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Razão Para Matar

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CAPÍTULO TRINTA

Uma sensação surreal tomou conta de Avery Black.

Não havia lembranças de suas últimas palavras para Jessica Givens, ou de quando ela desligara ou de onde colocara seu telefone.

Ela estava na escuridão do campus da Brandeis. A sua frente havia um campo verde, além de árvores e estrelas alinhadas. Atrás, prédios de tijolos vermelhos iluminados por luzes fracas.

Acalma-se, disse a si mesma.

Você já passou por isso antes.

A lembrança de seu quase abuso a John Lang no Art for Life ainda estava fresca na memória, junto com a represália do capitão e o fim de semana extenso, que ela havia ganhado para repensar suas ações.

Você foi retirada do caso, lembra?

Não mais, respondeu a si mesma.

Cindy Jenkins havia sido contratada pela Devante. Molly Green havia sido contratada pela Devante. E Tabitha Mitchell?

No caminho para o carro, Avery ligou para Finley. O telefone tocou várias vezes até cair na caixa de mensagens. Ele está me evitando, ela pensou. Outras cinco ligações tiveram o mesmo fim. Em todas elas, Avery deixou a mesma mensagem, cada vez com mais urgência:

“Finley, temos uma conexão. Jenkins e Green foram contratadas pela mesma empresa em Boston. Você tem que me atender. Tabitha Mitchell tinha algum tipo de trabalho alinhado para os anos de veterana? Me ligue assim que você ouvir isso.”

De dentro da BMW, Avery ligou seu computador no painel.

A Devante era uma empresa privada de Boston.

Informações gerais foram tudo o que ela pode encontrar online: o fundador da empresa, o presidente do conselho, o CEO e a estrutura estadual.

Uma busca rápida mostrou um número enorme de trabalhos disponíveis em uma contabilidade: auxiliar de contabilidade, contadores juniores e sênior, gerente de impostos, auditor de impostos… A lista parecia não ter fim.

Quem contrata universitárias? Ela imaginou. Tem que ser alguém dos recursos humanos que pesquisa as universidades e encontra possíveis candidatos. Provavelmente, em seguida, essa pessoa pegava os currículos e distribuía os melhores para as pessoas responsáveis por quaisquer vagas abertas na empresa.

Como eu vou encontrar quem faz essa busca e viu os currículos dessas duas garotas?

A resposta era óbvia, mas também complicada, dado seu atual status no Esquadrão de Homicídios. Você tem que encontrar o presidente do conselho ou o CEO, pensou. Só eles poderiam dar a ela acesso às pessoas certas. Ela riu. Ok, como eu faço isso?

Um mandado.

Vou precisar de um mandado.

Mandados eram difíceis de conseguir. Era necessária uma causa provável. Nesse caso, Avery estava confiante que a conexão entre as garotas e a empresa que planejara contratá-las era uma causa provável suficiente para um mandado. No entanto, um juiz também iria querer saber sobre itens conectados aos crimes que poderiam ser encontrados nos escritórios da Devante. Isso poderia ser um problema, a não ser que a declaração incluísse informações de computador. Se o assassino tivesse qualquer coisa relacionada ao caso em seu computador, ela poderia usar isso para reforçar um mandado.

Pense mas sobre isso, ela refletiu. Não erre. Espere a ligação do Finley. Organize todas as ideias antes de ir ao capitão.

Sua mente escureceu: Não dessa vez.

Ela ligou o carro e saiu.

CAPÍTULO TRINTA E UM

Avery entrou no departamento de polícia A1 logo depois das dez da noite. A recepcionista do primeiro andar estava lidando com um agente e uma prostituta. Pelo resto do escritório, agentes à paisana registravam universitários bêbados e tomavam depoimentos. Uma briga explodiu no fundo do departamento e três policiais tiveram que parar um homem gigante.

O trabalho de polícia não era qualquer trabalho.

A maioria dos agentes não vinha apenas às oito ou nove e saía às cinco todo dia. Da mesma forma, finais de semana quase nunca eram de folga a não ser que o oficial tivesse status de sênior ou que o departamento inteiro estivesse em calendário rotativo. No A1, todos trabalhavam em turnos, turnos de cinco dias que poderiam ir de quarta à domingo, e se alguém estivesse em algum caso, poderia trabalhar a noite inteira, todas as noites, até o dia amanhecer.

