Tasuta

Alerta Vermelho: Confronto Letal

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Märgi loetuks
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CAPÍTULO 19

08:19

East Side de Manhattan

“Suponho que já não sejamos prioridade máxima,” Disse Ed Newsam.

A SUV de cor preta continuava estacionada para lá das barreiras do heliporto da 34th Street, o local onde tinham aterrado há quase cinco horas. O barulho do trânsito matinal chegava até eles vindo da FDR Drive. O helicóptero ainda não se encontrava na plataforma como tal, sentaram-se no banco traseiro da SUV e esperaram. Foi então que um grande Sikorsky branco, um helicóptero executivo, surgiu vindo do rio.Aterrou e um grupo de pessoas escandalosamente jovens saiu do seu interior. Um dos homens usava calças jeans pretas justas e tinha o tronco nu. O cabelo era azul e espetado, e todo o tronco magro estava coberto de tatuagens. Outro homem muito magro usava um fato azul elétrico com um chapéu-coco a combinar. As três mulheres que os acompanhavam estavam vestidas como prostitutas de há vinte anos atrás, envergando minissaias, tops e sapatos de salto alto. O grupo tropeçava, ria e deixava cair coisas. Pareciam bêbados.

Dois enormes homens mais velhos, um branco e outro negro, ambos completamente carecas, caminhavam atrás dos jovens. Os homens grandes que os acompanhavam estavam vestidos de forma convencional com t-shirts pretas e jeans.

Todos entraram numa limusina branca. Numa questão de segundos, a limusina misturou-se no meio do trânsito e desapareceu. O helicóptero que os trouxera já tinha decolado. Tinha tocado no solo, regurgitado os ocupantes e levantado voo outra vez.

“Estás preocupado?” Perguntou Luke.

Newsam estava encostado no banco com a sua habitual pose descontraída. “Com o quê?”

Luke encolheu os ombros. “Não sei. Em perder o emprego?”

Newsam sorriu. “Não me parece que me despeçam. É tudo uma questão de política, meu. Alguém lá em cima está a proteger o Ali Nassar. Ouve, apanhámos o tipo certo. Tu sabe-lo e eu também. Se uma bomba suja explodir hoje, Deus nos livre, cabeças vão rolar e não vão ser as nossas. Algumas pessoas vão morrer em ataques aéreos no Médio Oriente. O Ali Nassar vai acabar morto num beco em Caracas. E nada vai aparecer nos jornais. Tu e eu vamos ser recompensados discretamente para mantermos as bocas caladas. Nunca vamos perceber nada sobretudo porque nada disto faz sentido. E a pessoa que puxa os cordelinhos continua a sua vida normal de sempre.”

Este tipo de conversa cínica estava amplamente disseminada entre agentes de informação mas não era algo que agradasse a Luke. Ele era um prático. Nós éramos os bons e ali estavam os maus. Esta perspetiva do mundo era como um véu protetor.

“E se não explodir nenhuma bomba?”

O sorriso de Ed expandiu-se. “Nesse caso dirão que acusámos um homem simpático que estava apenas a tentar fazer do mundo um lugar melhor. Que importa? Viste aqueles miúdos há bocado? Estrelas rock, estrelas da TV, quem sabe? As minhas filhas provavelmente reconheciam-nos logo. Viste os tipos grande que vinham com eles? Guarda-costas. Trabalhei algum tempo nisso quando voltei. As horas são terríveis porque os miúdos são como lobisomens, só saem à noite. Mas pagam bem. Se tivesse que ser, trabalharia nisso outra vez. Um homem como eu que não se deixa enferrujar, tem muitas opções à sua disposição neste mundo.”

O telefone de Luke tocou. Olhou para o número. Era Becca.

“É a minha mulher. Vou atender.”

“Força,” Disse Ed, “Eu vou dormir uma sesta.”

“Olá, amor,” Disse Luke ao carregar no botão verde. Tentou, por ela, dar um toque alegre ao seu tom de voz.

