Loe raamatut: «Alerta Vermelho: Confronto Letal », lehekülg 12

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CAPÍTULO 34

20:33

Washington, D.C.

O homem só se encontraria com ele ao cair da noite.

Luke esperou sozinho num caminho ladeado de árvores na margem do Rio Potomac. O sol acabara de se pôr mas não havia luz visível. Havia pouco, levantara-se da água um espesso e frio nevoeiro que já o envolvia. Ninguém o podia ver. Ele podia ser qualquer pessoa aqui. Podia ser um homem morto. Podia deixar de existir. Podia ser a última pessoa à face da terra. A sensação era boa.

Acabara por apressar o regresso a Washington só para não estar à espera. Estava exausto e com tanto em jogo, a espera exasperava-o e incomodava-o. O homem fazia-o sempre esperar. Sempre o fizera, sempre o faria.

Luke falara com Ed Newsam ao telefone dez minutos antes. Newsam estava no hospital. Jacob e Rachel tinham conseguido aterrar o helicóptero no meio de um campo de basebol da Little League. A anca de Newsam estava partida e tinha sido severamente atingido mas ia ficar bem. Era preciso muito mais do que uma Uzi para matar um homem como Newsam. Ainda assim, estava fora da missão e esse pensamento preocupava Luke um pouco.

Ainda havia tanto a fazer.

“Que dia o teu,” Ergueu-se uma voz.

Luke olhou para cima. Um homem alto e idoso com um casaco de cabedal comprido estava perto dele, a passear um cão pequeno castanho e cinzento. O cabelo do homem era tão branco que parecia brilhar na escuridão já instalada. Não olhou diretamente para Luke, mas aproximou-se e sentou-se no extremo oposto do banco. Baixou-se lentamente e com alguma dificuldade para o banco. Depois deu uma festa ao pequeno cão com as suas mãos finas. Como num passe de magia, de uma das mãos surgiu um biscoito que o homem deu ao cão. Sorriu do seu próprio truque.

“Cão giro,” Disse Luke. “De que raça é?”

“Rafeiro,” Respondeu o homem. “Penso que deve ser metade rato. Fui buscá-lo ao abrigo. Estava a vinte e quatro horas de distância da câmara de gás. Como é que se pode querer um cão de raça quando há tantas almas perdidas na ala da morte? É inconcebível.”

“Como te posso chamar?” Perguntou Luke.

“Pode ser Paul,” Esclareceu o homem.

Era engraçado. Paul, Wes, Steve, o homem optava sempre por um nome desinteressante. Quando Luke era jovem, fora Henry ou Hank. Ele era o homem sem nome, o homem sem país. Que se podia dizer de alguém que tinha sido um espião da Guerra Fria, que vendera os segredos do seu próprio país aos soviéticos, depois os segredos dos soviéticos aos ingleses e aos israelitas? E isso era apenas a pequena parte de que Luke tinha conhecimento. Haveria, com certeza, muito mais.

Uma coisa que se poderia dizer, era que tinha sorte em estar vivo. Outra coisa era a fantástica ironia de ter escolhido viver em Washington, D.C., agora, debaixo dos narizes das pessoas que ficariam felizes em matá-lo e arrumá-lo de vez. Mas talvez a traição tivesse uma data de expiração. Depois de algum tempo, talvez já ninguém se importasse. Talvez todas as pessoas que se importassem já tivessem morrido.

Luke começou. “Ok, Paul. Obrigado por vires. Quero dizer-te que conheci hoje um homem em Nova Iorque.”

O velho riu-se. “Ah, sim. Soube disso. Julgo que lhe caíste à porta sem ser convidado. Caído do céu, na verdade.”

Luke olhou para o nevoeiro. Era de uma espessura quase sólida.

“Ele disse algumas coisas que eu não compreendo.”

“Ser esperto não é o mesmo que ser perspicaz,” Disse o homem. “Algumas pessoas, por muito espertas que sejam, são um tanto lentas ao nível da compreensão.”

