Uma Luz No Coração Da Escuridão

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Ela calmamente caminhou até a porta e destrancou-a, depois espiou para ver quem era.

— Kotaro — suspirou ela um pouco sem fôlego e depois calou-se com culpa, esperando que ele não tivesse notado.

Os olhos de Kotaro se iluminaram e escureceram ao mesmo tempo quando a porta se abriu. Ele estava feliz em ver Kyoko segura e, obviamente, não totalmente vestida. Ele ergueu uma sobrancelha pelo jeito que ela havia dito seu nome. Pressionando a mão na porta acima da cabeça de Kyoko, ele a abriu totalmente com seu habitual sorriso confiante enquanto passava pela jovem, quase tocando-a.

— Como está a minha mulher hoje? — Kotaro passou por ela e entrou no apartamento como se ele pertencesse ali.

Não vou cometer assassinato, não irei atirar o telefone, não vou... A mente de Kyoko continuou a cantarolar enquanto Kotaro a encarava com seu habitual sorriso de parar o coração. De repente, ela sentiu que o ar condicionado parara de funcionar.

Como esse homem, que só pode ser descrito como sexo ambulante, a afetava assim? Ela sempre sentiu como se estivesse tentando impedir que o jogasse no chão. Balançando a cabeça, ela olhou para baixo e gritou quando viu que o robe dela estava parcialmente aberto. Não dava para revelar muita coisa, mas o suficiente para fazê-la corar.

Toya ficou tenso, ouvindo pelo telefone a batida na porta em segundo plano e, em seguida, a voz de Kotaro. Ele gritou no telefone para chamar a atenção dela.

— Droga, Kyoko! O que diabos Kotaro está fazendo aí? — resmungou ele, irritado com o fato de o segurança ter aparecido no "seu" apartamento de Kyoko novamente.

Kyoko se encolheu quando o grito do telefone pode ser ouvido alto e claro dentro da sala de estar. Olhando sobre o ombro de Kotaro para o relógio na parede, ela sabia que precisava começar a se arrumar ou Suki seria a próxima a bater na porta. Já bastava. Ela se virou e caminhou até a bancada, pretendendo desligar o telefone.

Levantando-o de volta ao ouvido, ela gritou:

— Te vejo mais tarde! Click... um já era, só falta mais um.

Kotaro sorriu sabendo que tinha sido Toya com quem ela gritou. Seus olhos atravessaram a seda que se agarrava a um corpo bem formado como uma segunda pele e ele não conseguiria ter evitado se ele tivesse tentado avançar, mais perto dela. Ele lentamente fechou os olhos por apenas um segundo enquanto inalava profundamente, todo o seu corpo agora a menos de um centímetro do dela. O pensamento de tocar sem fazer contato fazia com que ele curvasse mentalmente seu corpo em torno dela e a abraçasse.

Ele se inclinou para a frente, aproximando os lábios da orelha de Kyoko antes de sussurrar seu nome. Seus lábios suavizaram, assim como seus olhos azuis. Muitas vezes ele se via quase desejando que ela se lembrasse do passado e do quão íntimos eles foram certa vez. O que ela faria se se lembrasse que eles costumavam morar juntos? Ele, ela e Toya, para que pudessem protegê-la.

Kyoko perdeu o fôlego e sentiu a pele ao longo de seu pescoço e bochecha formigar. Era difícil demais pensar direito com ele tão perto, mas agora ela podia sentir que ele a tocava, mesmo que ele não a estivesse tocando. Lembrando o que ela estava fazendo antes do telefone ter interrompido fez um seu calor instantâneo subir ao seu rosto.

Não querendo que ele percebesse sua culpa, ela se manteve de costas para ele e tentou reprimir a memória do banho. Ao fechar os olhos, ela lutou contra o impulso de se recostar nele e teve que agarrar-se à mesa para se estabilizar.