“Luke?”

“Sim,” Disse. “Olá.”

“Querido, é tão bom ouvir a tua voz,” Disse Becca. “Estava preocupada contigo mas não queria ligar. Está a passar na televisão. É o teu caso, não é? O material nuclear roubado?”

“Sim, é.”

“Como está a correr?”

“Retiraram-me do caso há uns vinte minutos. Na verdade, estou a caminho de casa.”

“Fico contente de o saber. E isso é bom ou mau?”

“É política de gabinete, por assim dizer. Mas vai ser bom regressar e esquecer esta noite. E tu, que fazes?”

“Bem, o Gunner e eu tirámos o dia para brincar. Tanto ele como eu tivemos dificuldade em voltar a adormecer a noite passada. Queremos-te aqui connosco, Luke. Queremos que deixes esse trabalho estúpido de uma vez por todas. Então pensei que como o Gunner tinham faltado quatro dias às aulas o ano todo e eu ainda tinha uns dias, porque escapulir-me também?”

“Claro,” Concordou Luke. “Porque não? O que é que vocês vão fazer?”

“Vamos até à baixa. Queria ir ao Museu do Ar e do Espaço e ele queria ir ao Spy Museum, como é óbvio.”

Luke sorriu. “Claro.”

“Mas agora com tudo isto da ameaça terrorista, já não sei. Parece que estão a reforçar a segurança em todo o lado, sobretudo em locais turísticos. É um pouco assustador. Por isso, vou deixá-lo dormir por mais uma hora enquanto penso noutra coisa para fazermos. Tomamos um pequeno-almoço tardio e depois… o quê? Vamos ao cinema? Duvido que os terroristas ataquem um cinema nos subúrbios no decorrer de uma matiné. Certo?”

Luke quase riu. “Ah… pois. Penso que não se dariam a tanto trabalho se esse fosse o alvo.”

“Talvez possamos ir ao ginásio indoor de escalada depois do cinema e de seguida comer umas empadas ao almoço.”

“Parece que vão ter um dia fantástico.”

“Esperamos por ti?” Perguntou Becca.

“Adorava ir mas estou à espera de um helicóptero e não sei quando chego a casa. De qualquer das formas, não durmo há vinte e quatro horas.”

Depois de desligarem, Luke fechou os olhos e dormitou. O Ed estava a ressonar ao seu lado? Parecia que sim. Luke imaginou o seu futuro. O semestre na faculdade tinha terminado. Tinha ensinado em aulas de assistente e tinha gostado. Não tinha problemas em continuar, talvez fazer o mestrado e conseguir uma cátedra a tempo inteiro em algum lugar. Para um homem que fora Ranger e integrara o comando de forças especiais das Forças Delta, com experiência de combate e antigo agente de contraterrorismo do FBI, haveria sempre um lugar.

Imaginava o verão que aí vinha. Ele e Becca tinham uma pequena casa de verão

na Baía de Chesapeake. A casa estava na família de Becca há várias gerações. Estava situada num lugar lindo, um promontório sobre a água. Uma escadaria sinuosa abraçava o promontório até ao barco e à doca. No verão, Luke tinha lá um barco a motor. O Gunner já estava numa idade em que Luke lhe podia ensinar algumas coisas. Este ano, talvez Luke o equipasse com uns skis aquáticos. Talvez lhe ensinasse a conduzir o barco.

Luke projetou uma imagem na mente. Uma imagem dos três, sentados à mesa no pátio das traseiras da casa de verão com o sol a pôr-se. Era o fim de um longo dia em que haviam nadado e andado de barco. Comiam mexilhões e na mesa estava aberta uma garrafa de vinho branco fresco. Conseguia visualizar tudo muito claramente. Estavam sentados a rir, quando uma sirene de raide aéreo abalou o seu sossego. Uivou e uivou, como um grito desesperado a elevar-se no ar.

Abriu os olhos. O telefone estava a tocar.

