Tasuta

O Napoleão de Notting Hill

Tekst
iOSAndroidWindows Phone
Kuhu peaksime rakenduse lingi saatma?
Ärge sulgege akent, kuni olete sisestanud mobiilseadmesse saadetud koodi
Proovi uuestiLink saadetud

Autoriõiguse omaniku taotlusel ei saa seda raamatut failina alla laadida.

Sellegipoolest saate seda raamatut lugeda meie mobiilirakendusest (isegi ilma internetiühenduseta) ja LitResi veebielehel.

Märgi loetuks
Šrift:Väiksem АаSuurem Aa

Levou cerca de uma hora para erguer em Holland Lane a refeição simples do monarca, durante o qual ele andava para cima e para baixo assobiando, mas ainda com um ar afetado de tristeza. Realmente tinha abandonado um prazer que tinha prometido a si mesmo, e tinha aquele sentimento de vazio e desgosto de uma criança quando se decepciona com uma pantomima. Quando ele e o escudeiro se sentaram, no entanto, e consumiram uma quantidade considerável de champanhe seco, seu animo começou a reviver lentamente:

– As coisas levam muito tempo neste mundo. Detesto todo este negócio Barkeriano sobre evolução e modificação gradual das coisas. Queria que o mundo tivesse sido feito em seis dias, e feito em pedaços de novo em mais seis. E gostaria de ter feito isso. A piada é boa no geral, o sol, a lua, à imagem de Deus, e tudo mais, mas é terrivelmente longa. Já desejou um milagre, Bowler?

– Não, senhor – disse Bowler, que era um evolucionista, e que tinha sido criado cuidadosamente.

– Então, eu desejo – respondeu o rei. – Tenho andado ao longo de uma rua com o melhor charuto no cosmos na minha boca, e mais Borgonha dentro de mim do que você já viu em sua vida, e desejo que o poste se transforme num elefante para me salvar do inferno da existência vazia. Acredite na minha palavra, meu evolucionista Bowler, não acredite quando lhe dizem que as pessoas procuraram um sinal, e que acreditavam em milagres porque eram ignorantes. As pessoas faziam isso porque eram sábias, imundamente, vilmente sábias – sábias demais para comer, dormir ou se colocar em seu lugar com paciência. Isto parece deliciosamente como uma nova teoria sobre a origem do cristianismo, o que por si só, é uma coisa de não mero absurdo. Beba mais vinho.

O vento soprava em volta deles enquanto se sentaram à pequena mesa, com seu pano branco e brilhantes copos de vinho, e jogava as copas das árvores de Holland Park umas contra as outras, mas o sol estava naquele temperamento forte, que torna o verde em ouro. O rei afastou seu prato, acendeu um charuto lentamente, e continuou:

– Ontem pensei que estava próximo de presenciar um milagre realmente divertido antes de virar comida para os vermes. Ver aquele maníaco ruivo acenando com uma grande espada, e fazendo discursos para seus seguidores incomparáveis, seria um vislumbre da Terra da Juventude de onde formos expulsos pelas Parcas. Tinha planejado algumas coisas deliciosas. Um Congresso em Knightsbridge com um tratado, eu na cadeira, talvez um triunfo romano, com o velho alegre Barker levado em correntes. E agora esses miseráveis pedantes vão acabar completamente com o requintado sr. Wayne. Suponho que vão colocá-lo em algum asilo privado de acordo com seus malditos preceitos humanistas. Pense nos tesouros que serão diariamente derramados ao seu guarda insatisfeito! Gostaria de saber se eles iriam me deixar ser seu guarda. Mas a vida é um vale. Nunca se esqueça, em qualquer momento de sua existência a considerá-la à luz de um vale. Este hábito gracioso, se não for adquirido na juventude…

