Loe raamatut: «Alerta Vermelho: Confronto Letal », lehekülg 18

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CAPÍTULO 54

3:23

Centro Municipal de Detenção – Washington, D.C.

Tudo era branco.

As paredes e chão eram brancos. As luzes superiores eram brilhantes e brancas. Os portões eletrónicos deslizantes de metal que se abriam e fechavam atrás dele estavam pintados de branco.

Colocaram Luke numa cela provisória com mais meia dúzia de homens. O espaço era amplo. Era branco e pejado de impressões digitais sujas por todas as paredes. O chão era branco, mas a resvalar para um cinzento sujo devido às solas de milhares de pares de ténis que o pisavam. Havia um urinol e uma sanita numa das paredes. O piso inclinava-se gradualmente para o meio onde se vislumbrava uma pequena e redonda sarjeta aberta.

Um banco sujo e branco percorria as paredes da cela, dando a volta quase completa. Luke caminhou pela cela durante vários minutos enquanto os outros homens o observavam. Ele era o único homem branco naquele local, mas isso não o incomodava. Mal reparava nos outros homens. O que o incomodava era estar ali preso, era não estar em movimento. Não o suportava.

Algures lá fora, Becca e Gunner estavam nas mãos de pessoas más. Luke até se podia estar a enganar a si próprio, mas tinha a sensação de que ainda estavam vivos. E se isso fosse verdade, precisava de sair dali e descobri-los. Nunca pararia, nunca, até os encontrar. E que Deus protegesse os homens que os tinham com eles.

Não. Estava errado. Ninguém os podia proteger.

Se estivessem ao seu alcance…

Agora que estava ali preso, sentia a fúria a ferver dentro dele. A Vice-Presidente, a perseguição, tudo – tinha distraído a sua mente. Mas agora não havia nada para o distrair.

Depois, é claro, havia Susan Hopkins. Ele tinha-a deixado com Ed, Brenna e Berg. Todos eram homens capazes, especialmente o Ed. Luke estava vivo e por isso deveria estar junto deles.

Apetecia-lhe gritar.

Foi até ao banco e sentou-se. Passado um minuto, um tipo aproximou-se de Luke. Era um tipo jovem e grande, musculado, vestido com uma camisola dos Chicago Bulls. Tinha uma trança afro enrolada em cima da cabeça. Sorriu, mostrando um dente de ouro à frente.

Agachou-se à frente de Luke.

“Ei, mano, tudo bem?”

Risadinhas silenciosas fizeram-se ouvir na cela.

Luke olhou para ele. “O Presidente morreu esta noite, mano.”

O tipo assentiu. “Soube disso. Acho que não quero saber. Nunca votei no homem.”

Luke encolheu os ombros. “Posso ajudar-te?”

O tipo apontou com o queixo. “Reparei nas tuas botas. São fixes.”

Luke anuiu. Olhou para baixo, para os seus pés e para as botas de cabedal que estava a usar. “Tens razão. São fixes. A minha mulher deu-mas no último Natal.”

“São de que tipo?”

“Ferragamo. Acho que ela pagou uns seiscentos dólares por elas. A minha mulher gosta de me comprar coisas bonitas porque sabe que eu nunca as compraria para mim.”

“Dá-mas,” Disse o tipo.

Luke abanou a cabeça. “Não posso, Têm valor sentimental. E de qualquer das formas, acho que não te servem.”

“Eu quero-as.”

Luke olhou à volta da cela. Toda a gente olhava para ele. Ele conseguia imaginar como aquela situação poderia ser tensa e assustadora para outra pessoa.

“Acho que o melhor é sentares-te,” Aconselhou Luke. “Não estou com muito bom humor esta noite.”

Os olhos do miúdo faiscavam raiva. “Dá-me essas botas.”

Luke revirou os olhos. “Queres as botas? Toma.”

O rapaz assentiu e sorriu. Olhou à volta da cela. Agora riam-se. O arruaceiro matulão ia roubar as botas do homem branco. Debruçou-se na direção dos pés de Luke.

Luke fez uma pequena pausa e depois deu um pontapé na boca do rapaz. Foi um ataque relâmpago. A cabeça do rapaz pendeu para trás. Dentes voaram, talvez três no total. E um era o dente de ouro. O rapaz caiu para trás. Acabou de joelhos, dobrado sobre si próprio com as mãos na boca.

