sempre: “Se os senhores me derem licença”.

Roy e Chantelle se ocuparam em descarregar a caminhonete de todos os itens que haviam comprado.

“Vou mostrar-lhes o lugar”, disse Daniel aos seus amigos.

Eles passaram por Emily e entraram na pousada.

Ela os observou entrar, ainda atordoada, ainda incapaz de conciliar Daniel com esses três homens corpulentos. Virou-se para segui-los até o interior da casa, a tempo de ver Amy e Jayne descendo a escada.

Stuart assobiou para as duas mulheres e Emily fez uma careta. Nenhuma de suas amigas era do tipo que deixava passar esse tipo de coisa. Nem mesmo Jayne, que geralmente adorava a atenção masculina. Com medo do que aquilo pudesse desencadear, Emily se adiantou para evitar o pior.

“Amy, Jayne”, ela quase gritou. “Vocês gostaram dos seus quartos?”

Amy apertou os olhos para encarar Stuart, mas teve que desviá-los para a amiga. “Sim. Obrigada, Em. Mas nós temos que começar a trabalhar. Temos muitas coisas a fazer.”

“Sério?” disse Emily com um gemido. Parecia que tudo o que vinha fazendo há semanas era planejar o casamento. Será que ainda havia algo a fazer? Mas, por outro lado, sair um pouco da pousada era provavelmente uma boa ideia. Quanto menos tempo gasto com os amigos de Daniel, melhor. “Ok”, aceitou ela. “Vamos sair daqui.”

Ela saiu apressada com elas antes que Daniel tivesse a chance de apresentar seus amigos. Pelo canto do olho, percebeu a expressão do noivo. Parecia irritado com o comportamento dela, por sua grosseria em não permitir que todos se conhecessem. Mas ela não conseguiu evitar. Se ele a tivesse preparado de alguma forma, talvez fosse diferente. No mínimo, ela poderia ter dito a ele para avisar aos amigos que não deviam assobiar para suas amigas, e alertá-las sobre algum comportamento do tipo. Mas, como sempre, Daniel escondeu dela alguns dos elementos mais desagradáveis de seu passado. E mais uma vez, aqueles vazios a incomodavam, fazendo-a duvidar do alicerce sobre o qual o relacionamento deles se apoiava.

*

Emily e suas amigas dirigiram-se para a cidade vizinha para ir a uma loja de perfumes que Amy queria conhecer há anos.

“Eles fazem a fragrância especificamente para a cliente”, explicou Amy enquanto dirigia. “Um perfume sob medida para uma mulher única.”

“Parece ...” Emily fez uma pausa. Ela queria dizer desnecessário, mas se conteve no último segundo. Em vez disso, terminou com um manso e pouco convincente, “... divertido”.

“Todo mundo faz isso hoje em dia”, acrescentou Jayne do banco de trás. “Seria simplesmente bizarro não fazermos também”.

Nitidamente animada com o passeio, Amy estacionou e depois conduziu Emily pelos ombros até a loja, quase saltitando.

A atendente cumprimentou-as com um sorriso caloroso. Emily ficou grata quando Amy assumiu a liderança. Não sentia muita vontade de interagir. Sua mente ainda estava presa aos amigos de Daniel.

“Tome”, disse Amy, colocando uma tira de papel perfumado sob o nariz de Emily. “O que você acha? Laranja sanguínea.”

Emily franziu o nariz. “Eu não acho que seja muito a minha cara.”

“Também acho que não,” disse Amy. Então, baixou a cabeça e começou a examinar outras opções de aromas.

“Você parece distraída,” Jayne falou para Emily.

“Desculpe. Estou apenas... pensando.”

“Não sobre fragrâncias, eu suponho”, perguntou Jayne. “Vamos, Em. Você sabe que pode me contar tudo”.

Emily balançou a cabeça. “Eu não quero falar. Não quero ser grosseira.”

Jayne encarou a amiga. “Sinceramente, este papel é meu. Eu sou a desbocada aqui. Duvido que você possa dizer alguma coisa que pareça grosseira aos meus ouvidos.

Então Amy agarrou o braço de Emily, passando um pouco de perfume em seu pulso.

“Cheira!” Ela exclamou com entusiasmo.

Emily fungou. A fragrância era fresca e floral. “Esta é bem melhor”, disse ela.

Amy sorriu. “Ok. Já sei. Tenho o perfume perfeito para complementar este.” Então, afastou-se novamente e juntou-se à atendente atrás do balcão enquanto remexiam animadamente as amostras.