Avery reconheceu alguns rostos familiares. No entanto, ninguém prestou muita atenção nela. Turnos da noite nos finais de semana davam um certo sentimento a eles, como o de estar em um cemitério depois de quarenta e oito horas acordados: todo mundo estava meio zonzo e cada um tinha seu próprio ritmo.

No segundo andar, Connelly estava discutindo com Thompson.

Thompson parecia dois homens em um só, um gigante que amava a academia. Com sua pele pálida, lábios grossos e cabelos loiros, ele geralmente fazia com que outros policiais – e criminosos – se sentissem muito desconfortáveis.

- Por que eu ainda estou aqui? – Thompson reclamou.

- Você quer me foder? – Connelly gritou. – Eu te dei um trabalho e você não fez. Não quero saber se você ficar aqui até as quatro da manhã!

- Concessionárias? – Thompson seguiu reclamando, em pé. – Quantas merdas de concessionárias abrem no sábado à noite? Meu turno acabou faz tempo. Aqui está uma lista de Watertown e Belmont.

- Eu pedi de Waltham também. Eu pedi números e contatos diretos de cada empresa. Não estou vendo nada disso aqui na lista de Belmont - ele reclamou enquanto olhava a lista.

Avery sentou na mesa de alguém e esperou que eles terminassem.

Connelly a olhou.

- Que porra você está fazendo aqui? O capitão não disse pra você descansar?

- Podemos conversar? – Ela perguntou.

- Não - Ele respondeu. – Não tenho para falar com você. Suma. Você não tem que voltar até segunda.

Ela apontou para Thompson.

- Você está fazendo ele perder tempo.

- Eu falei! – Thompson entrou na conversa. – Essa merda é uma perda de tempo!

- Cale a boca, porra! – Connelly gritou apontando o dedo no rosto dele. – Black, juro por Deus. Se você não sair daqui em cinco segundos eu mesmo vou tirar você do Esquadrão de Homicídios e você vai voltar a fazer rondas pelo resto da sua vida!

Avery abaixou a cabeça.

- Não vou a lugar nenhum - ela disse, com a voz calma. – E você precisa me ouvir. Eu tenho uma pista. Das boas. – Ela o olhou no fundo dos olhos. – Nós precisamos falar sobre isso. E precisamos estar no mesmo time. Você quer pegar um assassino? Ou você prefere ficar puto comigo porque você acha que me conhece, ou porque eu fui colocada na sua equipe, ou porque eu tinha uma vida melhor que a sua?

Ela empurrou a mesa.

- Desculpe se eu fiz qualquer coisa que te ofendeu, mas eu estou aqui agora. Assim como você. Nadando na merda. E eu não tinha nada pra pegar esse assassino, e agora eu finalmente encontrei uma pista. Não podemos esperar até segunda. Se você me expulsar, ou ligar para o capitão, e para o comandante, ninguém vai me ouvir.

Thompson apontou para Avery realmente tocado.

- Escute ela - ele pediu.

- Cale a boca, Thompson! Sente!

Ele chamou Avery com um dedo e apontou para a sala de conferências.

- Três minutos. Você tem três minutos.

Assim que eles ficaram sozinhos, Avery disse:

- Eu sei que cometi alguns erros.

- Alguns?

- Erros estúpidos - ela acrescentou, - mas foi tudo pelo dever. Eu cometi outros erros hoje. Eu fui ver Howard Randall de novo.

Connelly fez uma cara de descontentamento.

- Ele me deu uma pista. Ou algo como uma pista. Eu não consegui entender até ir a Brandeis.

Connelly colocou as mãos na cabeça.

- Você foi até a faculdade da Molly Green? Você estava fora do caso!

- Você vai calar a boca? – Ela gritou. – Só uma vez. Por favor!

Surpreso, ele baixou os braços e inclinou-se para trás.

