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O Napoleão de Notting Hill

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O Correspondente do Jornal da Corte

O jornalismo tornou-se, como a maioria de tais coisas na Inglaterra sob o governo cauteloso e filosofia representada por James Barker, um pouco sonolento e muito diminuído em importância. Isto foi, em parte, devido ao desaparecimento de partidos políticos e das discussões públicas, em parte pelo compromisso ou impasse que havia feito guerras estrangeiras impossíveis, mas, principalmente, é claro, pelo temperamento de toda a nação, que era a de um povo em uma espécie de remanso. Talvez o mais conhecido dos jornais restantes fosse o Jornal da Corte, que era publicado em um escritório empoeirado, mas de aparência gentil em Kensington High Street. Pois quando todos os jornais de um povo passam anos cada vez mais fracos, decorosos e otimistas, o mais fraco, mais decoroso e mais otimista é o provável ganhador. Na competição jornalística que ainda estava em curso no início do século XX, o vencedor final foi o Jornal da Corte.

Por alguma razão misteriosa, o rei teve um carinho muito grande em ficar no escritório do Jornal da Corte, fumando um cigarro de manhã e olhando os arquivos. Como todos os homens basicamente ociosos, gostava muito de relaxar e conversar em lugares onde outras pessoas estavam trabalhando. Mas qualquer um teria pensado que, mesmo na Inglaterra prosaica de seus dias, poderia ter encontrado um centro mais movimentado.

Nesta manhã em particular, no entanto, saiu do Palácio de Kensington com um passo mais alerta e um ar mais agitado do que o habitual. Usava um extravagantemente fraque longo, um colete verde-claro, gravata preta bem completa, e curiosas luvas amarelas. Este era o seu uniforme como coronel de um regimento de sua própria criação, 1a dos Decadentes Verdes. Era uma bela visão. Caminhou rapidamente em frente ao Parque e da High Street, acendendo o cigarro enquanto andava, e abriu a porta do escritório do Jornal da Corte.

– Já ouviu a notícia, Pally? Já ouviu a notícia?

O nome do editor era Hoskins, mas o rei o chamava Pally, que era uma abreviação de Paladino das nossas liberdades.

– Bem, vossa Majestade – disse Hoskins, lentamente (era preocupado, cavalheiresco, com uma barba falha marrom) – , ouvi coisas curiosas, mas eu…

– Ouvirá mais delas – disse o Rei, dando alguns passos de uma espécie de dança africana. – Ouvirá mais delas, meu tribuno de sangue-e-trovão. Sabe o que vou fazer por você?

– Não, Majestade – respondeu o Paladino, vagamente.

– Vou colocar o artigo em fortes, arrojadas e empreendedoras linhas – disse o rei. – Agora, onde estão os seus cartazes sobre a derrota de ontem à noite?

– Não propus, vossa Majestade – disse o editor – , ter quaisquer cartazes exatamente…

– Papel, papel! – gritou o rei, descontroladamente. – Traga-me um papel tão grande como uma casa. Farei cartazes para você. Pare, tenho que tirar o meu casaco… – começou a tirar aquela roupa com um ar de definitiva intensidade, atirou-a alegremente na cabeça do Sr. Hoskins, envolvendo-o inteiramente, e olhou-se no espelho. – Sem casaco e com chapéu. Isso parece um subeditor. Na verdade, é a própria essência do subeditor. Bem – continuou ele, voltando-se abruptamente – , vêm junto com o papel.

O Paladino tinha acabado de livrar-se reverentemente das dobras da casaca do Rei, e disse perplexo:

– Lamento, vossa majestade…

– Oh, você não tem nenhuma iniciativa – disse Auberon. – O que é o rolo no canto? Papel de parede? Decorações para a sua residência privada? Arte para casa, Pally? Jogue-o aqui, e vou pintar os cartazes na parte de trás para que quando colocá-lo em sua sala vai colar o padrão original contra a parede – e o Rei desenrolou o papel de parede, espalhando-o pelo chão todo. – Agora dá-me a tesoura – gritou, e a pegou antes do outro poder se mexer.

