Razão Para Se Esconder

Tekst
Loe katkendit
Märgi loetuks
Kuidas lugeda raamatut pärast ostmist
Razão Para Se Esconder
Šrift:Väiksem АаSuurem Aa

R A Z Ã O P A R A S E E S C O N D E R

(UM MISTÉRIO DE AVERY BLACK – LIVRO 3)

B L A K E P I E R C E

Blake Pierce

Blake Pierce é o autor da série de enigmas RILEY PAGE, com doze livros (com outros a caminho). Blake Pierce também é o autor da série de enigmas MACKENZIE WHITE, composta por oito livros (com outros a caminho); da série AVERY BLACK, composta por seis livros (com outros a caminho), da série KERI LOCKE, composta por cinco livros (com outros a caminho); da série de enigmas PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE, composta de dois livros (com outros a caminho); e da série de enigmas KATE WISE, composta por dois livros (com outros a caminho).

Como um ávido leitor e fã de longa data do gênero de suspense, Blake adora ouvir seus leitores, por favor, fique à vontade para visitar o site www.blakepierceauthor.com para saber mais a seu respeito e também fazer contato.

Copyright © 2017 por Blake Pierce. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido na Lei de Direitos Autorais dos Estados Unidos (US. Copyright Act of 1976), nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de nenhuma forma e por motivo algum, ou colocada em um sistema de dados ou sistema de recuperação sem permissão prévia do autor. Este e-book está licenciado apenas para seu aproveitamento pessoal. Este e-book não pode ser revendido ou dado a outras pessoas. Se você gostaria de compartilhar este e-book com outra pessoa, por favor compre uma cópia adicional para cada beneficiário. Se você está lendo este e-book e não o comprou, ou ele não foi comprado apenas para uso pessoal, então por favor devolva-o e compre seu próprio exemplar. Obrigado por respeitar o trabalho árduo do autor. Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e acontecimentos são obras da imaginação do autor ou serão usadas apenas na ficção. Qualquer semelhança com pessoas de verdade, em vida ou falecidas, é totalmente coincidência. Imagem de capa: Copyright Dimedrol68, usada sob licença de Shutterstock.com.

LIVROS ESCRITOS POR BLAKE PIERCE

SÉRIE DE ENIGMAS KATE WISE

SE ELA SOUBESSE (Livro n 1)

SE ELA VISSE (Livro n 2)

SÉRIE OS PRIMÓRDIOS DE RILEY PAIGE

ALVOS A ABATER (Livro #1)

ESPERANDO (Livro #2)

SÉRIE DE MISTÉRIO DE RILEY PAIGE

SEM PISTAS (Livro #1)

ACORRENTADAS (Livro #2)

ARREBATADAS (Livro #3)

ATRAÍDAS (Livro #4)

PERSEGUIDA (Livro #5)

A CARÍCIA DA MORTE (Livro #6)

COBIÇADAS (Livro #7)

ESQUECIDAS (Livro #8)

ABATIDOS (Livro #9)

PERDIDAS (Livro #10)

ENTERRADOS (Livro #11)

DESPEDAÇADAS (Livro #12)

SEM SAÍDA (Livro #13)

SÉRIE DE ENIGMAS MACKENZIE WHITE

ANTES QUE ELE MATE (Livro nº1)

ANTES QUE ELE VEJA (Livro nº2)

ANTES QUE COBICE (Livro nº3)

ANTES QUE ELE LEVE (Livro nº4)

ANTES QUE ELE PRECISE (Livro nº5)

ANTES QUE ELE SINTA (Livro nº6)

ANTES QUE ELE PEQUE (Livro nº7)

ANTES QUE ELE CAÇE (Livro nº8)

ANTES QUE ELE ATAQUE (Livro nº9)

SÉRIE DE ENIGMAS AVERY BLACK

RAZÃO PARA MATAR (Livro nº1)

RAZÃO PARA CORRER (Livro nº2)

RAZÃO PARA SE ESCONDER (Livro nº3)

RAZÃO PARA TEMER (Livro nº4)

SÉRIE DE ENIGMAS KERI LOCKE

RASTRO DE MORTE (Livro nº1)

RASTRO DE UM ASSASSINO (Livro nº2)

