Rastro de um Assassino

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Rastro de um Assassino
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R A S T R O D E U M A S S A S S I N O

(UM MISTÉRIO DE KERI LOCKE — LIVRO 2)

B L A K E P I E R C E

Blake Pierce

Blake Pierce é autor da série bestseller de mistérios RILEY PAGE, que inclui sete livros (e ainda há mais por vir). Ele também é o autor da série de mistério MACKENZIE WHITE, que inclui cinco livros (mais estão previstos); da série de mistério AVERY BLACK, composta por quatro livros (mais por vir); e da nova série de mistério KERI LOCKE.

Um leitor ávido e fã de longa data dos gêneros de mistério e suspense, Blake adora ouvir as opiniões de seus leitores. Então, por favor, sinta-se à vontade para visitar o site www.blakepierceauthor.com e manter contato.

Copyright © 2016 by Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recuperação, sem permissão prévia do autor. Este ebook está licenciado apenas para seu uso pessoal. Este ebook não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada beneficiário. Se você está lendo este ebook e não o comprou, ou ele não foi comprado apenas para uso pessoal, então, por favor devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho árduo do autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e acontecimentos são fruto da imaginação do autor ou são usados de modo ficcional. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência. Imagem de capa: Copyright Anna Vaczi, usada sob licença de Shutterstock.com.

LIVROS DE BLAKE PIERCE

SÉRIE DE MISTÉRIOS RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro 1)

ACORRENTADAS (Livro 2)

SÉRIE DE MISTÉRIOS MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro 1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro 2)

SÉRIE DE MISTÉRIOS AVERY BLACK

RAZÃO PARA MATAR (Livro 1)

RAZÃO PARA CORRER (Livro 2)

SÉRIE DE MISTÉRIOS KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro 1)

RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro 2)

ÍNDICE

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPÍTULO SEIS

CAPÍTULO SETE

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO ONZE

CAPÍTULO DOZE

CAPÍTULO TREZE

CAPÍTULO CATORZE

CAPÍTULO QUINZE

CAPÍTULO DEZESSEIS

CAPÍTULO DEZESSETE

CAPÍTULO DEZOITO

CAPÍTULO DEZENOVE

CAPÍTULO VINTE

CAPÍTULO VINTE E UM

CAPÍTULO VINTE E DOIS

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

CAPÍTULO VINTE E CINCO

CAPÍTULO VINTE E SEIS

CAPÍTULO VINTE E SETE

CAPÍTULO VINTE E OITO

CAPÍTULO VINTE E NOVE

CAPÍTULO TRINTA

CAPÍTULO TRINTA E UM

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

CAPÍTULO TRINTA E OITO

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

CAPÍTULO TRINTA E SEIS

CAPÍTULO TRINTA E SETE

CAPÍTULO TRINTA E OITO

CAPÍTULO UM

O longo corredor estava escuro. Mesmo com a lanterna acesa, Keri mal conseguia enxergar três metros à frente. Ela ignorou a sensação de medo que sentia e continuou. Com uma mão segurando a lanterna e a outra em sua arma, ela avançava centímetro por centímetro. Finalmente, chegou na entrada do porão. Cada parte sua lhe dizia que finalmente havia encontrado o lugar. Era ali que sua pequena Evie estava sendo mantida presa.

Keri abriu a porta e pisou sobre o primeiro degrau de madeira, que cedeu um pouco, rangendo. A escuridão ali era ainda maior que no corredor. Enquanto ela descia lentamente as escadas, ocorreu-lhe como era estranho encontrar uma casa com um porão no sul da Califórnia. Esta era a primeira que havia visto. Então, ela ouviu algo.

Parecia uma criança chorando... uma garotinha, talvez com oito anos. Keri chamou-a e uma voz respondeu.

"Mamãe!"

"Não tenha medo, Evie, a mamãe está aqui!" Keri gritou de volta, descendo as escadas correndo. Mas, enquanto descia, sentia um incômodo, como se alguma coisa estivesse errada.