Ele cortou o papel em cerca de cinco pedaços, cada um quase tão grande como uma porta. Então, pegou um lápis azul, e ficou de joelhos sobre o empoeirado papel de parede e começou a escrever em enormes letras:

“DA LINHA DE FRENTE
GENERAL BUCK DERROTADO
ESCURIDÃO, PERIGO E MORTE
WAYNE ESTARIA EM PUMP STREET
SENSAÇÃO NA CIDADE.”

Ele contemplou por algum tempo, com a cabeça de um lado, e levantou-se, com um suspiro.

– Não é intenso o suficiente. Não alarmista. Quero o Jornal da Corte ser temido, assim como amado. Vamos tentar algo mais contundente – e voltou a ficar de joelhos novamente. Depois de chupar o lápis azul por algum tempo, começou a escrever novamente. – Como fazer? – Escreveu:

“VITÓRIA MARAVILHOSA DE WAYNE.”

– Acho – disse ele, olhando apelativamente, e chupando o lápis – que não poderia dizer ‘witoria’. Maravilhosa ‘witoria’ de Wayne ’? Não, não. Requinte, Pally, requinte. Já sei.

“WAYNE GANHA. LUTA ESPANTOSA NO ESCURO
Os postes de luz no caminho lutaram contra Buck.”

– (Nada como a nossa boa e velha tradução inglesa.) O que mais podemos dizer? Bem, algo para irritar o velho Buck? – E acrescentou, pensativo, em letras menores:

“Rumores de corte marcial para o General Buck.”

– Serão suficientes por enquanto – disse ele, e os dobrou ambos para baixo. – Cola, por favor.

O paladino, com um ar de grande terror, trouxe a cola de uma sala interna.

O Rei apertou a com o prazer de uma criança brincando com melaço. Em seguida, com suas composições enormes tremulando em cada mão, correu para o lado de fora, e começou colá-las em posições de destaque ao longo da frente do escritório.

– E agora – disse Auberon, entrando novamente com não diminuída vivacidade – , para o artigo principal.

Pegou outra das grandes faixas de papel de parede, e colocando-a em uma mesa, puxou uma caneta e começou a escrever com intensidade febril, lendo em voz alta cláusulas e fragmentos para si mesmo, e rolando-as em sua língua como se fosse vinho, para ver se tinham o puro sabor jornalístico:

– A notícia do desastre para nossas forças em Notting Hill, terrível como é (terrível como é? não, angustiante como é), pode fazer algo de bom se chama a atenção para a não-sei-qual-o-nome ineficiência (escandalosa ineficiência, é claro) dos preparativos do Governo. Em nosso atual estado de informações, seria prematuro (que palavra alegre!) lançar qualquer reflexão sobre a conduta do general Buck, cujos serviços sobre tantos campos atacados (ha, ha!), e cujas honrosas cicatrizes e louros, dão-lhe o direito de pelo menos ter o julgamento suspenso. Mas há um assunto sobre o qual devemos falar claramente. Temos estado em silêncio sobre isso por muito tempo, por sentimentos, talvez de cautela ou de lealdade enganados. Esta situação nunca teria surgido, se não fosse o que só se pode chamar de indefensável conduta do rei. É doloroso ter que dizer essas coisas, mas, falando no interesse público (plagiei o famoso epigrama de Barker), não devemos parar por causa da aflição que pode causar a qualquer indivíduo, mesmo o mais exaltado. Neste momento crucial de nosso país, a voz do povo exige como uma só língua, "Onde está o Rei?" O que ele está fazendo, enquanto seus súditos rasgam-se em pedaços nas ruas de uma grande cidade? São os seus divertimentos e suas dissipações (de que não podemos fingir ser ignorantes) tão cativantes que não pode dispensar algum pensamento para uma nação perecendo? É com profundo sentimento de responsabilidade, que avisamos aquela exaltada pessoa que nem sua grande posição, nem seus incomparáveis talentos irão salvá-lo na hora de delírio do destino de todos aqueles que, na loucura de luxo ou tirania, se encontrarem com os ingleses no raro dia de sua ira.

