Uma Luz No Coração Da Escuridão

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Recolhendo a escuridão circundante em torno de seu corpo letal, Kyou emergiu despercebido na multidão de jovens inocentes, seu olhar intenso nunca deixando o local de onde a mais suave e pura luz brilhava.

*****

Kyoko riu quando viu Suki erguer as sobrancelhas por trás de Tasuki. Suki definitivamente estava passando muito tempo com Shinbe ultimamente. Ela ficou vesga e deu a língua fazendo com que Suki quase morresse de rir, mas o olhar desapareceu instantaneamente quando Tasuki se virou para ver do que Suki estava rindo.

Isso fez com que Suki tivesse que se segurar na parede para evitar que seus joelhos cedessem enquanto Kyoko apenas deu de ombros para Tasuki dizendo:

— Quem sabe o que deu nela? Ela nunca foi normal. — Ela ergueu a sobrancelha, acrescentando: — Tenho que tirá-la do manicômio pelo menos uma vez por semana ou ela fica ainda pior e tenta roer as árvores na frente do alojamento.

Tasuki sorriu enquanto se aproximou da orelha de Kyoko como se quisesse sussurrar, mas então disse em voz alta o suficiente para que Suki ouvisse:

— Talvez durante o caminho para casa hoje, você deveria levá-la de volta.

Kyoko assentiu alegremente, então sentiu o cabelo na parte de trás do pescoço se arrepiar como se alguém a observasse. Esperando que não fosse Toya secretamente seguindo-as, ela tentou ignorar a sensação enquanto mantinha sua atenção em Suki e Tasuki.

Suki finalmente respirou o suficiente para lembrar a Kyoko que elas fariam uma festa do pijama na sala acolchoada mais tarde, então perguntou a Tasuki se ele gostaria de se juntar a elas.

— A gente até conseguiu uma camisa de força para a ocasião.

Ela deu a língua para ambos.

— Guarde essa coisa antes de machucar alguém — retrucou Kyoko e foi rapidamente recompensada quando o queixo de Suki caiu.

Quando a fila começou a andar, Kyoko olhou por cima do ombro, imaginando quem a estava observando. Ela viu apenas as luzes do estacionamento e uma horda de pessoas esperando para entrar e então zangou-se com sua própria paranoia. A sensação desconfortável de que havia alguém a observando recusava-se a ir embora e a preocupava. Ela lembrou-se do aviso de Kotaro sobre um maníaco em torno do campus e de repente desejou que ela tivesse insinuado para ele onde elas estariam hoje.

Suki agarrou sua mão e puxou-a, pois Kyoko estava atrasando a fila. Kyoko afastou a sensação ruim enquanto entraram no prédio e sua atenção foi atraída para o interior da enorme boate.

Kyou a viu virar o rosto como se ela estivesse sentindo sua presença e ele ficou surpreso com isso. Os olhos de Kyoko haviam se deslocado muito lentamente para o ponto em que ele estava parado, mas ele sabia que ela não podia vê-lo nas sombras. Sob o manto da escuridão, ele a manteve sob vigilância ao entrar no estabelecimento.

Seu olhar dourado se movia pela sala sabendo que havia mais do que seres humanos dentro dos espaços mal iluminados, mas eram pequenas ameaças e não valiam sua atenção.

Suki levou-os a uma área perto do bar para que eles não tivessem que ir longe demais para pegar bebidas e ainda ter uma boa visão da pista de dança. A música já estava tocando, mas não tão alta que você precisasse gritar para ser ouvido.

Kyoko ficou surpresa em ver como o lugar era legal. Ela estava começando a se sentir feliz por ter deixado Suki convencê-la a vir. Afinal, a vida tinha que ser mais do que estudar, o que era tudo que ela só fazia há mais de uma semana. Toda a energia no lugar era viciante e ela sorriu animada. Foi um daqueles raros momentos em que sentiu que qualquer coisa poderia acontecer.

