Loe raamatut: «Alerta Vermelho: Confronto Letal », lehekülg 14

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CAPÍTULO 40

23:05

Condado de Fairfax, Virginia – Subúrbios de Washington, D.C.

Luke estava à deriva.

O telefone tocou.

Deitado no sofá, levantou-se de um salto. Tinha tomado outra bebida enquanto esperava o telefonema de David Delliger. E depois adormecera. Devia ser Delliger.

Atendeu o telefone.

“Estou?”

“Luke? É o Ed Newsam. Acordei-te?”

Luke estava desorientado. “Não. Que horas são? Não, não me acordaste. Ed. Como estás? Quero ir visitar-te amanhã. Levo-te flores. Queres uma sandes? Uma sandes a sério, nada de comida de hospital.”

“Não é preciso,” Disse Ed. “Tenho alta de manhã. Ouve, temos problemas. Três homens acabaram de me tentar matar.”

Luke endireitou-se. “O quê? Onde estás?”

“Ainda estou no hospital. Tenho uns dez polícias à minha volta neste preciso momento. Vão colocar-me noutro quarto com polícias à porta.”

“Onde estão os assassinos?”

Houve uma pausa. “Bem, estão no chão. Não se safaram. Tentei sacar a identificação a um deles, mas não estava para aí virado. Não podia fazer mais nada. Mataram a enfermeira de serviço e esconderam-na debaixo de uma secretária. Entraram aqui com máscaras. Ou muito me engano ou não vai ser possível identificar aqueles tipos. É o que te digo. Fantasmas.”

Luke passou uma mão pelo cabelo. “Mataste-os a todos?”

“Sim, matei.”

Instalou-se um longo silêncio ao telefone.

“Tens que ter cuidado, Luke. Foi por isso que te liguei. Isto com o Presidente… está tudo errado. E estes tipos não se parecem nada com iranianos. Parecem-se mais com surfistas de São Diego. Se me tentaram matar, também te vão tentar apanhar a ti.”

Luke desligou a televisão, depois debruçou-se sobre a mesa de apoio e desligou a luz. Agachou-se e foi para a cozinha. Lá, também desligou a luz. Com exceção do brilho cor de laranja pálido nos interruptores das paredes e da luz LED vermelha do stereo na sala, o primeiro andar estava completamente às escuras. Luke rastejou até à sala de jantar.

“Luke? Estás aí?”

“Sim, estou aqui.”

“O que é que estás a fazer?”

“Nada. Estou bem.”

Luke pegou numa ponta do tapete azul da sala de jantar e levantou-a. Por baixo, estava um alçapão construído sobre o pavimento de madeira. Luke aninhou o telefone ao ouvido e sacou o porta-chaves. Embutidas no alçapão, distinguiam-se fechaduras minúsculas à esquerda e à direita. Encontrou as pequenas chaves prateadas que encaixavam em cada fechadura, introduziu-as e abriu a porta.

“Vais falar comigo?” Perguntou Ed.

“Estou a preparar-me neste momento, Ed. Acho que devo desligar.”

“Provavelmente é uma boa ideia. Boa sorte, irmão.”

“Obrigado pela dica.”

O telefone caiu no chão. Abriu o alçapão e tirou de lá uma caixa metálica comprida. Outra arca de brinquedos. Luke mantinha-as um pouco por toda a casa. Introduziu o código e abriu a caixa. Esta era uma caixa maior do que as outras.

Uma espingarda M16. Uma shotgun Remington 870. Mais algumas armas. Uma faca de caça. Três granadas. Várias caixas de munições. Colocou as mãos sobre as granadas. Iria tentar a todo o custo não rebentar com a casa. Com as mãos a tremer ligeiramente, devido ao medo ou talvez devido à fome, Luke começou a carregar as armas.

O telefone tocou novamente. Desta vez olhou para o visor. Um número anónimo. Suspirou. Mais valia falar com quer que fosse. Atendeu à espera que pudesse ser David Delliger ou talvez uma operadora de telemarketing a tentar vender algo a horas impróprias.

“Luke? É Don Morris.”

Luke colocava cartuchos de nove milímetros num depósito vazio, os dedos a mexerem-se rapidamente e de forma automática. Embrenhado na sua tarefa, de repente, fez-se luz. Don sabia alguma coisa sobre o que se passava. É claro que sabia. Ele e o Presidente era companheiros de pesca.