- Eu falei com alguém do departamento de orientação. Ela me disse que Molly tinha um trabalho alinhado na Contabilidade Devante. Bem, veja só! Cindy Jenkins também tinha um trabalho na Devante. Ainda não sei sobre Tabitha. Finley deve falar com a mãe dela. Ele ainda não me respondeu. Tabitha era caloura, mas se ela foi contratada por eles também, é muita coincidência para ignorar. Você não acha?

- A última conexão que você conseguiu acabou dando merda.

- Mas era uma conexão, a única entre duas dessas, até agora. Se nós conseguirmos ligar a terceira à Devante, estaremos mais perto do que nunca.

- Finley está fora do turno - ele murmurou.

- E?

Connelly caminhou e pensou na situação. Em um terno cinza e camisa azul, que parecia muito pequena para seus músculos, ele levantou os ombros e coçou sua barba loira, por fazer, parecendo irritado, mas intrigado.

- Espere aqui - ele disse.

- O que você vai—

- Eu disse espere! – Ele gritou e saiu.

Pelo vidro, ela o viu dar instruções para um Thompson muito frustrado, antes de ir até sua própria mesa fazer uma ligação.

Avery ficou sentada na sala de conferências por quase vinte minutos. Sem nada para fazer, com o peso do que havia descoberto finalmente descarregado, ela sentiu-se mais relaxada e estranhamente confortável. Um desejo intenso de ligar para sua filha a fez pegar o telefone.

O que você vai dizer? Ela pensou.

Diga que você foi uma idiota, e que você ainda é. Diga a verdade: que você a ama e quer fazer a coisa certa, não importa como.

A porta da sala se abriu.

 

- Tabitha Mitchell era caloura - Connelly disse. – Ela estava adiantada na faculdade, era a melhor da classe. E ela recebeu uma oferta de trabalho da Devante.

Avery levantou-se.

- Cacete!

A conexão estava ali. Howard Randall estava certo. Suas palavras pulsavam: Ele tem que encontrá-las, observá-las, conhecê-las de algum lugar. Quando ela havia dito para Randall “uma veterana, uma caloura,” ele havia dito não.

Ele sabia, ela se deu conta.

O nojo que Avery sentira ao ter que visitar Randall e pedir ajuda agora começava a ir embora. A conexão estava feita, e se ela conseguisse juntar todas as peças, haveria esperança: para ela, para seu futuro, para deixar o passado para trás.

- Todas as três - Connelly disse. – Todas as três com trabalhos na Devante.

- Como você descobriu?

- Finley estava ligando para a casa da Mitchell. Eu liguei para o celular da mãe. Estava dormindo. Começou a chorar quando eu disse que queria falar sobre a filha dela. Mas ela tinha a informação que precisávamos. A merda é que eu acho que os jornais disseram a mesma coisa ontem ou por esses dias.

Por isso ele sabia, Avery se deu conta. Randall lê os jornais.

Os dois se olharam em silêncio.

- O que fazemos agora? – Ela perguntou.

- Você tem que me dizer.

Ela desviou o olhar e mordeu o próprio lábio.

- Precisamos de um nome. Quem era o gerente de contratações que conheceu todas essas garotas?

- Seja quem for - Connelly disse, - ele deve saber que pelo menos duas das garotas que ele contratou estão mortas. Está em todos os noticiários.

- Se duas garotas que você contratou fossem encontradas mortas em menos de uma semana, você ligaria para alguém?

- Não se eu fosse culpado.

Connelly imediatamente pôs o telefone da sala de conferências no viva-voz e ligou para o capitão. Agitado e com sono, O’Malley ouviu Avery e Connelly pelo telefone e levou um tempo para responder.

- Esperem até de manhã - ele disse. – Não há nada que podemos fazer agora. Eu vou ligar para o comandante e para o prefeito assim que o dia amanhecer. Cacete - ele murmurou. – Devante. Eles são gigantes!

- Vamos começar com o CEO e seguir daí para baixo - Avery disse. – Alguém tem que ter a lista de nomes e trabalhos. Acredito que nosso assassino trabalha no RH.