Kotaro queria colocar as mãos sobre a mesa em ambos os lados dela, prendendo-a entre seus braços, mas de repente se acalmou. Ele podia sentir o cheiro dos sabões que ela usara no banho, mas um sabor abriu caminho para ele e sua expressão ficou curiosa: excitação? Ele se afastou dela, se sentindo excitado.

Passando a mão por seus cabelos indomáveis, ele recuou para uma distância mais segura, tentando ignorar a sacudida na boca do estômago. Por que ele havia vindo aqui mesmo? Era importante.

Ele sentiu seus instintos protetores aflorarem pela lembrança dos recentes alertas que ele havia recebido.

— Você vai passar a noite comigo? — A pergunta que soava inocente escondia um duplo significado, enquanto ele provava o desejo.

Kyoko abrandou sua respiração, mais uma vez pronta para lutar contra seus sentimentos. Franziu a testa, sabendo que seria muito perigoso ficar sozinha com ele. De repente, ela queria agradecer a Suki por mandar nela.

Ao vê-la franzida, Kotaro rapidamente acrescentou:

— Nós podemos fazer o que você quiser. Alugar um filme e ficar em casa... ou sair.

— Alugar um filme e ficar em casa... — repetiu Kyoko ansiosamente pensando que era exatamente o que queria fazer. Então, percebendo os olhos de Kotaro se acenderem, ela rapidamente mudou:

— Pelo menos é isso que eu queria fazer e se eu não tivesse sido arrastada para os planos de outra pessoa. Eu adoraria ficar assistindo filme com você. Mas desculpe, Kotaro. Não posso. — Ela deu-lhe um sorriso apologético batendo mentalmente o pé ao pensar em perder uma noite muito quente com o belo guarda de segurança.

Os ombros de Kotaro caíram um centímetro, mas ele sorriu de qualquer jeito, sabendo que ela não estava tentando ferir seus sentimentos. Ele poderia até notar que ela queria que ele ficasse e ele se perguntou sobre a atração daquela vontade. Era o mesmo que ele queria? Para ele, Kyoko era a gema mais preciosa da Terra e ele faria tudo que pudesse para fazê-la sorrir e mantê-la segura ao mesmo tempo.

Afinal, ele esperou mais de mil anos apenas para vê-la novamente.

Precisando certificar-se de que ela estava protegida e fora de perigo, ele perguntou:

— Então, quais são seus planos, talvez eu possa participar da diversão? — Ele deu a ela o seu sorriso mais travesso, esperando que isso funcionasse. Se não, então ele poderia recorrer a persegui-la. Os cantos de seus lábios perfeitos se inclinaram em um sorriso secreto.

Kyoko sabia que Suki nunca aceitaria. A noitada só de mulheres significava "só de mulheres". Ela também sabia que se Kotaro descobrisse que estava com apenas Suki, ele iria junto, de alguma forma aparecendo como se por acaso. Ela o viu fazer isso muitas vezes.

Enquanto Toya era insistente, Kotaro sempre tentava ser sutil, mas se você coloca os dois caras no mesmo ambiente, eles parecem agir de forma muito parecida e se provocam constantemente. Ambos tinham um coração de ouro e ela sabia disso. De certa forma, ela os amava tanto... tanto que era doloroso, e é por isso que ela escolheu não escolher e simplesmente permanecer solteira por enquanto. Honestamente, ela não quis magoar os sentimentos de nenhum deles.

Mas uma coisa que Kyoko sabia com certeza era que se Kotaro pensasse que ela iria sair com Toya esta noite, ele não se incomodaria em seguir. Pelo menos ela esperava que não.

— Desculpe, Kotaro, já tenho planos com Toya, mas prometo que vamos alugar filmes ou algo assim qualquer hora destas. — Kyoko abaixou os olhos, não gostando do fato de que ela estava mentindo para ele, mas era a única maneira de fazê-lo desistir. Observando o chão, ela percebeu que ele deu um passo à frente e ela imediatamente deu um passo atrás mordendo o lábio inferior, quando sentiu a mesa atrás dela.