“Olá, Don. Como é que conheces o antigo Presidente da Câmara dos Representantes?”

“Estivemos juntos na Citadel, Luke. Há muitos anos atrás. Depois da formatura, juntei-me ao exército e o Bill foi para a faculdade de direito.”

“Estou a ver.”

“Temos que falar, Luke.”

“Ok.” Luke encheu um depósito e colocou-o de lado. Começou a encher o seguinte. “Mas se falarmos, vamos ser sinceros, pode ser?”

“É justo,” Disse Don.

“Então, começa tu.”

Don fez uma pausa antes de começar a falar. “Bem… penso que nesta altura já é claro para ti o que aconteceu hoje.”

“Eu diria que é claro como a água, Don. E ainda se tornou mais claro depois desta chamada.”

“Ainda bem, Luke. Assim já não temos que fingir. Podemos ir diretamente aos factos. És um guerreiro batido, tal como eu. Tens que perceber que isto tinha que ser feito. Foi para o bem do país. Foi pelo futuro dos nossos filhos e dos filhos dos nossos filhos. Não podemos permitir que os nossos inimigos façam de nós gato-sapato no palco do mundo. O homem em causa teria entregue o forte sem disparar um único tiro. E isso acabou.”

Luke terminou outro depósito. Começou a carregar um terceiro.

“E agora?” Perguntou.

“Vamos endireitar as coisas. Pomos as pessoas certas nos lugares certos e deixamos claro a todos quem é que manda.”

“E depois disso? O que acontece no Governo?”

“O mesmo que aconteceu da última vez. O Presidente Ryan cumpre o mandato atual, ou seja, mais três anos. Candidata-se ou não à reeleição. Penso que o fará, mas é ele que decide. O povo decide quem é o novo Presidente. Nada mudou, Luke. A Constituição continua em vigor. Limitámo-nos a carregar no botão apagar.”

“Todo o Governo civil foi decapitado,” Afirmou Luke.

“Trataremos do assunto.”

“É só começar tudo outra vez, não é, Don? Como quando éramos crianças?”

“Claro. Começar tudo outra vez.”

“Quantas pessoas já morreram até agora para satisfazer a vossa necessidade de recomeço?”

Silêncio na linha.

“Luke, eu diria que um porcento de um porcento de um porcento da população. Trezentas e cinquenta pessoas num total de trezentos e cinquenta milhões. É apenas uma estimativa, mas parece-me ser precisa. Saberemos mais de manhã. Se pensares bem nisso, não é um preço muito elevado a pagar.”

Luke agachou-se na escuridão. Colocou um coldre de ombro do lado esquerdo e depois do direito. A M16 ficaria presa às costas. As granadas seriam colocadas nos bolsos das calças cargo. A shotgun estaria nas suas mãos, pronta a disparar.

Olhou para a sala. Aquelas janelas do chão ao teto tinham agora um aspeto ridículo. Vivia, literalmente, numa casa de vidro. Não havia forma de defender este local. Tinha que sair dali, muito provavelmente debaixo de intenso tiroteio.

“Luke?”

“Estou a ouvir-te, Don.”

“Tens perguntas?”

“Claro. Aqui vai uma. Porque é que me acordaste a meio da noite para participar nisto? Não trabalhava há seis meses, não trabalhei num caso em dez.”

Don riu-se e aquele linguajar arrastado sulista começou a fluir como melaço. “Foi apenas um erro da minha parte. És um dos melhores operacionais que já conheci, mas pensei que estivesses lento e sem prática depois de tanto tempo afastado. E foste um pouco lento ontem à noite, mas recuperaste rapidamente. Subestimei-te, é tudo. Devias ter chegado aos iranianos e não ter passado daí.”

“Então quando a Casa Branca explodiu, podíamos ter simplesmente culpado os iranianos?”

“Sim. Podia ter sido tão simples quanto isso.”

“E o Begley?”

Don riu-se novamente. “O Ron Begley não encontra o seu próprio traseiro com as duas mãos.”

“Então não estava metido nisto?”

“Não, nem pensar.”