“Não vais atender?” Perguntou Ed Newsam.

Luke atendeu a chamada sem ver quem lhe ligava.

“Stone,” Atirou.

“Luke, é a Trudy. Ouve, sei que me mentiste. Sei que estás suspenso. É um assunto para tratarmos noutra altura.”

“Ok.”

“Acabaram de chegar algumas informações, estão no placard. Há cerca de quarenta minutos, deu entrada no Baltimore Memorial Hospital um homem em estado crítico. Sofria de envenenamento agudo por radiação e tinha duas feridas nas costas provocadas por arma de fogo. Foi encontrado por dois pescadores debaixo do viaduto de uma autoestrada junto ao cais de Baltimore.”

“Quem é ele?”

“Chama-se Eldrick Thomas. Também conhecido como LT. Também conhecido como Abdul Malik. Afro-americano de vinte e oito anos. Nascido e criado em Brownsville, Brooklyn. Registo criminal razoável com várias sentenças de prisão nos últimos anos. Assalto, roubo armado, posse de arma. Está a um passo de ir para a prisão por muito tempo.”

“Muito bem, portou-se mal,” Disse Luke.

“Mais concretamente, esteve preso com o Ken Bryant duas vezes. Uma vez durante cinco meses em Rikers Island e outra durante quase dois anos no Clinton Correctional Center. Estava ligado ao mesmo gangue de prisão do Bryant, a Black Gangster Family. Converteu-se ao Islão na prisão e assumiu o nome de Abdul Malik. Incorreu em três infrações disciplinares em locais onde ocorreram rixas porque estava a tentar converter outros reclusos mencionando a necessidade da jihad dentro dos Estados Unidos. Numa dessas ocasiões foi parar à solitária durante um mês.”

Luke estava a despertar. Olhou para Ed que, de imediato, captou o significado da linguagem corporal de Luke e sentou-se direito no banco.

“Eis o mais curioso,” Continuou Trudy. “O Eldrick Thomas e o Ken Bryant eram amigos na prisão. Eram tão parecidos que os outros reclusos e os guardas se referiam a eles com frequência como os gémeos. Estou a ver fotos deles no monitor do Swann e digo-te, até podiam ser irmãos. Na realidade, se quisesses levar a coisa mais longe, quase podiam ser confundidos com a mesma pessoa.”

“Porque é que ele está em Baltimore?” Perguntou Luke.

“Vá-se lá saber.”

“Alguém falou com ele?”

“Negativo. Estava inconsciente quando deu entrada no hospital. Neste momento, está na sala de operações onde lhe estão a remover os projéteis. Está sob anestesia geral.”

“Vai sobreviver?”

“Esperam que sobreviva à cirurgia mas para lá disso, não se sabe.”

“Porque é que me estás a contar tudo isto?”

Conseguia sentir o sorriso dela no outro lado da linha. “Pensei que gostasses de saber.”

“Quem são os pilotos do helicóptero?” Perguntou Luke.

“Rachel e Jacob,” Respondeu Trudy. “Especialmente para ti.”

 

“Amigos,” Disse Luke.

“Isso mesmo.”

A chamada terminou. Luke olhou na direção da água. Aproximava-se um helicóptero Bell preto. Tinha chegado a boleia. Tinha a mala aos pés. Abriu-a e alcançou os Dexedrine. Segurou no frasco para Ed ver.

“Dexies,” Reconheceu Ed. “Vivia deles no Afeganistão. Se a toma for prolongada, matam-nos.”

Luke acenou.

“Eu sei.”

Abriu o frasco e despejou, cuidadosamente, duas cápsulas na palma da mão. Metade da cápsula era vermelha acastanhada e a outra metade transparente.

“Parece que temos mais uma oportunidade. Queres quebrar mais umas quantas regras?”

Ed tirou uma cápsula dos dedos de Luke. Colocou-a na boca e engoliu-a. Olhou para o relógio.

“Acho que tenho tempo disponível.”