Kotaro sentiu o ciúme vibrar dentro dele, mas o manteve sob controle. Seu único consolo era que, se ela estivesse com Toya esta noite, pelo menos ele poderia ter certeza de que ela não seria uma das próximas garotas desaparecidas.

Além disso, ele sabia que Kamui estava secretamente vigiando Toya e Kyoko. Mentalmente, ele teve que admitir que Toya era superprotetor em relação a ela e a manteria segura. Ele queria ser o único com Kyoko esta noite, protegendo-a. Mas mesmo que ele não gostasse, Toya não deixaria que nenhum mal acontecesse a ela.

Ele a observou lentamente, levantando os olhos para ele, e ele pode ver a preocupação dela, achando que Kotaro tentaria detê-la. Ele queria impedi-la, mas não faria isso. Com o tempo, ela faria sua própria escolha.

Inclinando a cabeça ligeiramente em uma aceitação relutante, Kotaro pegou a mão dela mão e a segurou por um momento, fixando seus olhos azuis aos de esmeralda dela. Olhando nos seus olhos, ele sabia que ela tivera um dia difícil. Ele sempre podia ler os sentimentos dela através da cor de seus olhos. Ele aprendeu isso há mais de mil anos. Ele só queria que ela se lembrasse.

— Combinado, então, Kyoko. Vejo você amanhã. Tenha cuidado, linda. — Inclinando-se para a frente, ele roçou os lábios sobre a testa dela, depois soltou sua mão, virando-se para sair.

Kyoko sorriu.

— Obrigada, Kotaro. — Sua testa ainda formigava onde os lábios quentes dele a tocaram. Ela estava feliz por ele ser mais fácil de lidar do que Toya. Muitas vezes, ele beijava sua bochecha, testa ou mão, deixando essa sensação formigante e quente.

Ela se perguntava sobre o que ele pensaria se soubesse que ela nunca tinha sido beijada nos lábios. Ninguém jamais acreditaria que, com a idade de dezoito anos, ainda era tão pura, bem, fisicamente pura. Ela corou de novo sabendo que seus pensamentos não eram tão irrepreensíveis. Ela culpava o traidor que vivia dentro de si e acelerava toda vez que pensava nele.

Kotaro abriu a porta para sair, mas não antes de lhe lançar um sorriso sobre o ombro, acrescentando:

— Apenas lembre-se, você ainda é minha mulher. — Ele saiu rapidamente, fechando a porta atrás de si, sorrindo maliciosamente com o comentário.

 

Ele sabia que ela não iria cruzar a linha com Toya e não estava preocupado. Mesmo no passado, quando ele e Toya tinham brigado, ela o escolheu ao invés de Toya. Ela sempre adorou Toya, mas Kotaro sabia que era ele por quem ela realmente estava apaixonada. A velocidade dos batimentos cardíacos dela quando ele estava por perto sempre revelava seus verdadeiros sentimentos... nesta vida e no passado. Ele só tinha que esperar para que ela percebesse mais uma vez.

Kotaro inalou suavemente, saboreando o perfume dela. Mesmo agora ele podia sentir o cheiro de sua pureza e sabia que ela era o tipo de pessoa que levava isso a sério. Ela era muito inocente acerca do mundo real.

O pensamento fez o sorriso de Kotaro desaparecer. Ele não tinha tanta certeza de que queria que ela descobrisse o lado sombrio deste mundo. Não queria arriscar a felicidade dela. Nem mesmo ele era o que ela pensava que fosse. Ele sabia que ela o aceitaria de qualquer jeito, mas a lembrança de tê-la sepultado selava seus lábios, impedindo-os de falar do passado. Era melhor não se lembrar de algumas coisas.

Quando Kotaro saiu do prédio e voltou para a calçada, ergueu os olhos do pátio abaixo para a janela, imaginando o que Kyoko faria quando descobrisse sobre ele. E sim, ele lhe contaria a verdade, mas ainda não. Como você explica que é mais velho do que qualquer ser humano normal e que você tem poderes como ela só viu nos filmes?