– Agora – disse o Rei – , vou escrever um relato da batalha por uma testemunha ocular. – E pegou uma quarta folha de papel de parede. Quase no mesmo momento Buck entrou rapidamente no escritório. Ele tinha uma bandagem em volta de sua cabeça.

– Disseram-me – disse com a sua habitual civilidade áspera – que sua Majestade estava aqui.

– E de todas as coisas na terra – exclamou o Rei, com prazer – , aqui está uma testemunha ocular! Uma testemunha ocular que, lamento observar, tem atualmente apenas um olho para testemunhar. Pode escrever-nos um artigo especial, Buck? Tem um rico estilo?

Buck, com um autocontrole que quase se aproximou de polidez, ignorou qualquer genialidade enlouquecedora do rei.

– Tomei a liberdade, vossa Majestade – disse rapidamente – , de pedir ao sr. Barker para vir aqui também.

Enquanto falava, de fato, Barker veio para dentro do escritório, com sua habitual pressa.

– O que está acontecendo agora? – perguntou Buck, virando-se para ele com uma espécie de alívio.

– A luta ainda está em curso – disse Barker. – Os quatrocentos de West Kensington mal foram tocados na noite passada. Eles mal chegaram perto do lugar. Os homens do pobre Wilson de Bayswater chegaram, no entanto. Lutaram bem. Tomaram Pump Street. Que coisas loucas acontecem no mundo. E pensar que de todos nós foi o pequeno Wilson com os bigodes vermelhos que se saiu melhor.

O Rei fez uma nota em seu papel:

“A conduta romântica do Sr. Wilson.”

– Sim – disse Buck – , isto faz um ficar um pouco menos orgulhoso de si próprio.

O Rei repente dobrou ou amassou o papel e o colocou no bolso:

– Tenho uma ideia. Serei uma testemunha ocular. Vou escrever cartas da frente que serão mais lindas do que o real. Dê-me o meu casaco, Paladino. Entrei nesta sala um mero Rei de Inglaterra. Deixo como Correspondente Especial de Guerra do Jornal da Corte. É inútil me parar, Pally; é inútil agarrar meus joelhos, Buck; é inútil, Barker, chorar sobre o meu pescoço. "Quando o dever chama…”, o restante do sentimento me escapa. Receberá meu primeiro artigo esta noite em torno das oito horas.

 

E, correndo para fora do escritório, pegou um ônibus azul para Bayswater que estava passando.

– Bem – disse Barker, melancolicamente – , bem.

– Barker – disse Buck – , negócios podem ser menores do que a política, mas a guerra é, como descobri ontem à noite, bem mais como negócios. Políticos são demagogos arraigados que, mesmo quando têm um despotismo, não pensam em nada, senão a opinião pública. Então aprendem a atacar e correr, e estão com medo da primeira brisa. Agora, nós nos atemos a algo até conseguir. E nossos erros nos ajudam. Olhe aqui! Neste momento vencemos Wayne.

– Vencemos Wayne – repetiu Barker.

– Por que diabos não? – exclamou o outro, abanando as mãos. – Olhe aqui. Eu disse ontem à noite que os pegamos assegurando as nove entradas. Pois bem, eu estava errado. Deveríamos tê-los pego, mas por um evento singular, as lâmpadas se apagaram. Mas isso era certo. Já ocorreu a você, meu brilhante Barker, que um outro evento singular aconteceu desde o evento singular das lâmpadas apagarem?

– Que evento? – perguntou Barker.

– Por uma incrível coincidência, o sol nasceu – gritou Buck, com um ar de paciência selvagem. – Por que diabos não estamos assegurando todas esses caminhos agora, e passando sobre eles novamente? Isso deveria ter sido feito ao nascer do sol. O confuso médico não me deixou sair. Você estava no comando.