“Ou talvez tenha compreendido o que ele disse, mas não quero acreditar.”

“O que foi?”

“Operação Red Box,” Lançou Luke. “Foi isto o que ele me disse.”

O velho não disse nada. Olhou em frente. Há apenas um momento, as mãos acariciavam o cão, agora pararam.

Luke continuou. “Ele disse para perguntar ao Diretor da CIA. Bem, não tenho acesso ao Diretor da CIA, mas tenho acesso a ti.”

A boca do homem abriu-se e depois fechou-se outra vez.

“Conta-me,” Disse Luke.

O homem olhou diretamente para Luke pela primeira vez. A sua cara era como pergaminho enrugado. Os olhos eram profundos na sua palidez azul. Eram olhos que ainda guardavam segredos, olhos sem misericórdia.

“Há muito tempo que não ouvia essas palavras,” Disse. “E não recomendo que as voltes a repetir. Nunca se sabe quem está a ouvir, mesmo num lugar como este.”

“Tudo bem.”

“Suponho que lhe tenhas feito uma pergunta para obter essa resposta. O que lhe perguntaste?

“Perguntei-lhe,” Disse Luke, “para quem ele trabalhava.”

O velho soltou um longo suspiro. Parecia o som do ar a sair lentamente de um pneu, até ao fim, até já não restar mais. De repente, o homem levantou-se. Movia-se com rapidez e sem a aparente fragilidade que demonstrara apenas alguns minutos antes.

“Foi interessante falar contigo,” Despedia-se o homem. “Talvez nos encontremos novamente.”

A arma apareceu na mão de Luke como por magia, um truque bem melhor do que o do biscoito. Era uma arma diferente da que estivera na sua posse no início do dia. Esta tinha um silenciador de vinte centímetros preso à extremidade do cano. O silenciador maior que a própria arma. De forma despreocupada, Luke apontou a arma à barriga do homem.

“Conheces este silenciador?” Perguntou. “Chamam-lhe a Ilusão. É novo e como estás fora do jogo há algum tempo o mais certo é não o conheceres. Talvez seja suficiente dizer que é muito, muito eficaz. Numa noite como esta, com todo este nevoeiro? A arma dispara e parece que alguém acabou de espirrar. E não um espirro ruidoso. Um espirro silencioso, daqueles que se dão quando se assiste ao ballet.” Ele sorriu. “Na SRT temos os melhores brinquedos.”

Uma espécie de sorriso aflorou aos lábios do homem. “Gosto sempre dos nossos encontros.”

“Conta-me,” Retomou Luke.

O homem encolheu os ombros. “Devias voltar para casa para junto da tua adorável mulher e filho. Esta é uma situação que não te diz respeito. E mesmo que dissesse, não havia nada que pudesses fazer.”

“O que é a Operação Red Box?”

O velho pareceu estremecer ao ouvir o nome.

Luke esperou alguns segundos, mas o homem parecia não querer falar. “Dá-me uma boa razão para não disparar.”

O homem piscou os olhos. “Mata-me,” Disse lentamente, “e já não me terás como fonte em casos futuros.”

Luke abanou a cabeça. “Não vai haver casos futuros,” Afirmou. “Se este não se resolver, não há futuro para nenhum de nós.”

Luke olhou com desconfiança. “O que é a Operação Red Box?”

O homem abanou a cabeça. “Estás a entrar em terreno pantanoso. Tornaste-te num perigo para ti próprio e para os outros, e o pior de tudo é que nem tens a noção disso. Não vou dizer as palavras, mas a operação que referes foi concebida para acelerar uma sucessão presidencial. É para quando um Presidente tem que ser removido do cargo mas não se pode esperar pelo próximo ciclo eleitoral.”

“Ouvi na rádio que estavam a ameaçar destituir o Presidente esta manhã,” Disse Luke. A afirmação soou-lhe estranha mal a proferiu. Destituição do Presidente e terroristas a fazerem explodir a Casa Branca… os dois elementos simplesmente não combinavam. Luke estava exausto o que tornava difícil pensar com clareza.

