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Razão Para Matar

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CAPÍTULO OITO

Deixados sozinhos na sala de conferências, Avery e Dylan ficaram se olhando por alguns momentos em silêncio. Nenhum dos dois se movia. Ele estava de cabeça baixa, fazendo careta e parecendo estar refletindo sobre algo. Pela primeira vez, Avery sentiu simpatia por ele.

- Eu sei como é - ela começou a falar.

Dylan levantou-se rapidamente e colocou a cadeira com força de volta no lugar.

- Não pense que isso muda alguma coisa - ele disse. – Você e eu não temos nada em comum.

Ainda que suas expressões fossem de raiva e distantes, seus olhos diziam algo diferente. Avery tinha certeza de que ele estava à beira de um colapso. Algo que o capitão havia dito o afetou, assim como havia afetado ela. Os dois estavam fragilizados e sozinhos.

- Olha só - ela disse – Eu estava pensando…

Dylan se virou a abriu a porta. Seu movimento até a saída a fez confirmar o que ela imaginava: seus olhos vermelhos estavam cheios de lágrimas.

- Cacete! – Ela sussurrou.

As noites eram a pior parte do dia para Avery. Ela não tinha mais um grupo estável de amigos, nem hobbies, nem outro trabalho, e andava tão cansada que não conseguia nem pensar em fazer exercícios. Sozinha na mesa enorme, ela baixou a cabeça, temendo o que viria a seguir.

A saída do escritório foi como todos os dias, porém carregada com um sentimento estranho, e muitos oficiais ainda mais irritados com a capa do jornal estampando Avery.

- Ei, Black! – Alguém a chamou e apontou para o jornal. – Boa foto!

Outro policial tocou a imagem de Howard Randall.

- Essa matéria diz que vocês eram bem próximos, Black. Você entende de gerontofilia? Você sabe o que é isso? Significa que você gosta de foder com idosos!

- Vocês são hilários! – Ela sorriu e apontou os dedos em forma de arma.

- Vá se foder, Black.

* * *

Uma BMW branca estava estacionada na garagem. Cinco anos de uso, suja. Avery havia a comprado no auge de sua carreira como advogada de defesa.

Onde você estava com a cabeça? Pensou. Por que alguém compra um carro branco?

Sucesso, ela lembrou. A BMW branca, outrora, fora brilhante e chamativa, e ela queria que todo mundo soubesse que ela era a chefe. Agora, o carro era um lembrete de sua vida mal sucedida.

O apartamento de Avery era na Bolton Street, no sul de Boston. Ela era dona de um dois quartos no segundo andar de um prédio de dois andares. O lugar era decadente em relação à sua antiga casa, mas era espaçoso e agradável, com um bom terraço onde ela podia sentar e relaxar após um dia árduo de trabalho.

A sala de estar era um espaço aberto com um tapete marrom e felpudo. A cozinha ficava à direita da porta de entrada, separada do resto da sala por dois grandes móveis. Não havia plantas ou animais. Virado para o norte, o apartamento geralmente era escuro. Avery jogou suas chaves na mesa e se desfez do resto de seus pertences: arma, colete, walkie-talkie, distintivo, cinto, telefone e carteira. Ela se despiu no caminho para o banho.

Após pensar muito para processar o que havia acontecido no dia, ela vestiu um roupão, pegou uma cerveja da geladeira, seu telefone e foi até o terraço.

Quase vinte chamadas não atendidas estavam na tela do celular, além de dez novas mensagens. A maioria era de Connelly e O’Malley, muitas vezes gritando.

Às vezes, Avery ficava tão concentrada e focada em algo que se recusava a prestar atenção em qualquer coisa que não fosse essencial para sua tarefa, especialmente quando ainda havia um quebra-cabeça para ser montado. Hoje havia sido um desses dias.

Ela arrastou a tela para os últimos números discados e para todos os números que haviam ligado para ela no último mês. Nenhuma chamada era de sua filha ou de seu ex-marido.

De repente, ela sentiu falta dos dois.

Números foram discados.

O telefone tocou.

Uma mensagem respondeu: “Oi, aqui é Rose. Eu não posso atender agora, mas se você deixar uma breve mensagem com seu nome e número, eu retorno assim que puder. Muito obrigada.” Bip.

Avery desligou.

Ela considerou a ideia de ligar para Jack, seu ex. Ele era um bom homem, seu amor da faculdade, e tinha um coração de ouro. Um cara decente. Eles viveram um amor tórrido desde que tinham 18 anos, mas seu ego causado pelo trabalho dos sonhos havia estragado tudo.