Kotaro balançou a cabeça quando começou a voltar para a faculdade, contemplando seu próximo passo em relação às meninas desaparecidas.

Ele sabia o que estava acontecendo com elas e que provavelmente já estavam mortas ou pelo menos mortas-vivas. Seus olhos brilharam com raiva por apenas um momento, revelando o lado mais sombrio de sua alma licantropo. Ele precisava captar o cheiro desses malditos sanguessugas e aquele que os liderava antes que eles pudessem encontrar Kyoko de novo.

Capítulo 3

Kyoko revirou o armário procurando o que Suki a havia convencido de comprar no fim de semana anterior. Ela riu para si mesma lembrando que Shinbe as havia seguido ao shopping, se oferecendo para que desfilassem para ele para saber sua opinião. O ponto alto foi quando ele entrou no vestiário das meninas e ficou conversando com a Suki através da cortina.

Shinbe estava falando com uma voz fina para enganar Suki, se passando pela vendedora do setor, e se ofereceu para ajudá-la a fechar o zíper.

Suki havia aceitado a oferta de ajuda e virou as costas para a cortina. Kyoko quase caiu quando Shinbe saiu voando pelo provador e aterrissou contra a parede do outro lado.

Kyoko perguntou à Suki como ela tinha percebido que era Shinbe e Suki respondeu:

— Não acho que eles iriam deixar uma lésbica trabalhar no provador feminino, então quando ele colocou a mão dentro do meu vestido em vez do zíper, foi tipo uma entrega de jogo.

— Coitado do Shinbe — suspirou Kyoko enquanto tirava uma blusa cropped branca com mangas de seda que tinham forma de sino do cotovelo ao pulso e fluíam bem. Na verdade, ela achava a blusa bem bonita. A fazia lembrar de um manto de anjo, mas sexy. Era curta o suficiente para mostrar a sua barriga e combinava bem com a minissaia preta agarrada no quadril que ela também tinha comprado.

Depois de se vestir e encontrar os sapatos que queria, ela prendeu parte do cabelo ao redor das orelhas e fez um penteado alto atrás, mas deixando o resto do cabelo solto, de forma atraente. Usando um pouco de maquiagem e um colar segurando uma pequena lágrima de cristal, ela se considerou pronta para o que quer que fosse que a Suki estava tramando.

Ela desejou secretamente que pudesse ter dito a Kotaro para onde estavam indo, mas nem ela sabia a resposta para isso. Mordeu o lábio inferior percebendo que já estava sentindo falta dele, então tentou enterrar o sentimento melancólico, sabendo que Suki notaria.

A última coisa que ela precisava esta noite seria sua melhor amiga fazendo um milhão de perguntas que ela não queria responder.

*****

Shinbe passou os dedos pelas mechas azuis que brilhavam por dentro de seus cabelos escuros enquanto se apoiava contra a porta sorrindo. Ele correu para o apartamento da Suki quando ela ligou dizendo que ela iria sair à noite e que não era para ele ir lá.

— Ela está muito maluca se achar que pode se livrar de mim tão fácil — Shinbe ergueu uma sobrancelha enquanto esperava.

Quando Suki abriu a porta com o cabelo ainda enrolado em uma toalha, as primeiras palavras de Shinbe foram:

— Aaah, perdi você tomando banho, Suki? — sorriu ele, vendo a sobrancelha de Suki se contraindo.

Assim que conheceu Suki e Kyoko, ele sentiu a necessidade de ficar perto delas em todos os momentos. Ele e Suki, Toya e Kyoko costumavam sair juntos.

Suki sabia que Shinbe se considerava "seu namorado" apenas porque ele era o único que ela namorava, mas Suki nunca havia concordado em ser sua namorada. Ela tentou esconder o rubor que ameaçava surgir e assumir seu rosto quando retrucou:

— Precisa de água sanitária e uma bola de demolição para limpar sua mente suja.