Barker sorriu tristemente:

– É gratificante para mim, meu querido Buck, ser capaz de dizer que antecipamos as suas sugestões com precisão. Fomos o mais cedo possível fazer um reconhecimento das nove entradas. Infelizmente, enquanto estávamos lutando entre nós no escuro, como um monte de trabalhadores braçais bêbados, os amigos do Sr. Wayne estavam trabalhando muito duro. A três centenas de metros de Pump Street, em cada uma dessas entradas, há uma barricada quase tão alta quanto as casas. Eles estavam terminando a última, em Pembridge Road, quando chegamos. Nossos erros… – gritou amargamente, e jogou o cigarro no chão. – Não fomos nós que aprendemos com eles.

Houve um silêncio por alguns momentos, e Barker recostou-se cansado em uma cadeira. O relógio do escritório fazendo tique-taque no silêncio.

Finalmente Barker disse de repente:

– Buck, já passou pela sua mente para que tudo isto? Um caminho de Hammersmith para Maida Vale era uma especulação extraordinariamente boa. Você e eu esperávamos muito dela. Mas vale a pena? Vai custar-nos milhares para esmagar este motim ridículo. Suponha que o deixemos em paz?

– E ser humilhado publicamente por um louco de cabelos vermelhos que seria internado por qualquer médico? – gritou Buck, levantando-se. – O que propõe fazer, Sr. Barker? Pedir desculpas ao admirável Sr. Wayne? Ajoelhar-se à Carta das Cidades? Apertar no seu peito a bandeira do leão vermelho? Beijar em sucessão cada sagrada lâmpada pública que salvou Notting Hill? Não, por Deus! Meus homens lutaram bem; eles foram vencidos por um truque. E vão lutar novamente.

– Buck, sempre admirei você. E estava muito certo no que disse outro dia.

– Em que?

– Ao dizer – disse Barker, levantando calmamente – que nós todos entramos na atmosfera de Adam Wayne e fora da nossa. Meu amigo, todo o reino territorial de Adam Wayne se estende a cerca de nove ruas, com barricadas no fim delas. Mas o reino espiritual de Adam Wayne estende-se… Deus sabe até aonde! Estende-se a este escritório, de qualquer maneira. O louco de cabelo vermelho que qualquer médico internava está preenchendo o quarto com sua alma que ruge de forma não-razoável. E foi o louco de cabelo vermelho que disse que a última palavra.

Buck foi até a janela, sem responder.

– Entende, claro – disse finalmente – , que nem sonho em desistir.

O rei, por sua vez, foi sacudindo ao longo do percurso no topo de seu ônibus azul. O tráfego de Londres como um todo não tinha, é claro, sido muito perturbado por estes eventos, pois o caso foi tratado como um motim de Notting Hill, e a área foi demarcada como se tivesse estado nas mãos de uma quadrilha de reconhecidos desordeiros. Os ônibus azuis simplesmente rodaram como teriam feito se uma estrada estivesse sendo consertada, e o ônibus onde o correspondente do Jornal da Corte estava sentado foi em volta de Queen’s Road em Bayswater.

O Rei estava sozinho no topo do veículo, e estava gostando da velocidade em que estava indo.

– Avante, minha beleza, meu árabe – disse ele, batendo no ônibus encorajador – , o mais rápido de toda sua limitada tribo. São as tuas relações com o teu motorista, me pergunto, as mesmas do beduíno e sua montaria? Será que ele dorme lado a lado contigo…

Suas meditações foram quebradas por uma parada repentina e chocante. Olhando por cima da borda, viu que os veículos foram parados por homens em uniforme do exército de Wayne, e ouviu a voz de um policial gritando ordens.

O rei Auberon desceu do ônibus com dignidade. A guarda ou piquete de alabardeiros vermelhos que pararam o veículo não eram mais do que vinte, e estavam sob o comando de um pequeno, escuro, e aparentemente inteligente jovem, bem visível entre os outros, vestido com um simples fraque, mas com uma faixa vermelha na cintura e uma espada longa do século XVII. Um chapéu de seda brilhante e óculos concluíam a roupa de uma maneira agradável.

– Com quem tenho a honra de falar? – disse o Rei, se esforçando para parecer Charles I, apesar das dificuldades pessoais.