Foi só quando seus dedos engancharam num degrau, fazendo-a perder o equilíbrio e cair no nada, que percebeu o que a vinha incomodando. Evie estava desaparecida há cinco anos. Como sua voz poderia ser a mesma?

Mas era tarde demais para fazer algo a respeito agora, enquanto ela caía rapidamente. Ela abraçou o corpo, preparando-se para o impacto. Mas ele não veio. Para seu horror, ela percebeu que estava caindo num buraco aparentemente sem fundo, o ar ficando cada vez mais frio, uivando sem parar ao redor dela. Keri havia falhado com sua filha mais uma vez.

Ela acordou sobressaltada, sentando-se com as costas bem retas em seu carro. Levou um momento para perceber o que estava acontecendo. Não estava num buraco sem fundo. Nem em um porão assustador. Ela estava em seu velho Toyota Prius, no estacionamento da delegacia, onde havia adormecido enquanto almoçava.

O frio que ela havia sentido vinha da janela aberta. O uivo era na verdade a sirene de um carro de polícia saindo do estacionamento, para atender uma chamada. Ela estava encharcada de suor e seu coração batia rápido. Mas nada daquilo era real. Foi apenas mais um pesadelo terrível, para esmagar todas as suas esperanças. Sua filha, Evelyn, ainda estava desaparecida.

Keri balançou a cabeça, tomou um gole de água, saiu do carro e se dirigiu novamente para dentro da delegacia, lembrando a si mesma que ela não era mais apenas mãe: era também uma detetive da unidade de Pessoas Desaparecidas da LAPD, a Polícia de Los Angeles.

Suas várias lesões a forçavam a se mover desajeitadamente. Só haviam se passado duas semanas desde seu encontro brutal com um violento raptor de crianças. Pachanga, pelo menos, teve o que mereceu depois que Keri resgatou a filha do senador. Pensar nisso fez as dores agudas que ela ainda sentia por todo o seu corpo serem mais toleráveis.

Os médicos apenas a deixaram tirar o protetor facial acolchoado há poucos dias, depois de avaliar que sua órbita ocular fraturada estava cicatrizando bem. Seu braço ainda estava numa tipoia, depois que Pachanga quebrou sua clavícula. Disseram-lhe que poderia removê-la daqui a uma semana, mas Keri estava pensando em jogá-la no lixo antes, porque era incômoda. Não havia nada a ser feito sobre suas costelas quebradas a não ser usar uma cinta protetora acolchoada. Isso também a irritava, porque a fazia parecer uns cinco quilos mais gorda do que seu peso usual, 60 quilos. Keri não era vaidosa. Mas, aos 35 anos, ainda gostava de chamar a atenção dos homens. Mas, com a cinta acolchoada aparecendo sob a blusa na região da cintura e se sobressaindo da calça, ela duvidava que ainda fosse arrancar suspiros.

 

Por causa da folga que lhe deram para se recuperar, seus olhos castanhos não estavam tão injetados e exaustos como era o usual e seu cabelo loiro escuro, amarrado num rabo de cavalo simples, havia sido lavado com xampu. Mas a fratura em seu osso orbital causou um grande hematoma amarelado num dos lados do rosto, que só agora começava a desaparecer, e a tipoia também não ajudava a deixá-la muito bonita. Esse provavelmente não era o momento ideal para sair em um primeiro encontro.

A ideia de namorar a fez lembrar-se de Ray. Seu parceiro pelo último ano e amigo há seis anos antes dela entrar na polícia, Ray ainda estava se recuperando no hospital, após Pachanga lhe dar um tiro no estômago. Felizmente, sua recuperação ia bem, tanto que recentemente ele havia sido transferido do pequeno hospital próximo ao local do tiro para o Centro Médico Cedars-Sinai, em Beverly Hills. Ficava a apenas 20 minutos de carro da delegacia, então, Keri podia visitá-lo frequentemente.

Ainda assim, em nenhum momento durante essas visitas um deles mencionou a crescente tensão romântica que ela sabia que ambos estavam sentindo.