“Mais rápido que uma destituição,” Sentenciou Paul. “E mais certeiro. Pensa em mudança abrupta. Pensa em 1963. É uma operação reservada para quando a lealdade de um Presidente já não é inquestionável. É também para quando os acontecimentos são demasiado abrangentes ou demasiado sensíveis para o homem que ocupa o cargo. É para momentos que exigem ação.”

“E quem toma essa decisão?” Questionou Luke.

Paul encolheu os ombros e sorriu novamente. “Quem manda, decide.”

Luke fitou-o.

“Se não sabes quem manda,” Disse Paul, “vou começar a pensar na relação que a tua mãe teria com o padeiro.”

O velho olhou fixamente para Luke. Havia uma luminosidade selvagem naqueles olhos. A Luke, parecia-lhe um vendedor da banha da cobra ou um impostor com um espetáculo itinerante de medicamentos milagrosos. O homem sorriu. E não havia qualquer humor naquele sorriso.

“Viste a Casa Branca a explodir hoje, não viste?”

Luke anuiu, “Estava lá.”

“Claro que estavas. Onde mais poderias estar? Pareceu-te um ataque de drone? Ou pareceu-te outra coisa? Pensa bem. Talvez se parecesse mais com uma série de detonações, bombas colocadas no interior do edifício, talvez vários dias ou meses antes?”

Na sua mente, Luke visualizou novamente as explosões, uma fila delas, a moverem-se da Ala Oeste, ao longo da Colunata até à Residência. Uma enorme explosão reduziu a Residência a pedaços, atirando um grande bloco para o ar. Sentiu outra vez a onda de choque, a que tinha ameaçado derrubar o helicóptero.

Mas como podia alguém colocar bombas dentro da Casa Branca?

Todas as pessoas que lá trabalhavam tinham autorizações de segurança de alto nível, desde as criadas e os homens da manutenção, aos lavadores de pratos, descascadores de cebolas, ao Secretário de Imprensa e ao chefe do cessoal do Presidente. Todos eram controlados. Se lá tinham sido colocadas bombas, então isso significava que…

Um trabalho que partira de dentro. Sempre de dentro, dentro do aparelho de segurança, dentro da comunidade de agências de inteligência, suficientemente de dentro para pegar num grupo de peritos em explosivos, apagar os seus passados, dar-lhes novas identidades e dar-lhes trabalho na Casa Branca. Trabalhos sem supervisão próxima, trabalhos que lhes dessem liberdade para circular pelos corredores, sobretudo à noite quando ninguém estava por perto.

Na cabeça de Luke, começaram a surgir uma série de hipóteses. Tinha passado todo o dia concentrado num grupo de terroristas desorganizados. Estavam minimamente treinados, mas eram violentos e espertos. Escondiam-se, fugiam, empregavam táticas assimétricas, usando a sua pequenez como uma arma contra um inimigo infinitamente superior. Talvez esses homens acreditassem, de facto, que era essa a sua missão. Podem ter roubado o material nuclear. Podem ter conduzido o drone e até explodido parte da Casa Branca. Contudo, eram apenas uma pequena parte da engrenagem. Foram usados por algo muito maior, algo muito mais sofisticado.

Ali Nassar dissera a verdade. Tinha sido o Governo americano.

Uma estranha sensação de calor começou a apoderar-se de Luke. Começou na cabeça e percorreu-lhe os ombros e braços. Olhou para as mãos, quase esperando que rebentassem em chamas. Sentiu-se nauseado. Por um segundo, pensou que vomitaria. Não queria fazê-lo, não aqui, não em frente a Paul.

“Como os posso parar?” Perguntou Luke.

Paul abanou a cabeça. “Meu caro, não se para a Operação Red Box. Sai-se do caminho. Isto não é para ti, Luke. Se te intrometeres, vais falhar. Vais falhar de uma forma que te poderá parecer espetacular quando acontecer, mas no fim não passará de algo próximo do patético.”

