Revelando O Rei Feérico

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CAPÍTULO QUATRO


– Os horários aqui são sempre tão cheios? – perguntou Ryker ao colega de quarto. Já estava no conservatório há alguns dias, e eles ralavam mais do que no emprego de meio-período que ele tinha antes de ser levado para lá.

Muitos feéricos jovens tinham empregos para ajudar a sustentar as famílias, mas raramente trabalhavam mais de dez horas por dia, o que não se encaixava com a informação dada a eles durante as aulas de história. Os professores deveriam saber que os alunos não estavam caindo naquela besteira que estavam ensinando. Eram eles que estavam lá trabalhando até cansar para ajudar a fechar as contas do mês.

Ao que parecia, o que era ensinado no Conservatório foi distorcido para favorecer os humanos. Era enfurecedor ouvir os professores falarem como os humanos vieram e salvaram Bramble’s Edge da ruína. E também serviu para abrir os seus olhos.

Quando chegou ao conservatório, quis arrasar com qualquer um que cuspisse aquela merda para ele. Mas, à medida que o tempo foi passando, começou a entender um pouco melhor. Não cairia na história de que os humanos os salvaram, já que foram os humanos que atacaram primeiro.

As armas deles superaram as habilidades dos feéricos e debilitaram o reino. A mãe o contou o suficiente para que ele entendesse a estratégia por trás da guerra. Os feéricos tentaram se defender enquanto os humanos trabalhavam para destruir o poder que estabilizava o povo feérico.

Parte do poder do rei e da rainha dos feéricos era o que mantinha o equilíbrio, tanto entre as raças quanto entre os indivíduos. Da forma como a mãe explicou, cada vez que alguém perdia o controle sobre os poderes, o rei aparecia e fazia tudo voltar ao normal. Só a presença deles no reino provia algo que estabilizava toda a raça.

Quando aquele poder desapareceu com a morte do rei e da rainha, a raça ficou devastada e todo o caos que se seguiu permitiu que os humanos avançassem e assumissem o controle.

Era difícil para as criaturas sobrenaturais lidar com tanto poder, principalmente no início, e especialmente os feéricos. Eram uma espécie apaixonada e aquela paixão governava todas as coisas. Ouviu a mãe reclamar uma centena de vezes que o real propósito do conservatório era ajudá-los a aprender a controlar os poderes e os humanos perverteram tudo o que o rei Oberon criou milênios atrás.

Pelo número de vezes que seus novos amigos não foram capazes de vê-lo ou que acordava como se tivesse acabado de dar um mergulho no lago que havia perto do açougue em que sua mãe trabalhava, entendeu exatamente o que ela quis dizer. Não o propósito da escola em si, mas a parte sobre o controle.

Havia uma ou duas coisas que continuava acontecendo com os colegas de dormitório, mas Ryker notou várias coisas que o confundiam. Ainda não tinha certeza de quais eram os poderes. Até mesmo os professores que fizeram a sua avaliação ficaram perplexos e o colocaram na liga do ar.

Ao que parecia, ele demonstrava muitas habilidades associadas àquelas que os feéricos do ar tinham. Não sabia como se sentia quanto àquilo. Tinha visto muito pouco da habilidade de manipular pensamentos ou sonâmbulos ou falar diretamente com a mente de alguém. Ou de qualquer outro poder psíquico, diga-se de passagem.

Estava ansioso para aprender mais sobre o que a mente poderia fazer, mas foi arrastado para a liga do fogo. A forma como a raiva disparava e sua tendência a se meter em brigas fez parecer que o seu elemento seria o fogo. Esses impulsos se mostravam muito mais que suas outras habilidades.

Havia habilidades básicas que todos os feéricos possuíam. Essa foi uma das razões pelas quais Ryker ainda não tinha certeza sobre a veracidade da ameaça que a mãe via nos humanos. Humanos não viviam tanto quanto os feéricos. E eles não tinham força ou audição excepcional. Eles também não se curavam mais rápido.