ÍNDICE

PRÓLOGO

CAPÍTULO UM

CAPÍTULO DOIS

CAPÍTULO TRÊS

CAPÍTULO QUATRO

CAPÍTULO CINCO

CAPÍTULO SEIS

CAPÍTULO SETE

CAPÍTULO OITO

CAPÍTULO NOVE

CAPÍTULO DEZ

CAPÍTULO ONZE

CAPÍTULO DOZE

CAPÍTULO TREZE

CAPÍTULO QUATORZE

CAPÍTULO QUINZE

CAPÍTULO DEZESSEIS

CAPÍTULO DEZESSETE

CAPÍTULO DEZOITO

CAPÍTULO DEZENOVE

CAPÍTULO VINTE

CAPÍTULO VINTE E UM

CAPÍTULO VINTE E DOIS

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

CAPÍTULO VINTE E CINCO

CAPÍTULO VINTE E SEIS

CAPÍTULO VINTE E SETE

CAPÍTULO VINTE E OITO

CAPÍTULO VINTE E NOVE

CAPÍTULO TRINTA

CAPÍTULO TRINTA E UM

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

CAPÍTULO TRINTA E SEIS

CAPÍTULO TRINTA E SETE

PRÓLOGO

Quando saiu pelo terreno vazio, o amanhecer estava levando embora o último suspiro da noite. Uma chuva fina caíra na noite anterior, criando uma névoa que tomava conta do lugar. Ele caminhou vagarosa e metodicamente, como se fizesse aquilo todas as manhãs.

Por todos os lados havia fundações de casas—casas que nunca seriam finalizadas. Ele supôs que as estruturas haviam sido feitas cinco ou seis anos atrás, e abandonadas quando a crise imobiliária chegou. Por alguma razão aquilo o irritava. Foram muitas promessas para uma família e um construtor, que acabaram falhando miseravelmente no fim.

Contra a névoa, ele parecia magro—magro e alto, como um espantalho vivo. Seu casaco preto misturava-se perfeitamente com o cinza claro do local. Era uma cena etérea, que o fez sentir-se como um fantasma. Aquilo o fez sentir-se uma lenda, quase invencível. Sentia-se como se fosse uma parte do mundo, e o mundo uma parte de si.

Mas não havia nada natural em sua presença ali. Na verdade, ele havia planejando aquilo por semanas. Meses, na verdade. Os anos anteriores haviam apenas passado, levando-o em direção àquele momento.

Caminhou pela névoa e escutou a cidade. A confusão e agitação estavam, talvez, a um quilômetro de distância. Ele estava em uma parte esquecida da cidade, pobre, um lugar que sofrera um colapso econômico. Muitos sonhos e esperanças espalhavam-se por aquele chão coberto pelo nevoeiro.

Aquilo tudo o fez querer queimar.

Pacientemente, ele esperou. Andou de um lado para o outro sem nenhuma razão aparente. Caminhou pela calçada da rua vazia e depois pela área de construção entre as casas que nunca foram terminadas. Olhou em volta, esperando que outro vulto aparecesse na névoa. Sabendo que o universo o enviaria.

Finalmente, apareceu.

Mesmo antes do vulto tornar-se totalmente visível, ele podia senti-lo através da luz fraca do amanhecer e da névoa escorregadia. O vulto era feminino.

Era o que ele estava esperando. O destino estava o ajudando.

Com seu coração batendo forte no peito, caminhou para frente, fazendo seu melhor para parecer calmo e natural. Abriu a boca para começar a chamar por um cachorro que não estava ali. Na névoa, sua voz não parecia ser sua; estava escassa e oscilante, como um fantasma.

Colocou a mão no bolso de seu casaco longo e puxou uma guia retrátil para cães que havia comprado no dia anterior.

- Pea, querida! – Chamou.

Era o tipo de nome que confundiria quem estivesse passando antes que a pessoa tivesse tempo para realmente olhar pela segunda vez.

 

- Pea, querida!

A figura da mulher chegou mais perto, caminhando pela névoa. Ele viu que ela tinha seu próprio cachorro e estava levando-o para uma caminhada matinal. O animal era de uma das menores raças, do tipo que mais parecia um rato. Claro, ele tinha essa informação sobre ela. Ele sabia praticamente tudo sobre sua programação pela manhã.

- Está tudo bem? – A mulher perguntou.

Ele conseguia ver o rosto dela agora. Ela era muito mais jovem que ele. Vinte anos, pelo menos.

Segurou a guia vazia e deu um sorriso triste para a mulher.