Em vez de mesas e cadeiras, o estabelecimento tinha sofás bem acolchoados aqui e ali, com pequenas mesas de vidro para apoiar as bebidas. Roxo, azul e preto eram as principais cores da boate, dando-lhe uma pitada de mistério e magia com todas as luzes constantemente mudando de cor e criando uma sensação de pandemônio sensual. A atmosfera da boate era quase intoxicante.

Sombras profundas emprestavam privacidade àqueles que a procuraram e Kyoko corou, pensando em todas as coisas que às vezes aconteciam no escuro, coisas que ela ainda não experimentara. Sua mente voltou a se perguntar o que Kotaro estaria fazendo, antes de voltar sua atenção a seus amigos, se sentindo culpada.

Kyou sentou-se no canto mais escuro, perto da aura intensamente pura. Observando o grupo, ele agora podia ver que o brilho era proveniente de apenas um deles. Seus olhos se suavizaram pela primeira vez em inúmeros anos, por apenas um instante, enquanto a via sorrir, absorvendo a grandeza da boate. Era como assistir o nascer do sol e era algo que ele não fazia há muito tempo.

Ela era linda, com longos cabelos castanhos que fluíam, contrastados com a camisa branca sedosa que ela usava.

Seu olhar percorreu o corpo perfeito dela, absorvendo a pele exposta em sua cintura e olhando a minissaia, seguida de um par de pernas muito bem torneadas, antes de levantar seu olhar ao pescoço, que estava à mostra. Ele seguiu o arco até o rosto dela com um grunhido desaprovador. Ela estava virada em um certo ângulo e ele se viu precisando ver seus olhos, pois os olhos eram o espelho da alma.

Seus instintos estavam reagindo de um jeito que ele nunca experimentara antes. A sensação que ele não conseguia descrever o agitou e, de alguma forma, o fez lembrar de seu irmão. Ele não gostava do desconhecido.

Ele escureceu as sombras ao redor de si enquanto ela se virou, passando seu olhar além dele, mas ele tinha visto os olhos dela. A visão quase lhe tirou a respiração. Ela tinha os olhos de esmeralda envoltos em inocência, mas ele também podia ver a travessura e o poder escondidos lá.

Kyou apertou o punho tão forte que pôde sentir gotas de sangue se formando onde suas unhas afiadas haviam perfurado sua carne. Por que havia tal inocência aqui, em um lugar como este? Isso deveria ser proibido. Ele sentiu um rosnado surgir profundamente em seu peito e tentou suprimi-lo.

Se seu palpite estava correto e Hyakuhei aparecesse, então as coisas poderiam ficar muito perigosas, muito rápido. Será que era ela quem guardava o Cristal do Coração Guardião dentro de si? As palavras de seu irmão voltaram a persegui-lo pela segunda vez.

- Irmão, se acharmos a pedra, podemos ficar livres de Hyakuhei.

Bloqueando os outros sons da boate, Kyou dirigiu todos os seus sentidos para ela, para que ele pudesse saber mais e se preparar. Seus olhos dourados assombrados quase brilhavam enquanto mergulhava nos pensamentos do grupo sentado à mesa. Ouvir o pensamento dos mortais era um recurso que ele não usara há muito tempo.

Tasuki se ofereceu para pegar a primeira rodada de bebidas, já que o barman era seu primo. Ele não iria desperdiçar sua única chance de impressionar Kyoko. Ele sabia que ela pensava nele como um amigo, mas queria ser muito mais. Quem dera que ela abrisse os olhos e visse a devoção que ele lhe oferecia! Nunca haveria um homem que pudesse amá-la mais do que ele. Não era possível.

Suki sorriu ao ouvir que ele conhecia o barman e pediu a Tasuki que trouxesse para todos um chá gelado Long Island. Tasuki deu uma piscadinha envergonhada para Kyoko, balançando a cabeça e dizendo que ele voltaria logo. Ele foi buscar as bebidas das meninas o mais rápido possível.