Os feéricos também podiam, até certo ponto, dar mais glamour à própria aparência. As habilidades menos desenvolvidas eram amplificadas em alguém que possuía um talento extra na área. Aqueles com mais talento para modelar a beleza começavam a vender escudos feitos para disfarçar a aparência dos feéricos para que eles pudessem sair da Edge e ir para algum lugar que não fosse o muquifo onde viviam. Foi por isso que, quinze anos atrás, deram início ao serviço de detetives.

O pai de Eitin era detetive na fronteira, impedindo feéricos e mestiços de irem embora da Edge. A mãe odiava que fosse amigo de Eitin, mas os dois eram inseparáveis. E, a mãe nunca escondeu a opinião que tinha do amigo.

Virou piada entre eles adivinhar quantas vezes ela iria lhe passar um sermão falando que os feéricos não deveriam usar as habilidades para sentir outro feérico e usar isso contra a própria espécie.

Quando os poderes de Eitin se manifestaram, não tinha dúvidas de que ele seria posto na liga do fogo. Aquilo o fez imaginar para onde Maurelle tinha sido direcionada. Não a viu desde aquela caminhada até a enfermaria, mas não conseguia parar de pensar na bela fêmea. Você está caçando problema, disse a si mesmo pela centésima vez naquela semana.

Era uma bênção não ter que vê-la. Fazia com que fosse mais fácil manter-se afastado.

A mente teimosa se recusava a pensar em qualquer outra coisa enquanto imaginava se ela seria ar ou fogo, ou talvez até mesmo terra ou água. Baseado no que viu, duvidava que seria terra, pois ela não tinha causado terremotos ou criado barreiras naquele dia que estava tão puta da vida.

Ela não era da água pelas mesmas razões. Os guardas não começaram a sangrar pelos olhos, nem o mar que ficava perto da escola tinha lançado ondas pelo refeitório. Parte dele esperava que ela fosse colocada na liga do ar com ele, por causa da psicometria, mas ela ainda não tinha aparecido nas aulas. O que era bom, voltou a lembrar a si mesmo. A última coisa de que precisava era mais encontros estranhos com aquela fêmea.

Parou de pensar em Maurelle e na forma como o luto dela quase o fez perder a cabeça. Ryker saiu do quarto e colocou as proteções que conhecia ao redor da porta. Alguns da sua liga não eram capazes de manipular o metal como ele. Aquele era um traço da terra, mas não queria que ninguém invadisse seu território enquanto não estava.

– Ei, Ryk. Está tudo bem? Você perdeu o café da manhã – assinalou Daine, quando ele saiu do quarto. Os dormitórios ficavam em um enorme prédio de cinco andares e a estrutura foi projetada para terem muito mais independência do que ele tinha em casa, o que fazia com que o tempo que passava no conservatório fosse muito mais agradável.

Daine não parecia ansioso para sair do sofá e ir para a aula. Já Sol e Brokk estavam com os livros e os cadernos na mão. Os quartos foram dispostos em volta de uma sala central, onde eles treinavam e estudavam.

– É. Eu dormi demais – mentiu, enquanto arrumava os livros. Não sabia se podia confiar em qualquer um deles para falar das dúvidas que ainda tinha. Admitia que o receio e as objeções quanto ao conservatório diminuíram esses dias, mas não tinham sumido completamente.

Sol riu e balançou a cabeça.

– Eu também não ia querer sair da cama à cinco da manhã. Aquela merda parece ser feita de nuvens. Nunca pensei que uma cama pudesse ser tão confortável.

O rosto dele escondia as emoções caóticas melhor do que pensava. Fazendo que sim, Ryker foi até a porta.

– Concordo. Dormi na mesma cama a vida toda. E talvez minha mãe também tenha dormido nela por muito mais tempo. – Ter uma cama nova ou macia era um luxo com o qual a maior parte dos moradores da Edge não podia arcar. Então ter uma confortável era um puta privilégio.

Ryker desceu as escadas e os ouviu falar sobre as diferenças dos dormitórios e de casa. Estava prestes a concordar com eles, dizendo que o peito doía menos a cada fôlego, e que o estômago tinha se acalmado com o ambiente mais limpo, mas Maurelle saiu aos saltos de um quarto bem abaixo do dele.