“Então dá-me o suficiente para que isso aconteça.”

Paul resmoneou e depois riu. “És um louco. Não tens qualquer sentido de autopreservação. És como um daqueles pilotos japoneses kamikazes da 2ª. Guerra Mundial que pilota um avião cheio de bombas e o despenha contra um porta-aviões. Só que neste caso, o avião que pilotas é uma banheira de brincar.”

O velho parou de falar e ficou a pensar por um momento, ao ver que Luke não recuava.

“Ok. Queres morrer? Entra em contato com um homem chamado David Delliger. É o Secretário da Defesa, no caso de não saberes. Foi companheiro de quarto do Presidente em Yale. Não pode fazer parte da conspiração mas estará muito, muito perto sem o saber. Só vai juntar as peças passado algum tempo, mas vai chegar lá. Talvez também não tenha qualquer instinto de sobrevivência. Se assim for, os dois farão um par e tanto.”

“E o Presidente?” Perguntou Luke.

Paul encolheu os ombros. “O que tem ele?”

“Ele está seguro agora, não está?” Questionou Luke. “Está dez andares abaixo do nível do solo.”

Paul sorriu. “Tenho que ir andando. Está a ficar tarde para um velho andar por aí. Estes parques podem ser perigosos à noite.”

“O Presidente está seguro,” Insistiu Luke, segurando-lhe no braço de forma desenfreada, na ânsia de obter uma resposta.

Paul abanou a cabeça lentamente e retirou do braço a mão de Luke.

“Não percebes,” Replicou Paul com a voz rouca antes de se voltar e mergulhar novamente no nevoeiro prateado e cinzento. “Se se trata realmente da Operação Red Box, então o Presidente já está morto.”

CAPÍTULO 35

20:53

Centro de Operações de Emergência de Mount Weather – Bluemont, Virginia

Um jovem sério espreitou para dentro da sala.

“Sr. Presidente? Vamos estar em direto daqui a sete minutos. Gostaríamos que estivesse no estúdio dois minutos antes do início.”

Thomas Hayes estava sentado numa cadeira de barbeiro de cabedal naquele que era um cenário equivalente ao seu quarto de vestir. A sala tinha uma forma oval. As paredes estavam nuas, com exceção do espelho à sua frente e um comprido toucador. No espelho conseguia ver o seu chefe de pessoal, David Halstram a tentar relaxar no sofá.

David parecia ter duas velocidades – Depressa e Mais Depressa. Não conseguia relaxar nem na mais tranquila das circunstâncias. E o dia de hoje tinha sido tudo menos tranquilo. Inquietava-se demasiado. Um dos sapatos batia descompassadamente no chão de cimento.

O Presidente segurava na mão o último esboço do seu discurso. Nada como a macieza do papel para o Presidente Hayes – nunca se adaptara completamente à revolução digital. David, por sua vez, tinha o mesmo discurso num iPad.

Duas mulheres jovens davam um toque final a Hayes. Uma delas suavizava de tal forma a maquilhagem do Presidente, que quase parecia que não usava maquilhagem. A outra penteava-lhe o cabelo para lhe dar um aspeto decente e apresentável, mas não perfeito. Quase fora morto hoje. Devia aparentar alguma perturbação.

“O que é que isso significa?” Perguntou ao jovem que falara. “É uma equação matemática?”

“Significa que tem mais cinco minutos, Sr. Presidente.”

“Ok. Lá estaremos.”

Quando o homem saiu, o Presidente olhou novamente para David através do espelho. “O que te parece esta frase que ele utiliza na parte final, a grandeza espera-nos? Utiliza-a três vezes. Soa à frase de um anúncio para uma conta sem taxas agregadas. Quero dizer, o que devo fazer com isto?”

Hayes, como é óbvio, estava nervoso. Dentro de poucos momentos, is estar em direto a falar ao povo americano sobre a crise que estavam a enfrentar. Ia ser visto e ouvido por todos os adultos do país e muitos mais fora dele. Todas as estações de televisão estavam a anunciar a transmissão. E as rádios também. E o YouTube transmitiria ao vivo.