Luke suspirou. Levantou-se, colocou-se atrás do rapaz e bateu-lhe com força no pescoço, no preciso local onde a coluna espinal se ligava à base do crâneo. O rapaz colapsou no chão sujo. Os olhos reviravam. Passados poucos segundos estava inconsciente. Pouco depois, emitia um som semelhante a um ressonar.

Luke olhou em seu redor. Ele já estava de mau-humor, mas o jovem ladrão de sapatos só tinha piorado a sua disposição. Luke estava preparado para derrubar todos estes homens se fosse necessário.

“O próximo que se meter comigo, fica sem todos os dentes,” Disparou, suficientemente alto para que todos o ouvissem.

Todos olharam para ele, boquiabertos, até todos finalmente desviarem o olhar. Os seus olhos tão cheios de sede de sangue há apenas alguns momentos, agora apenas revelavam medo.

CAPÍTULO 55

5:45

Observatório Naval dos Estados Unidos – Washington, D.C.

Chamava-se William Theodore Ryan.

Era trineto de donos de plantações. Os seus, durante gerações, haviam sido confederados e rebeldes orgulhosos. E ali estava ele, o Presidente dos Estados Unidos da América.

Estava mais cansado do que nunca. Mal dormira a noite passada. Antes da alvorada, insistira em regressar a Washington. Não fazia sentido continuar num bunker, pois não? A ameaça terminara. E também mostraria ao povo americano como ele era corajoso. Não se ia esconder num buraco no chão enquanto mais de trezentos milhões de pessoas tinham que viver as suas vidas à superfície, vulneráveis a ataques inimigos.

Sorriu ao pensar nisto.

Estava sentado numa sala do gabinete superior da Residência oficial da Vice-Presidente. Lá fora, uma luz fraca descia do céu. A casa era magnífica, grande e branca ao estilo Queen Anne com um torreão nos agradáveis terrenos do Observatório Naval. Datava de meados do século XIX e várias gerações de Vice-Presidentes por ali tinham passado. Agora substituiria a Casa Branca até que a original fosse reconstruída.

No sofá à sua frente esta sentado o Senador do Kansas, Edward Graves. No final daquele dia, com setenta e dois anos, Ed ia tornar-se no mais idoso Vice-Presidente da história moderna dos Estados Unidos. Ed Graves era um perito militar e havia assumido as funções de Presidente do Comité Congressional das Forças Armadas desde há uma eternidade. Ed era um dos mentores de Ryan há pelo menos vinte anos.

No meio deles, na mesa, repousava um microfone negro. Deu sinal quando um subsecretário dos Chefes do Estado-Maior lhes forneceu uma breve atualização dos acontecimentos no Médio Oriente. A situação era tensa mas estava controlada.

“Sr. Presidente,” Disse a voz, “por ordem sua, dois aviões de combate F-118 entraram no espaço aéreo iraniano às 13:45 hora local, há cerca de meia hora.”

“Estado?” Perguntou Bill Ryan.

“Em dois minutos foram intercetados e acompanhados por três jatos iranianos que julgamos serem aviões de combate Mig russos desatualizados. Os F-118 destruiram os jatos iranianos após uma breve escaramuça. O radar detetou pelo mais uma dúzia de aviões de combate iranianos a convergir em direção à área por isso os F-118 retiraram-se para o espaço aéreo turco. Os iranianos deram meia volta na fronteira.”

“Ok,” Disse Ryan. “Que mais?”

“Dois postos de escuta, um no Japão e outro no Alasca, reportaram que pelo menos meia dúzia de silos de mísseis russos na Sibéria oriental passaram para o estado de prontidão absoluta para o combate nos últimos vinte minutos. Os silos têm como alvos principais áreas metropolitanas de maior dimensão ao longo da Costa Oeste, incluindo Seattle, Portland e São Francisco. Os mísseis estão apontados para os alvos.”

“Meu Deus. Porque é que estão a fazer isso?”

“Não temos a certeza, Sr. Presidente. O timing parece estar relacionado com a incursão no espaço aéreo iraniano, mas as conversas que intercetámos sugerem alguma confusão no Comando Central Russo. Não acreditamos que aqueles silos estejam a agir de forma independente, mas parecem ter interpretado as suas ordens incorretamente.”