O homem moreno de óculos levantou seu chapéu com igual gravidade:

– Meu nome é Bowles. Sou um químico. Também sou capitão da companhia O do exército de Notting Hill. Estou aflito de ter de perturbá-lo parando o ônibus, mas esta área é coberta por nossa proclamação, e interceptamos todo o tráfego. Peço a quem tenho a honra… Boas graças, peço o perdão de Vossa Majestade. Estou muito desconcertado em encontrar-me com o Rei.

Auberon levantou a mão com grandeza indescritível:

– Não com o Rei, com o correspondente de guerra especial do Jornal da Corte.

– Peço o perdão de Vossa Majestade – começou o Sr. Bowles, em dúvida.

– Chama-me de Majestade? Repito – disse Auberon, com firmeza – , sou um representante da imprensa. Escolhi, com um profundo senso de responsabilidade, o nome de Pinígero. Desejo um véu sobre o passado.

– Muito bem, senhor – disse Bowles, com um ar de submissão – , aos nossos olhos a santidade de imprensa é pelo menos tão grande como a do trono. Não desejamos nada mais que nossos erros e as nossas glórias sejam amplamente conhecidas. Posso perguntar, Pinker, se tem alguma objeção a ser apresentado ao superintendente e ao General Turnbull?

– O superintendente já tive a honra de conhecer – disse Auberon, simplesmente. – Nós velhos jornalistas, sabe, encontramos todo mundo. Estaria encantado em ter a mesma honra novamente. Também seria uma satisfação conhecer o General Turnbull. Os homens mais jovens são tão interessantes. Nós, da velha gangue de Fleet Street perdemos o contato com eles.

– Se importa de me acompanhar? – disse o líder da companhia O.

– De maneira alguma – disse Pinker. – Pode prosseguir.

O Grande Exército de South Kensington

O artigo do correspondente especial do Jornal da Corte chegou no devido tempo, escrito num papel muito grosseiro na arabesca caligrafia do rei, em que três palavras enchiam uma página, e ainda eram ilegíveis. Além disso, a contribuição era mais desconcertante no início, que era aberto com uma sucessão de parágrafos apagados. O escritor parecia ter tentado o artigo, uma vez ou duas vezes, em diversos estilos jornalísticos. Ao lado de um experimento estava escrito “Tentar o estilo americano", e começou o fragmento:

“O rei deve ir. Queremos homens corajosos. Tudo é um disparate muito…”. E depois parou, seguido pela nota “O bom e correto jornalismo é mais seguro. Experimentar”

A experiência em bom e correto jornalismo pareceu começar:

“O maior dos poetas ingleses disse que uma rosa por qualquer…”

Também parou abruptamente. A anotação seguinte, no lado era quase indecifrável, mas parecia ser algo como:

“Que tal o velho Steevens e a mot juste? Por exemplo:”

“A manhã cintilou um pouco cansada para mim sobre a borda cortante de Campden Hill e suas casas com nítidas sombras. Sob o contorno preto de papelão, levou algum tempo para distinguir cores; mas finalmente vi um amarelo acastanhado deslocando-se na obscuridade, e sabia que era a guarda de Swindon do exército de West Kensington. Estão sendo mantidos como reserva, e revestiram todo o cume acima de Bayswater Road. Seu acampamento e sua principal força está sob a Torre de Waterworks em Campden Hill. Esqueci de dizer que a Torre de Waterworks parecia escura.

Enquanto passava por eles e me aproximava da curva de Silver Street, vi as massas nubladas azuis de homens de Barker bloqueando a entrada da estrada alta como uma fumaça safira (bom). A disposição das tropas aliadas, sob a gerência geral do Sr. Wilson, parece ser a seguinte: O Exército Amarelo (se assim posso descrever os homens de West Kensington) está, como já disse, em uma faixa ao longo do cume, o seu ponto mais a oeste sendo o lado oeste de Campden Hill Road, cujo ponto mais distante ao leste está no início de Kensington Gardens. O exército Verde de Wilson alinha-se na Notting Hill High Road de Queen’s Road até o canto de Pembridge Road, curvando-se em torno da segunda, e estendendo-se trezentos metros em direção a Westbourne Grove. Westbourne Grove em si é ocupada por Barker de South Kensington. O quarto lado deste quadrado grosseiro, o lado de Queen’s Road, é mantido por alguns dos guerreiros púrpuras de Buck.