Era o maior discurso individual que jamais faria e tinha sido composto durante a tarde e noite por um proeminente escritor de discursos que Hayes teria despedido há semanas se não tivesse tantas outras coisas em que pensar.

“Thomas,” Disse David, “é o melhor orador público que já ouvi na minha vida. Não, ainda não estava por cá no tempo do John F. Kennedy ou do Martin Luther King, mas também não interessa. Ninguém vivo se compara a si. Alguém tentou matá-lo hoje. Destruiram a Casa Branca e mataram mais de vinte pessoas. O povo americano quer ouvi-lo. Fale-lhes do coração. Comova-os e lidere-os. Use este discurso como um guia se quisere ou atire-o ao lixo. Já o ouvi discursar sem qualquer nota e deixar uma sala a esvaír-se em lágrimas.”

Hayes anuiu. Agradava-lhe a ideia de se desviar do discurso escrito. Agradava-lhe a ideia de assumir a liderança. E quando pensou em liderar, apercebeu-se do que faltava agora. Aquela sensação de medo, de trepidação, de ser levado como um grão de areia pelo vento. Tinha desaparecido. O ataque de hoje tinha aberto o caminho à focalização da sua mente. Sentia-se confiante. Sentia que podia ser um líder novamente. Já não se importava com o que pensava a Câmara dos Representantes ou o que faziam pessoas como Bill Ryan.

Thomas Hayes tinha sido eleito pelo povo dos Estados Unidos da América para liderar. E liderar era o que pretendia fazer.

“Pensa que a Susan vai aparecer?”

David assentiu. “Tenho a certeza que vai. Falei com ela ao final da tarde. Não gosta muito de si neste momento, mas isso também não é novidade. Lidamos com isso mais tarde. Entretanto, ela vai fazer o seu trabalho. Quando o discurso terminar e estiver a cumprimentar e a conversar com as pessoas mais poderosas da América, e todos estiverem unidos em frente às câmaras, ela vai estar bem à frente e muito, muito visível.”

“Ok, David. Sinto-me mal com o que aconteceu hoje. Quero resolver isso.”

David concordou. “E vai resolver.”

Quando chegou o momento, Hayes levantou-se da cadeira, endireitou o casaco e marchou na direção da sala. David estava com ele, apenas um passo atrás. Hayes entrou no estúdio subterrâneo de TV. O palanque com o selo presidencial encontrava-se num palco com tapete azul. Estava rodeado de câmaras e luzes.

Hayes sentia-se bem, enérgico e poderoso. Sentia aquela onda de eletricidade que o invadia antes de uma corrida, na altura em que era capitão da equipa nacional de remo.

Resistiu à vontade de correr para o palco como se fosse o anfitrião de um qualquer programa de televisão.

Atrás dele, o telefone de David começou a tocar. O Presidente olhou para o seu chefe de pessoal. David identificar quem lhe ligava. Olhou para cima.

“É o Luke Stone.”

O Presidente encolheu os ombros. “Atenda, ainda temos alguns minutos. E além disso, não tenho problemas com isto, já o fiz um milhão de vezes.”

Subiu ao palanque e olhou na direção das luzes brilhantes.

*

Luke estava à beira da água. Tinha dado cinco passos a partir do banco onde o pai o deixara sentado. Não via nada à sua frente. O nevoeiro era tão denso que era uma sorte ter conseguido fazer a chamada.

O telefone tocou e tocou.

“Halstram,” Atendeu uma voz.

“David, tenho que falar com o Presidente Hayes.”

“Lamento, Luke. Tu e o teu parceiro fizeram um trabalho notável hoje mas o Presidente vai entrar em direto daqui a dois minutos. Se quiseres podes deixar uma mensagem e eu transmito-lhe logo que o discurso terminar. Espero dinamite dele. Apanharam-nos uma vez, mas não vamos baixar os braços, nem pensar.”

“David, temos um grande problema.”