Keri inspirou fundo antes de fazer a familiar mas irritante caminhada pelo salão principal da delegacia. Parecia ser novamente seu primeiro dia. Ainda podia sentir todos os olhos voltados para ela. Toda vez que passava pelos seus colegas de trabalho, sentia seus olhares furtivos, de soslaio, e se perguntava no que estariam pensando.

Será que todos eles apenas achavam que ela era um canhão desgovernado e rebelde? Teria conquistado algum respeito invejoso por matar um assassino e raptor de crianças? Por quanto tempo ser a única detetive mulher do pelotão a faria sentir como uma estranha no ninho?

Enquanto caminhava por todos eles no alvoroço da delegacia e sentava-se em sua cadeira, Keri tentou controlar a onda de ressentimento subindo pelo seu peito e focar apenas no trabalho. Pelo menos, o local estava lotado e caótico como sempre, e, dessa maneira reconfortante, nada havia mudado. A delegacia estava repleta de civis prestando queixas, criminosos sendo fichados e detetives ao telefone, seguindo pistas.

Keri estava limitada a trabalho administrativo desde seu retorno. E sua mesa estava cheia. Desde que voltou, ela havia sido inundada por um mar de papelada. Havia dúzias de relatórios de prisões para revisar, mandados de busca para obter, depoimentos de testemunhas para avaliar e relatórios de evidências para examinar.

Ela suspeitava que, já que ainda não tinha permissão de sair para investigar casos, todos os seus colegas estavam empurrando suas tarefas para ela. Felizmente, poderia voltar ao campo amanhã. E a verdade oculta era que ela não se importava em estar presa no escritório por mais uma razão: os arquivos de Pachanga.

Quando os policiais fizeram uma busca na casa dele após o incidente, encontraram um laptop. Keri e o detetive Kevin Edgerton, o guru de tecnologia residente, haviam descoberto a senha de Pachanga, e aberto seus arquivos. Sua esperança era que os arquivos levariam à descoberta de várias crianças desaparecidas, talvez até de sua própria filha.

Infelizmente, o que, à primeira vista, parecia ser a veia principal de uma rede de informações sobre vários raptos, mostrou-se difícil de acessar. Edgerton havia explicado que os arquivos criptografados poderiam ser abertos apenas com o criptograma correto, que eles não tinham. Keri havia passado a última semana aprendendo tudo que podia sobre Pachanga, na esperança de descobrir o código. Mas, até agora, não havia conseguido nada.

Sentada, enquanto revisava os arquivos, os pensamentos de Keri se voltaram para algo que a estava corroendo desde que retornara ao trabalho. Quando Pachanga raptou a filha do senador Stafford Penn, Ashley, ele havia sido contratado pelo irmão do senador, Payton. Os dois homens vinham se comunicando na dark web há meses.

Keri não podia deixar de pensar como o irmão de um senador havia conseguido entrar em contato com um sequestrador profissional. Eles não pertenciam aos mesmos círculos. Mas tinham uma coisa em comum. Ambos eram representados por um advogado chamado Jackson Cave.

O escritório de Cave ficava num dos andares mais altos de um arranha-céu do centro da cidade, mas muitos de seus clientes eram muito mais rasteiros. Além de seu trabalho corporativo, Cave era conhecido por defender estupradores, sequestradores e pedófilos. Se Keri estava sendo generosa, suspeitava que era apenas porque ele sabia que podia ludibriar clientes tão desagradáveis. Mas parte dela pensava que ele ganhava alguma coisa por baixo dos panos. De todo modo, ela o desprezava.

Se Jackson Cave havia posto Payton Penn e Alan Pachanga em contato, fazia sentido que ele também soubesse como acessar todos os arquivos criptografados deles. Keri tinha certeza de que, em algum lugar daquele escritório chique dele, estava o criptograma de que ela precisava para quebrar o código e descobrir detalhes de todas aquelas crianças desaparecidas, talvez a dela mesma. Ela decidiu que, de um jeito ou de outro, legalmente ou não, entraria naquele escritório.