Ele se aproximou mais dela, bloqueando todo o resto enquanto seus olhos de ametista escureciam atraentemente.

— Se você me deixar entrar, acho que a gente pode encontrar uma razão para você tomar outro banho.

Suki sentiu que seus batimentos cardíacos aceleravam ao som de sua voz rouca e deu alguns passos para trás quando ele deu vários passos para a frente, fechando a porta atrás de si. Decidindo não o deixar tomar vantagem, ela lhe deu seu melhor olhar de advertência e foi recompensada quando ele parou de persegui-la. Se ele descobrisse o quanto ele já a tinha conquistado, ela realmente estaria em sérios problemas.

— Ei, Shinbe, olha, tenho que terminar de me arrumar porque tenho planos esta noite com uma amiga. Já te disse no telefone, lembra? — Ela sabia que ele viria de qualquer jeito, mesmo se fosse para tentar descobrir para onde ela estava indo.

Tirando a toalha da cabeça, os longos cabelos ainda úmidos, Suki dirigiu-se para o banheiro ainda falando alto o suficiente para que ele pudesse ouvi-la.

— A gente pode fazer alguma coisa amanhã à noite, ok?

Shinbe inclinou-se contra o bar que separava a cozinha da sala de estar. Ele estava prestes a começar a expressar suas queixas quando seu olhar caiu sobre um folheto largado na bancada. Pegando-o, ele rapidamente leu a página. Suas duas sobrancelhas se ergueram em entendimento.

A MAIOR E MELHOR BOATE DA CIDADE

CLUB MIDNIGHT

SEXTA-FEIRA ESPECIAL

NOITE DAS MULHERES

As palavras noite das mulheres estavam circundadas. Shinbe ergueu uma sobrancelha enquanto colocava o papel de volta na bancada e andou em direção ao banheiro. Ele escondeu o sorriso quando entrou sem bater e deslizou atrás de Suki enquanto ela estava com a escova prestes a deslizar pelos cabelos.

— Amanhã, então - sussurrou Shinbe sedutoramente em sua orelha e mergulhou seus lábios para baixo para beijar seu ombro. Ele se virou para sair sem dizer outra palavra, escondendo um sorriso travesso.

Suki permaneceu imóvel, olhando para o espelho, sem gostar das vibes que acabara de ter. Não era normal Shinbe não implorar e insistir com ela. Não querendo olhar os dentes de um cavalo dado, ela se apressou e terminou de se arrumar. Com medo agora de que Shinbe tivesse algum plano, Suki decidiu que iria para o apartamento da Kyoko um pouco mais cedo do que o planejado.

*****

Vários quilômetros de distância, olhos vermelhos penetrantes olhavam pela janela de uma suíte de cobertura com vista para a cidade. Ondas longas de cabelo preto e sedoso caíram em cascata pelas costas nuas em contraste com a pele tão pálida quanto a lua. Seu rosto angélico era impressionante, com ângulos bem definidos, e seu corpo era magro e firme como o do deus místico Adônis.

Seu corpo nu brilhava do luar, os músculos dançavam com cada movimento que ele fazia. Ele era lindo para qualquer um que olhasse para ele, mas sua alma escura era mal-intencionada e mortal. Um sorriso agraciou seus lábios perfeitos enquanto seus pensamentos se voltavam para os acontecimentos da noite anterior.

Afastando-se da janela, começou a se preparar para a noite. Seu olhar se desviou para a cadeira estilo Rainha Ann ao lado da lareira e da jovem universitária que estava sentava sem vida nela. Hyakuhei sorriu quando pensou no sangue fresco que ele tinha jantado na noite anterior.

— Pena, ela era uma menina tão linda — lambeu os lábios lembrando o prazer de ter tido a menina e se alimentado dela. Ele nunca iria se cansar das jovens que atraía e tomava para si.