“Eu sei. Eu estava lá, lembras-te? Vamos trabalhar arduamente e vamos dar a volta por cima. E acredita que vais fazer parte de tudo isso.”

Luke não sabia como lidar com pessoas como David Halstram, pelo menos não ao telefone. David falava sem parar, parava e depois recomeçava a falar. Era enérgico e provavelmente muito inteligente. Era óbvio que tinha confiança nas suas próprias capacidades e estava convencido que as pessoas deviam ouvi-lo e fazer o que ele dizia. Era difícil abrandá-lo o tempo suficiente para que ouvisse.

Se Luke estivesse junto dele naquele momento, podia simplesmente ter encostado a arma à testa de David e agarrá-lo pelo cabelo ralo. Ou se estivesse mais relaxado, podia simplemente dar a David um golpe de Karaté na clavícula. Qualquer destas coisas, chamaria a atenção de David. Mas ao telefone? Era difícil.

Falou lentamente como se se estivesse a dirigir a um imbecil. “David, tens que me ouvir. A vida do Presidente está em risco.”

“É por isso que estamos debaixo da terra neste momento.”

“David…”

“Ouve, Luke, eu tenho que estar disponível por aqui. Se não tens uma mensagem específica que queiras deixar, liga daqui a… digamos, noventa minutos, ok? Se não me conseguires apanhar, tenta novamente dali a meia hora.”

“Têm que sair daí.”

“Ok, Luke, falaremos sobre isso. O Presidente vai agora mesmo para o ar. Tenho que ir.”

Desligara. Luke fitou o telefone. Fez um esforço sobrehumano para não o atirar ao rio. Em vez disso, caminhou na direção do carro e um minuto mais tarde começou a correr.

Ele ia realmente conduzir até Mount Weather agora, depois de não dormir durante quarenta horas?

Sim.

CAPÍTULO 36

Como ela gostaria de estar em qualquer outro lugar que não ali.

Encontrava-se a fumar um cigarro com o smartphone encostado ao ouvido no exterior da entrada da unidade de Mount Weather.

Fumar era uma daquelas coisas de que o povo americano nunca podia ter conhecimento. Susan Hopkins gostava de fumar um cigarro de vez em quando e fazia-o desde que era uma supermodelo adolescente. Sobretudo em momentos de stress, não havia nada melhor e este era provavelmente o dia mais stressante da sua vida. Nunca antes tinha sido vítima de uma tentativa de homicídio.

Usava um vestido vermelho, talvez demasiado sexy para a ocasião. Tinha sido enviado de helicóptero diretamente da loja Nordstrom no centro comercial próximo do Pentágono, juntamente com uma costureira para o ajustar. Tinha sido ideia do David Halstram. Era para que as pessoas que a vissem na televisão a pudessem detetar mais facilmente. Dessa forma, a seguir ao discurso de Thomas, a ninguém escaparia que Susan Hopkins se encontrava num túnel subterrâneo, presa a cada palavra do Presidente. Era uma boa ideia. Mas a noite estava fresca e o ar da montanha penetrava facilmente no vestido.

Tremia. Três agentes dos Serviços Secretos estavam não muito longe. Aproximaram-se. Não queria que nenhum deles lhe emprestasse o casaco, esse tipo de cavalheirismo metia-lhe nojo.

Pierre falava com ela ao telefone.

“Querida,” Disse, “queria mesmo que saísses daí. Está-me a deixar nervoso. Posso enviar um avião para qualquer aeroporto mais próximo. Podes estar de volta dentro de uma hora. Reforcei a segurança. A vedação elétrica está ligada. Só um pequeno exército passava. Podes dizer a todos que precisas de algumas semanas para recuperar. Relaxar à beira da piscina. Fazer uma massagem.”

Susan sorriu ao pensar em Pierre fechado na sua mansão de trinta divisões, seguro atrás da sua vedação elétrica. Quem é que ele pensava evitar deixar entrar, uma comissão de praches? Nem a vedação, nem a porta de entrada, nem os oito (em vez de quatro) detetives aposentados iriam impedir as pessoas que a tinham quase morto.