- Tentem dormir um pouco essa noite - o capitão disse, - os dois. Pode ser um dia e tanto amanhã. Eu encontro vocês no escritório às oito. Avery, se você não conseguir dormir, comece a trabalhar os mandados: um para a empresa e outro para cada indivíduo da empresa, sem nome específico. Você também pode ligar para a Devante e ver se alguém trabalha no fim de semana. Eu duvido que alguém vai atender a essa hora, mas estamos em abril. Nunca se sabe.

O capitão desligou.

Desconfortável, Connelly se recusou a olhar para Black.

- Vamos torcer pra isso dar certo - ele disse e saiu.

Avery fez tudo o que podia nos dois mandados. Ela ligou para pelo menos dez números do escritório da Devante. Ninguém atendeu.

Vá para casa, ela disse a si mesma.

Dormir era a última coisa que passava em sua mente.

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

Aquele domingo parecia segunda-feira para Avery.

Ela estava de pé e cheia de energia às sete. Estranhamente, havia dormido como um bebê assim que chegou em casa, provavelmente na melhor noite de sono que teve em meses.

Ela vestiu seu terninho preto e camisa de botão branca. Como sempre, colocou os tênis pretos. Os dias de salto alto da Manolo Blahnik haviam terminado há tempos. Depois de uma xícara de café, ela parou na sala e olhou para si mesma.

Você precisa de academia, disse.

Uma ponta de dúvida invadiu seus pensamentos. Ela já havia ficado no “quase” algumas vezes, já havia seguido tantas pistas que não levaram a nada. Não, ela pensou. É essa. Tem que ser.

A caminho do carro, analisou sua trajetória como policial: tráfico, crimes leves, disputas domésticas, caça a gangues, e agora isso, seu maior caso, detetive de homicídios na caça a um assassino em série. Aquilo era o que ela estava buscando nos últimos três anos: uma chance de fazer as pazes com o passado, de terminar com o capítulo “Howard Randall” para sempre, fugir das sombras do arrependimento e, finalmente, viver.

Os turnos da manhã nos finais de semana mudavam às oito no A1. O escritório estava quase vazio no horário de transição, com a maioria da equipe nas ruas ou a caminho do trabalho. Connelly já estava lá, junto com Thompson e o comandante.

O comandante vestia jeans e uma camiseta vermelha estampada, no estilo mais casual que Avery já o havia visto. Ao telefone, ele a fez sinal para entrar no escritório com o resto do grupo.

- Espere - O’Malley disse no telefone - Black está aqui. Vou colocá-lo no viva-voz e resolvemos isso agora mesmo.

Uma voz grave emanou pela sala.

- Olá? Todo mundo me ouve?

O’Malley disse com os lábios: “O prefeito”.

- Estamos aqui, - falou em voz alta.

- Detetive Black - o prefeito disse como se não estivesse à vontade para falar, - eu sei que você tem sido implacável nesse caso, mesmo depois de retirada. Quanta certeza você tem sobre Devante? Sabe, Miles Standish é meu amigo.

O’Malley disse com os lábios: “O dono”.

- Eu duvido muito que o Senhor Standish tenha algo a ver com isso - Avery disse. – Nós acreditamos que o assassino é alguém dos escritórios, provavelmente algum gerente do RH ou intermediário que teria conhecido essas garotas, lido seus currículos e depois passado para os departamentos adequados.

- Eu perguntei se você tem certeza sobre Devante, senhora Black. Você tem certeza que essa é a melhor pista? Eu vou ter que fazer uma ligação muito difícil.

- Três garotas estão mortas. Cada uma de faculdades diferentes, e mesmo assim todas tinham trabalhos alinhados na Devante. É a única conexão que faz sentido. Tenho cem por cento de certeza.

- Ok - o prefeito disse. – Mike, vou ligar para Miles agora. Espero falar com ele logo. Se ele não cooperar, pegue seu mandado e faça o que tiver que fazer. Eu quero esse caso resolvido até segunda-feira.

- Ok, senhor - O’Malley respondeu.