Ryna olhou para Ed. Era típico dos russos chegar àquele ponto. O que é que iam fazer, começar uma guerra nuclear por causa do Irão? Apesar de tudo tinha que admitir que toda esta estratégia era divertida. Era Presidente há menos de oito horas.

Ryan dirigiu-se à voz. “Temos mísseis que possam atingir esses silos russos?”

“Sim, Sr. Presidente.”

“Então coloquem esses mísseis em posição de combate e assegure-se que os russos tomam conhecimento disso. Têm que se preparar. Se lhes mostrarmos as nossas armas, talvez eles finalmente compreendam que estamos a falar a sério.”

A voz do outro lado hesitou, “Sim, Sr. Presidente.”

“Mais alguma coisa?”

“De momento não, Sr. Presidente.”

Ryan desligou o telefone. A sala estava muito silenciosa. Olhou para Ed Graves.

“Pensamentos?”

As mãos de Ed repousavam nos joelhos. Eram mãos nodosas e com manchas hepáticas semelhantes a velhos troncos de árvores. O rosto de Ed era sinuoso e alinhado. O nariz era bulboso e atravessado por vasos sanguíneos quebrados. Mas os olhos eram vivos e altivos.

“É uma patetice,” Disse, “enviar esses dois aviões para lá da fronteira. Porque é que os estamos a testar? Nós sabemos aquilo de que eles são capazes e sabemos aquilo de que nós somos capazes. Eles atacam-nos primeiro, não é? Mataram o nosso Presidente.”

E aqui, de forma ultrajante, Ed piscou o olho. Bill quase ficou embaraçado por ele.

“Se isso for verdade, então temos que atacar e atacar em força. Temos que retaliar. Temos a Quinta Frota no Golfo Pérsico. Vamos controlar os iranianos no Estreito de Ormuz. Não queremos dar-lhes a oportunidade de colocar lá minas. Apoderem-se simplesmente do local. Poof. Depois, enviam-se bombardeiros até Teerão. Dêem-lhes as honras de uma escolta completa de aviões de combate para lá chegarem. Começaria com tudo isto ainda hoje.”

Bill abanou a cabeça. “Vão ter que abrir caminho para chegar a Teerão.”

Ed encolheu os ombros. “Os nossos rapazes são os melhores. E não é para isso que lhes pagamos? Para lutar? Uma ou duas semanas de intenso bombardeamento no centro da cidade e julgo que a totalidade do nosso problema iraniano desaparecerá.”

“E os russos?”

Ed Graves ficou a pensar naquilo por um momento. Finalmente, encolheu os ombros. “Que se lixem os russos.”

Uma batida soou na pesada porta de carvalho.

“Entre.”

A porta abriu-se. Um jovem assistente entrou. O seu nome era Ben e fazia parte do pessoal de Ryan há alguns anos. Era um rapaz cheio de energia, mas hoje parecia elétrico de excitação. Toda a equipa subia nos degraus da hierarquia mundial.

“O que queres, Ben?”

“Sr. Presidente, acabámos de receber a identificação da mulher encontrada na SUV que caiu na Bacia das Marés na noite passada. Pediu-me que o notificasse quando tivesse informações.”

“Sim, pedi. O que tens?”

“Os registos dentários indicam tratar-se de uma mulher chamada Liza Redeemer.”

Não eram essas as palavras que Ryan queria ouvir. “Redeemer?”

“Sim, Sr. Presidente. Era uma sem-abrigo de 33 anos com uma longa história de doenças mentais, esquizofrenia, desordem bipolar, tudo e mais alguma coisa. Alterou o nome para Elizabeth Reid quando fez 18 anos. Não temos qualquer informação do que estava a fazer naquele carro.”

Ryan acenou. “Ok. Obrigado.”

Quando o assistente saiu Ryan olhou para Ed Graves novamente.

“Precisamos de falar com o Don Morris.”

CAPÍTULO 56

7:15

Centro Municipal de Detenção – Washington, D.C.

“Como é que dormiste?”

“Como um bebé. Estava preso com uns seis homens. Rapazes simpáticos. Não fazia ideia do número de pessoas inocentes que estavam presas.”

Luke saiu para o exterior do centro de detenção. A claridade era intensa. As mãos ainda estavam algemadas. Don Morris levava-o. Ele, Don e dois agentes que Luke não reconheceu desceram as escadas e encaminharam-se para um antigo sedan preto estacionado na rua.