O Rei parou, com seu charuto levantado, pois tinha deslizado seus olhos para o olhar assustado de um homem que escutava. Não se moveu por alguns momentos, então virou a cabeça bruscamente para a paliçada alta, magra, e como ripa que isolava amplos jardins e espaços similares da faixa de rodagem. De trás vinha um barulho curioso de escalada e raspagem, como algo desesperado preso em uma caixa de madeira fina. O Rei jogou fora seu charuto, e saltou para cima da mesa. A partir dessa posição, ele viu um par de mãos penduradas agarradas em cima do muro. Em seguida, as mãos tremeram com um esforço convulsivo, e entre elas surgiu uma cabeça – o chefe de uma as cidades do Conselho de Bayswater, seus olhos e bigodes com medo selvagem. Ele se impulsionou, e caiu do outro lado de bruços, gemendo sem parar. No momento seguinte, a madeira fina e esticada da cerca foi atingida por uma bala, reverberando como um tambor, e sobre ela vieram empurrando e xingando, com roupas rasgadas, unhas quebradas e rostos vermelhos, vinte homens correndo de uma vez. O Rei saltou os cinco pés da mesa para o chão. No momento seguinte a mesa foi arremessada, garrafas e copos voaram, e os detritos foram literalmente arrastados no chão pelo fluxo de homens que passaram, e Bowler foi levado junto com eles, como o Rei disse em seu famoso artigo de jornal, “como uma noiva raptada”. A cerca balançou e rachou sob a carga de alpinistas que ainda escalavam. Brechas enormes se abriam pela artilharia viva, e através delas o rei pode ver mais rostos frenéticos, como em um sonho, e mais homens correndo. Eram tão diversos como se alguém tivesse tirado a tampa de uma lata de lixo humano. Alguns estavam intocados, alguns estavam cortados, golpeados e sangrando, alguns estavam esplendidamente vestidos, alguns esfarrapados seminus, alguns estavam com o traje fantástico das cidades burlescas, alguns em monótonos trajes modernos. O Rei olhou para todos eles, mas nenhum deles olhou para o rei. De repente, se adiantou:

– Barker, o que é tudo isso?

– Vencido… – disse o político. – Vencido completamente… Inferno! – E lançou-se com as narinas trêmulas como a de um cavalo, e mais homens foram atrás dele.

Quase enquanto falava, a última tira da cerca em pé inclinou-se e quebrou, atirando, como uma catapulta, uma nova figura na estrada. Ele usava o vermelho flamejante dos alabardeiros de Notting Hill, e em sua arma havia sangue, e em sua face vitória. Em seguida, massas em vermelho brilhavam através dos vãos da cerca, e os perseguidores, com suas alabardas, vieram enchendo a pista. Perseguidos e perseguidores, igualmente, passavam pela pequena figura com olhos de coruja, que não tirava as mãos dos bolsos.

O rei sentiu pouco além da confusão de um homem preso numa torrente – o sentimento de homens procurando por bordas. Então aconteceu algo que nunca foi capaz depois de descrever, e que não podemos descrever por ele. De repente, na entrada escura, entre os portões quebrados de um jardim, apareceu enquadrado uma figura flamejante.

Adam Wayne, o conquistador, com o rosto atirado para trás, sua juba como um leão, estava com sua grande espada apontando para o alto, a vestimenta vermelha de seu trabalho batendo ao seu redor como as asas vermelhas de um arcanjo. E o Rei viu, não sabia como, algo novo e irresistível. As grandes árvores verdes e as túnicas vermelhas balançavam juntas com o vento. A espada parecia feita para a luz do sol. As máscaras absurdas, nascidas de seu próprio escárnio, se elevavam e abraçavam o mundo. Este era o normal, isto era sanidade, esta era a natureza, e ele mesmo, com sua racionalidade e seu desprendimento e sua sobrecasaca preta, ele era a exceção e o acidente, uma mancha preta sobre um mundo vermelho e dourado.

Livro IV

A Batalha das Lâmpadas

O sr. Buck que, apesar de aposentado, frequentemente descia para suas grandes lojas de roupas em Kensington High Street, estava fechando as instalações, sendo o último a sair. Era um anoitecer maravilhoso de verde e ouro, mas isso não o incomodou muito. Se você tivesse chamado sua atenção, ele teria concordado com seriedade, pois os ricos sempre desejam ser artísticos.

Ele saiu para o ar frio, abotoando o casaco leve amarelo, e soltando grandes nuvens de seu charuto, quando uma figura correu até ele em outro casaco amarelo, mas desabotoado e com a parte de trás levantada pelo vento.

– Olá, Barker! – disse que o comerciante. – Algum de nossos artigos de verão? Está muito atrasado. Leis fabris, Barker. Humanidade e progresso, meu garoto.

– Oh, não começa – gritou Barker, batendo os pés no chão. – Fomos derrotados.

– Derrotados… Por quê? – perguntou Buck, mistificado.

– Por Wayne.