CAPÍTULO 20

Hora Zero

Entre morto e vivo

Vogou à deriva, ouvindo os sons.

Música soava. Música clássica tranquila com violinos e piano. As pessoas reunidas à sua volta falavam com vozes mecânicas.

“Tesoura. Bisturi. Sucção. Eu disse sucção! Não podes limpar mais um pouco?”

“Sim, Dr.”

Depois: “Teve sorte. Um pouco mais para a esquerda e teria atingido a aorta. Tinha morrido em poucos minutos.”

Eldrick não estava interessado nos médicos e não estava sequer interessado no corpo sobre a mesa. Agora estavam todos abaixo dele e podia ver aquilo que os médicos tentavam salvar a tanto custo. Lembrava-lhe um cão morto à beira da estrada. Não parecia algo que merecesse ser salvo.

Virou-se e viu, através da porta, a avó na sala ao lado, de pé ao fogão a mexer uma panela. Aquilo cheirava maravilhosamente.

“LT, vem aqui imediatamente.”

Ele foi até lá. Era de tarde, o sol brilhava para lá das janelas do apartamento e ele queria ir até ao parque para jogar. Mas o cheiro do jantar era suficiente para o fazer estremecer de expetativa. Foram tempos felizes, antes de tudo dar para o torto.

“Acabaste os trabalhos de casa, querido?”

“Sim, Avó.”

“Não eras capaz de me mentir, pois não?”

Ele sorriu.

Ela virou-se para ele com um rosto sério. “Fizeste qualquer coisa de errado, não fizeste?”

Afinal, já não era uma criança. Era um homem adulto e ela era a velhota pequenina em que se tornara antes de morrer com cancro da mama.

Ele assentiu. “Fiz uma coisa errada.”

“Podes concertá-la?”

Ele abanou a cabeça. “Não sei se conseguirei voltar a concertar alguma coisa.”

09:30

Johns Hopkins Bayview Medical Center – Baltimore, Maryland

“Aqui estão dois,” Disse Luke.

Ele e Ed estavam num corredor do hospital a cerca de vinte metros de uma porta onde se podia ler FARMÁCIA. Alguns momentos antes, Luke tinha tentado abri-la mas sem sucesso. Ao fundo do corredor, dois homens vestidos de azul e com casacos brancos de laboratório caminhavam na sua direção. Conversavam e riam-se de alguma coisa.

Havia câmaras de vigilância em todo o lado. Não importava. Luke planeava agir com rapidez. De qualquer das formas já estava em sarilhos.

“Desculpem,” Abordou-os Luke. “Vocês são médicos?”

“Sim, somos,” Respondeu um deles, um homem de meia-idade em forma com uns óculos de armação fina. “Qual é o problema?”

Luke aproximou-se do homem e encostou-lhe uma arma à barriga, num local afastado das câmaras de vídeo. Colocou uma mão amigável no ombro do homem. “Os dois calados.”

Ed aproximou-se por trás do segundo homem. Luke conseguia vislumbrar uma arma na mão de Ed, uma arma cujo cano pressionava as costas do segundo médico.

“Não vos magoamos se fizerem exatamente aquilo que vos pedirmos.”

O primeiro médico, tão confiante uns momentos antes, agora tremia. “Eu…” Balbuciou. Não conseguia falar.

“Tudo bem,” Disse Luke. “Não fale. Preciso que abra a porta da farmácia. É tudo o que quero que faça. Abra a porta e entre comigo durante alguns minutos.”

O segundo médico estava mais calmo. Era calvo, tinha óculos grossos e era mais pesado que o outro. “Não há problema. Se precisam de medicamentos, não há problema. Damos-vos o que precisam. Mas há câmaras de segurança em todo o lado. Não vão conseguir ir longe.”

Luke sorriu. “Nós não vamos para muito longe.”

Os homens voltaram-se em grupo e caminharam na direção da porta. O segundo médico encostou o cartão ao leitor e a luz ficou verde. Luke abriu a porta. Dentro do compartimento distinguiam-se inúmeros armários fechados.