Os olhos de Kyoko se arregalaram quando ela olhou para Suki.

— Chá gelado Long Island? Mas somos...

Suki acenou, como que para calar Kyoko.

— Qual é, Kyoko? Viva um pouco! As provas acabaram e, além disso, já bebemos antes — Suki tentou animar Kyoko, sorrindo e revirando os olhos. Querendo mudar de assunto, acrescentou:

— Tenho que admitir, Kyoko, que com esta roupa e corpão, você não parece menor de idade. - Ela riu alto do olhar assustado no rosto de Kyoko.

Cética, Kyoko olhou para Suki.

— Duas vezes, Suki. Bebi duas vezes e quase não lembro delas, e não preciso me vestir assim para provar que sou de maior. - Kyoko corou com o que conseguiu lembrar do seu último aniversário. Por causa de Suki, ela não lembrava da sua própria festa de aniversário.

Lembrou-se da tigela gigantesca de frutas que Suki tinha entregue com um sorriso tão inocente. Ela conhecia a queda de Kyoko por frutas e se aproveitou disso. Kyoko tinha comido quase a tigela inteira sem perceber que tinha sido mergulhada em álcool.

— Ela vai me encrencar novamente... tenho certeza! — choramingou Kyoko silenciosamente consigo mesma e mentalmente admitiu sua derrota. Os outros sempre brincavam sobre aquela noite, algo sobre Kyoko se esquecendo de como andar ou falar!

Suki riu, dando de ombros.

— Então, esta é a terceira vez - sorriu feliz para Tasuki enquanto ele trazia as bebidas, agarrando uma ansiosamente para si.

Kyoko mordeu os lábios e depois murmurou algo sobre "três erros e você está fora", mas se virou e sorriu para Tasuki de qualquer maneira. Afinal, havia uma coisa chamada pressão dos colegas, e sendo a otária que era, ela cedeu.

— Três chás gelados Long Island como pedido — Tasuki sentou-se entre as meninas e tomou um gole de sua bebida. Ele sentiu que o calor de repente aumentava no ambiente porque a bebida era muito forte. Olhando por cima de Kyoko, ele avistou o primo atrás do bar. O sorriso malicioso no rosto de seu primo o deixou saber que as bebidas eram mais fortes do que o normal.

Tasuki sacudiu a cabeça e olhou para as garotas.

— Às provas finais, que possamos passar em todas com louvor — brindou. Depois, olhando nos olhos de Kyoko acrescentou: — E que nunca percamos contato uns com os outros, não importa o que aconteça.

 

Kyoko corou e sorriu timidamente enquanto pegava a bebida da mão estendida dele. Apressadamente tomando um gole, os olhos dela se arregalaram quando decidiu que realmente gostava do sabor.

— Se você não pode vencê-los, junte-se a eles — piscou ela para Suki com bom humor.

Ela colocou um canudo na bebida e, nos próximos dez minutos entre risos e gargalhadas, o chá gelado sumiu. A cor floresceu nas bochechas de Kyoko, pois os efeitos do álcool começaram lentamente a fluir em seu corpo.

Tasuki, tendo bebido o seu tão rápido como Kyoko, agora se sentia mais à vontade e um pouco mais ousado quando perguntou às garotas se queriam dançar. Seus olhos escureceram atrativamente quando ele pegou a mão de Kyoko e a levou para a pista de dança com Suki segurando a outra mão de Kyoko.

Ele sabia que esta noite seria a melhor noite de sua vida na faculdade e nunca esqueceria um único momento.

A poucos metros de distância, Kyou observava o jovem chamado Tasuki se aproximar e pegar a mão da menina de olhos verdes e sentiu a necessidade de arrancar os dedos ofensivos do jovem que ousava tocá-la. Os sentimentos inocentes do homem pela menina podiam ser lidos claramente em seus olhos e pensamentos, mas ele ainda não confiava nele.