Enquanto começava a pensar sobre como isso poderia ser feito, Keri notou uma oficial uniformizada de vinte e poucos anos caminhando lentamente em sua direção. Ela acenou para que se aproximasse.

"Qual seu nome mesmo?" Keri perguntou, incerta se já deveria saber da resposta.

"Oficial Jamie Castillo", a jovem oficial de cabelos escuros respondeu. "Acabo de sair da academia. Fui transferida para cá na semana em que você estava no hospital. Originalmente, eu era da Divisão Oeste de LA".

"Então, eu não deveria me sentir muito mal por não saber quem você é?"

"Não, detetive Locke", Castillo disse, com firmeza.

Keri estava impressionada. A garota tinha confiança e olhos negros penetrantes que sugeriam uma inteligência afiada. Ela também parecia saber se cuidar. Com cerca de 1,73 m de altura, tinha uma estrutura atlética, vigorosa, que sugeria que confrontá-la não seria uma atitude muito perspicaz.

"Bom. Como posso ajudá-la?" Keri perguntou, tentando não parecer muito intimidante. Não havia muitas policiais mulheres na Pacific Division e Keri não queria espantar nenhuma delas.

"Fiquei responsável por atender as ligações de denúncias anônimas para a delegacia nas últimas semanas. Como pode suspeitar, muitas delas eram relacionadas a seu confronto com Alan Pachanga e com a declaração que você fez depois, sobre tentar encontrar sua filha".

Keri assentiu, lembrando. Depois dela resgatar Ashley, o departamento realizou uma grande coletiva de imprensa para celebrar o final feliz.

Ainda de cadeira de rodas, Keri elogiou Ashley e sua família antes de aproveitar a coletiva para mencionar Evie. Ela levantou a foto da filha e implorou ao público para oferecer qualquer informação que pudesse ajudar em sua busca. Seu supervisor imediato, o tenente Cole Hillman, ficou muito irritado ao vê-la usar uma vitória do departamento como ferramenta em sua cruzada pessoal, tanto que Keri pensou que ele a teria demitido na hora se pudesse. Mas como demitir uma heroína que resgatou uma adolescente, ainda por cima, de cadeira de rodas?

Quando estava no hospital, internada, Keri ouviu boatos de que ele teria ficado incomodado quando o departamento começou a ser inundado com centenas de ligações diariamente.

"Sinto muito por você ter sido obrigada a encarar essa tarefa", Keri disse. "Acho que eu só queria aproveitar ao máximo a oportunidade e não pensei em quem teria que lidar com o resultado. Imagino que todas as ligações eram pistas falsas?"

Jamie Castillo hesitou, como se ponderasse se estava tomando a decisão certa. Keri podia ver as engrenagens do cérebro da mulher mais jovem trabalhando. Ela assistiu enquanto Castillo calculava a atitude certa e não pôde deixar de gostar dela. Sentia que estava observando uma versão mais nova de si mesma.

"Bem", a jovem policial finalmente disse, "a maioria foram facilmente ignoradas, por serem de pessoas instáveis ou, simplesmente, brincadeiras de mau gosto. Mas recebemos uma ligação esta manhã, que era, de alguma forma, diferente. Era tão simples e direta que me fez levá-la mais a sério".

Quase imediatamente, a boca de Keri ficou seca e ela sentiu seu coração começar a bater forte.

Mantenha a calma. Provavelmente, não é nada. Não exagere.

"Posso ouvi-la?" ela perguntou, com mais calma do que pensou ser possível.

"Já a encaminhei para você", Castillo disse.

Keri olhou para seu celular e viu a luz piscando, indicando que tinha uma mensagem de voz. Tentando não parecer desesperada, tirou o telefone do gancho devagar e ouviu.

A voz na mensagem era rouca, quase metálica, e difícil de entender, ainda mais pelo barulho de batidas ao fundo.