“Grande truque que tiraste da manga. Tiveram que recorrer aos registos dentários para chegarem à conclusão que não era a Susan Hopkins que seguia naquele carro contigo. E só o descobriram há uma hora atrás. Ainda não sabem quem é.”

“A sério?” Ironizou Luke. “Eu podia jurar que era a Susan.”

Don parou de andar. Olhou para Luke. “Deixa-te de merdas, Stone. Não estou muito bem-disposto hoje e pensei que também não estivesses. Vais falar e vais-nos dizer onde está a Susan. Sabes isso, não sabes? Ah, pois é. O Luke Stone não quebra. Vai demorar dias até lhe sacar a informação. Pessoalmente, não acredito. Acho que vais falar rapidamente. Temos alguma vantagem sobre ti, não te esqueças.”

“Disseste que nunca farias mal à minha família.”

Don sorriu. “Eu não farei. A tua família está viva e bem. Mas precisamos de saber onde está a Susan Hopkins.”

“Don, a Susan é a Presidente dos Estados Unidos.”

Ele abanou a cabeça. “Não és tu quem decide isso, Stone.”

“Pois não. É a Constituição.”

Don emitiu um som de desaprovação. Olhou para os dois agentes que os acompanhavam. “Não se importam de me dar um momento a sós com o Agente Stone?”

Os homens afastaram-se alguns metros. Ficaram próximos de um carro estacionado a olhar para Luke e Don. Não fingiram estar a fazer outra coisa que não fosse observá-los. Luke pensou que eles saberiam que ele conseguiria matar Don com os braços e as pernas amarrados.

Don recostou-se para trás no sedan preto. “Filho, o que é que estás a fazer?”

Luke fitou-o. Conhecia Don há tanto tempo e no entanto, não o conhecia realmente. “O que é que tu estás a fazer, Don? O que estás a fazer? Não fui eu que acabei de ajudar a montar um golpe.”

Don abanou a cabeça. “Luke, chames-lhe o que lhe chamares, já acabou. As coisas estão a avançar, não a regredir. Bill Ryan é o Presidente dos Estados Unidos quer queiras, quer não. A tua família está em perigo, mas não está morta e não foram magoados. Podes tê-los de volta. Só precisas de alinhar por um momento. Nem quero acreditar na tua relutância. Não tens trunfos.”

“O que ganhas com isto, Don? De certeza que não te meteste nisto só porque o Bill Ryan é um antigo colega de faculdade.”

Don concordou. “Ok. É justo perguntares. Se te ajudar a tomar a decisão acertada, eu respondo. Estou farto de ver a América numa situação de fragilidade. Estou farto de uma América hesitante. Esses valores nunca fizeram parte da minha formação enquanto militar e, muito honestamente, não estão no meu ADN. Não o suporto. E estou farto de pedinchar recursos para manter ativa a Special Response Team. Estávamos a fazer um excelente trabalho, tu viste, eras parte dele, e tudo estava a ir pelo cano abaixo.”

Luke começava a perceber. “Não. Bill Ryan é um testa-de-ferro como deves saber. Há outros poderes em jogo aqui. E gostariam de ver restaurada a grandeza da América, tal como eu gostaria e tu também. Por isso, esta tarde, o Bill vai anunciar que eu sou a sua escolha para Secretário de Defesa.”

Luke olhou para ele. Pensou na noite anterior quando David Delliger foi atingido na linha dos 50 metros no estádio de futebol da Academia Naval.

“Tens a certeza que queres esse cargo? Estive com o teu predecessor a noite passada. O seu mandato terminou de uma forma bastante abrupta.”

Don sorriu. “O Dave não foi uma boa escolha. Era um militar mas não era um guerreiro. Tempos como os que vivemos, exigem um guerreiro. Penso que o compreendes melhor do que ninguém.”

“Don, se entrarmos em guerra com o Irão, os russos…”

Don ergueu uma mão. “Luke, não me dês lições sobre os russos. Ainda andavas de fraldas e já eu matava russos. Sei o que os russos vão fazer. Nada, é isso o que vão fazer. Vão esperar e observar. Agora diz-me onde está a Susan. Por favor.”

Luke não disse nada.

“Luke, a Becca e o Gunner vão morrer hoje. É isso que vai acontecer. E só te vais poder culpar a ti próprio.”

Luke virou a cabeça. “És um traidor, Don.”