Agora era Luke que quase se ria. Bem lhe parecia. O pobre do Ron Begley estava a salvaguardar os direitos de Ali Nassar por razões que não compreendia. Provavelmente pensava estar a proteger a santidade da imunidade diplomática. Se não a respeitarmos aqui, eles não a vão respeitar lá. Ou então estava simplesmente a tentar lixar Luke.

“Porque é que me estás a ligar, Don?”

“Agora chegámos ao cerne da questão, filho. Foi emitido outro mandato para a tua captura. O chefe do pessoal do anterior Presidente conseguiu ligar de Mount Weather antes de morrer e parece que te implicou no desastre. Querem interrogar-te a esse respeito. E aquele homicídio em Baltimore hoje de manhã? Parece que estiveste aliado aos terroristas durante todo este tempo. Conduziste o Presidente à sua perdição. Aquela situação em Baltimore? Mataste um dos teus parceiros para encobrires o teu rasto. E encontrámos uma conta offshore que conseguimos associar a ti. Estão lá mais de dois milhões de dólares.”

Luke sorriu.

“Não consegues fazer melhor do que isso?” Perguntou Luke. “Por dinheiro numa conta falsa em meu nome.”

“Penso que será suficiente,” Disse Don.

“E o Ali Nassar?” Interrogou Luke.

“O teu mandante? Morreu há cerca de uma hora. Suicidou-se. Saltou da varanda do seu apartamento. Cinquenta andares, consegues imaginar? Felizmente, embateu numa saliência de betão no terceiro andar e ninguém na rua se magoou.”

Luke encolheu os ombros. Não era propriamente fã de Ali Nassar. Fizesse o que fizesse, Nassar tinha que ter a noção que estava errado. E tinha que encarar a sua morte como uma possibilidade. Se não tinha essa perceção, então era mais estúpido do que parecia. “Muito conveniente,” Disse Luke. “Mais um que se extingue em poeira.”

“De facto.”

“E agora deves querer que eu me renda pacificamente.”

“Realmente queria.”

“Não tens grande fé nisso, pois não?”

“Luke…”

Do local onde Luke se encontrava na sala de jantar, podia ver as grandes janelas viradas para sul e oeste na sala de estar. A casa estava situada numa pequena encosta relvada. A altura era mais uma vantagem. O bairro era tranquilo. A maior parte dos residentes estacionava as viaturas nas suas próprias entradas ou garagens.

A sul, dois carros descaracterizados estavam estacionados de frente um para o outro na esquina seguinte. Eram carros velozes, o tipo de carros que o Governo confiscava aos traficantes de droga. As janelas eram esfumadas. Pareciam aranhas ali aninhadas, à espera. A oeste, no canto mais a norte da janela, conseguia ver uma carrinha preta estacionada na rua seguinte. Era tudo o que dali conseguia ver. Provavelmente haveria mais.

“Se há um mandato para a minha captura,” Continuou Luke, “então porque não se limitam a mandar polícias? Tudo o que vejo são fantasmas.”

Don riu-se. “Ah, bem. Mandato foi uma forma de expressão. Digamos apenas que gostávamos que nos acompanhasses para conversarmos.”

Claro. Não havia polícia envolvida. Se Luke saísse e se rendesse, eles livravam-se dele. Caíria num buraco negro e nunca mais se saberia nada dele.

Isso não ia acontecer.

“Posso prometer-te um banho de sangue, Don. Se vieres atrás de mim, mato todos os homens que estão lá fora e mais dez, vinte, trinta ou mais. É uma data de janelas e muitos órfãos. Testa-me.”

A voz de Don era tranquila. “Luke, ouve-me com muita atenção. Isto é a coisa mais importante que já tive que te dizer. Estás a ouvir-me?”

“Estou a ouvir,” Assentiu Luke.

“Eles têm a tua mulher e o teu filho.”

“O quê?”

“Isto não tem nada a ver contigo, Luke. Nunca teve. Tu eras um figurante, um ator menor numa peça de grandes proporções. Se tivesses ido para casa quando te suspendi esta manhã, nada do que se seguiu teria acontecido. Mas não foste para casa e como resultado disso puseste a Rebecca e o Gunner num terrível risco. Eles estão bem e não os magoaram, mas tens que me ouvir. Se desistires agora, para de fazer o que está a fazer, sai de casa com as mãos no ar e tudo vai correr bem. Mas se insistires em continuar esta… loucura…” Fez uma pausa. “Não sei o que poderá acontecer.”