Por anos, ela culpou outras pessoas pela separação e pela briga com sua filha. Howard Randall por suas mentiras, seu antigo chefe, o dinheiro, o poder, e todas aquelas pessoas que constantemente ela precisava entreter e barganhar para estar um passo à frente da verdade. Pouco a pouco, seus clientes se tornaram menos confiáveis, e mesmo assim ela quis seguir, ignorando a verdade, enganando a justiça de um jeito ou de outro, simplesmente para ganhar. Só mais um caso, ela dissera várias vezes. Da próxima vez, vou defender alguém realmente inocente e colocar as coisas em ordem.

Howard Randall havia sido aquele caso.

Eu sou inocente, ele dissera chorando na primeira reunião. Esses alunos são minha vida. Por que eu machucaria algum deles?

Avery havia acreditado nele, e pela primeira vez em muito tempo, ela havia começado a acreditar em si mesma. Randall era um professor de psicologia de Harvard mundialmente renomado, com seus 60 e poucos anos, sem razão ou passado conhecido de suas perturbadoras crenças pessoais. Mais do que isso, ele parecia fraco e acabado, e Avery sempre quis defender os fracos.

Quando ela o libertou, havia sido o auge de sua carreira, o ponto mais alto, até ele voltar a matar e transformá-la em uma fraude.

Tudo que Avery queria saber era: por que?

Por que você fez isso? Ela perguntara certa vez para ele no telefone. Por que você mentiu e armou para mim, simplesmente para ir para a cadeira pelo resto da vida?

Porque eu sabia que você se salvaria, Howard respondera.

Salvaria, Avery pensou.

Isso é se salvar? Ela pensou e olhou em vota. Aqui? Agora? Sem amigos? Sem família? Uma cerveja na mão e uma vida nova caçando assassinos que me fazem relembrar meu passado? Ela deu um gole na cerveja e balançou a cabeça. Não, isso não é se salvar. Pelo menos não ainda.

Seus pensamentos se voltaram para o assassino.

Uma imagem dele apareceu em sua mente: quieto, sozinho, desesperado por atenção, especialista em ervas e cadáveres. Ela descartou um alcoólatra ou viciado. Ele era muito cuidadoso. A minivan indicava uma família, mas suas ações pareciam indicar que uma família era o que ele queria, não o que ele tinha.

Com a mente inundada em pensamentos e imagens, Avery tomou mais duas cervejas até que finalmente pegou no sono em sua confortável cadeira.

CAPÍTULO NOVE

Em seus sonhos, Avery estava com sua família outra vez.

Seu ex era um homem atlético com o cabelo bem cortado e olhos verdes deslumbrantes. Alpinistas ávidos, eles estavam em um passeio com sua filha, Rose. Ela só tinha 16 anos e já havia sido admitida antecipadamente na Brandeis College, mesmo ainda estando no segundo grau. No sonho, no entanto, ela ainda era uma criança de seis anos. Eles estavam cantando e caminhando juntos por um caminho cheio de grandes árvores. Pássaros pretos bateram as asas e cantaram antes das árvores se transformarem em um monstro assombroso e algo como uma faca atingisse Rose no peito.

- Não! - Avery gritou.

Outra mão esfaqueou Jack e ele e sua filha foram levados.

- Não! Não! Não! – Avery chorava.

O monstro se abaixou.

Os lábios negros sussurraram em seu ouvido.

Não existe justiça.

Avery acordou assustada com o som de um toque incessante. Ela ainda estava no terraço, de roupão. O sol já havia nascido. O telefone continuava tocando.

Ela atendeu.

- Black.

- Ei, Black! – Ramirez respondeu. – Você não atende nunca? Estou aqui embaixo. Pegue suas coisas e vamos. Tenho café e alguns esboços de retratos.

- Que horas são?

- Oito e meia.

- Preciso de cinco minutos – ela respondeu e desligou.

O sonho continuou nos pensamentos dela. Vagarosamente, Avery levantou-se e entrou no apartamento. Sua cabeça latejava. Ela vestiu calças jeans e uma camiseta branca, que ficou mais apresentável junto com o blazer preto. Três goles de suco de laranja e uma barra de granola batida serviram de café da manhã. Na saída de casa, Avery se olhou no espelho. Suas roupas e aquele café da manhã estavam a anos luz dos ternos de milhares de dólares e dos cafés diários nos restaurantes mais chiques. Esqueça isso, ela pensou. Você não está aqui para se vestir bem. Você está aqui para ir atrás de bandidos.