Buck olhou para o rosto branco feroz de Barker pela primeira vez, que brilhava à luz do lampião.

– Venha tomar uma bebida – disse ele.

Foram para um buffet almofadado deslumbrante, e Buck sentou-se de forma lenta e preguiçosa em um banco, e puxou sua cigarreira.

– Como isso aconteceu? – perguntou Buck, encarando-o com seus grandes olhos ousados.

– Como diabos vou saber? – gritou Barker. – Aconteceu assim, como um sonho. Como podem duzentos homens derrotar seiscentos? Como podem?

– Bem – disse Buck, friamente – , como é que o fizeram? Você deve saber.

– Não sei, não posso descrever – disse o outro, tamborilando na mesa. – Foi mais ou menos assim. Eramos seiscentos, marchávamos com essas malditas poleaxes de Auberon – as únicas armas que temos. Marchamos em dupla, lado a lado. Subimos por Holland Walk, entre as estacas altas que pareciam ir direto como flechas para a Pump Street. Estava perto do final da fila, e era uma longa fila. Quando o final dela ainda estava entre as altas estacas, a cabeça da fila já estava atravessando Holland Park Avenue. Então a cabeça mergulhou na rede de ruas estreitas do outro lado, enquanto eu e o resto da cauda chegamos na grande travessa. Quando também chegamos ao lado norte e surgiu uma pequena rua que apontava, de forma torta, para Pump Street, tudo parecia diferente. As ruas se torciam e se inclinavam tanto que a cabeça da nossa fila parecia completamente perdida: poderia muito bem estar na América do Norte. E todo esse tempo não vimos ninguém…

Buck, que estava preguiçosamente batendo a cinza do cigarro no cinzeiro, começou a espalhar as cinzas deliberadamente sobre a mesa, fazendo linhas cinzentas emplumadas, uma espécie de mapa.

– Mas, embora as pequenas ruas estivessem desertas (o que me dava nos nervos), enquanto nos aprofundávamos, algo começou a acontecer que eu não conseguia entender. Às vezes, com um longo caminho pela frente – como se fosse três voltas ou cantos à frente – de lá partia de repente uma espécie de ruído, barulhos e gritos confusos, e depois parava. Então aconteceu, algo que não posso descrever, uma espécie de tremor ou cambaleio que veio para a parte de baixo da fila, como se a fila fosse uma coisa viva, cuja cabeça tinha sido atingida, ou fosse um cabo elétrico. Nenhum de nós sabia por que estávamos nos movendo, mas nos movemos e empurramos. Então, nos recuperamos, e fomos pelas ruazinhas sujas, de cantos arredondados, e formas retorcidas. As pequenas ruas tortuosas começaram a me dar um sentimento que não posso explicar, como se fosse um sonho. Eu me senti como se as coisas tivessem perdido a razão, e nunca sairia do labirinto. Estranho ouvir-me falar assim, não é? As ruas eram bem conhecidas, todas no mapa. Mas o fato permanece. Eu não estava com medo de algo acontecer. Eu tinha medo de nada acontecer, de nada acontecer por toda a eternidade de Deus.

 

Ele esvaziou o copo e pediu mais uísque. Bebeu, e prosseguiu:

– E então algo aconteceu. Buck, é a verdade solene, que nada nunca aconteceu com você em toda a sua vida. Nada me aconteceu em toda minha vida.

– Nada aconteceu! – disse Buck, olhando. – O que você quer dizer?

– Nada jamais aconteceu – repetiu Barker, com uma obstinação mórbida. – Você não sabe o que algo acontecer significa. Senta-se em seu escritório esperando clientes, e os clientes vêm; anda na rua esperando os amigos, e os amigos te encontram; quer um drinque, e o obtém; sente-se inclinado a uma aposta, e a faz. Espera ganhar ou perder, e ganha ou perde. Mas coisas acontecendo… – , e ele estremeceu incontrolavelmente.

– Vá em frente – disse Buck, brevemente. – Continue.

– À medida que caminhava cansado pelos cantos, algo aconteceu. Quando algo acontece, acontece primeiro, e você vê depois. Acontece por si só, e você não tem nada a ver com isso. Isso prova uma coisa terrível, que existem outras coisas além de si mesmo. Só posso colocar desta forma. Demos uma volta, duas voltas, três voltas, quatro voltas, cinco. Então levantei-me lentamente da sarjeta de onde tinha caído meio sem sentidos, e foi abatido novamente por homens batendo em cima de mim, e o mundo estava cheio de rugir, e grandes homens caindo como pinos de boliche.