- Minha cachorra se perdeu. Tenho certeza que ela veio nessa direção, mas não consigo escuta-la.

- Ah, que pena – disse a mulher.

- Pea, querida! – Ele gritou novamente.

Aos pés da mulher, seu pequeno cachorro levantou uma perna e urinou. A mulher pareceu quase nem perceber. Ela estava olhando para ele agora. Seus olhos pareciam estar lhe reconhecendo. Ela inclinou a cabeça. Um sorriso incerto apareceu em sua boca. Ela deu um pequeno passo atrás.

Ele colocou a mão no outro bolso do casaco e segurou o martelo que estava escondido ali. Tirou o objeto do bolso com uma velocidade que surpreendeu até a si mesmo.

Usou o martelo para golpeá-la com força na cabeça. O som do golpe no terreno quieto, em meio a névoa, foi quase imperceptível. Pou!

Os olhos dela pararam. Quando ela caiu no chão, traços do sorriso tímido ainda estavam em sua boca.

Seu pequeno cachorro chorou sobre ela e olhou para ele, latindo pateticamente. Ele caminhou na direção do cachorro e rosnou de leve. O cão urinou um pouco mais, recuou e depois correu pelo terreno, com a coleira balançando atrás dele.

Ele colocou no bolso o martelo e a guia inútil. Depois, por um momento, olhou para baixo, para o corpo dela, e vagarosamente a alcançou. O único som que se escutava era o latido do cachorro, ecoando sem fim em meio à névoa da manhã.

CAPÍTULO UM

Avery colocou a última das caixas no chão do novo apartamento de sua filha e sentiu vontade de chorar. O caminhão de mudanças tinha deixado a rua cinco minutos atrás e já não havia mais volta: Rose tinha um apartamento próprio. Avery sentiu um buraco crescendo em seu estômago: aquilo era totalmente diferente de tê-la morando em um dormitório universitário, onde havia amigos em todas as esquinas, além da segurança da polícia do campus.

Rose moraria sozinha agora. E Avery ainda não aceitara isso. Muito pouco tempos atrás, Rose estivera em perigo por conta do último caso de Avery—e aquilo era algo pelo qual ela ainda se culpava muito. Algo que a fizera sentir-se uma decepção como mãe e a deixara muito assustada por sua filha. E não era qualquer coisa que assustava uma detetive de homicídios como ela.

Ela tem dezoito anos, Avery pensou. Você não pode segura-la para sempre, especialmente porque você não a segurou por perto quase nunca, para não dizer nunca, enquanto ela estava crescendo.

Como Rose crescera tão rápido? Como ela se tornara uma mulher tão linda, independente e focada? Avery certamente não tinha méritos nisso, já que estivera ausente da maior parte da vida de sua filha.

Apesar de tudo, sentiu-se orgulhosa ao ver sua filha tirar as próprias louças das caixas e coloca-las em seu próprio armário. Apesar da infância e da adolescência tumultuadas pelas quais passara, Rose havia conseguido. O futuro havia chegado, e começado com ela colocando suas louças de lojas de 1,99 nos armários de seu primeiro apartamento.

- Estou orgulhosa de você, amor – Avery disse. Ela caminhou entre as muitas caixas que ocupavam o piso da sala.

- Pelo que? – Rose disse.

- Por sobreviver – Avery respondeu, rindo. – Eu sei que eu não tornei as coisas fáceis para você.

- Você não. Mas o pai tornou. E isso não é uma indireta para você.

Avery sentiu uma pontada de tristeza.

- Eu sei.

Avery sabia que admitir tal coisa era difícil para Rose. Ela sabia que sua filha ainda estava tentando encontrar uma base sólida para a relação delas. Para uma mãe e filha tipicamente distantes, a reconciliação já seria difícil. Mas ambas haviam passado por tempos horríveis ultimamente. Rose fora perseguida por um assassino em série e obrigada a mudar-se para um abrigo secreto, enquanto Avery estava lutando contra um estresse pós-trauma depois de correr pelo resgate da filha. Havia obstáculos enormes para ultrapassar. E até algo simples como levar caixas para o novo apartamento da filha era um passo enorme no caminho da reconciliação. E Avery queria se reconciliar mais do que tudo.

Dar aquele passo requeria algum tipo de normalidade—uma normalidade que não estava sempre disponível no mundo de uma detetive obcecada pelo trabalho.