“O que é que estás a dizer, Don?”

“Não é a tua luta, Luke, nem a minha. Isto é algo maior do que nós.”

“Don, se fizeres mal à minha família–“

“Não sou eu. Tu sabes que eu nunca faria mal à tua família. Amo-os como se fossem a minha própria família. Eu sou apenas o mensageiro. Lembra-te disso por favor.”

“Don–“

“A escolha é tua, Luke.”

“Don!”

Desligara.

CAPÍTULO 41

23:15

Condado Queen Anne, Maryland – Eastern Shore da Baía de Chesapeake

Rebecca estava deitada na cama a fitar a escuridão. Na mesa de cabeceira ao seu lado, o telefone começou a tocar. Olhou para ele. Dali conseguia ver o visor. Era Luke a ligar. Mas ela não se conseguia mexer. Isso iria denunciá-la. Ela sabia que estava alguém dentro da sua casa.

Ela estava deitada, glacial, com o coração a martelar no peito. Tinha acordado com passos lá em baixo, corpos pesados a pisar o chão cuidadosamente. A casa era muito, muito velha e o soalho rangia. Aliás, não havia praticamente nenhum ponto da casa que não rangesse pelo menos um pouco.

E ali estava novamente. Um passo pesado lá em baixo, a tentar ser silencioso, a tentar ser cuidadoso. Outro calcava o soalho na sala. Pelo menos duas pessoas estavam lá em baixo. Para lá da janela do quarto, ouviu passos a circularem na erva. Havia pessoas a movimentarem-se no exterior da casa.

Uma certeza apoderou-se dela. Levou um momento a conceber a crua realidade porque estivera a dormir quando os sons a acordaram. O Gunner também estava em casa.

Meu Deus. Tinha que o tirar dali.

O que é que ela podia fazer? Luke mantinha as armas escondidas. Obrigara-o a fazer isso para que o Gunner nunca as encontrasse quando estivesse sozinho.

Deslizou da cama acautelando o local onde punha os pés no chão. Despiu a camisa de noite. Pegou num par de jeans e na blusa que vestira durante o dia. Um plano começou a aflorar-lhe a mente. Iria até ao quarto de Gunner, acordava-o sem emitir um som e abriria a janela. Ambos saltariam e silenciosamente atravessariam a inclinação do telhado à saída do seu quarto. Se ninguém os visse, desceriam pelo algeroz e correriam até à casa mais próxima situada a cerca de meio quilómetro de distância.

E era isso. Era o plano.

Olhou para cima e arquejou. Gunner entrara com a t-shirt dos Walking Dead vestida e as calças de pijama. Esfregava os olhos.

“Mamã? Ouviste alguma coisa?”

Saído da escuridão logo atrás de Gunner estava um homem muito alto. Tinha uma maçã-de-adão invulgarmente saliente. O rosto era liso e vazio. A sua expressão não se refletia nos olhos. Os olhos estavam mortos. Sorriu.

A voz era agradável, parecia divertido.

“Olá, Sra. Stone,” Disse. “Acordámo-la?”

Gunner gritou, sobressaltado pela voz profunda vinda de trás dele. Correu para Becca que o escondeu atrás dela. A sua respiração parecia estar presa na garganta. Respirava acelaradamente. E depois, um pensamento estranho ocorreu-lhe.

“Tudo bem, cara Sra.,” Sibilou o homem. “Não vamos fazer-lhe mal. Para já.”

O pensamento estava relacionado com Luke. Ele era tão paranóico, possivelmente devido às coisas terríveis a que já tinha assistido. Quando ainda estava em missão no exterior durante semanas a fio, ensinara-lhe a defender-se. Mas o que lhe mostrara não era kickboxing ou karaté. Não a tinha ensinado a sacudir ou a esmurrar.

Não. Trouxera para casa daqueles bonecos muito reais, pesados e anatomicamente semelhantes a um ser-humano. Luke ensinara-lhe a pressionar os dedos em profundidade nas órbitas. Ensinou-lhe a arrancar narizes. Completamente! Enterrar os dentes profundamente e arrancar o nariz do rosto. Ensinou-a a esmagar, não apertar, os testículos. Ensinou-a a colocar a mão na boca e empurrá-la até à garganta. Mostrou-lhe como fazer mal de forma permanente a outro ser-humano, sobretudo um que fosse maior e mais forte do que ela.