Esta noite, ele visitaria uma boate popular para caçar sua presa e precisava ter certeza de que seus "filhos" estavam ocupados. "Noite das Mulheres" era sempre perfeita para escolher a presa e era um buffet sem fim de carne para os noturnos.

Ele era um poderoso senhor dos vampiros e ninguém ousaria irritá-lo ou questionar sua força. O prazer tinha sido seu único desejo há mais de mil anos, mas agora ele queria mais. Ele queria o que era legítimo dele. Um olhar franzido enfeou seu rosto enquanto ele ponderava sua busca, o objeto que se tornara sua obsessão: o lendário Cristal do Coração Guardião.

Acreditava-se que o cristal sagrado era uma joia que tem o poder de dar a um vampiro a habilidade de caminhar além da noite e sob a luz do dia. Na lenda, diz-se que uma menina com sangue puro e o coração de uma criança possui a joia dentro do corpo. Ela seria uma sacerdotisa do mais alto ranking e poder, a protetora e detentora do Cristal do Coração Guardião.

Seu olhar sombrio voltou para o céu noturno, onde uma lua vermelha de sangue apareceu acima.

— Perdi você uma vez, querida sacerdotisa, mas não se engane, vou encontrá-la novamente. - Seus olhos se estreitaram quando ele prometeu à noite. — Vou possuir tanto você quanto o cristal desta vez...

*****

Suki levou Kyoko ao shopping no fim de semana anterior por esta mesma razão, só que ela não contou à amiga por quê. Suki também comprou uma roupa. Tirando a roupa do armário, ela mergulhou nela com emoção. Era um vestido totalmente preto e muito colado ao corpo. Ela se apaixonou por ele assim que o viu.

Bom, Shinbe não está por perto — pensou Suki com um sorriso contente enquanto olhava o vestido no espelho. Era muito curto, mas não mostrava demais, apenas o suficiente para provocar e deixar a imaginação vagar. Prendendo os cabelos escuros para trás com uma xuxinha também preta, Suki pôs um pouco de maquiagem e pegou suas chaves, indo ao apartamento de Kyoko, logo ao lado.

Kyoko saiu do quarto esperando que tivesse tempo de lanchar qualquer coisa antes de sair, mas antes mesmo de chegar à cozinha, alguém estava batendo na porta.

— Deus, espero que não seja Toya — disse ela e se perguntou se deveria atender. Ela ainda tinha 20 minutos antes que fosse hora de se encontrar com Suki, então Kyoko escolheu ignorar os golpes na porta por um momento com medo de quem estaria do outro lado.

É incrível como o medo faz você se sentir com cinco anos de idade. A sobrancelha de Kyoko se contraiu enquanto ela respirava.

A pancada tornou-se um pouco mais alta, mas desta vez seguida por uma voz.

— Tudo bem, Kyoko, sei que você está aí. Não me faça derrubar esta porta! — disse com uma risadinha.

Kyoko revirou os olhos pensando que Suki parecia ser da polícia. Abriu a porta para sua melhor amiga, que imediatamente agarrou seu braço para tirá-la do apartamento.

— Anda, vamos. Tenho uma sensação ruim se não formos agora, Shinbe aparecerá ou algo assim — Kyoko mal teve tempo de fechar a porta antes que Suki a puxasse para fora.

*****

Kyou abriu as pesadas cortinas escuras da janela, agora que o crepúsculo havia chegado. Seus longos cabelos prateados se curvaram ao seu redor enquanto ele abriu a janela, permitindo que o vento da noite chegasse para acariciar seu rosto angélico. Vestido de preto, ele tinha a aparência de um anjo caído.

O dinheiro lhe trouxe a liberdade de definir suas próprias horas e o poder assegurou que ele não seria perturbado. Comprar todo o andar superior do hotel mais caro da cidade deu-lhe a solidão que ele precisava e a vista que ele queria. Olhando para o outro lado da rua, ele podia ver uma fila que já começara a se formar no Club Midnight, a boate mais popular da cidade. Era o lugar perfeito para as criaturas da noite.