Buck olhou para o mapa com a testa enrugada.

– Isso foi em Portobello Road? – , perguntou ele.

– Sim – disse Barker – , em Portobello Road. Vi depois; mas, meu Deus, que lugar era! Buck, já foi pisoteado na cabeça por homens com sapatos de ponta de aço? Porque, quando tem essa experiência, como diz Walt Whitman, “você reexamina as filosofias e religiões”.

– Não duvido – disse Buck. – Se isso foi Portobello Road, não viu o que aconteceu?

– Sei o que aconteceu bem demais. Fui derrubado quatro vezes; uma experiência que, como disse, tem um efeito sobre sua atitude mental. E outra coisa aconteceu, também. Derrubei dois homens. Após a quarta queda (não havia muito derramamento de sangue, mais brutais empurrões e coisas atiradas, pois ninguém conseguia usar suas armas), após a quarta queda, me levantei como um demônio, e tomei um poleaxe da mão de um homem e golpeou onde vi o escarlate dos companheiros de Wayne, golpei de novo e de novo. Dois deles caíram, sangrando nas pedras, graças a Deus, e eu ri e me achei estatelado na sarjeta de novo, e me levantei novamente, e golpei de novo, e quebrei minha alabarda em pedaços. Machuquei a cabeça de um homem, no entanto.

Buck pousou o copo num estrondo, e cuspiu maldições pelo seu bigode espesso.

– Qual é o problema? – perguntou Barker, parando, pois o homem estava calmo até o momento, mas agora sua agitação era muito mais violenta do que a sua própria.

– O problema? – disse Buck, amargamente. – Não vê como esses maníacos nos pegaram. Por que dois idiotas, um palhaço e o outro um louco gritando, alteraram tanto homens sãos? Olhe aqui, Barker, vou dar-lhe um panorama. Um jovem muito bem-educado deste século está dançando em uma sobrecasaca. Ele tem em suas mãos uma alabarda do século XVII sem sentido, com a qual ele está tentando matar homens em uma rua de Notting Hill. Droga! Não vê como eles nos pegaram? Não importa como você se sentiu, é assim que pareceu. O rei iria colocar a maldita cabeça de lado e chamar isso de requintado. O superintendente de Notting Hill iria levantar seu maldito nariz e chamar de heroico. Mas em nome de Deus o que você teria chamado isso – dois dias atrás?

Barker mordeu o lábio:

– Não passou por isso, Buck. Não entende de combate – a atmosfera.

– Não nego a atmosfera – disse Buck, batendo na mesa. – Só digo que é a atmosfera dele. É atmosfera de Adam Wayne. É a atmosfera que você e eu pensamos já tinha desaparecido de um mundo educado para sempre.

– Bem, não desapareceu – disse Barker – , e se tiver quaisquer dúvidas, empresta-me um poleaxe, e vou lhe mostrar.

Houve um longo silêncio, e então Buck virou-se para seu vizinho e falou em um tom bem-humorado que vem de um poder de encarar fatos de frente – com que ele concluiu grandes barganhas.

– Barker, você está certo. Esta coisa velha – esta luta, voltou. Voltou de repente e nos pegou de surpresa. Por isso, a primeira batalha é de Adam Wayne. Mas, a menos que a razão, a aritmética e tudo mais tenham enlouquecido, a próxima e última deve ser nossa. Quando um problema surge, há apenas uma coisa a fazer – estudar essa questão e ganhar. Barker, uma vez que é luta, temos de compreender a luta. Preciso entender de lutas tão friamente e completamente como entendo de roupas, você deve entender a luta tão friamente e completamente como entende de política. Agora, olhe para os fatos. Continuo sem hesitação com a minha fórmula original. Luta, quando temos a força mais forte, é só uma questão de aritmética. Deve ser. Você me pergunta agora como duzentos homens podem derrotar seiscentos. Posso lhe dizer. Duzentos homens podem derrotar seiscentos quando os seiscentos se comportam como tolos. Quando eles esquecem as próprias condições em que estão lutando, quando lutam em um pântano como estivessem em uma montanha, quando lutam em uma floresta como se estivessem em uma planície, quando lutam nas ruas sem lembrar do objetivo das ruas.