Kyou já viu esta história muitas vezes observando a vida noturna. Um jovem que dá uma bebida à garota e depois se aproveita da sua ingenuidade. Seus olhos ficaram carmim enquanto observava o menino levar as garotas para a pista de dança. Kyou sentiu a necessidade de levar a menina de cabelo castanho-avermelhado e escondê-la de qualquer pessoa que a prejudicasse ou desejasse possuí-la.

Ele ficou se perguntando sobre sua própria possessividade em relação à menina. Se ela fosse a que guardava o Cristal do Coração Guardião, o que ele deveria fazer? Uma coisa Kyou sabia com certeza: antes que ele deixasse Hyakuhei tê-la, ele a mataria primeiro com suas próprias mãos.

Se a lenda fosse verdadeira e Hyakuhei pusesse as mãos no poder do Cristal do Coração Guardião, não haveria como detê-lo.

*****

Kamui sentou-se invisível, em cima de um dos grandes alto-falantes em frente ao DJ enquanto observava a pista de dança onde Kyoko e Suki estavam dançando com um jovem. Ele ergueu uma sobrancelha quando percebeu quem o homem era. Um sorriso muito secreto inclinou seus lábios vendo o tom de ametista que se apegava ao menino.

Sua atenção se voltou para o outro homem que estava perseguindo a sacerdotisa. Ele já tentou impedir a atração uma vez antes, quando Kyoko ainda estava na fila, mas o guardião mais antigo era sempre muito teimoso. As vibrações que Kyou estava provocando eram pesadas e ligeiramente tingidas.

— Kyou, no que está pensando? — perguntou Kamui a sim mesmo em voz alta sabendo que não podia ser ouvido ou visto. Observando Kyou olhando para Kyoko, ele reconheceu o destino quando o viu. O destino sempre atraiu os guardiões para a sua sacerdotisa, independentemente de qual mundo ou qual vida.

Ele secretamente desejava que pudesse ter arranjado uma situação em que Toya e Kyou se veriam, mas sabia bem que não poderia usar um de seus poderes em Kyou. Ele sentiu arrepios frios subindo em seu braço ao pensar em irritar o perigoso guardião dourado.

Seu olhar examinou a multidão novamente sabendo que Kyou não era o único com quem deveria estar preocupado. Havia outros na boate que não eram humanos, mas ele pôde sentir a verdadeira treva se aproximando a cada minuto. Ele se perguntou se Kyou também conseguia sentir.

Kamui assentiu para si mesmo. A melhor coisa que ele poderia fazer por enquanto era ajudar a esconder os poderes de Kyoko de olhos curiosos. Com esse pensamento, ele pulou dos alto-falantes, mas seus pés nunca atingiram o chão do clube de dança.

Capítulo 4

Quando o trio entrou na pista de dança lotada, Suki e Kyoko imediatamente começaram a se mexer ao ritmo da música, deixando Tasuki observando com fascínio. Os corpos aquecidos ao redor deles trouxeram rubor aos seus rostos à medida que o álcool fluía por suas veias.

O corpo de Suki aproximou-se do corpo de Kyoko enquanto elas envolviam os braços no pescoço uma da outra e começaram a dançar juntinho. Rindo das travessuras delas mesmas, elas dançaram como namoradas se perdendo no ritmo da música. Elas aprenderam a dançar assim na escola primária há muito tempo.

Mergulhadas no momento de pura e inocente diversão, as meninas logo se esqueceram de seu terceiro companheiro.

Tasuki olhou para as duas amigas dançando apaixonadamente e sentiu o calor aquecer seu rosto.

— Caramba! — Seu corpo estava reagindo à cena diante de si. Sentiu como se a respiração tivesse sido arrancada de seus pulmões. Observar o corpo de Kyoko se esfregar contra o corpo de Suki enquanto as mãos delas alisavam seus corpos era quase mais do que ele podia suportar.

Decidindo que queria entrar na diversão, Tasuki obrigou seus pés a se moverem antes que ele perdesse a coragem.