 

A fila enorme estava repleta de universitárias meio travessas e rapazes interesseiros que as seguiam. Os olhos assombrados de Kyou brilhavam com desprezo quando ele começou a passar a vista na fila, perguntando-se sobre qual das moças chamaria a atenção daquele que ele caçava. Quem seria a próxima vítima de Hyakuhei?

Kyou podia sentir Hyakuhei na cidade e se perguntou se Hyakuhei podia sentir a morte perseguindo-o. Desta vez, as coisas estavam diferentes. Kyou o encontrou com muita facilidade, como se Hyakuhei tivesse deixado uma trilha para ele seguir. As mortes e os desaparecimentos de universitárias locais foram um cartão de chamada flagrante para Kyou, apontando para apenas uma pessoa.

Ele não gostava de pensar que Hyakuhei o estava levando até aqui.

— Não estou mais sob seu controle - rosnou Kyou enquanto o sangue escorria entre seus dedos cerrados e seus olhos manchados de rosa. — Você não tem nenhum poder sobre mim, não mais! — Acalmando sua raiva crescente, Kyou novamente pôs a máscara de indiferença sobre seus traços, escondendo sua aura. Era hora de o predador se tornar presa.

Se ele conseguia sentir a força da vida de Hyakuhei, Kyou precisaria de cautela para evitar que seu criador percebesse a dele também.

*****

Kyoko ficou surpresa com o tamanho da boate. Seus lábios se separaram quando Suki parou o carro no enorme estacionamento. Suki queria chegar lá um pouco cedo para evitar a fila, mas como Kyoko viu, uma fila já havia se formado, então elas correram para fora do carro. Kyoko reconheceu rostos familiares da faculdade que frequentava e sorriu quando notou que Tasuki, seu amigo de longa data, era um deles.

Do seu lugar na multidão, Tasuki viu Kyoko e Suki. Ele havia deixado que suas amigas o convencessem a ir e, não tendo nada melhor para fazer agora que as provas acabaram, ele concordou de bom grado. Ele era bonito e tinha um corpo bem feito, com os cabelos castanhos na altura dos ombros e os olhos cor de chocolate que derretiam o coração de todas as garotas.

Ele também era um dos rapazes mais populares no campus, mas Tasuki era mais conhecido pelas notas altas que tirava em todas as matérias e ele era mais legal do que a maioria dos caras no campus. Claro, ser uma das pessoas mais ricas da faculdade também aumentava seu status, mas ele não era esnobe e nem aparentava ser rico.

Fazendo um ziguezague pela multidão, Tasuki aproximou-se de Kyoko com um sorriso genuíno. Ele a conhecia desde o ensino fundamental e sempre teve uma paixão secreta por ela. Eles haviam saído algumas vezes, mas não era nada sério, eram mais como melhores amigos na verdade, e fazia um tempo que eles não se encontravam para sair.

Ele a convidaria mais para sair, mas aquele tal de Toya ou o chefe de segurança da escola estavam sempre rondando a Kyoko. Ele poderia jurar que tinha ouvido um rosnado na última vez que se aproximou dela enquanto ela estava com um deles.

Com isso em mente, ele olhou nervosamente a área esperando que ela estivesse sozinha. Não que ele tenha medo deles, não, nunca...

Suki viu o nervosismo de Tasuki e riu alto.

- Está tudo bem, Tasuki. Viemos sozinhas.

Ela riu do olhar confuso de Kyoko e agarrou Tasuki pelo cotovelo, puxando-o para a fila. Ela e todos os outros que o conheciam estavam conscientes do fato de que ele tinha uma queda por Kyoko. Bem, todos exceto a Kyoko, claro.

Kyoko corou quando Tasuki virou-se para olhar para ela. Ela não tinha percebido o quanto mais alto ele havia ficado.