Ela juntou-se a Rose na cozinha e a ajudou a abrir as caixas com a etiqueta “cozinha”. Enquanto elas trabalhavam juntas para esvaziar as caixas, Avery sentiu-se quase chorando novamente.

Que porra é essa? Desde quando eu sou tão emotiva?

- Você acha que vai ficar bem? – Avery perguntou, fazendo o possível para continuar a conversa. – Aqui não é como um dormitório da faculdade. Você está definitivamente por conta própria. Você está pronta depois... bem, depois de tudo que passou?

- Sim, mãe. Eu não sou mais uma garotinha.

- Bem, isso está bem claro.

- Além disso - Rose disse, colocando a última louça de lado e empurrando a última caixa, - eu não estou mais totalmente sozinha.

Ali estava. Rose estivera um pouco distraída ultimamente, mas também bem humorada, e um bom humor notável era algo raro para Rose Black. Avery havia pensado que poderia haver um garoto envolvido que abrira uma caixa completamente diferente com a qual ela não estava preparada para lidar. Ela havia perdido o período de conversas com Rose, os detalhes de seu primeiro namoradinho, a primeira dança e primeira beijo. Agora que estava sabendo de um possível amor da vida de sua filha de dezoito anos, ela entendeu quanta coisa tinha perdido.

- Como assim? – Avery perguntou.

Rose mordeu os lábios, como se tivesse se arrependido de dizer aquilo.

- Eu... bem, acho que eu conheci alguém.

Ela disse aquilo casualmente e sem muita atenção, mostrando claramente que não tinha interesse em falar sobre o assunto.

- Ah, sério? – Avery perguntou. – Quando foi isso?

- Quase um mês atrás – Rose respondeu.

Exatamente o mesmo tempo que tenho notado ela com um humor melhor, Avery pensou. Às vezes era difícil entender como suas habilidades de detetive invadiam sua vida pessoal.

- Mas... Ele não vai morar aqui, vai? – Avery perguntou.

- Não, mãe. Mas pode ser que ele venha bastante aqui.

- Isso não é o tipo de coisa que a mãe de uma garota de dezoito anos quer ouvir – Avery disse.

- Meu Deus, mãe. Está tudo bem.

Avery sabia que deveria parar por ali. Se Rose quisesse conversar com ela sobre esse cara, faria quando achasse melhor. Pressiona-la tornaria tudo pior.

Mas, novamente, seu instinto profissional se sobrepôs e ela não pode deixar de fazer mais perguntas.

- Posso conhece-lo?

- Uou, claro que não. Pelo menos por enquanto.

Avery percebeu a oportunidade de ir mais a fundo na conversa—a estranha conversa sobre sexo seguro e o risco de doenças e gravidez na adolescência. Mas ela sentiu quase como se não tivesse o direito, dada a relação tensa entre as duas.

Sendo uma detetive de homicídios, no entanto, era impossível não se preocupar. Ela conhecia os homens lá fora. Havia visto não apenas assassinos, mas muitos casos de abuso doméstico. E mesmo que aquele cara na vida de Rose pudesse ser um perfeito cavalheiro, era muito mais fácil para Avery pensar que ele era uma ameaça.

De alguma forma, no entanto, ela não deveria confiar nos instintos da filha? Não tinha acabado de elogiar a filha por quem ela havia se tornado apesar de tudo?

- Tome cuidado – Avery disse.

Rose estava claramente envergonhada. Ela virou os olhos e começou a mexer nos DVDs na pequena sala que ficava junto à cozinha.

- E você? – Rose perguntou. – Você não cansa de ficar sozinha? Sabe... Papai ainda está solteiro, também.

- Eu sei disso – Avery disse. – Mas não é da minha conta.

- Ele é seu ex-marido – Rose enfatizou. - E é meu pai. Então, sim, ele é da sua conta. Pode te fazer bem vê-lo.

- Não seria bom para nenhum de nós – Avery respondeu. – Se você perguntar para ele, tenho certeza que ele vai responder a mesma coisa.

Avery sabia que aquilo era verdade. Mesmo que eles nunca tivessem conversado sobre retomar a relação, havia um acordo velado entre os dois—algo que eles sentiam no ar desde que ela perdera seu trabalho como advogada e basicamente arruinara sua vida nas semanas seguintes. Eles tolerariam um ao outro por Rose. Ainda que houvesse sentimentos mútuos de amor e respeito, os dois sabiam que não havia volta. Jack só estava preocupado com a mesma coisa que Avery. Ele queria que ela passasse mais tempo com Rose. E cabia a ela descobrir uma maneira de fazer isso. Ela passara algum tempo pensando em um plano pelas últimas semanas e, mesmo que aquilo fosse requerer sacrifícios de sua parte, ela estava pronta para tentar.