Os pés falharam e ele mal conseguiu segurar o corrimão antes de descer rolando o próximo lance de escadas. Deslumbrante era um eufemismo, pensou quando olhou para ela. Com o cabelo limpo e brilhoso, e sem a palidez doentia, a beleza dela era inegável.

Os colegas de quarto perceberam a sua demora e se viraram para ele. Ryker abriu a boca, mas Brokk o interrompeu.

– Oi, Maurelle. Parece que você está se sentindo melhor.

A fêmea em questão se ruborizou levemente e sorriu.

– Obrigada. Eu me sinto bem melhor.

– E, porra, você está muito gata – prosseguiu Brokk, enquanto percorria o corpo dela de alto a baixo. Aquilo fez Ryker querer dar um soco naquele rosto bonito dele. O que era totalmente descabido. Deveria encorajar aquela paquera. Faria com que fosse menos provável que ele mesmo fosse ceder aos seus desejos pela fêmea.

Admitiu que gostaria de beijar aqueles lábios carnudos e sentir o corpo voluptuoso, mas se segurou.

– Chega – ladrou, severo. Com um estremecimento, abrandou a voz e prosseguiu. – Maurelle não precisa ser assediada. Como está se sentindo? Não a vi por aí.

– Meu próprio cavalheiro de armadura brilhante – provocou-o ela. Ele franziu o cenho, embora gostasse daquele humor irônico e que tenha sorriso um pouco demais, diga-se de passagem. – Mas não é necessário. Elogios são uma boa distração da perspectiva de começar a estudar. A escola e eu nunca fomos grandes amigos quando eu era mais nova, então, estou nervosa. Além do mais, eu estou me sentindo bem melhor. Eles me mantiveram na enfermaria até a noite passada e me deram vários tônicos e fizeram outros tratamentos.

Ryker se manteve afastado enquanto todos eles desciam as escadas juntos.

– Como está lidando com a perda da sua mãe? Já que não está gritando nem socando ninguém, acho que está se sentindo melhor.

 

A cabeça dela se virou meio que bruscamente. Sacudindo a cabeça, Maurelle parou enquanto Sol abria a porta que levava para fora dos dormitórios.

– Está sendo pavoroso. Eu sinto mais saudade dela do que tudo, mas… bem. Queria que ela não tivesse interferido na coleta.

Aquela atitude era diferente demais da raiva que ela vomitou quando chegou. Brokk se moveu para a direita e Sol foi na frente deles. Maurelle era esperta o bastante para não se abrir completamente. Ele gostava o suficiente dos colegas, mas confiar neles era algo completamente diferente. E Ryker nunca tinha dado razão para que ela confiasse nele. Seria melhor mantê-la à distância.



– O que aconteceu com você foi bastante traumático – mencionou Ryker, enquanto eles caminhavam. Chamar a experiência dela de traumática era suavizar demais as coisas. Ela pressentiu sua cautela e a parede que ele construíra entre os dois. Maurelle não tinha certeza do porquê de ele estava agindo daquele jeito, e não tinha energia para tentar adivinhar agora.

Pela primeira vez em quase uma semana, o corpo e o coração não se apertaram com aquela dor insuportável. Inclinando a cabeça para trás, permitiu que o sol aquecesse o seu rosto enquanto a brisa do oceano soprava o seu cabelo. Maurelle amou a área do conservatório. Entre a fauna, o ar puro e a água, sua alma era alimentada com uma abundância de energia que nunca experimentou antes.

Na Edge, os feéricos eram rodeados por pouquíssimas plantas e muitos prédios de pedra. Tudo coberto de sujeira e fuligem. Para coroar, a poluição fazia a pele e os pulmões queimarem. Com a conexão dos feéricos e a dependência que tinham dos elementos, era crucial ter um ambiente livre de poluição e outras toxinas.

Encontrou os lindos olhos verdes de Ryker e afastou rapidamente os dela quando viu a raiva no rosto do macho. Não tinha ideia da razão para ele estar tão bravo, mas já tinha coisa demais para lidar e não iria tentar consertá-lo também.

– Então, em qual ligas vocês estão, meninos? Estou atrás de detalhes e conselhos sobre a liga do ar, para ser precisa – perguntou Maurelle.