Meu Deus.

“Pierre…”

Ele continuava a falar. “Deixa-me acabar,” Disse.

Susan pensou nos primeiros tempos com ele. Já tinha trabalhado para a Vogue, Cosmo, Mademoiselle, Victoria’s Secret e até tinha entrado na edição para jovens masturbadores da Sports Illustrated. Mas começava a envelhecer. Ela sentia-o e o seu agente fizera questão em dizê-lo. Os convites para capas tinham cessado. Tinha vinte e quatro anos.

E foi então que conheceu Pierre. Ele tinha vinte e nove anos e a oferta pública inicial da sua startup tinha acabado de o transformar num bilionário. Tinha crescido em São Francisco mas a família era proveniente de França. Era belo, tinha um corpo magro e olhos grandes e castanhos. Parecia um cervo encadeado por holofotes. O cabelo negro sempre lhe caíra no rosto. Era irresistivelmente giro.

Ao longo da carreira, Susan tinha ganho muito dinheiro, vários milhões de dólares. Financeiramente, estava muito confortável. Mas de repente, o dinheiro deixara de importar. Viajavam juntos pelo mundo. Paris, Madrid, Hong Kong, Londres… Ficavam sempre em hotéis de cinco estrelas e sempre na suite mais dispendiosa. As vistas panorâmicas espantosas, tranformaram-se no pano de fundo da sua vida. Esquiaram nos Alpes e em Aspen. Apanharam banhos de sol nas praias das ilhas gregas, mas também em Bali e Barbados. Casaram e tiveram filhos, duas maravilhosas meninas gémeas. E então os anos começaram a passar e lentamente começaram a afastar-se.

Susan começou a enfastiar-se. Procurava qualquer coisa para fazer. Meteu-se na política. A dada altura, concorreu a Senadora pela Califórnia. Era uma ideia louca e surpreendeu toda a gente (incluindo ela própria) ao ganhar de forma esmagadora. Depois disso, passou muito do seu tempo em Washington, algumas vezes com as meninas, outras vezes não. Pierre dedicava-se à gestão dos seus negócios e, invariavelmente, aos seus esforços de caridade no terceiro mundo. Alturas havia em que não se viam durante meses.

Há cerca de sete anos, Pierre ligou-lhe de madrugada e confessou algo que ela pensava já saber. Ele era gay e tinha uma relação.

Continuaram casados sobretudo por causa das meninas, mas também por outras razões. Por um lado, eram grandes amigos e por outro, era melhor para ambos que o mundo os visse como um casal. Tinham elaborado uma imagem conjunta na comunicação social e era confortável.

Ela suspirou. Era mais um daqueles segredos que o povo americano não podia descobrir.

Olhou para o relógio. Eram quase nove horas.

“Pierre,” Disse ela outra vez.

“Sim,” Respondeu ele finalmente.

“Amo-te muito.”

“Eu também te amo.”

“Ótimo. Vou ter tudo o que disseste em consideração. E vou para aí logo que puder, mas neste momento tenho que ir assistir o Presidente a fazer o seu discurso.”

“O Presidente é um idiota.”

Ela anuiu. “Eu sei. Mas é o nosso idiota e temos que o apoiar, ok?”

“Ok.”

Ela desligou o telefone e deitou fora o cigarro. Olhou para os três gigantes que a rodeavam. “Vamos,” Disse. Um minuto depois estavam no elevador a descer rumo às profundezas da terra.

*

“Quarenta segundos, Sr. Presidente,” Anunciou uma voz da cabina de controlo. “Quando a luz ficar verde, está em direto.”

“Estou virado para o verde?” Perguntou Hayes.

“Temos cinco ângulos mas sim, no verde dirige-se diretamente ao público. Trinta segundos.”

David Halstram colocou-se na parte de trás do estúdio onde tinha uma visão abrangente de toda a cena. O Presidente estava alto no palanque, calmo, à espera que a luz surgisse. No pequeno anfiteatro à sua frente estavam sentadas algumas das pessoas mais influentes do país.