– Qual é o objetivo das ruas? – perguntou Barker.

– Qual é o objetivo do jantar? – gritou Buck, furiosamente. – Não é óbvio. Esta ciência militar é mero senso comum. O objetivo de uma rua é levar de um lugar para outro; portanto, todas as ruas se juntam, por isso luta de rua é muito peculiar. Você avançou em uma colmeia de ruas como se estivesse avançando em uma planície aberta onde pode ver tudo. Em vez disso, estava avançando nas entranhas de uma fortaleza, com ruas apontando, ruas virando, ruas pulando em você, e todas nas mãos do inimigo. Sabe o que é Portobello Road? É o único ponto em sua jornada onde duas ruas laterais encontram-se frente a frente. Wayne concentrou seus homens nos dois lados, e quando deixou o suficiente de sua fila passar, a cortou em duas como um verme. Não vê o que teria salvado você?

Barker balançou a cabeça.

– A “atmosfera” não pode ajudá-lo? – perguntou Buck, amargamente. – Devo tentar explicações de forma romântica? Suponha que enquanto estava lutando cegamente com os habitantes vermelhos de Notting Hill que prenderam vocês por ambos os lados, ouvissem um grito atrás deles. Suponha, oh, romântico Barker, que por trás das túnicas vermelhas estivessem o azul e dourado de South Kensington, pegando-os pela traseira, envolvendo-os, e jogando-os nas suas alabardas.

– Se isso tivesse sido possível – começou Barker, xingando.

– Isso teria sido possível – disse Buck, simplesmente – , tão simples como a aritmética. Há um certo número de ruas que levam para Pump Street. Não há novecentos; não há nove milhões. Elas não crescem durante a noite. Não aumentam como cogumelos. Deve ser possível, com uma força tão esmagadora como temos, avançar por todas ao mesmo tempo. Em cada uma das artérias, ou caminhos, podemos colocar quase tantos homens como Wayne pode colocar no campo todo. Uma vez que façamos isso, nós o temos para a demonstração. É como uma proposição de Euclides.

– Acha que é certo? – Barker disse, ansioso, mas dominado pelo deleite.

– Vou dizer o que penso – disse Buck, levantando-se jovialmente. – Acho que Adam Wayne teve uma pequena luta espiritualmente incomum, e acho que estou confusamente com pena dele.

– Buck, você é um grande homem! – gritou Barker, levantando também. – Você me fez recuperar a sensatez novamente. Tenho vergonha de dizer isso, mas estava ficando romântico. Naturalmente, o que diz faz sentido adamantino. Luta, sendo física, deve ser matemática. Fomos espancados porque não fomos nem matemáticos, nem físicos, nem nada – porque merecíamos ser espancados. Mantenhamos todos os caminhos, e com a nossa força, devemos vencer. Quando vamos começar a próxima campanha?

– Agora – disse Buck, e saiu do bar.

– Agora! – gritou Barker, seguindo-o ansiosamente. – Quer dizer agora? É tão tarde.

Buck voltou-se para ele, batendo no chão.

– Acha que a luta está sujeita a leis trabalhistas? – disse, e chamou um táxi. – Para o portão da estação de Notting Hill – disse, e os dois foram embora.

Uma reputação genuína pode às vezes ser feita em uma hora. Buck, nos próximos sessenta ou oitenta minutos, mostrou-se realmente um grande homem de ação. Seu táxi levou-o como um raio do Rei para Wilson, de Wilson para Swindon, de Swindon para Barker novamente. Se seu curso foi irregular, teve a irregularidade de um relâmpago. Apenas duas coisas carregava, seu inevitável charuto e o mapa de North Kensington e Notting Hill. Havia, como repetidamente apontou, com toda a variedade de persuasão e violência, apenas nove formas possíveis de chegar a Pump Street dentro de um quarto de milha; três de Westbourne Grove, duas de Ladbroke Grove, e quatro de Notting Hill High Street. E tinha destacamentos de duzentos pessoas, estacionados em cada uma das entradas antes da última luz verde do estranho pôr do sol que afundava no negro céu.