Ramirez a entregou uma xícara de café no carro.

- Você está com boa aparência, Black - ele brincou.

Como sempre, ele parecia o modelo da perfeição: jeans azul-escuros, uma camisa de botão azul-claro e uma jaqueta azul-escuro com cintos e sapatos marrons.

- Você deveria ser modelo - Avery respondeu – não policial.

Um sorriso mostrou seus dentes perfeitos.

- Na verdade, eu trabalhei um pouco como modelo um tempo atrás.

Ele saiu da rua em sentido norte.

- Você conseguiu dormir essa noite? – Ramirez perguntou.

- Não muito. E você?

- Dormi como um neném - ele respondeu orgulhoso. – Eu sempre durmo bem. Nada disso me atinge, sabe? Eu gosto de deixar acontecer – disse, balançando as mãos pelo ar.

- Alguma novidade?

 

- Os dois garotos estavam em casa ontem à noite. Connelly ficou de olho neles para ter certeza que não iriam fugir. Ele também falou com o reitor para dar algumas informações e garantir que ninguém se desespere com um monte de policiais fardados pelo campus. Nenhum dos dois têm antecedentes. O reitor disse que os dois são bons garotos de boas famílias. Vamos ver hoje. Nada ainda da Sarah sobre o reconhecimento facial. Devemos ter algo à tarde. Algumas concessionárias me ligaram de volta com nomes e números. Eu vou segurar a lista por enquanto e ver o que acontece. Você viu o jornal da manhã?

- Não.

Ele jogou o diário no colo dela. Em letras grandes e em negrito, a manchete dizia “Assassinato em Harvard”. Havia outra foto do Lederman Park, além de uma pequena foto do campus de Harvard. A matéria nas páginas internas trazia um editorial sobre o dia anterior e incluía pequenas fotos de Avery e Howard Randall, juntos, em seus dias no tribunal. O nome de Cindy Jenkins havia sido mencionado, porém sem foto.

- O dia está devagar na mídia?

- Ela é uma garota branca de Harvard - Ramirez respondeu – óbvio que isso repercute. Nós temos que manter essas crianças a salvo.

Avery levantou as sobrancelhas.

- Isso pareceu um pouco racista.

Ramirez assentiu vigorosamente.

- Sim - ele concordou – Provavelmente eu sou um pouco racista.

Eles seguiram pelas ruas do sul de Boston e passaram pela Logfellow Bridge, com sentido a Cambridge.

- Por que você virou tira? – ela perguntou.

- Eu amo ser tira - ele disse. – Meu pai era tira, meu avô era tira, e agora eu sou. Fui para a faculdade e saí rapidinho. Como não amar? Eu carrego uma arma e tenho um distintivo. Acabei de comprar um barco. Posso ir à baía, relaxar, pegar uns peixes, e depois pegar uns assassinos. Fazendo o trabalho de Deus.

- Você é religioso?

- Não - ele disse – só supersticioso. Se Deus existe, eu quero que ele saiba que eu estou do lado Dele. Você me entende?

Não, pensou Avery. Não entendo.

O pai dela havia sido um homem abusivo, enquanto sua mãe ia fielmente para a igreja e rezava para Deus, parecendo mais uma fanática do que qualquer outra coisa.

A voz do seu sonho retornou.

Não existe justiça.

Você está errado, Avery respondeu em pensamento. E eu vou provar isso.

* * *

A maioria dos veteranos de Harvard moravam fora do campus, em alguma unidade habitacional da faculdade. George Fine não era uma exceção.

O Peabody Terrace era um condomínio grande, localizado ao longo do Charles River, perto da Akron Street. O prédio branco de vinte e quatro andares contava com um enorme pátio, um gramado lindo e uma bela vista do rio para os alunos que moravam nos andares mais altos. George era um deles.

Alguns prédios conectavam o Peabody Terrace. George Fine morava na torre E, no décimo andar. Ramirez estacionou seu carro na Akron Street e eles entraram no condomínio.

- Aqui está a foto dele. - Ramirez disse. – Deve estar dormindo agora. A primeira aula dele é só às dez e meia.

A imagem era de um pequeno corte em uma foto grande tirada da internet. Ela mostrava um estudante descontente e que claramente se achava, com cabelo oleoso e olhos negros. Um leve sorriso estava em seu rosto. Ele parecia estar desafiando o fotógrafo a encontrar uma falha em sua perfeição. O queixo firme e outras características interessantes fizeram Avery pensar porque ele havia sido chamado de “estranho”. Ele parecia confiante, ela pensou. Então por que viver atrás de uma garota que não se interessava por ele?