“De que é que precisam?” Perguntou o médico.

“Ritalina,” Respondeu Luke. “Duas injeções.”

“Ritalina?” Questionou o homem.

“Sim. Depressa, não temos muito tempo.”

O médico fez uma pausa. “Não vão conseguir ficar pedrados com a Ritalina. Se tem um défice de atenção, pode obtê-la com uma receita. Não tem que se dar a todo este trabalho. Há programas que o podem ajudar a pagar. E para além disso, a Ritalina não é o medicamento ideal–“

Luke abanou a cabeça. “Já não estamos na escola, Dr. Vamos partir do princípio de que sei o que estou a fazer, ok?”

O médico encolheu os ombros. “Como quiser.” Abriu o armário, mostrou o frasco a Luke e preparou as injeções. Enquanto trabalhava, Ed colocou no balcão quatro algemas de plástico. Abriu uma gaveta e encontrou algumas toalhas de mão e fita cirúrgica. Colocou estes objetos junto às algemas.

O médico terminou a preparação das injeções e colocou as seringas em cima do balcão.

“Muito bem,” Disse Luke. “Obrigado. Agora preciso que façam mais uma coisa antes de se irem embora.”

“Tudo bem,” Assentiu o médico.

“Tirem as roupas,” Pediu Luke. “Os dois.”

*

Luke e Ed, vestidos com batas e luvas, passaram no meio de uma multidão de polícias de guarda em frente à porta do quarto de Eldrick Thomas. Pararam e colocaram as máscaras cirúrgicas antes de entrarem.

Um sinal triangular amarelo e preto estava afixado na porta. PERIGO: RISCO DE RADIAÇÃO.

Por baixo, um outro sinal com uma série de instruções.

A. Visitas limitadas a 1 hora por dia. Não são permitidas as visitas de mulheres grávidas ou pessoas com menos de 18 anos.

B. Os visitantes devem permanecer a pelo menos dois metros do paciente.

C. Os visitantes devem estar protegidos com batas, protetores de sapatos e luvas. Os visitantes não devem manusear qualquer objeto no quarto.

D. Os visitantes não podem fumar, comer ou beber enquanto se encontrarem no quarto do paciente.

Um polícia tocou no braço de Luke. “Quando é que ele vai acordar?”

Luke mostrou-lhe um rosto sério de médico. “Quer dizer, se ele acordar.

Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance. Vocês terão que esperar mais algum tempo.”

Entraram. Thomas estava deitado na cama, a dormir. O rosto e o pescoço estavam cobertos de manchas de um tom vermelho escuro. Os pulsos e tornozelos estavam presos aos suportes metálicos da cama com algemas flexíveis de plástico. Várias máquinas monitorizavam os seus sinais vitais. No canto mais longínquo do quarto de Thomas estavam dois polícias com máscaras e luvas.

“Senhores, será que nos podem dar alguns minutos com o paciente?” Solicitou Ed.

“Temos instruções para não sair do quarto,” Informou um dos polícias.

E então Ed disse as palavras mágicas, palavras que iniciariam um jogo do empurra burocrático se o paciente não fosse radioativo. “Lamento, mas a vossa presença entra em conflito com a provisão de cuidados médicos.” Depois sorriu. “De qualquer das formas, o tipo está amarrado à cama. Não vai a lado nenhum. Dêem-nos só um minuto, ok?”

Os polícias saíram, provavelmente satisfeitos por se afastarem daquele local.

Luke foi diretamente para a cabeceira de Thomas. Tirou a tampa da seringa, alcançou o braço esquerdo de Thomas, encontrou uma veia saliente e deu-lhe a injeção.

“Com que então Ritalina?” Disse Ed.

Luke encolheu os ombros. “Acorda as pessoas de uma anestesia geral. Não é propriamente algo aprovado pelo FDA mas funciona que é uma maravilha.”