O céu estava particularmente negro e sozinho foi um falso protesto contra o otimismo triunfante do superintendente de North Kensington. Mas isto foi posto de lado pelo infeccioso senso comum do superintendente:

– Não há tal coisa, como noite em Londres. Só tem que seguir a linha de postes de luz. Olhe, aqui está o mapa. Duzentos soldados púrpuras de North Kensington sob meu comando marcham até Ossington Street, duzentos mais sob o capitão Bruce, da guarda de North Kensington, até Clanricarde Gardens7. Duzentos soldados amarelos de West Kensingtons sob o superintendente Swindon atacam a partir de Pembridge Road. Mais duzentos de meus homens a partir das ruas do leste, afastando-se de Queen’s Road. Dois destacamentos amarelos entram por duas estradas de Westbourne Grove. Por fim, duzentos verdes de Bayswaters descem do norte através de Chepstow Place, e mais duzentos do superintendente Wilson, através da parte superior de Pembridge Road. Senhores, é mate em dois lances. O inimigo deve amontoar-se em Pump Street e ser cortado em pedaços, ou deve recuar atrás da Gaslight & Coke Co., e enfrentar meus quatrocentos, ou deve recuar até a Igreja de São Lucas, e enfrentar seiscentos do oeste. A menos que sejamos todos loucos, é claro. Vamos. Para seus aposentos e aguardem o sinal do Capitão Brace para avançar. Então só temos que caminhar por uma linha de postes de luz e esmagar esse absurdo por pura matemática. E amanhã seremos todos civis novamente.

Seu otimismo brilhava como um grande fogo na noite, e corria em volta do anel terrível onde agora Wayne estava mantido indefeso. A luta já havia terminado. A energia de um homem por uma hora salvou a cidade da guerra.

Nos dez minutos seguintes Buck caminhou para cima e para baixo em silêncio ao lado do aglomerado imóvel dos seus duzentos. Não tinha mudado sua aparência de qualquer forma, exceto uma eslinga sobre seu casaco amarelo para um estojo com um revólver. Assim, sua figura de moderna veste leve mostrou-se estranhamente ao lado dos uniformes pomposos púrpuras de seus alabardeiros, que obscuramente, mas ricamente coloriam a noite negra.

Finalmente o som de uma trombeta estridente alcançou a rua, era o sinal de avanço. Buck brevemente deu a ordem, e toda a linha púrpura, com seu aço pouco brilhante, moveu-se para o beco lateral. Diante deles estava uma inclinação de rua, longa, lisa, e brilhando no escuro. Era uma espada apontada para Pump Street, o coração em que nove outras espadas estavam apontados naquela noite.

 

Um quarto de hora marchando silenciosamente os trouxe quase ao alcance de ouvir qualquer tumulto na cidadela condenada. Mas ainda não havia nenhum som e não havia sinal do inimigo. Desta vez, pelo menos, eles sabiam que estavam fechando mecanicamente, e marcharam sob a luz da lamparina e do escuro sem nenhuma estranha sensação de ignorância que Barker tinha sentido ao entrar em país hostil por apenas uma avenida.

– Parem, apontar armas! – gritou Buck, de repente, e enquanto falava veio um barulho de pés andando ao longo das pedras. Mas as alabardas foram niveladas em vão. A figura que corria era um mensageiro do contingente do Norte.

– Vitória, Sr. Buck! – ele gritou, ofegante. – Eles foram derrubados. O superintendente Wilson de Bayswater tomou Pump Street.

Buck ficou excitado:

– Então, por qual caminho estão recuando? Deve ser por St. Luke para encontrar Swindon, ou pela companhia de gás para nos encontrar. Corra como louco para Swindon, e veja se os amarelos estão mantendo a estrada de St. Luke. Vamos manter esta, não tema. Nós os temos em uma armadilha de ferro. Corra!

Conforme o mensageiro correu para dentro da escuridão, a grande guarda de North Kensington continuou com a certeza de uma máquina. No entanto, pouco mais de cem metros depois apontaram novamente suas alabardas brilhando nas luzes dos postes em linha, pois novamente um barulho de pés foi ouvido sobre as pedras, e mais uma vez provou-se ser apenas o mensageiro.

– Lorde Superintendente, os amarelos de West Kensingtons mantêm a estrada por St. Luke por vinte minutos desde a captura de Pump Street. Não está a mais de duzentos metros de distância; eles não podem ter se retirado por esse caminho.

– Então, eles estão recuando por aqui – disse o superintendente Buck, com uma alegria final – e por sorte por uma estrada bem iluminada, embora bem torcida. Para frente!