Percebendo que o assunto delicado sobre Jack já estava passando, como uma nuvem de tempestade, Avery tentou tocar no assunto do sacrifício. Não havia como falar daquilo indiretamente, então ela simplesmente iniciou a conversa.

- Estava pensando em pedir uma carga de trabalho mais leve para os próximos meses. Eu acho que deveria mesmo dar uma chance de verdade para as outras coisas.

Rose parou por um minuto. Ela parecia realmente surpresa. Assentiu sutilmente e voltou a mexer nas caixas. O único som que fez foi um pequeno “hum”.

- O que foi? – Avery perguntou.

- Mas você ama seu trabalho.

- Amo – Avery concordou, - mas estive pensando em sair do departamento de homicídios. Se eu fizer isso, vou ter que trabalhar um pouco menos.

Rose parou completamente de mexer nas caixas. Ela fez diferentes expressões em poucos segundos. Avery ficou feliz em ver que uma delas parecia ser uma expressão de esperança.

- Mãe, você não tem que fazer isso. – A voz dela era leve e indefesa, quase como a da garotinha que Avery se lembrava facilmente. – Isso é quase como arrancar sua vida pela raiz.

- Não, não é. Estou ficando mais velha e percebendo que eu perdi um monte de coisas familiares. É isso o que eu preciso para seguir em frente, para ser melhor.

Rose sentou-se no sofá, cheio de caixas e roupas jogadas. Ela olhou para Avery, com a expressão de esperança ainda no rosto.

- Você tem certeza de que é isso o que você quer? – Ela perguntou.

- Não sei. Talvez.

- Além disso - Rose disse, - eu sei de onde vem minha habilidade incrível de trocar de assunto. Você saiu rapidamente do tema de estar sozinha sempre.

- Você percebeu, né?

- Sim. E para ser sincera, acho que meu pai também.

- Rose—

Rose virou-se para ela.

- Ele sente sua falta, mãe.

Avery congelou. Ficou parada, quieta por um momento, sem poder responder.

- Eu sinto falta dele às vezes também – admitiu. – Mas não o suficiente para ligar para ele e escavar o passado.

Ele sente sua falta, mãe.

Avery deixou aquelas palavras a invadirem. Ela dificilmente pensava em Jack em qualquer sentido romântico. No entanto, havia dito a verdade: Ela sentia a falta dele. Falta do estranho senso de humor de Jack, da maneira como o corpo dele parecia sempre um pouco gelado demais pela manhã, como a necessidade dele de sexo era quase engraçada de tão previsível. Mais do que tudo, no entanto, ela sentia falta de ver como ele era um excelente pai. Mas tudo aquilo havia passado e era parte de uma vida que Avery estava tentando fortemente deixar para trás.

Ainda assim, ela não pode deixar de imaginar como tudo poderia ter sido, percebendo que tivera a chance de uma vida excelente. Uma vida com cercas de piquete, arrecadação de fundos para a escola e tardes preguiçosas de domingo no quintal.

Mas a chance para aquilo tudo já era. Rose havia perdido aquele cenário dos sonhos e Avery ainda se culpava.

- Mãe?

- Desculpe, Rose. Só não vejo eu e seu pai consertando as coisas, sabe? Além disso – ela continuou, respirando fundo e preparando-se para a reação de Rose, - talvez você não seja a única que conheceu alguém.

 

Rose virou-se para ela, e Avery ficou aliviada ao ver seu sorriso. Ela olhou para sua mãe com o sorriso maroto que amigas trocavam em coquetéis enquanto falavam sobre homens. Aquilo esquentou o coração de Avery de uma maneira que ela não estava preparada, nem conseguiria explicar.

- Que? – Rose perguntou, fingindo surpresa. – Você? Detalhes, por favor.

- Não tem detalhes ainda.

- Hum... Quem é ele?

Avery riu, percebendo quão bobo seria aquilo. Ela quase não disse nada. Afinal, ela mal havia dito para o homem o que sentia. Contar algo para sua filha era um pouco surreal.