Quando o prefeito desligou, O’Malley disse ao grupo:

- Ok, vamos fazer desse jeito. Avery, você comanda. Aquilo que você fez outro dia foi ridículo, mas já que você descobriu isso aqui, você deve continuar. Vamos discutir seu futuro mais tarde. Connelly é seu supervisor. Você terá Thompson e quem mais nós pudermos ter para conseguir todas as informações. Thompson - ele disse, e parou por um momento para achar as palavras certas, – eu achava que você era esse gigante irlandês bizarros que iria entrar no escritório e fazer as coisas acontecerem. Infelizmente, não foi nada disso. Na verdade, eu acho que você é mais preguiçoso que o Finley. Não, espere - ele se corrigiu. – Eu estava errado sobre Finley. Ele está trabalhando pra cacete. Todo mundo erra. Você, no entanto, é melhor que me surpreenda hoje. Entendido?

- Sim, senhor - Thompson jurou.

Quinze minutos depois, a ligação que eles estavam esperando chegou. O’Malley instantaneamente atendeu no viva-voz.

- O’Malley falando.

Uma voz jovem e alegre respondeu.

- Olá! Eu sou Laura Hunt, assistente pessoal do senhor Miles Standish. Eu fui instruída a ligar e dar qualquer informação que você precisar sobre a Devante.

O’Malley fez sinal para Black.

- Sua vez - ele disse.

- Aqui é Avery Black. Não sei se você foi informada, mas há um assassino em série à solta com possibilidade de ligação com a Devante.

- Sim, senhora Black, eu recebi todas as informações prévias.

- O que nós precisamos é de um nome, alguém que pode ter conhecido todas essas universitárias e oferecido trabalho a elas, ou as encaminhado para outro departamento da empresa onde elas foram contratadas.

- Ok. Posso perguntar de qual empresa Devante nós estamos falando?

- Como assim?

- Nós temos escritórios em Boston, Chicago e San Antonio.

- Boston.

- Ok, um segundo. Aqui está. Timothy McGonagle é o presidente dos Recursos Humanos do escritório de Boston. Eu não acho que ele lide diretamente com o recrutamento universitário, mas você pode falar com ele ou alguém de sua equipe - ela passou o número do celular, número da casa e endereço.

- Quantas pessoas são subordinadas a McGonagle? – Avery perguntou.

- Existem vinte e oito outros empregados nos Recursos Humanos.

- Se eu tiver problemas, posso ligar direto para você?

- Com certeza - ela disse e deu um número a Avery. – O Senhor Standish quer ajudar como for possível. Ele só pediu para que você tente manter o nome da Devante fora dos jornais, se possível. Nós não gostaríamos de ter pessoas associando nosso nome a qualquer crime.

- Entendido - Avery disse.

A ligação terminou logo depois de O’Malley olhar para o grupo.

Avery queria encontrar ela mesma com Timothy McGonagle, uma conversa de perto, pessoal. Se ele não era diretamente a pessoa responsável pelos crimes, era quase certo que ele havia contratado um assassino, ou contratado alguém que contratou um assassino. Uma rápida busca não revelou nada sobre McGonagle, nem uma multa por estacionamento proibido sequer.

- Tudo bem - O’Malley disse, - faça isso. Eu tenho um aniversário para ir.

* * *

McGonagle não estava longe do A1. Ele morava no rico bairro de Beacon Hill, a norte do escritório, perto do Lederman Park. Connelly ficou para vigiar duas equipes que lidavam com gangues e tentar formar uma equipe se Avery precisasse.

Thompson foi escolhido como parceiro dela para aquele dia. Ele ficou quieto na maior parte do caminho, sentado desconfortavelmente no banco do carona do carro de Avery, com seu corpo espremido.

- De onde você é? – Avery perguntou, casualmente.

- Boston - ele respondeu.

- Onde em Boston?

- Boston inteira.

- O que fez você querer ser policial?

Ele franziu a testa albina, e seu lábios sorriram com escárnio.

- O que é isso? Jogo de perguntas?

Avery estacionou na Pinckney Street.

McGonagle morava em uma casa enorme, com fachada de tijolos, cortinas brancas e uma porta vermelha que dava para uma sala ao ar livre. Thompson ficou na entrada, e parecia que ele queria estar em qualquer lugar que não fosse com Avery Black. Seu tamanho e aparência estranhos, no entanto, evitavam que pessoas tentassem entrar. Mesmo que estivessem do outro lado da rua, pessoas olhavam diretamente para o seu rosto, e passavam.