Recuou. “Não deve demorar muito.”

Passou um minuto e depois dois. A meio caminho do terceiro minuto de espera, Luke pareceu ter visto um ligeiro movimento das pálpebras.

“Eldrick,” Chamou. “Acorda.”

Os olhos de Eldrick abriram-se lentamente. Pestanejou. Parecia muito cansado. Parecia ter cem anos.

“O meu peito dói-me,” Disse com um fio de voz. Olhou à sua volta vagarosamente, sem mexer a cabeça. “Onde é que estou?”

Luke abanou a cabeça. “Não interessa onde estás. Estiveste em Nova Iorque na noite passada. Roubaste material radioativo do Center Medical Center. Trabalhavas com o Ken Bryant e com o Ibrahim Abdulraman. Ambos foram assassinados e os seguranças também.”

Thomas foi assaltado pela memória dos acontecimentos. Mal movia um músculo. Aparentava estar tão fraco que poderia morrer a qualquer momento. Mas o olhar era duro. “Polícias?” Perguntou.

Luke acenou. “Precisamos de saber onde e quando é que a bomba vai explodir.”

Eldrick Thomas encarou Ed. Fez um gesto com a cabeça na direção de Luke. “Ei, irmão. Tira-me este diabólico porco branco daqui.”

Fechou os olhos lentamente e depois abriu-os outra vez. “Quando ele sair, digo-te tudo o que sei.”

*

Luke esperou no corredor a alguns metros da barreira de polícias. Não demorou muito até Ed sair do quarto. Caminhava depressa.

“Vamos embora.”

Luke acompanhou o ritmo acelerado de Ed. “O que é que se passa?”

“Acho que ele teve um ataque cardíaco,” Disse Ed. “Talvez a Ritalina tivesse sido demasiado para ele, não sei. Dei o alarme antes de sair.”

“Ele disse alguma coisa?”

“Sim, disse.”

“O que é que disse?”

“Não sei se acredito.”

Luke estacou e Ed também parou.

“Temos que continuar a andar,” Advertiu Ed.

Luke abanou a cabeça. “Qual é o alvo?”

Acima das suas cabeças, emergiu uma voz de mulher, calma, mecânica, quase robótica vinda do altifalante do hospital, transmitindo Código Azul, Código Azul. Terceiro Andar, Quarto 318. Terceiro Andar, Quarto 318. Código Azul… Médicos e pessoal hospitalar passaram por eles aos encontrões numa corrida desenfreada.

“Está planeado para o começo do Ramadão no Irão. 20:24, ou seja, 10:54 aqui.” Olhou para o relógio. “Só falta uma hora.”

“Onde?” Perguntou Luke.

Ed olhou para ele sombriamente. Pela primeira vez, Luke via desespero no rosto de Ed.

“Na Casa Branca.”

CAPÍTULO 21

10:01

No céu entre Baltimore e Washington, D.C.

Os pilotos eram mesmo bons.

O helicóptero voou baixo e com rapidez. A paisagem zunia abaixo deles, quase tão perto que lhe podiam tocar. Luke mal reparou. Gritava ao telefone, estava sempre a perder a chamada. O sinal era hesitante a mais de cento e sessenta quilómetros por hora.

“Temos que evacuar a Casa Branca,” Disse, “Trudy! Ouves-me?”

A voz dela emergiu. “Luke, tens um mandato para a tua captura. Tua e do Ed. Acabou de chegar.”

“Porquê? Por causa dos médicos? Não lhes fizemos mal.”

Uma explosão de energia estática e a chamada caiu.

“Trudy? Trudy! Merda.”

Olhou para Ed.

“Disse-me que estavam na carrinha da Lavandaria Dun-Rite,” Anunciou Ed. “Os sinais eram decalques magnéticos. Tiraram-nos em Baltimore e substituíram as matrículas. Pode haver câmaras de vigilância próximas do local onde Thomas foi encontrado. Podem localizar a carrinha dessa forma.”