Os trabalhos escolares a enlouqueceram quando ela era criança e fizeram parte dos seus pesadelos enquanto crescia. Agora, adulta, estava sendo forçada a reviver os medos. Esperava que Ryker, ou um dos amigos dele, se provasse um aliado, alguém em quem pudesse confiar enquanto estava ali. Embora, pelo desdém com o qual a tratava, duvidava muito de que o macho fosse contribuir com muita coisa.

Ele podia ser lindo, mas tinha uma péssima postura. Presumiu que poderiam ser aliados, baseada na tentativa de fuga dele, mas foi ilusão. Doía ser rejeitada por ele, mesmo que não entendesse o motivo.

– Eu também estou na do ar – respondeu Ryker, com uma careta. Por que ele não poderia parecer um trol quando fazia aquela cara? Seria tão mais fácil se não estivesse tão atraída por ele. O macho tinha um temperamento ruim, ao que parecia. E não era lá muito legal.

– Ficará feliz em saber que estou na do ar também – adicionou Brokk.

– Mais para cheio de ar quente – provocou Ryker.

Com um sorrisinho, Maurelle se virou para Sol e Daine.

– E vocês?

– Estou na do fogo. Muito mais do que ar quente – respondeu Sol, agitando as sobrancelhas.

Daine se virou e andou de costas e as asas dele brilharam enquanto falava.

– Eu sou da água, mas acho que podem ter escolhido errado. Comecei um terremoto ontem enquanto voltava para o dormitório quando um dos guardas gritou comigo por eu estar atrasado para o jantar.

– Idiota – xingou Sol. – Eles sentem uma satisfação perversa ao nos atormentar.

– Minha mã… mãe me disse que era comum que os feéricos tivessem habilidades em mais de um elemento – disse Maurelle, tentando afastar a ardência dos olhos e ignorar o nó em sua garganta. A agonia em seu coração estava entorpecida o que a deixou tanto perplexa quando aliviada.

– A minha mãe também disse – concordou Ryker, deixando-a chocada. Presumiu que ele fosse ignorá-la. – E, se tiver esse tanto de poder, acabará chamando mais atenção dos humanos que comandam o castelo.

– Alguém se lembra de como era quando o rei e a rainha viviam e governavam do castelo? – Daine atirou enquanto movia uma pedrinha com um aceno da mão. Todo mundo se encolheu e tentou parecer estar fazendo outra coisa quando a pedra foi de encontro à cabeça de outro estudante.

Felizmente, ele virou para a esquerda e seguiu para o campo de treinamento da terra.

– Cara, foi por pouco – avisou Ryker a Daine.

– Eu sei. Foi sem querer.

Brokk afastou o cabelo da testa.

– Você pode ir ver a Gullvieg e pedir para fazer aula nas duas ligas. Aqui estamos – adicionou e apontou para o prédio à esquerda.

Acenaram para os outros e os deixaram discutindo o que Daine iria fazer quanto ao seu problema. Não soou como se ele fosse pedir à diretora para treinar mais.

– Não fique nervosa demais – encorajou-a Brokk. – Só estamos praticando telecinesia esses dias. – Do canto do olho ela viu as mãos de Ryker se fecharem em punhos na lateral do corpo.

Era mais difícil ignorar o fato de que ele estava puto por Brokk estar sendo legal com ela.

– Parece bem fácil. – O coração de Maurelle acelerou enquanto entravam no prédio lotado.

Para ser da liga do ar, o prédio era muito mais fechado e sufocante do que parecia por fora. Como poderia fazer mágica de forma eficiente quando não havia janelas para abrir e convidar a brisa para entrar? O que aconteceu com as que viu do lado de fora?

Girando em um círculo, ela esquadrinhou as paredes e notou que várias áreas onde viu vidro do lado de fora estavam bloqueadas com painéis de metal. Era como se não quisessem que eles tivessem acesso à energia necessária.

Ryker e Brokk desapareceram na sala, então a cabeça de Brokk apareceu e ele perguntou:

– Você vem?

Não adiantava adiar o inadiável, pensou. Fazendo que sim, ela se apressou em direção a ele e deu uns passos para dentro da sala claustrofóbica. Não pôde ver nenhuma janela naquele cubículo. Painéis de metal cobriam o que ela presumiu ser as aberturas.