Conforme se moviam ao longo dos últimos trezentos metros de sua jornada, Buck caiu, talvez pela primeira vez em sua vida, em uma espécie de devaneio filosófico, pois homens da sua especie sempre se tornam gentis, e melancólicos, pelo sucesso.

– Sinto muito pelo pobre velho Wayne, realmente sinto – ele pensou. – Falou esplendidamente por mim naquele Conselho. Ele golpeou o velho olho de Barker com espírito considerável. Mas não vejo o que um homem pode esperar quando ele luta contra a aritmética, para não dizer nada da civilização. E que farsa maravilhosa é todo este gênio militar! Suspeito que só descobri o que Cromwell tinha descoberto, que um comerciante sensato é o melhor general, e que um homem que pode comprar e vender homens pode liderar e matá-los. A coisa é simples como a adição de uma coluna numa caderneta. Se Wayne tem duzentos homens, ele não pode colocar duzentos homens em nove lugares ao mesmo tempo. Se foram expulsos de Pump Street, estão indo para algum lugar. Se não estão na igreja, estão nas obras. E assim temos eles. Nós, os homens de negócios, não devíamos ter nenhuma chance, mas as pessoas mais inteligentes do que nós têm abelhas em seus chapéus que os impedem de raciocinar corretamente, de modo que somente nós temos a razão. E assim eu, que sou comparativamente estúpido, vejo as coisas como Deus as vê, como uma vasta máquina. Meu Deus, o que é isso? – E colocou as palmas nos olhos e voltou-se para trás.

Então, pela escuridão, gritou numa terrível voz:

– Eu blasfemei contra Deus? Estou cego.

– O que? – gemia outra voz atrás dele, a voz de um certo Wilfred Jarvis de North Kensington.

– Cego! – gritou Buck. – Cego!"

– Estou cego também! – gritou Jarvis, em agonia.

– Tolos, todos vocês – disse uma voz grave atrás deles – , estamos todos cegos. As lâmpadas apagaram.

– As lâmpadas! Mas por quê? Onde? – gritou Buck, virando furiosamente na escuridão. – Como é que vamos chegar? Como vamos perseguir o inimigo? Onde eles foram?

– O inimigo foi… – disse a voz áspera por trás, e então parou em dúvida.

– Onde? – gritou Buck, como um louco.

– Eles passaram – disse a voz rouca – para as fábricas de gás, e usaram a sua chance.

– Grande Deus! – trovejou Buck, e pegou no revólver. – Quer dizer que eles acabaram…

Mas quase antes de ter falado as palavras, foi arremessado como uma pedra de catapulta para o meio dos seus próprios homens.

– Notting Hill! Notting Hill! – gritavam vozes assustadoras na escuridão, e pareciam vir de todos os lados, pois os homens da North Kensington, não familiarizados com a estrada, haviam perdido toda sua orientação no mundo negro da cegueira.

– Notting Hill! Notting Hill! – gritavam as pessoas invisíveis, e os invasores foram cortados horrivelmente com aço preto, com aço que não reluzia contra qualquer luz.

Buck, embora mutilado com o golpe de uma alabarda, manteve uma raivosa mas esplêndida sanidade. Ele tateou loucamente pelo muro e encontrou. Lutando com dedos rastejando ao longo do muro, encontrou uma abertura lateral e recuou com os restos de seus homens. Suas aventuras durante essa noite prodigiosa não podem ser descritas. Eles não sabiam se estavam indo em direção ou para longe do inimigo. Não sabendo onde eles mesmos estavam, ou onde os seus oponentes estavam, era mera ironia perguntar onde estava o resto de seu exército. Pois uma coisa tinha descido sobre eles que Londres não conhecia – escuridão, anterior a existência das estrelas, e eles estavam perdidos nela como se tivessem sido feitos antes das estrelas. Ocasionalmente, enquanto aquelas horas terríveis passavam, eles fustigavam na escuridão contra homens vivos, que os atingiram e a quem eles atingiam, com uma fúria idiota. Quando finalmente o amanhecer cinzento chegou, descobriram que tinham andado de volta para a beira da Uxbridge Road. Descobriram que nesses encontros horríveis sem visão, os soldados de North Kensington, Bayswater e West Kensington tinham se encontrado repetidamente e massacraram uns aos outros, e ouviram que Adam Wayne estava barricado em Pump Street.

7Clanricarde Gardens, neste momento já não era um beco sem saída, mas era conectado da Pump Street para Pembridge Square.