Quando à noite contemplo taciturno
estas contas antigas, o rosário
das minhas orações,
vejo em minh’alma o poema legendário
dos velhos tempos das longínquas eras
de santas devoções.
A cruz ebúrnea, onde agoniza o Cristo,
é de um lavor subtil que nos revela
um génio magistral,
obra de monge em merencória cela,
piedoso artista há muito adormecido
em velha catedral.
Tem séculos; talvez que nestes contas
passasse outrora suas mãos esguias
a castelã senil,
pensando triste nos saudosos dias
em que a seus pés um menestrel vibrava
o mimoso arrabil.
Talvez que este rosário minorasse
as saudades da noiva lacrimante
que debalde esperou
em cada nau, que vinha do Levante,
o seu donzel amado que partira