"Vi você na TV falando sobre sua menina", dizia. "Quero ajudar. Há um armazém abandonado em Palms, do outro lado da estação geradora de energia Piedmont. Dê uma olhada".

Era apenas isso, uma grave voz masculina oferecendo uma pista vaga. Então, por que as pontas dos dedos dela estavam latejando de adrenalina? Por que ela estava com dificuldade para engolir? Por que seus pensamentos subitamente dispararam em possíveis imagens de como Evie poderia estar agora?

Talvez fosse porque a ligação não tinha nenhum dos indícios de ligações enganosas comuns. Não tentava chamar a atenção, o que claramente foi o que chamou a atenção de Castillo. E esse mesmo elemento — sua simplicidade — era a qualidade que agora fazia gotas de suor descerem pelas costas de Keri.

Castillo observava-a ansiosa.

"Você acha que é legítima?" ela perguntou.

"É difícil dizer", Keri respondeu calmamente, apesar dos batimentos cardíacos acelerados, entquanto ela pesquisava a estação elétrica no Google Maps. "Vamos checar a origem da ligação mais tarde e pedir a um especialista em tecnologia para examinar a mensagem e ver o que mais pode ser resgatado a partir da voz e barulho ao fundo. Mas duvido que possam descobrir muita coisa. Quem fez essa ligação foi cuidadoso".

"Foi o que pensei também", Castillo concordou. "Não deu nenhum nome, tentativa clara de mascarar a voz, barulho de distração ao fundo. Apenas parecia... diferente das outras".

Keri estava ouvindo apenas parcialmente enquanto olhava para o mapa em sua tela. A estação geradora se localizava na National Boulevard, que ficava ao sul da rodovia 10. Pelas imagens do satélite, ela verificou que havia um armazém do outro lado da rua. Se estava abandonado, não dava para saber.

Mas já vou descobrir.

Ela olhou para Castillo e sentiu uma onda de gratidão... e também algo que não sentia há muito tempo por um colega policial: admiração. Keri tinha um bom pressentimento sobre ela, e estava feliz por tê-la por perto.

"Bom trabalho, Castillo", ela disse para a jovem policial, que também estava olhando para a tela. "Tão bom que acho que é melhor eu ir conferir".

"Você precisa de companhia?" Castillo perguntou com expectativa, enquanto Keri se levantava e juntava suas coisas para ir até o armazém.

Mas antes que pudesse responder, Hillman colocou a cabeça para fora de seu escritório e gritou por todo o salão da delegacia até ela.

"Locke, preciso que você venha ao meu escritório agora". Ele a encarou. "Temos um novo caso".

CAPÍTULO DOIS

Keri ficou imóvel, congelada no mesmo lugar. Uma onda de emoções conflitantes a consumia por dentro. Tecnicamente, isso era uma boa notícia. Parecia que ela estava sendo posta novamente em campo um dia mais cedo, sinal de que Hillman, apesar das diferenças entre eles, sentia que ela estava pronta para retomar suas responsabilidades normais. Mas, naquele momento, parte dela só queria ignorá-lo e ir direto para o armazém.

"Ainda hoje, por favor", Hillman gritou, arrancando-a de sua indecisão momentânea.

"Estou indo, senhor", ela disse. Então, voltando-se para Castillo com um pequeno meio sorriso, ela acrescentou, "A saga continuará em breve".

Quando entrou no escritório, Keri notou que o cenho geralmente franzido de Hillman tinha mais vincos que o normal. Ela nunca sabia se ele não notava ou apenas não dava a mínima. O tenente estava usando um blazer, mas sua gravata estava frouxa e sua camisa mal ajustada não podia esconder uma barriga levemente protuberante.

Sentado na velha e surrada namoradeira contra a parede mais distante, estava o detetive Frank Brody. Brody tinha 59 anos e estava a menos de seis meses de se aposentar. Tudo em sua postura refletia isso. De sua polidez pouco convincente até sua camisa social amarrotada, manchada de ketchup, quase perdendo os botões por causa de sua formidável pança, cujos pneuzinhos pareciam querer vazar pela costuras, sempre na iminência de se romper a qualquer momento.