E, em vez de ser uma sala de aula normal, a sala de pedras era redonda e os únicos objetos ali estavam alinhados de um lado. Havia uma mesa para o professor e uma maior e mais longa coberta por inúmeros objetos que ela reconheceu de sua época na escola.

– Bom dia, turma – disse alto uma feérica esguia. Maurelle presumiu que era a professora, já que ela estava de pé na frente da sala. A fêmea usava um vestido soltinho que não disfarçava o corpo magro. Maurelle não parecia nada com uma feérica comum. Ela tinha curvas e um corpo lhe rendeu o apelido de Fofuxa quando tinha dez anos.

– Bom dia. Eu sou Aobhel, a professora. Bem-vinda à Telecinesia I. Srta. Longstrom – disse a professora, enquanto sorria para Maurelle. – Fico contente por ter se juntado a nós.

Espantada, Maurelle imaginou como ela sabia o seu nome e o que mais a professora devia saber sobre ela. Sua chegada ao conservatório tinha sido bastante agitada. Ainda estava esperando para ver qual seria a sua punição por causa daquele arroubo.

Por medo de ser isolada, ou pior, cooperou com o pessoal da enfermaria. Após aquele primeiro dia, as emoções e a dor lancinante tinham sido embotadas, deixando as coisas mais fáceis. Em algum lugar da sua mente, sabia que a mudança na atitude e nas emoções não era muito normal, mas o alívio era grande demais para questionar qualquer coisa.

– Obrigada. Eu, é… não me deram nenhum livro ainda – confessou. A sua nuca se eriçou como se alguém a observasse. Virando a cabeça discretamente, Maurelle teve um vislumbre de uma fêmea da sua idade lhe olhando feio. Ignoraria aquilo por agora, o foco permaneceu na professora.

– Não se preocupe. Não precisará deles para a minha aula. Praticamos e polimos habilidades nessa aula. Aedan ensinará a parte teórica, e ele lhe dará os livros. Formem duplas e continuem o treino. Vocês precisarão fazer o lápis levitar – explicou-lhe Aobheal.

Brokk, com Ryker ao seu lado, aproximaram-se dela com um sorriso. Nenhum dos machos notou a fêmea se aproximando deles. Era a mesma que a olhava de cara feia há menos de um minuto. Ótimo, já tinha inimigas, ao que parecia. Não deveria ficar surpresa. O único motivo para os comentários sobre sua aparência não estarem circulando era porque ela estava na enfermaria.

– Podemos treinar aqui – grunhiu Ryker. Tirando os olhos de cima da fêmea raivosa, Maurelle olhou para o macho de relance. Ele era muito lindo. Não era de se admirar que a feérica esguia com seus esplêndidos olhos azuis quisesse formar dupla com ele.

– Você deve ter complexo de herói – frisou ela, enquanto atravessava o lugar e ficava de frente para ele.

A risada dele era baixa e rouca, o oposto de como ele tinha soado um segundo antes. A alegria fez coisas com o seu corpo que ela odiaria que ele soubesse. Enquanto seu ventre se agitava e o resto dela se aquecia, desejou que ele soubesse. Ryker estava sendo legal. Não havia a mais remota possibilidade de ele estar atraído por ela. A péssima postura que o macho teve até então provava aquilo. Mas preferia quando ele era legal.

– Quem disse que eu falei contigo? – rebateu ele, e parou de sorrir.

Brokk deu um tapinha nas costas dele e lhe deu um sorriso sedutor.

– Ignore-o. Quero você no nosso grupo.

O rosto de Maurelle se aqueceu e ela abaixou a cabeça. Gostava da paquera descarada de Brokk e não conseguia entender as oscilações de humor de Ryker. Era óbvio que ele não gostava dela, mas gostava muito quando ele não era totalmente mau com ela.

Um sussurro baixo chegou aos seus ouvidos naquele segundo, fazendo-a erguer a cabeça bruscamente.

– Eu tentaria ir embora, se não fosse por você. – Jurava que foi Ryker quem sussurrou aquela última parte, mas não tinha certeza, já que ele estava lá de pé olhando feio para ela.