A campainha foi rapidamente atendida.

- Olá?

Tim McGonagle era mais jovem do que Avery esperava, talvez com trinta e cinco, cabelos pretos e olhos verdes brilhantes que pareciam estar sempre calculando. Ele vestia calças cinzas, camisa de botão rosa e uma gravata verde.

Tinha entre 1,82m e 1,85m. Muito alto. Não batia com a altura do assassino.

- Posso ajudar em algo? – Ele perguntou.

- Avery Black. Esquadrão de Homicídios.

- Ah, sim. Uma agente celebridade em pessoa. – Ele sorriu.

Ele percebeu a presença de Thompson e se virou novamente para Avery.

- Como posso te ajudar?

- Você está acompanhando o caso do assassino em série?

- Sim, estou.

- Você sabia que três das vítimas foram recentemente contratadas pela sua empresa?

- Não - ele disse. - Meu Deus, isso é terrível.

- O que você faz exatamente na Devante?

Ele apontou para dentro.

- Você gostaria de sentar?

- Não, obrigado.

Uma voz feminina veio de algum lugar de dentro da casa.

- Timmy? Quem está aí?

- Só um segundo, Peg - ele disse e se voltou para Avery. – Sou o presidente do Departamento de Recursos Humanos da Devante no escritório de Boston. Minhas principais responsabilidades são contratar e gerenciar a equipe. Eu inspeciono problemas na empresa, qualquer confronto mais sério entre empregados e chefes, coisas assim. Os únicos currículos que eu vejo são para cargos mais altos que nós às vezes precisamos, como CEO ou auditor chefe.

- Quem recruta nas universidades?

- Um dos meus funcionários. O nome dele é Gentry Villasco, mas sinceramente, não posso imaginar ele fazendo nada desse tipo. Ele é um diretor administrativo. Comanda uma equipe de quatro. Eles olham faculdades, currículos universitários e organizam dados nos campi.

 

- Se um universitário quisesse trabalhar na sua empresa, teria que passar por ele?

- Isso mesmo. A equipe dele pode peneirar os candidatos e separar os melhores currículos, mas em algum momento passaria por ele. Se Gentry gosta do que vê, ele passa isso para o departamento apropriado, onde a vaga está aberta.

- Você pode me contar algo sobre ele? É solteiro? Casado? O que ele gosta de fazer nos finais de semana? Ele tem amigos?

Timothy riu.

- Gentry, definitivamente, não é um assassino. Ele é um solitário, com certeza, um pouco mais velho do que eu. Talvez uns cinquenta. Tem uma casa em West Somerville. Vem todo dia para trabalhar. Ele sabe como lidar com as pessoas, mas guarda isso para si, você me entende? Trabalha na Devante a mais tempo do que eu, mais ou menos uns quinze anos.

Avery olhou sério para ele.

- Você tem certeza de que não tem nenhum conhecimento sobre as três vítimas em questão? Deixe-me repetir os nomes caso você tenha esquecido: Cindy Jenkins, Tabitha Mitchell, e a última que ainda não está nos jornais: Molly Green.

- Nunca ouvi nenhum deles - ele disse e instantaneamente se corrigiu. – Bem, eu vi o nome das duas primeiras, mas não na empresa. Li nos jornais. Eu li sobre o caso - ele devolveu o olhar sério.

- Você vai estar em casa o dia todo? – Avery perguntou.

- Bom, estava planejando ir à igreja com minha família. Nós estávamos tomando café com as crianças.

Ele parecia tanto honesto quanto verdadeiramente perturbado pela ligação dos crimes com a Devante. Um homem de família, Avery pensou. Ela deu um passo para trás e tentou imaginar um assassino com esposa e família.

- Aqui está meu cartão - ela disse. – Por favor me ligue se você pensar em mais alguma coisa.

- Claro - ele respondeu. – Eu lamento por isso tudo.

Thompson estava escorado na fachada de tijolos, alheio a tudo, exceto ao céu.

Avery passou e deu um tapa em seu peito.

- Ei! – Ele reclamou.

- Você parece um peso de porta aí. Mexa-se!