Ainda assim, ela e Rose estavam progredindo. Não fazia sentido esconder a informações apenas por sua vergonha de sentir algo por um homem que não fosse o pai de Rose.

- É um homem que trabalha comigo. Ramirez.

- Vocês já se pegaram?

- Rose!

Rose deu de ombros.

- Ei... Você queria uma relação aberta e honesta com sua filha, certo?

- Sim, acho que sim – ela disse, sorrindo. – E não... nós não nos pegamos. Mas eu estou afim dele. Ele é bacana. Engraçado, sexy, e tem um tipo de charme nele que antes me irritava, mas agora... é atraente.

- Ele sente o mesmo por você? – Rose perguntou.

- Sente. Ou... sentia. Acho que estraguei tudo. Ele foi paciente, mas acho que a paciência dele acabou. – O que ela guardou para si mesma foi o fato de que havia decidido falar a Ramirez o que sentia, mas ainda não havia colocado os nervos no lugar para isso.

- Você fez ele se afastar? – Rose perguntou.

Avery sorriu.

- Caramba, você percebe as coisas.

- Estou te dizendo. Isso é genético.

Rose voltou a sorrir, parecendo ter esquecido das caixas por um instante.

- Vá em frente, mãe!

- Ah, meu Deus.

Rose riu e Avery a acompanhou. Aquele era facilmente o momento mais próximo das duas desde que elas haviam começado a tentar reparar seu relacionamento. De repente, a ideia de dar um passo atrás no esquadrão de homicídios e tirar algum tempo de folga do trabalho parecia uma necessidade ao invés de apenas uma ideia bacana.

- Você tem algo para fazer no final de semana? – Avery perguntou.

- Arrumar a casa. Talvez um encontro com o Ma—o cara que é melhor continuar sem nome por enquanto.

- Que tal um dia de garotas com sua mãe amanhã? Almoço, cinema, salão.

Rose torceu o nariz com a ideia, mas depois levou a ideia a sério.

- Posso escolher o filme?

- Você deve.

- Parece divertido. – Rose disse com uma ponta de excitação. – Pode contar comigo.

- Excelente – Avery disse. Depois, sentiu um instinto—uma necessidade de perguntar algo que pareceria estranho, mas seria fundamental para que a relação delas seguisse adiante. Ela sabia que o que estava prestes a perguntar para sua filha seria embaraçoso, mas, ao mesmo tempo, libertador.

- Então está tudo bem por você se eu seguir minha vida? – Avery perguntou.

- Como assim? – Rose perguntou. – Esquecer meu pai de vez?

- Sim. Seu pai e toda aquela parte da minha vida—uma parte da minha vida que deixou as coisas difíceis para todos nós. Uma grande parte de mim seguindo em frente, sem estar acorrentada pela culpa. E eu tenho que esquecer seu pai para isso. Eu sempre vou ama-lo e respeita-lo por ter te educado enquanto eu não estava presente, mas tem uma grande parte da minha vida da qual eu preciso me libertar. Você me entende?

- Sim – Rose disse. Sua voz estava suave e indefesa novamente. Escutar aquilo fez com que Avery quisesse ir até o sofá para abraça-la. – E você não precisa da minha permissão, mãe. – Rose continuou. – Eu sei que você está tentando. Eu estou vendo. Mesmo.

Pela terceira vez em quinze minutos, Avery sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. Ela suspirou e mandou embora a vontade de chorar.

- Como você se tornou uma pessoa tão boa? – Avery perguntou.

- Genética – Rose disse. – Você pode ter cometido alguns erros, mãe, mas você sempre foi foda.

Antes de que Avery tivesse tempo para formular uma resposta, Rose deu um passo a frente e a abraçou. Um abraço genuíno—algo que ela não recebia de sua filha há tempos.

Naquele momento, Avery deixou as lágrimas caírem.

Ela não conseguia lembrar da última vez em que havia se sentido tão feliz. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu como se estivesse realmente progredindo para escapar dos erros do passado.

Mais um grande passo seria dado falando com Ramirez e deixando-o saber que ela havia se cansado de esconder o que estava crescendo entre eles. Ela queria estar com ele—seja lá como fosse. De repente, com os braços de sua filha em sua volta, Avery mal podia esperar para conversar com ele.

Na verdade, ela esperava que fosse muito mais do que uma conversa. Esperava que eles acabassem fazendo muito mais do que apenas falar, deixando finalmente de lado a tensão construída entre os dois.