No cimo da rua, na direção para onde Luke olhava, algo estranho estava a acontecer. Os dois agentes voltavam em passo acelerado. Atrás deles, um grupo de homens de fatos com óculos de sol seguia-os no passeio. Luke contou sete homens. Voltou-se e olhou na outra direção. Talvez todos se dirigissem a outro local.

Não. Outro grupo de homens caminhava no passeio na outra direçao. Luke olhou para os agentes que estavam com Don e, de repente, desataram a correr. Um na direção da rua. Percorreu apenas metade do caminho até um carro o atingir. O carro parou. O agente tirou o capuz e caiu. Três homens acercaram-se dele com as armas em punho.

O outro agente correu para um relvado na direção de um parque de estacionamento. Cinco homens perseguiram-no.

Três homens aproximaram-se de Don e Luke de um dos lados e dois do outro lado. Sacaram as armas. Um homem segurou um distintivo.

“Serviços Secretos,” Disse.

Deitaram Don no chão. Tiraram-lhe as armas e algemaram-no.

“Sou acusado de quê?” Perguntou Don.

“Por onde começamos?” Começou o homem. “Traição. Terrorismo interno. Homícidio. Rapto. Conspiração. Isto deve bastar.”

Libertaram as mãos de Luke. Ele massajou os pulsos, regressando aos poucos a sensibilidade. “Algumas dessas acusações são suficientes para se reclamar a pena de morte.”

O homem dos Serviços Secretos anuiu. “Pois são.”

“A minha mulher e filho foram raptados e este homem sabe onde é que eles estão.”

Luke olhou para Don.

“Se fosse a ti,” Disse, “começava a falar rapidamente.”

CAPÍTULO 57

7:45

Observatório Naval dos Estados Unidos – Washington, D.C.

UmA SUV preto estacionou na entrada circular da residência oficial da Vice-Presidência.

A porta traseira abriu-se e Susan Hopkins saiu. O médico iraquiano tinha, durante a noite, tratado do braço e do pulso. O rosto estava para além das suas possibilidades. Tinha meramente espalhado um analgésico tópico nas queimaduras para que Susan conseguisse dormir.

Tinha falado com Pierre há apenas quinze minutos, depois de garantir que era seguro fazê-lo. Ele chorara e ela quase chorara também. Ainda não tinha falado com as meninas.

Caminhou na direção da enorme casa branca vestindo um colete à prova de balas completo debaixo do fato. Com ela estavam Chuck Berg e Walter Brenna.

A casa era magnífica e nunca lhe parecera tão bela como nessa manhã. Ela adorava aquela casa que tinha sido a sua residência nos últimos cinco anos.

Entraram no átrio.

Uma dúzia de homens vestidos com o uniforme do exército e fatos de negócios olharam para eles quando entraram. Ela reconheceu alguns dos homens. Eram agentes dos Serviços Secretos. Tudo gente do Ryan.

Fitaram-na como se tivessem acabado de ver um fantasma. Um dos homens apertou a mão de Chuck Berg e um múrmurio percorreu a multidão.

“Posso ajudar-vos?” Perguntou um militar.

“Estou aqui para falar com William Ryan.”

“E quem deseja falar com ele?”

“Chamo-me Susan Hopkins e sou a Presidente dos Estados Unidos.”

Entretanto, mais pessoas se tinham juntado no átrio. Muitos eram homens altos com uniformes e armas ocultas sob os casacos. Uma mulher pequena com uniforme de criada entrou. Susan reconheceu-a. Chamava-se Esmeralda, mas era conhecida como Esa e trabalhava naquela casa há mais de vinte anos. Parecia intrigada. Olhava para Susan como se ela fosse um desses milagres católicos com que os crentes por vezes julgam deparar-se. Ela podia ser uma Virgem Maria em pranto numa falésia remota.

“Sra. Hopkins?” Perguntou Esa. “Está viva.”

Dirigiu-se a Susan como se fosse um sonho. As duas mulheres abraçaram-se. De forma vacilante inicialmente, mas depois Susan puxou Esa para mais próximo de si. De repente, Susan começou a chorar. Sabia tão bem, tão bem, estar aqui com esta mulher neste momento.

“Estou,” Afirmou. “Estou viva.”

Fechou os olhos e o abraço prolongou-se.

“Não é a Presidente,” Soou uma voz intempestiva.