Lembrava-se do sorriso aberto de Luke enquanto falava naquilo. “Se chegar o momento em que não te reste alternativa senão lutar, então tens que magoar a outra pessoa. E não um pouco. Nem mesmo muito. Tens que a magoar até ao extremo para que não se consiga levantar para te fazer o mesmo ou pior.”

Seria ela capaz? Conseguiria magoar aquele homem? Se estivesse sozinha, talvez não. Mas o Gunner estava ali.

O homem dirigiu-se a ela. Aproximou-se bastante. Usava botas, calças caqui e uma t-shirt. Pressionou o corpo contra o dela, mas não lhe tocou com as mãos. O peito dele tocou-lhe ligeiramente no rosto. Conseguia sentir o calor que emanava do seu corpo. Colocou as mãos na parede atrás dela. O corpo do homem empurrou-a para trás.

“Gosta disto?” Perguntou. Respirava pesadamente. “Posso dizer-lhe que não vai sentir a falta do seu marido.”

O Gunner emitiu um som atrás dela, semelhante ao guincho de um animal.

Becca gritou como Luke lhe tinha ensinado. O grito libertou a sua energia. Uniu as duas mãos nos testículos do homem. Agarrou-os e espremeu-os com o máximo de força que conseguiu. Depois tentou arrancá-los.

Os olhos do homem dilataram-se com o choque. Ele libertou arquejo e depois caiu no chão com estrondo. A boca estava boquiaberta num grito silencioso. As mãos agarradas às virilhas. As calças manchadas de sangue. Ela tinha-o magoado, tinha-o magoado a sério.

Virou-se para Gunner. “Vem! Temos que sair daqui.”

CAPÍTULO 42

23:17

Condado de Fairfax, Virginia – Subúrbios de Washington, D.C.

“Olá, aqui é a Becca. De momento, não posso atender a sua chamada. Por favor deixe uma mensagem depois do sinal e eu ligo-lhe logo que possível.”

Luke desligou. Não fazia sentido deixar mensagem.

Dirigira-se agora para a cave inacabada. Dava acesso a uma passagem no fundo da pequena encosta entre a sua casa e a casa do vizinho. Aquela porta era um ponto vulnerável e a princípio, fora por essa razão que Luke a ela se dirigira. Luke agachou-se na porta quase completamente às escuras, a olhar para a casa do vizinho. Aquela casa dera-lhe uma ideia.

A pergunta era: atrever-se-ia a pô-la em ação?

Ao longo da sua carreira, tinha feito tudo ao seu alcance para proteger Becca e Gunner da realidade do seu trabalho. Becca sabia o que ele fazia mas sabia muito pouco sobre o que realmente significava. Gunner, por sua vez, estava mais próximo da verdade. Pensava que o pai era o James Bond.

De repente, num lampejo de consciência, percebeu que era ele quem não compreendia. Durante todos aqueles anos, ele tinha-se compartimentado como um bom agente. Era como lhe tinham ensinado a pensar nisso. Por um lado, havia o trabalho e tudo o que fazia como parte do trabalho. Os segredos de que tinha conhecimento e que rapidamente esquecia, as pessoas que conhecia ou prendia ou matava. Por outro lado, tinha uma vida real. E tinha que manter as duas o mais afastadas possível.

Mas era uma mentira. O trabalho era perigoso e muito sujo. De forma rotineira, Luke tinha que lidar com algumas das piores pessoas à face da Terra. Não havia distinções arbitrárias entre a vida laboral e a vida pessoal. Para eles, era tudo a mesma coisa. Tudo era jogo limpo.

Como é que ele não tinha percebido isso antes? Ou será que tinha mas preferira ignorar?

Havia um pensamento horrível na sua mente, um pensamento em que preferia não pensar. Já fazia isto há muito tempo. Quando as pessoas eram raptadas, geralmente eram mortas. Libertá-las era perigoso. Sabiam demasiado. Viram demasiado. Era mais fácil e mais inteligente matá-las.

Este negócio estava repleto de pessoas que matavam como forma de vida. Não era nada para eles. Podiam matar de manhã e depois ir almoçar ao Applebee.