O conjunto assemelha-se a alguns antigos e delicados canteiros holandeses. Ao longo do cume de Campden Hill encontram-se açafrões dourados de West Kensington. Eles são, por assim dizer, a primeira franja inflamada do todo. Em Northward está o nosso jacinto Barker, com todos os seus jacintos azuis. Em volta para o sul-oeste correm os juncos verdes de Wilson de Bayswater, e uma linha de lírios violetas (adequadamente simbolizada pelo Sr. Buck) completa o conjunto. O exterior argento… (Estou perdendo o estilo. Deveria ter dito ‘Curvar como um batedor’ em vez de apenas ‘curvar’. Também deveria ter chamado os jacintos ‘repentinos’. Não posso continuar com isso. A guerra é demasiado rápida para este estilo de escrita. Peça ao office-boy para inserir mots justes.)

A verdade é que não há nada a relatar. Esse elemento comum que está sempre pronto para devorar todas as coisas belas (como o porco preto na mitologia irlandesa finalmente devora as estrelas e deuses); este elemento comum, como digo, tem a seu modo finalmente devorado as chances de qualquer romance, neste caso, o que uma vez consistia de combates absurdos, mas emocionantes nas ruas, degenerou-se em algo que é a prosa da guerra – degenerou-se em um cerco. Um cerco pode ser definida como uma paz mais o inconveniente de guerra. Naturalmente Wayne não pode aguentar. Não há mais possibilidade de ajuda de qualquer outro lugar do que de navios da lua. E mesmo se o velho Wayne tivesse abastecido sua rua com carne em lata até que toda a guarnição tivesse que se sentar sobre elas, não poderia resistir por mais de um mês ou dois. Na melancólica realidade, fez algo como isso. Abasteceu sua rua com comida de forma que não deve haver espaço extraordinariamente para se virar. Mas para que isso? Para aguentar um longo tempo e, em seguida, desistir em caso de necessidade, o que significa isso? Isto significa esperar até que suas vitórias sejam esquecidas, e em seguida, ser derrotado. Não consigo entender como Wayne pode ser tão inartístico.

E como é estranho que se vê uma coisa bem diferente quando se sabe que está derrotado! Sempre pensei que Wayne foi bastante bem. Mas agora, quando sei do que ele é feito, não parece haver nada mais do que Wayne. Todos as ruas parecem apontar para ele, todas as chaminés parecem inclinar-se para ele, acho que é um sentimento mórbido; mas Pump Street parece ser a única parte de Londres que sinto fisicamente. Acho, digo, que isto é mórbido. Acho que é exatamente como um homem se sente sobre o seu coração quando seu coração é fraco. ’Pump Street’ – o coração é uma bomba. E estou bem sentimental.

Nosso melhor líder na linha de frente é, sem sombra de dúvida, o general Wilson. Ele adotou sozinho entre os superintendentes o uniforme de seus próprios alabardeiros, apesar de que os trajes do século XVI não foram originalmente planejados para acompanhar suíças vermelhas. Foi ele que, contra uma defesa mais admirável e desesperada, partiu ontem à noite para Pump Street e a manteve pelo menos meia hora. Ele foi posteriormente expulso pelo general Turnbull, de Notting Hill, mas só depois de uma luta desesperada e a descida repentina da escuridão terrível que se mostrou ainda mais fatal para as forças dos generais Buck e Swindon.