Susan largou Esa. A descer a magnífica escadaria de mármore vinha, nem mais nem menos, do que William Ryan. Surgia cheio de vivacidade, em forma e pleno de energia, parecendo mais novo do que na realidade era. “Eu sou o Presidente. Tomei posse a noite passada. Fui ajuramentado pelo Presidente do Supremo Tribunal dos Estados Unidos.”

Ryan chegou ao fundo das escadas e caminhou na direção de Susan. Ele era muito alto e erguia-se acima dela com imponência. Susan olhou para cima. Chuck Berg estava à sua direita e Walter Brenna à esquerda.

“Susan,” Disse Ryan. “É bom vê-la. Mas vou ter que lhe pedir que saia. É óbvio que esteve sobre muita tensão nas últimas vinte e quatro horas. Tenho a certeza que não está em condições de assumir o cargo.”

Uma multidão de militares e agentes dos Serviços Secretos estavam agora reunidos no átrio.

Ryan fez um gesto na direção de dois militares junto a ele. “Não se importam de escoltar a Sra. Hopkins para a saída? Temos trabalho a fazer aqui.”

Susan apontou para Ryan. “Prendam este homem. Por traição e pelo homicídio do Presidente Thomas Hayes, e mais trezentas outras pessoas.”

Durante um momento, ela não sabia o que iria acontecer. Todos permaneceram nos seus lugares a olhar. Algures, ouvia-se o tique-taque de um relógio. Três segundos, quatro segundos.

Cinco.

Chuck Berg avançou. Retirou do cinto um par de algemas metálicas.

Avançou na direção de Ryan. “Sr., tem o direito de permanecer em silêncio.”

Um homem do exército interpôs-se entre Berg e Ryan. Chuck empurrou o homem. De repente, todos se empurravam e acotovelavam. Susan foi empurrada enquanto homens grandes e fortes mediam forças. Depois sentiu uma dor aguda.

Alguém lhe tinha pisado num pé.

Os agentes dos Serviços Secretos estavam em maior número. Todos os homens dos Serviços Secretos estiveram à altura do seu trabalho.

No fim, Ryan resistiu-lhes. Foi derrubado a custo, mas foi derrubado. Numa questão de segundos, Ryan tinha o rosto voltado contra o pavimento de madeira polido com dois homens dos Serviços Secretos a manterem-no no chão.

Puseram-no de pé. Ryan tinha o rosto vermelho do esforço. Olhou para Susan enquanto o levavam para fora da Residência.

“Eu sou o Presidente dos Estados Unidos!” Gritou.

Susan despediu-o com um aceno de mão.

“Saia da minha casa,” Disse.

*

Pierre e as meninas vinham a caminho para a ver. Esse simples pensamento enchia-a de esperança e felicidade. Precisava daquilo.

Isto de ser a Presidente ia ser de uma grande exigência. A conspiração contra Thomas Hayes atingira as mais altas esferas. Nesta conjuntura, era impossível saber a identidade de todos os envolvidos e em que ramos do governo se encontravam. No futuro próximo, o nível de ameaça interna contra ela estaria no nível mais elevado. Teria que usar colete à prova de bala em todas as aparições públicas.

Os problemas no Médio Oriente não desapareceriam de um momento para o outro, mas talvez já estivesse a conseguir alguns avanços. Tinha tido uma conversa breve nesse dia com o Presidente da Rússia. Ele dissera-lhe, através de um intérprete, que estava muito feliz por saber que ela estava viva. Garantiu-lhe que podiam trabalhar em conjunto para apaziguar os problemas com o Irão.

Mas havia problemas ainda mais obscuros no horizonte. Durante a tarde, recebera no seu gabinete dois vistantes.

“Quero continuar a financiar a Special Response Team,” Declarou Susan. “Mas quero que saia da alçada do FBI.”

Luke estava à janela, a observar a zona do Observatório Naval. “E quer colocá-la sob a alçada de quem?”

Ela encolheu os ombros. “Podia ser um ramo dos Serviços Secretos. Ou podia simplesmente ser uma organização autónoma que respondesse diretamente perante a Presidente.”

“Isso parece-me bem,” Disse Ed Newsam, sentado numa cadeira de rodas com a perna ferida em cima da secretária. Segurava um cigarro apagado nas mãos. “Gosto disso.”

Stone voltou-se. “Até ontem, estava numa licença de longo prazo. Já nem sei se ainda trabalho para a Special Response Team.”