Ramirez mostrou seu distintivo para o porteiro.

- Há algum problema? – o porteiro perguntou.

- Nós vamos descobrir em breve – Ramirez respondeu.

Eles subiram.

No décimo andar, viraram à esquerda e caminharam por um longo corredor. Os tapetes eram marrons em espiral. As portas, pintadas em branco lustroso.

Ramirez bateu à porta do apartamento 10E.

- George - disse – Você está aí?

Após um breve silêncio, alguém respondeu: “Vaza.”

- Polícia! - Avery interrompeu e bateu forte na porta. – Abra.

Silêncio, um pequeno barulho e mais silêncio.

- Vamos! - disse Avery. – Nós não temos o dia todo. Só queremos perguntar algumas coisas.

- Vocês têm um mandado?

Ramirez levantou suas sobrancelhas.

- O moleque sabe das coisas. Deve ter sido educado pela Hera.

- Nós podemos ter um mandado em uma hora - Avery respondeu, - mas se você me obrigar a ir embora e voltar com um papel, eu não vou gostar nenhum pouco. Eu não levantei de pé direito. Você não vai querer me ver contrariada. Nós só queremos falar sobre Cindy Jenkins. Nós ficamos sabendo que você a conhecia. Abra a porta e eu vou ser sua melhor amiga.

A fechadura se abriu.

- Você sabe mesmo lidar com as pessoas – Ramirez se deu conta.

George apareceu de camisa regata e calça de moletom, extremamente em forma e musculoso. Ele media mais ou menos 1,67m, a mesma altura que Avery havia imaginado para o assassino, baseada nas imagens. Apesar de aparentar alguém drogado ou que não dormia há dias, seu olhar era destemido. Avery imaginou se ele não teria sofrido bullying por anos e agora havia finalmente decidido contra-atacar.

- O que vocês querem? – Ele disse.

- Podemos entrar? – Ela perguntou.

- Não. Nós podemos falar aqui mesmo.

Ramirez colocou os pés para dentro.

- Na verdade - ele disse – acho que preferimos entrar.

George desviou o olhar de Avery para Ramirez, para o pé invadindo a sala. Decidido, ele abaixou os ombros e recuou.

- Entrem. - Ele disse. – Não tenho nada para esconder.

O apartamento era grande para duas pessoas, com sala, sacada, duas camas em lados opostos e cozinha. Uma cama estava devidamente arrumada com roupas e equipamentos eletrônicos. A outra era uma bagunça total.

George sentou na cama desarrumada. Com as mãos de lado, segurou forte o colchão. Ele parecia pronto para se levantar a qualquer momento.

Ramirez ficou em pé na janela da sacada e admirou a vista.

- Que lugar! - Ele disse. – É pequeno, mas incrível. Olhe essa vista. Uou! Você deve gostar de admirar o rio.

- Vamos logo com isso - George disse.

Avery puxou uma cadeira e sentou, olhando para George.

- Nós estamos investigando o assassinato de Cindy Jenkins - disse. – Nós acreditamos que você pode nos ajudar, já que você foi uma das últimas pessoas a vê-la com vida.

- Muitas pessoas a viram com vida.

Ele tentou falar aquelas palavras com firmeza, mas havia dor nos seus olhos.

- Nós temos a impressão de que você gostava dela.

- Eu a amava - ele disse. – O que isso importa? Ela se foi. Ninguém pode me ajudar.

Ramirez e Avery se olharam.

- Pelo que eu sei - Avery disse – você saiu da festa depois dela.

- Eu não matei ela - ele declarou – se é isso o que você está dizendo. Eu saí da festa porque ela saiu pela porta trançando as pernas. Eu estava preocupado com ela. Não consegui encontrá-la quando eu desci. Tive que dar tchau para algumas pessoas. Pergunte para quem você quiser. Essa é a verdade.

- Por que você precisaria dar tchau para alguém? – Ramirez perguntou. – Se você amava ela e estava preocupado, por que não foi logo ajudar?

- Fale com meu advogado.

- Você está escondendo alguma coisa - Ramirez apontou.

- Eu não matei ela.

- Então prove.

George baixou o olhar e balançou a cabeça.