 

O superintendente Wayne mesmo, com quem tive, com muita sorte, uma entrevista bem interessante, deu o testemunho mais eloquente da conduta do general Wilson e os seus homens. Suas precisas palavras foram as seguintes: ‘Tenho comprado doces em sua lojinha engraçada desde quando tinha quatro anos de idade. Nunca notei nada, tenho vergonha de dizer, exceto que ele falava pelo nariz, e não costumava lavar-se muito. Ele veio a nossa barricada como um demônio do inferno.’ Repeti esse discurso ao próprio General Wilson, com algumas melhorias delicadas, e ele parecia satisfeito com isto. Ele não parece, no entanto, satisfeito com nada tanto agora quanto com o uso de uma espada. Tenho direto da melhor autoridade que o general Wilson não raspou a face completamente ontem. Acredita-se nos círculos militares de que ele está cultivando um bigode…

Como disse, não há nada a relatar. Ando cansado para a caixa de correio no canto de Pembridge Road para postar meu artigo. Nada aconteceu, a não ser os preparativos para um particularmente longo e frágil cerco, durante o qual não pretendo estar na linha de frente. Enquanto olho acima de Pembridge Road para o crepúsculo, o aspecto da estrada me lembra que há uma nota a acrescentar. O general Buck sugeriu, com a perspicácia característica, ao general Wilson que, a fim de afastar a possibilidade de uma catástrofe como a que dominou as forças aliadas no último avanço em Notting Hill (a catástrofe, quer dizer, das lâmpadas apagadas), cada soldado deve ter uma levar uma lanterna acesa no pescoço. Esta é uma das coisas que realmente admiro no general Buck. Ele possui o que as pessoas costumavam chamar de ’humildade do homem de ciência’, isto é, ele aprende constantemente com seus erros. Wayne pode pegá-lo de alguma outra forma, mas não da mesma forma. As lanternas parecem luzes de fadas ao se curvarem em volta do final de Pembridge Road.”

"Depois: Escrevo com alguma dificuldade, porque o sangue escorre pelo meu rosto e faz padrões no papel. O sangue é algo muito bonito; e é por isso que está escondido. Se perguntar por que o sangue escorre pelo meu rosto, só posso responder que fui chutado por um cavalo. Se me perguntar sobre o cavalo, posso responder com algum orgulho que era um cavalo de guerra. Se me perguntar como um cavalo de guerra apareceu em nossa simples guerra pedestre, estou reduzido pela necessidade, tão dolorosa para um correspondente especial, de contar as minhas experiências.

Estava, como já disse, a postar meu artigo na caixa do correio, e de relance fui atraído pela curva brilhante de Pembridge Road, cravejado com as luzes dos homens de Wilson. Não sei o que me fez parar para examinar o assunto, mas tinha uma fantasia de que a linha de luzes, onde se misturara ao indistinto crepúsculo marrom, era mais indistinta do que o habitual. Tinha quase certeza de que, em um certo trecho da estrada onde havia cinco luzes agora havia apenas quatro. Estiquei meus olhos, as contei novamente, e havia apenas três. Um momento depois, havia apenas dois; um instante depois, apenas um; e um instante depois as lanternas perto de mim balançaram como sinos chocalhados, como se tivesse sido atingidas de repente. Queimaram e caíram, e o momento da queda deles foi como a queda do sol e das estrelas do céu. Deixou tudo em uma cegueira primal. Na verdade, a estrada ainda não estava legitimamente escura. Havia ainda os raios vermelhos de um por do sol no céu, e o crepúsculo marrom ainda aquecia, por assim dizer, com um sentimento de luz de fogo. Mas pelos três segundos após as lanternas virarem e caírem, vi na minha frente uma escuridão bloqueando o céu. E no quarto segundo sabia que essa escuridão que bloqueou o céu era um homem num grande cavalo, e fui pisoteado e jogado de lado, por um redemoinho de cavaleiros que varreu a esquina. Enquanto voltaram vi que eles não eram negros, mas escarlates; eram uma sortida dos sitiados, com Wayne cavalgando à frente.

Levantei-me da sarjeta, cego com o sangue de um ferimento superficial de pele, e, estranhamente, não me importando tanto com cegueira ou com a ferida. Por um minuto mortal depois que a incrível cavalgada tinha passado, houve um silêncio morto na estrada vazia. E então veio Barker e todos os seus alabardeiros correndo como demônios na pista deles. Era a sua obrigação guardar o portal que a surtida tinha quebrado, mas eles não contavam, e pequena culpa a deles, com a cavalaria. Como foi, Barker e seus homens fizeram uma perfeita esplêndida corrida atrás deles, quase pegando os cavalos de Wayne pelas caudas.