“É engraçado,” Afirmou Susan. “porque eu tinha pensado em si para Diretor. Enganei-me a seu respeito, Stone. É o que lhe quero dizer. Nas últimas vinte e quatro horas, salvou a minha vida vezes sem conta.”

Stone abanou a cabeça. “Tenho que encontrar a minha mulher e o meu filho. O golpe foi desmascarado e os conspiradores já não precisam deles. Cada minuto que passa…”

Susan anuiu. “Eu sei. Temos todos os recursos disponíveis a trabalhar para os encontrarmos. Prometo-lhe que os vamos encontrar. Mas entretanto, não posso deixar que abandone a SRT. São poucas as pessoas em quem posso confiar neste momento e vocês os dois estão no topo da lista.”

Caminhou na direção da porta do gabinete e espreitou lá para fora. Chuck Berg e outro agente estavam a poucos metros de distância. Ela fechou a porta calmamente.

Virou-se para Stone e Newsam.

“A verdade é que tenho uma missão urgente para vocês. Só soube dela há meia hora. Infelizmente, os nossos inimigos vêem-nos numa posição enfraquecida e querem aproveitar este momento para atacar. As próximas quarenta e oito horas serão cruciais.”

Agora Stone e Newsam olhavam fixamente um para o outro.

“Vá lá, rapazes. Preciso de vocês.”

“Podemos saber o que é?”

Ela assentiu. “Vou dizer-vos mas antes quero que aceitem.”

Um longo momento passou.

“Aceitamos.”

*

Luke caminhou pela área ajardinada do Observatório Naval até ao parque de estacionamento. A seu lado, Ed Newsam andava na sua cadeira de rodas, com os enormes braços a girarem as rodas de vez em quando.

“Alguma vez vais sair dessa coisa?” Perguntou Luke. “Parece que estás a ficar preguiçoso. Não podes fazer fisioterapia ou algo do género?”

“Stone, só estou na cadeira de rodas desde ontem à noite.”

Luke encolheu os ombros. “Bem, parece que já andas nela há um mês.”

O telefone de Luke tocou. Olhou para o número. Por um segundo, tinha desejado aquilo…

Atendeu. “Trudy. O que tens para mim? O que encontraram no computador do Don?”

A sua voz era musical, otimista. Provavelnmente não dormia há quase quarenta e oito horas, nem fora a casa durante todo aquele tempo e já estaria na vigésima caneca de café. Mas havia qualquer coisa em vencer, mesmo em vencer da pior forma, que trazia ao de cima a música das pessoas.

“O Swann conseguiu finalmente desencriptar os ficheiros do Don. Luke, ele soube de tudo o tempo todo. Tinha conhecimento do golpe desde o início. Na verdade, tinha conhecimento antes do início. Há e-mails entre ele e Bill Ryan acerca de arrebatar o poder mesmo antes de Thomas Hayes ser Presidente.”

“E pensamos que conhecemos as pessoas,” Disse Luke.

“Eu pensava que o conhecia melhor do que muitos,” Sentenciou Trudy.

Luke ignorou aquela afirmação. Ele e Trudy tinham uma história complicada e não lhe apetecia lidar com aquilo naquele momento.

“E que mais?” Perguntou Luke.

“Luke, o Don falou. Deu a morada de uma casa da CIA. Quem a gere são fantasmas. Não estão nos registos oficiais. O Don pensa que é onde poderão estar a tua mulher e o teu filho.”

Luke parou. O coração começou a bater descompassadamente no peito.

“O quê?”

Instintivamente, apalpou a arma dentro do seu casaco. Olhou para Ed Newsam e Ed olhou para ele. A linguagem corporal de Luke foi imediatamente compreendida por Ed que, por sua vez, alcançou com a mão as suas próprias armas.

“Tenho o endereço da casa. Vamos enviar agentes para lá. Vão entrar em força e sem aviso. Se a tua família lá estiver, farão tudo para os manter em segurança.”

“Trudy, dá-me a morada.”

“Tu não podes ir, Luke. Não tens objetividade. Porás a operação e toda a gente em risco.”

“Trudy…”

“Luke…”

“Trudy, dá-me a morada.”

Seguiu-se uma longa pausa ao telefone. O seu corpo ardia só de pensar na possibilidade de perder Becca e Gunner.

“Diz-me,” Implorou.

Seguiu-se um longo silêncio.

E depois ela disse-llhe.

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