Luke sentiu um grito a subir-lhe pela garganta. De repente, surpreendendo-se a ele próprio, começou a chorar. Mas doía. Doía tanto e ainda mal começara. Ele sabia. Sabia quão mau ia ser. Tinha visto situações semelhantes muitas vezes. Pessoas inocentes arrancadas desta vida. Os sobreviventes transformavam-se em sombras, vazios, vivos e mortos ao mesmo tempo. O seu corpo era sacudido por soluços.

No telefone soou um toque de mensagem. Olhou para ele na esperança de que fosse Becca, mas não era. Era David Delliger.

Podemos encontrar-nos. Annapolis?

Ok. Aquilo decidira-o.

Do outro lado da porta da sua cave estava a a casa do seu vizinho Mort. O Mort era um tipo engraçado, solteiro, de meia-idade. Era lobista da indústria de casinos. Não na indústria legal de Las Vegas, mas na indústria paralela que ia surgindo nas casas de slots em velhas pistas de corridas degradadas e barcos sombrios ancorados em lagos artificiais no meio de Nowhere, Indiana.

O Mort estava estacionado ali em Washington mas passava grande parte do tempo a viajar pelo país para subornar os legisladores estatais. Não passava muito tempo em casa.

Como esta noite. Luke sabia sempre quando Mort estava fora pelos padrões de tempo da iluminação interior automática. Era consistente de uma noite para a outra. Nunca enganaria um ladrão, mas o mais provável é que desse a Mort paz de espírito, que era o mais importante para um homem como o Mort.

O Morto ganhava muito dinheiro. Ganhava tanto dinheiro que no ano passado tinha construído um anexo. Este anexo era grande e berrante. Era um tumor pós-moderno, um misto de vários estilos arquitetónicos a crescer na parte lateral da casa em estilo colonial. Estava a poucos centímetros da propriedade de Luke. Luke gostava de Mort, gostava mesmo, mas aquele anexo era detestável. Ultrapassava os limites do razoável.

E Mort não estava em casa.

Agachado, Luke entreabriu a porta da cave. A casa de Mort estava próxima, a uma fácil distância de lançamento. Luke tirou a cavilha de uma das granadas e atirou-a pela pequena colina em direção à casa de Mort. A granada oscilou duas vezes e aninhou-se perfeitamente contra a parede.

Luke agachou-se para trás e caiu no chão,

BOOM!

Um flash de luz e som irrompeu nas trevas. Uns segundos depois, Luke levantou-se e voltou à porta. A granada fizera um buraco na parte lateral da casa de Mort. Um pequeno incêndio eclodira à volta das extremidades destruídas do buraco.

Desta vez, Luke abriu totalmente a porta, dirigiu-se ao exterior, partindo do princípio de que não haveria atiradores, soltou a cavilha da segunda granada e atirou-a como uma bola de basebol para o meio do buraco flamejante, protegendo-se no interior da casa outra vez.

Desta vez, a luz produzida fora diferente e o som resultara abafado.Luke espreitou. A parte lateral do anexo de Mort tinha cedido. Havia destroços por toda a relva entre as duas casas. Um incêndio a sério começava a lavrar. Assim que a mobília e a papelada e os tapetes e todas as outras coisas começassem a arder, o ambiente ia ficar quente e agradável por ali.

Mais uma? Claro. Mais uma era suficiente. Luke saiu e atirou a última granada na direção da casa em chamas. Ouviam-se sirenes a aproximarem-se à distância. A polícia local, carros de bombeiros, ambulâncias – todos chegariam em poucos minutos. Assim que os vizinhos saíssem para os relvados de roupão e chinelos, ia tornar-se numa cena e tanto. Ia ser difícil fazer desaparecer alguém sem dar nas vistas com tantos curiosos a assistir ao espetáculo.

Luke voltou ao primeiro andar assim que a derradeira explosão atingiu a casa de Mort. Olhou para fora das janelas. Cinzas voavam por toda a parte, fumo negro subia ao céu sob um brilho vermelho e laranja.

Os dois carros negros descaracterizados ligaram os motores e arrancaram silenciosamente. A carrinha já tinha desaparecido. E era altura de Luke também se ir embora. Olhou novamente para a casa em chamas. Abanou a cabeça.

“Desculpa, Mort.”

Vanusepiirang:
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Ilmumiskuupäev Litres'is:
10 september 2019
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300 lk 1 illustratsioon
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9781632916303
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