 

Keri nunca achou que Brody era um dos detetives mais dedicados e comprometidos, e recentemente ele parecia mais interessado em seu precioso Cadillac do que em resolver casos. Ele trabalhava no departamento de Roubos e Homicídios, mas havia sido transferido para Desaparecidos com o desfalque na unidade, por causa das lesões de Keri e de Ray.

A transferência o havia colocado num estado de mau humor permanente, apenas reforçado pelo desgosto que ele sentia por ter que trabalhar com uma mulher. Tratava-se realmente de um homem de outra geração. Ela até já tinha ouvido por alto ele dizer, "Prefiro trabalhar com um merdinha do que com uma fadinha". O sentimento, apesar de ser, talvez, expresso com palavas um pouco diferentes, era mútuo.

Hillman fez sinal para Keri se sentar na cadeira dobrável de metal em frente à sua mesa, então, tirou o telefone do mudo e falou.

Dr. Burlingame, estou aqui com os dois detetives que vou enviar para se encontrar com o senhor. Na linha estão os detetives Frank Brody e Keri Locke. Detetives, estou falando com o Dr. Jeremy Burlingame. Ele está preocupado com sua esposa, com quem está tentando falar há mais de 24 horas. Doutor, poderia por favor repetir o que me contou?"

Keri pegou sua caderneta e caneta para tomar notas. Ela começou imediatamente a ter suspeitas. Em qualquer caso de esposa desaparecida, o primeiro suspeito era sempre o marido e ela queria ouvir o timbre de sua voz na primeira vez que ele falasse.

"É claro", o médico falou. "Eu dirigi até San Diego ontem de manhã para ajudar numa cirurgia. A última vez que falei com Kendra foi antes de partir".

Cheguei em casa muito tarde na noite passada e terminei dormindo num quarto de hóspedes, para não acordá-la. Na manhã de hoje, dormi até mais tarde, pois não tinha nenhum paciente agendado".

Keri não sabia ao certo se Hillman estava gravando a conversa, então ela rabiscava furiosamente, tentando seguir o ritmo do Dr. Burlingame.

"Quando fui até o quarto, ela não estava lá. A cama estava feita. Imaginei que ela havia apenas saído de casa antes de eu acordar, então, enviei-lhe uma mensagem de texto. Não tive resposta... mas, novamente, não é incomum. Moramos em Beverly Hills e minha mulher participa de vários eventos e campanhas de instituições de caridade locais, geralmente deixando seu celular no silencioso. Às vezes, ela se esquece de reativar o toque".

Keri escreveu tudo, avaliando a veracidade de cada comentário. Até agora, nada que tinha ouvido pareceu alarmante, mas isso não significava muito. Qualquer um podia se controlar ao telefone. Ela queria ver o comportamento dele quando confrontado em pessoa por detetives da polícia de LA.

"Fui trabalhar e liguei para ela novamente no caminho... ainda sem resposta", ele continuou. "Por volta da hora do almoço, comecei a ficar preocupado. Nenhuma de suas amigas teve notícias dela. Liguei para nossa governanta, Lupe, que afirmou não ter visto Kendra nem ontem, nem hoje. Foi aí que eu realmente comecei a me preocupar. Então, liguei para o serviço de emergência".

Frank Brody se inclinou e Keri percebeu que ele ia interromper. Ela preferia que ele não fizesse isso, mas não havia nada que pudesse fazer para detê-lo. Ela geralmente preferia deixar um interrogado continuar o quanto quisesse. Às vezes, eles ficavam à vontade demais e cometiam erros. Mas, aparentemente, Brody não pensava da mesma forma.

"Dr. Burlingame, por que sua ligação não foi encaminhada para a polícia de Beverly Hills?" ele perguntou. Seu tom ríspido não demonstrava nenhuma simpatia. Para Keri, ele parecia estar se perguntando por que tinha que lidar com este caso.