“E então?” pressionou Jayne. Ela claramente não ia deixá-la escapar. Emily suspirou alto. “Tô pensando naqueles caras lá na pousada.”

“Os javalis que parecem não tomar banho há uma semana?”

“Sim, eles”, Emily respondeu. Ela mordeu o lábio. “Bem, são amigos de Daniel. Seus padrinhos.”

“Ai, Santo Deus!” exclamou Jayne com um suspiro teatral. “Eles estarão nas fotos?”

Emily sentiu suas bochechas queimarem. A resposta horrorizada de Jayne a fez sentir-se pior.

“Não gosto do jeito como ele esconde de mim essas coisas sobre o seu passado,” explicou Emily. “Eu nunca ia imaginar que seus melhores amigos eram assim”.

“Nem eu”, respondeu Jayne. “Pensei que alguns fossem do tipo lenhador bonitão.”

Emily afundou a cabeça nas mãos. “Eu devia ter deixado ele perguntar ao seu chefe”, ela respondeu, triste. “Prefiro Jack, com suas mãos manchadas de tinta, do que aqueles três.”

Amy veio com outro bastão de perfume, com um olhar concentrado.

Sem falar nada, agarrou o braço de Emily e passou a nova fragrância no pulso, em cima do primeiro. Amy cheirou. Franziu a testa. Cheirou novamente. Então sorriu.

“Acho que consegui,” disse ela.

Emily concordou, desanimada: “Sim, este é bom”.

“Você não gostou?” perguntou Amy.

“Não é isso,” interrompeu Jayne. “Emily conheceu os padrinhos escolhidos por Daniel hoje”.

Amy levantou uma sobrancelha. “Hã? Os amigos misteriosos de Daniel?”

Jayne agarrou o braço de Amy. “Você não vai acreditar. Eram aqueles três no lobby!

Os olhos de Amy se arregalaram. “Os que eu quase mandei para o inferno?”

“Exatamente”.

Amy olhou para Emily. “Ai, amiga. Eu sinto muito.”

Emily se encolheu novamente. Os amigos de Daniel eram broncos, mas ela estava revelando um lado muito desagradável da própria personalidade e das amigas. Sabia que estavam sendo críticas e mesquinhas. Mas não conseguia evitar.

“Olha”, disse Amy, assumindo a situação como costumava fazer. “Por que não vamos embora já que encontramos o perfume, e voltamos para a pousada? Podemos tomar alguns drinques com eles e com Daniel, bater um papo. E então podemos ir a fundo sobre o passado deles. Descobrir tudo. Quem são, o que fazem. Descobrir uma fofoca escandalosa”.

 

“São justamente as fofocas escandalosas que me preocupam”, Emily respondeu sombriamente. “Eu simplesmente não entendo como Daniel pode ser quem ele é com esse passado misterioso e esses amigos estranhos. Nada disso combina. Existe o jovem Daniel que odiava sua vida em casa, reprovava na escola e quase fugiu, e que era amigo daqueles três. E existe o Daniel do Tennessee, aquele que gerou uma criança e bateu em um cara até quase matá-lo. Nenhum deles é meu Daniel. E isso me assusta.”

Amy tentou consolá-la. “Você só está estressada com o casamento. É normal. Todo mundo tem segredos do passado”.

“Mas nem todo mundo os esconde como o Daniel”.

“Ele só está envergonhado”, disse Jayne. “Eu estaria se aqueles fossem meus amigos!” brincou.

Emily queria deixar suas amigas levantarem seu astral, mas aquilo não estava ajudando. A ideia de todos eles sentados em torno de uma mesa conversando, sem mencionar o álcool adicionado à mistura, não parecia muito atraente para ela. Mas cedo ou tarde isso iria acontecer. Talvez fosse melhor acabar logo com aquilo.

“Ok, tudo bem”, disse Emily. “Vamos resolver logo isso”.

Amy pagou pelo perfume, trocando cartões de visita com a atendente, e então saíram da loja. As amigas de Emily uniram os braços aos dela, apoiando-a, como sempre, a cada passo do caminho.

“Não sei que tipo de pessoa eu seria sem vocês”, disse Emily enquanto caminhavam juntas de volta para o carro.

“Eu sei”, disse Amy com um brilho travesso em seus olhos. “Você seria uma pessoa muito menos cheirosa!”

Olete lõpetanud tasuta lõigu lugemise. Kas soovite edasi lugeda?