— Oi, Tasuki, quanto tempo. Ouvi dizer que você está arrasando com suas notas este ano. — Seu rosto iluminou-se de felicidade, percebendo que havia muito tempo que eles tinham saído juntos. Ela sempre se sentiu muito segura perto dele, como os melhores amigos se sentem. Caramba, ela tinha sentido muita saudade dele.

Um sorriso suave agraciou os lábios de Tasuki, gostando do fato deles não terem perdido contato, mesmo que fosse à distância. Talvez ele ainda tenha uma chance com ela. Ele realmente queria a chance de mostrar a ela o quanto ele ainda se importava com ela e queria estar com ela, que ele não estava "fora de sua alçada" como ela sempre parecia acreditar.

Por algum motivo, ela parecia pensar que ele faria tudo apenas para vê-la só porque eles tinham sido amigos desde o início do ensino médio. Ele pretendia corrigir esse equívoco.

— É, Kyoko, se você precisar de alguma ajuda, eu ficaria feliz em estudar com você, a qualquer hora. — Ele secretamente queria bater sua cabeça contra a parede de tijolos sabendo que estava mais uma vez soando como um melhor amigo em vez de um candidato a namorado.

Suki apenas balançou a cabeça ao ver a tristeza silenciosa nos olhos de Tasuki quando ele sorria para Kyoko.

Coitado — pensou consigo mesma enquanto um sorriso malicioso se espalhava por seus lábios. Ele só precisava de um pequeno impulso na direção certa.

*****

Os olhos de Kyou se estreitaram enquanto a multidão de crianças ingênuas aumentava.

Muitas opções para o Hyakuhei — pensou. Era sempre a mesma coisa: tomar uma vida e ficar impune, assim como o monstro se safou no passado. Frustrado, ele deixou suas garras agarrarem o parapeito da janela, perguntando-se se ele poderia impedir o massacre.

Ele teria que se aproximar e se misturar na multidão. Rindo ao pensar como faria seus cabelos prateados e olhos dourados estranhamente coloridos passarem despercebidos, Kyou voltou sua atenção para a multidão reunida.

Passando a vista pelo estacionamento mais uma vez, sua visão parou quando seu olhar assustado deslizou sobre um grupo de três pessoas bem próximas à frente da multidão. A aura em torno do triângulo era surpreendentemente diferente daquela dos outros humanos. Uma tonalidade suave de luz branca pura que cercava o grupo deslumbrou a visão interna de vampiro de Kyou.

Diminuindo a intensidade de seu olhar, Kyou balançou a cabeça e olhou novamente para o grupo. Mesmo com seus sentidos intencionalmente atenuados, ele conseguiu detectar um leve brilho rodopiante fluindo em torno das três figuras. Um leve brilho de poeira do arco-íris veio diretamente acima deles, sombreando a luz como se alguém estivesse escondendo-a de seus olhos.

Kyou revistou o céu acima deles, mas só viu a noite. Seus olhos se estreitaram compreendendo mais do que ele deveria antes de voltar seu olhar para o grupo.

Ele nunca tinha visto nada parecido em sua vida imortal. Uma leve memória prendeu sua atenção, fazendo com que ele olhasse o grupo com olhos arregalados. Ele estava se lembrando das palavras de seu irmão mais novo antes de Hyakuhei tê-lo assassinado tão cruelmente:

— Se ao menos pudéssemos encontrar o Cristal do Coração Guardião, talvez pudéssemos ficar livres da escuridão, irmão.

Kyou havia zombado, dizendo a Toya que a joia era apenas um mito e impossível de encontrar, mesmo nas lendas. Toya tinha ignorado sua réplica:

— A aura daquela que protege a joia brilhará com luz sagrada. Você não quer ser livre?

Um sentimento melancólico se instalou em Kyou com a lembrança da pergunta de seu irmão. Ele teria dado qualquer coisa para libertar seu irmão da vida que Hyakuhei o dera. A brisa veio pela janela soprando seus longos cabelos no rosto, como se lhe dissesse para ir, como se o próprio Toya lhe pedisse que ele partisse.