- Ela estragou minha vida - disse. Ela estragou minha vida e agora vocês estão tentando estragar minha vida também. Vocês se acham tão importantes…

Ramirez olhou para Avery querendo dizer “Esse moleque é louco!” e saiu para admirar a vista espetacular da sacada.

Avery sabia mais do que Ramirez. Ela havia visto aquele tipo antes, como advogada e também como policial. Havia algo errado e poderoso com ele. Acuado e pronto para atacar, ela pensou, bem como os membros de gangues que ela havia interrogado: inocência misturada com indignação que logo se transformavam em violência. Ela colocou uma mão no cinto. Seus dedos chegaram perto da arma, sem que de fato ela fizesse um movimento para empunhá-la.

- O que você quer dizer com isso, George? – perguntou.

Quando ele olhou para cima, seu corpo estava flexionado. Um semblante horrível tomou conta de seu rosto. Os olhos estavam estalados e os lábios abertos. Ele encolheu-se. Com os olhos cheios d’água, ele respondeu:

- Eu me rendo - ele chorou.

A arrogância desapareceu. Ele levantou-se e estendeu os braços. Lágrimas o surpreenderam, mas ele se deixou vencer.

- Eu me rendo - ele chorou e se agachou.

Avery levantou-se e recuou, com a mão perto de sua arma.

- O que é isso? – Ramirez perguntou.

- Deixe-o sozinho - Avery disse.

Tomado pelo desespero que emanava do suspeito destruído, Ramirez chegou perto de George e disse:

- Ei cara, está tudo bem. Se você fez isso, apenas admita. Talvez você seja louco ou algo assim. Nós podemos te ajudar. É por isso que estamos aqui.

George ficou imóvel.

Um sussurro saiu de seus lábios.

- Eu não sou louco - disse. – Só estou cansado de vocês, pessoas.

Hábil como um soldado treinado, ele puxou uma faca afiada de suas costas. No instante seguinte, ele passou para trás de Ramirez e agarrou seu pescoço. Rapidamente, cortou-o abaixo do peito, no lado direito. Ramirez gritou e George voltou à posição, usando Ramirez como escudo.

Avery puxou sua arma.

- Não se mexa! – Ela ordenou.

George colocou a lâmina na têmpora de Ramirez.

- Quem é o derrotado agora? – disse. - Quem? – Ele gritava.

- Largue isso!

Ramirez gemeu de dor pelo ferimento entre suas costelas. O braço em volta de seu pescoço estava claramente dificultando sua respiração. Ele tentou pegar sua arma, mas a ponta da faca pressionava mais fundo em sua têmpora. George o segurou forte e sussurrou no ouvido dele.

- Quieto!

Ramirez gemeu e logo depois gritou:

- Atire nesse merda!

Avery viu George passar a faca vagarosamente no rosto de Ramirez, e gotas de sangue começaram a cair. Naquele momento, ela sabia que não tinha escolha. Era a vida de seu parceiro ou a daquele maluco, e qualquer segundo poderia fazer diferença.

Ela atirou.

De repente, George gritou de dor e tropeçou para trás, soltando Ramirez.

Avery olhou e o viu coberto de sangue, segurando seu ombro. Ela estava aliviada em ver que o tiro havia acertado apenas o ombro, como ela esperava.

Ramirez tentou pegar sua arma, mas antes mesmo de poder reagir, George havia se levantado. Avery não podia acreditar. Nada parava aquele garoto.

Ela se surpreendeu ainda mais quando George não foi em direção a Ramirez, ou a ela.

Ela estava indo em direção à sacada aberta.

- ESPERE! – Avery gritou.

Mas não havia tempo. Ele estava a mais de três metros dela, e ela poderia ver pelo impulso tomado que ele iria pular.

Novamente, ela tomou uma decisão difícil.

Novamente, ela atirou.

Dessa vez, ela apontou para a perna dele.

George caiu com o rosto no chão, depois de joelhos, e dessa vez ele não se levantou. Ele ficou caído, gemendo, com os pés voltados para a sacada.

Ramirez levantou e virou-se. Com uma mão no ferimento, pegou sua arma e apontou para o rosto de George.

- Você me cortou porra!

Ramirez chutou George, que se encolheu de dor, assim como o próprio Ramirez, que segurava seu ferimento cada vez mais forte.

- Porra! – Ele gritou.

Caído, George sorriu, com sangue saindo de seus lábios.

- Foi bom, tira? Espero que tenha sido, porque eu vou sair dessa!

Avery avançou, pegou suas algemas, colocou as mãos de George em suas costas e segurou com força.

- Você está preso!