Congressistas e Senadores de ambos os lados compunham grande parte do público– sobretudo liberais como o Presidente, mas também muitos da oposição leal. O Secretário de Estado estava lá, assim como o Secretário do Tesouro e o Secretário da Educação. Os diretores da NASA, da National Science Foundation e do National Park System estavam sentados numa fila, rodeados pelo seu pessoal superior.

O coração de Halstram batia a mil. Dizer que estava excitado era subestimar o seu estado de espírito. Sentia-se como se estivesse num foguetão, a acelerar por entre o campo de gravidade da Terra. Estes eram os momentos para que vivia.

Nascera para aquele trabalho. Não bebia álcool e nunca consumira drogas. Mal sentia necessidade de cafeína. Trabalhava dezoito horas por dia sem pestanejar, dormia quatro ou cinco horas, levanta-se e fazia tudo outra vez. A energia do café não era comparável à vivacidade de David.

O Presidente Thomas Hayes estava prestes a dirigir ao país um dos mais importantes discursos da história da América e David Halstram, o seu chefe de pessoal, o seu confidente, o seu conselheiro de confiança, estava apenas a poucos metros de distância.

“Vinte segundos, Sr. Presidente.”

Uma breve perturbação atravessou a consciência de David. Luke Stone. Tinham colocado meios à sua disposição, claro que tinham, afinal ele tinha salvo o Presidente mas… era preciso saber com quem estavam a lidar. O registo do homem tinha muita informação. Coisas alarmantes. Stress de guerra. Uso questionável da força. Abuso de autoridade. Falsificação. Aparentemente, tinha conseguido entrar na Ala Oeste da Casa Branca com uma autorização de segurança Yankee White falsa. Como a conseguira? O que teria acontecido se a não tivesse conseguido?

“Dez segundos. Boa sorte, Sr. Presidente.”

Agora queria que abandonassem a unidade. Ok, David falaria com ele a esse respeito. Talvez de manhã pudessem… o quê? Ir para Camp David?

No palanque, Hayes olhava diretamente para a câmara.

A voz surgiu uma última vez. “Estamos em direto em quatro…”

“Três…”

Hayes sorriu. Parecia um sorriso falso, forçado, mas depois diluiu-se em algo diferente.

“Dois…”

Transformou-se num olhar de determinação.

“Um.”

“Boa noite, meus concidadãos americanos,” Começou o Presidente com um sorriso amplo e confiante. “Estou aqui para vos dizer–“

BOOM!

Uma luz reluziu e por um milésimo de segundo David julgou tratar-se da luz verde por que o Presidente aguardava. Mas não era verde. Era branca e enorme e ofuscante. Vinha de algures atrás do Presidente.

Devorou o Presidente.

A sua força projetou David do seu lugar. Voou, bateu numa parede atrás de si e caiu no chão. Tudo estava negro. Não conseguia ver. O chão por baixo dele tremia.

De repente, uma outra luz refulgiu, maior e mais intensa do que a primeira. Tudo ruía. Toda a unidade se movia. O teto acima dele cedera. Sentiu-o cair. Um grande pedaço de mármore caiu-lhe nas costas e nas pernas. Doeu e depois já não.

David pensava com muita rapidez. Soube imediatamente que as suas pernas estavam esmagadas e que estaria, quase de certeza, paralisado da cintura para baixo. Era uma suspeita porque já não sentia nada, o mais provável era estar a esvair-se em sangue.

Na escuridão que o rodeava, pessoas invisíveis gritavam.

Estou dez andares abaixo do nível do solo. Ninguém me vem salvar.

Pensou no que acontecera apenas alguns segundos antes. O primeiro flash ofuscante de luz. Agora via tudo com clareza. A luz não tinha engolido o Presidente.

Tinha-o eliminado.

O Presidente – e muito possivelmente todos os que ali estavam com ele – estava morto.

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10 september 2019
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