– Peguei os lápis – declarou Brokk, quando voltou para o seu lado. Não notou que ele tinha se afastado. O que significava que ele não tinha dito nada.

– O que eu faço? – perguntou, mantendo o foco em Brokk.

– Você faz o lápis levitar – latiu Ryker, e logo sacudiu a cabeça.

– Isso eu entendi, Capitão Óbvio – disse ela, sarcástica.

– O que a professora nos disse é que é para focar no objeto e imaginar que ele está levitando – interveio Brokk, antes de a conversa virar uma briga.

– Caramba! Você deve ter nascido para isso – declarou Brokk, um segundo depois de o lápis estar flutuando sobre a palma da mão dela.

Erro número cem, pensou. Não tinha ideia se o pai se meteria em problemas caso alguém descobrisse que a esconderam por mais de um ano e que ela andou praticando tanto quanto possível.

Não que tenha sido muito, devido ao risco de exposição, mas era muito mais habilidosa do que alguém em sua posição deveria ser.

– O quê? – perguntou, e sacudiu o dedo, atirando o pincel na parede de pedra mais próxima.

Uma rápida olhada lhe mostrou que a professora estava mexendo no tablet. Ficou surpresa ao ver tecnologia. Os feéricos não podiam usar qualquer tipo de tecnologia na Edge. Imaginou milhares de vezes o porquê de os humanos quererem reter os itens para si. Não era como se os aparelhos fossem deixá-los mais fortes. Apostava que os humanos obrigavam os professores a usá-los só para que pudessem monitorar os alunos.

– Parece que não nasceu para isso, afinal das contas – disse Ryker, gargalhando. A risada não alcançou os olhos, mas era melhor que a cara feia.

Maurelle riu com ele, disfarçando o nervoso. Era melhor colocar a cabeça no lugar. Não podia deixar ninguém suspeitar de que seus poderes tinham se manifestado há tanto tempo. O pai era tudo o que ela e as irmãs tinham.

– Agora não há mais dúvidas. Eu sou um desastre de dar gosto. Isso é mais difícil do que parece.

– Com certeza você é de dar gosto – murmurou Brokk, enquanto a olhava da cabeça aos pés. Gostava daquele flerte. Era óbvio que ele estava atraído por ela, e ela não se sentia desconfortável perto dele.

– Se treinar, vai ficar mais fácil – disse Ryker, como se tivesse ignorado totalmente o que Brokk falou.

Aobheal se aproximou deles e cruzou os braços sobre o peito, prendendo o tablet sobre os seios pequenos.

– Telecinesia é um talento que todo feérico tem, então não levará muito tempo para controlá-lo. Você teve o pensamento certo ao imaginar o que queria que acontecesse.

– Quando começaremos a treinar habilidades de ar? – perguntou para a professora. Esperava aprender mais sobre o que podia fazer. Os pais não ousaram encorajá-la ou a permitir que explorasse demais suas habilidades. A única coisa que sabia que tinha era psicometria.

 

– Em breve – explicou Aobheal. – Primeiro vocês precisam controlar as habilidades básicas. Dessa forma, minimizamos as lesões acidentais.

Fazendo que sim, Maurelle voltou a se concentrar, mais uma vez, nas ferramentas de escrita. Ryker fazia o dele girar no ar. Ela também tinha erguido o dela no ar. Fez o objeto bambear e fazer movimentos bruscos, fazendo-o bater no lápis de Ryker. Ambos foram voando na direção da professora.

Com os lábios franzidos, Aobheal moveu a mão e os dois lápis pousaram na mesa da lateral da sala. Maurelle olhou para Ryker, mas ele já estava indo para a mesa, então voltou os olhos para Brokk. Quando o olhou nos olhos, ambos caíram na gargalhada.

– Eu quero ser poderoso assim – confessou ele.

Eu também. Pensou. As emoções podiam estar em guerra. A necessidade de ver a família era maior do que nunca, e só poderia ir para casa quando não fosse mais considerada um perigo para a sociedade.

Olete lõpetanud tasuta lõigu lugemise. Kas soovite edasi lugeda?