O telefone de Luke tocou. Atendeu.

“Trudy.”

“Antes de dizeres o que quer que seja, deixa-me falar, Luke. O Eldrick Thomas morreu. Teve um ataque cardíaco. Tu e o Ed estão nas câmaras de vigilância. Nas câmaras consegue ver-se tu a dares uma injeção ao Thomas.”

“Ritalina, para o acordar,” Confirmou Luke.

“O Ed debruçou-se sobre ele mesmo antes de morrer.”

“Trudy, o Thomas estava a dar ao Ed informação. Compreendes? O Eldrick Thomas não é o mais importante neste momento. O ataque está planeado para a Casa Branca. Todas as provas apontam para um ataque por via de um drone. Eles iam na carrinha da Lavandaria Dun-Rite. Temos que encontrar a carrinha e temos que tirar toda a gente da Casa Branca. Já.

Outra explosão de energia estática interferiu na chamada.

“Eles não vão… Luke? Luke?”

“Estou aqui.”

Estão a vigiar o Grand Central e a estação de Hoboken PATH. Fecharam o Túnel Midtown. Falei com o Ron Begley. Não acreditam que o alvo seja a Casa Branca. Pensam que mataste o Eldrick Thomas. O mandado de captura é por homícidio.”

“O quê? Porque é que eu haveria de matar o Eldrick Thomas?”

 

A chamada caiu novamente.

Luke olhou para Ed. “Pedimos aos pilotos para transmitirem a informação via rádio.”

Ed abanou a cabeça. “Não. Ninguém vai acreditar em nós. E se dissermos aos pilotos para a transmitirem, todos vão saber onde estamos. Não. Temos que ser nós a fazê-lo. E temos que ser discretos.”

Luke foi até ao cockpit e espreitou para o seu interior.

Conhecia a Rachel e o Jacob. Eram velhos amigos e voavam juntos há anos. Ambos tinham integrado o 160º Regimento de Operações Especiais de Aviação do Exército Americano. Luke e Ed estavam habituados a voar com pessoas como eles. O regimento que tinham integrado era a Força Delta dos pilotos de helicóptero.

Rachel era robusta. Uma mulher não se limita a juntar-se a um grupo de elite de pilotos de operações especiais do Exército. Ela luta para entrar. Algo perfeito para Rachel porque o seu hobby era cagefighting. Já Jacob era firme como um rochedo. A sua tranquilidade sob fogo inimigo era lendária, quase irreal. O passatempo predileto dele era meditar em retiradas na montanha. Os dois deviam saber que Luke estava suspenso. Até podiam saber que havia um mandato para a sua detenção. Mas também sabiam que Luke era um Delta e eles não eram o tipo de pessoas que fizessem muitas perguntas.

“A que distância nos podem deixar da Casa Branca?” Perguntou Luke.

“Tens um encontro para o almoço?” Gracejou Rachel.

Luke encolheu os ombros. “Vá lá.”

“Heliporto de South Capitol Street,” Informou Jacob. “É uma plataforma da Polícia Metropolitana de D.C., encerrada ao restante tráfego mas eu conheço-os. Posso meter-nos lá. Fica a cerca de cinco quilómetros da Casa Branca.”

“Preciso de um carro da SRT à nossa espera,” Disse Luke. “Sem condutor, só o carro, ok?”

“Entendido,” Disse Rachel e olhou para ele.

“Conto-vos tudo mais tarde,” Prometeu.

Luke voltou para junto de Ed que já se encontrava ao lado da porta de carga aberta.

Luke gritou-lhe. “Temos um heliporto a cinco quilómetros da Casa Branca e vamos ter um carro à nossa espera.”

Ed acenou com a cabeça. “Parece-me bem.”

O telefone tocou outra vez. Olhou para o visor. Não queria falar mais sobre mandatos de captura ou sobre quem acreditava no quê. Desta vez, quando atendeu, mal falou com ela.

“Trudy, passa-me ao Mark Swann.”