"Acho que porque estou ligando para você do meu escritório, que fica em Marina del Rey. Isso realmente importa?" ele perguntou. Ele parecia perdido.

"Não, é claro que não", Hillman garantiu. "Estamos felizes em ajudar. E nossa unidade de pessoas desaparecidas provavelmente seria contactada pela polícia de Beverly Hills, de todo modo. O senhor pode voltar para sua casa e meus detetives o encontrarão lá por volta de uma e meia. Tenho seu endereço".

"Certo", Burlingame disse. "Estou saindo agora".

Depois que ele desligou, Hillman olhou para seus dois detetives.

"Alguma ideia?" ele perguntou.

"Provavelmente, ela apenas deu uma escapada para uma praia do México com alguma de suas amigas e esqueceu de dizer a ele". Brody disse, sem hesitar. "Isso ou ele a matou. Afinal, quase sempre é o marido".

Hillman olhou para Keri. Ela pensou por um segundo antes de falar. Algo sobre ater-se às regras gerais com esse cara não parecia certo, mas ela não sabia muito bem por quê.

"Estou tentada a concordar", ela disse, por fim. "Mas quero conversar frente a frente com esse cara antes de tirar qualquer conclusão".

"Bem, você vai ter sua chance agora mesmo", Hillman replicou. "Frank, pode ir na frente. Preciso falar um minuto com Locke".

Brody deu a ela um sorriso malicioso enquanto saía, como se ela tivesse ficado de castigo e ele, de alguma forma, tivesse escapado. Hillman fechou a porta atrás dele.

Keri se preparou, certa de que, seja lá o que estivesse vindo, não podia ser bom.

"Você pode ir também em um instante", ele disse, com um tom de voz mais brando do que ela havia antecipado. "Mas eu queria lembrá-la de algumas coisas antes de ir. Primeiro, acho que você sabe que eu não fiquei muito feliz com seu pequeno show na coletiva de imprensa. Você colocou suas próprias necessidades na frente do departamento. Entendeu isso, não foi?"

Keri assentiu.

"Dito isso", ele continuou, "gostaria que tivéssemos um novo começo. Sei que você estava muito mal naquele momento e viu aquilo como uma chance de lançar alguma luz sobre o desaparecimento da sua filha. Tem o meu respeito".

"Obrigada, senhor", Keri disse, um tanto aliviada mas suspeitando que um martelo ainda ia cair na sua cabeça.

"Ainda assim", ele acrescentou, "só porque a imprensa ama você, não significa que não vai se ferrar se inventar algumas de suas cagadas típicas, do tipo 'loba solitária'. Estou sendo claro?"

"Sim, senhor".

"Bom. Por último, por favor, vá com calma. Você saiu há menos de uma semana do hospital. Não faça nada que lhe leve de volta para lá, certo? Dispensada".

Keri saiu do escritório dele, levemente surpresa. Ela pensava que seria duramente repreendida. Mas não estava preparada para o leve traço de preocupação dele pelo seu bem-estar.

Olhou ao redor procurando por Brody, antes de perceber que ele já devia ter saído. Aparentemente, ele nem mesmo queria compartilhar o mesmo carro com uma detetive mulher. Normalmente, isso a aborreceria, mas hoje era uma bênção disfarçada.

Enquanto se dirigia a seu carro, ela conteve um sorriso.

Estou de volta à ativa!

Foi apenas quando lhe foi atribuído um novo caso que ela percebeu o quanto sentia falta daquilo. Uma excitação e antecipação familiares começaram a tomar conta dela e mesmo a dor em suas costelas parecia ter diminuído um pouco. A verdade era que, a menos que estivesse resolvendo casos, Keri se sentia como se uma parte sua estivesse faltando.

Ela também não podia deixar de sorrir sobre outra coisa... já planejava violar duas das ordens de Hillman. Daria uma de loba solitária e não ia pegar leve, ao mesmo tempo.

Porque ela ia fazer uma rápida parada no seu caminho para a casa do médico.

Para dar uma olhada naquele armazém abandonado.