Ninguém pode compreender a surtida. Ela consiste apenas de um pequeno número da guarnição de Wayne. Turnbull mesmo, com a vasta massa dela, está, sem dúvida, ainda barricada em Pump Street. Missões deste tipo são bastante naturais na maioria dos cercos históricos, como o cerco de Paris em 1870, porque nestes casos, o assediado tem certeza de algum apoio externo. Mas o que pode ser o objetivo neste caso? Wayne sabe (ou se é muito louco para saber, pelo menos Turnbull sabe) que não há, e nunca houve, a menor chance de apoio do lado de fora, pois a massa dos modernos e sãos habitantes de Londres considera seu patriotismo farsesco com desprezo, tanto quanto desprezam a idiotia original que lhe deu origem, a loucura do nosso miserável Rei. O que Wayne e seus cavaleiros estão fazendo ninguém pode mesmo conjecturar. A teoria geral da rodada é que ele é simplesmente um traidor, e abandonou os sitiados. Mas os enigmas maiores, mas ainda solúveis não são nada em comparação com o pequeno enigma, mas sem resposta: de onde tiraram os cavalos?”

Depois: Ouvi um conto extraordinário da origem do aparecimento dos cavalos. Parece que essa pessoa incrível, o General Turnbull, que está agora governando Pump Street, na ausência de Wayne, enviou na manhã da declaração de guerra um grande número de meninos (ou querubins da calha, como nós homens da impressa dizemos), com meias-coroas em seus bolsos, tomar táxis em todo Londres. Nada menos do que cento e sessenta táxis se reuniram na Pump Street; foram requisitados pela guarnição. Os homens foram libertados, os táxis usados para fazer barricadas, e os cavalos mantidos em Pump Street, onde foram alimentados e exercitados por vários dias, até que eles estivessem suficientemente rápidos e eficientes para ser usado neste passeio selvagem para fora da cidade. Se isto é assim, e ouvi da melhor autoridade possível, o método da surtida é explicado. Mas não temos nenhuma explicação de seu objetivo. Quando os azuis de Barker atravessavam a esquina atrás deles, foram parados, não por um inimigo, mas pela voz de um homem, e era um amigo. Red Wilson de Bayswater correu sozinho ao longo da estrada principal como um louco, acenando com uma alabarda arrancada de uma sentinela. Ele estava no comando supremo, e Barker parou no canto, olhando e desorientado. Podíamos ouvir a voz de Wilson alta e distinta no anoitecer, de modo que parecia estranho que a grande voz saísse do pequeno corpo. ‘Pare, South Kensington! Guarde esta entrada, e impeça-os de retornar. Vou persegui-los. Para a frente, Guarda Verde!’

Uma parede de uniformes escuros azuis e uma floresta de poleaxes estava entre mim e Wilson, pois os homens de Barker bloquearam a boca da estrada em duas linhas rígidas. Mas através deles e através do crepúsculo podia ouvir claramente as ordens e o clangor de armas, e ver o exército verde de Wilson marchar para o oeste. Eles eram os nossos grandes lutadores. Wilson os tinha preenchido com seu próprio fogo, em poucos dias eles haviam se tornado veteranos. Cada um deles usava uma medalha de prata de uma bomba, para vangloriar-se de que só eles de todos os exércitos aliados ficara vitorioso em Pump Street.

Consegui driblar o destacamento azul de Barker, que guardava o final de Pembridge Road, e, apertando o passo, alcancei a cauda do exército verde de Wilson enquanto descia a estrada em busca do rápido Wayne. O crepúsculo tinha-se aprofundado numa escuridão quase total, e por algum tempo, só ouvi o batimento do ritmo da marcha. Então, de repente houve um grito, e os grandes lutadores foram arremessados para trás, quase me esmagando, e as lanternas novamente balançaram e tilintaram, e narizes frios de grandes cavalos nos pressionaram. Eles haviam se virado e dado carga.