Parando logo na frente de Kyoko, ele pôde ver seus olhos fechados enquanto ela se movia contra Suki. Seu olhar se fixou em Suki, ela sorriu e foi para trás de Kyoko, lentamente fazendo o caminho de volta, acariciando as coxas de sua amiga. Ela esperava que Tasuki arranjasse coragem suficiente para dançar com Kyoko assim.

— Por que não dança com a gente? É divertido para caramba! — Ela ria enquanto agarrava Tasuki pelo cós do cinto, puxando-o de encontro ao corpo de Kyoko.

Os olhos de Kyoko se arregalaram com o choque de sentir que um corpo firme, definitivamente masculino, encostou no dela de uma maneira muito íntima. Um rubor queimou suas bochechas quando percebeu que Tasuki estava segurando-a bem apertado.

— Ei — sorriu ela timidamente, vendo que gostava da sensação do corpo de Tasuki contra o dela. Ela sabia que poderia confiar, pois ele não passaria dos limites. Ele sempre foi um cavalheiro.

Sentindo-se um pouco ousada, Kyoko continuou a dançar com Suki movendo-se atrás dela enquanto colocava uma mão no ombro de Tasuki, silenciosamente encorajando-o.

Tasuki não precisava de mais incentivo. Segurou os quadris de Kyoko e começou a se mover com o corpo dela. Ele sentiu como se estivesse no céu, tendo a garota de seus sonhos dançando sedutoramente com ele. Sentir cada curva do corpo dela se esfregar contra o dele era uma doce tortura que ele nunca experimentara.

Seus olhos castanhos suavizaram sensualmente enquanto seu corpo inteiro parecia estar em chamas e ele queria sentir a Kyoko o máximo possível. Pressionando seu corpo ainda mais ao de Kyoko, ele começou a se esfregar nela, movendo seu corpo quente com o dela como um amante perdido há muito tempo.

Kyoko olhou nos olhos de Tasuki e percebeu pela primeira vez que havia lindos flocos de ametista polvilhados em seus orbes de chocolate.

— Lindo... — foi a única palavra que veio à mente. Quanto mais ela olhava, mais ele a fazia se lembrar de Shinbe.

*****

O humor de Toya não havia melhorado nem um pouco depois de ir ao dojo da faculdade na esperança de liberar o estresse. Ele decidiu que seria melhor sair rapidamente assim que viu que havia destruído o saco de pancada de quinhentos dólares. Não é culpa dele ter imaginado o rosto de Kotaro enquanto batia nele.

— Garota idiota! — rosnou ele. — Por que ela tinha que ser sempre tão difícil de lidar? — Ele lançou um olhar feroz para nada em particular enquanto pensou no irritante guarda de segurança com o qual Kyoko tinha saído.

Ele ainda se sentia lívido quando ouvira a voz de Kotaro no apartamento de Kyoko mais cedo. Nada seria melhor do que arrancar a cabeça do homem e jogá-la onde o sol nunca alcançaria. Toya sempre teve um sexto sentido sobre as coisas e seus sentimentos lhe diziam que Kotaro não era o que parecia ser.

— Um lobo vestido em pele de cordeiro, isso que ele é — sorriu, depois sentiu um pouco de culpa porque ele também escondeu coisas de Kyoko. Coisas que ele mesmo não conseguia explicar.

Quando criança, ele tinha aprendido a ocultar suas habilidades incomuns dos outros, habilidades como a força e velocidade inumanas, bem como seus sentidos de olfato e visão. O único problema era que os poderes iam e vinham como queriam. Ele não conseguia invocá-los de repente e talvez isso fosse uma coisa boa.

Perdido em pensamentos, Toya sentiu a pele formigar quando viu o guarda encostado na porta do prédio de segurança.

— Falando do diabo e ele aparece — Toya fuzilou o olhar para Kotaro, quase passando por ele, e depois parou de repente. — O que diabos está fazendo aqui? — rosnou ele.

Kotaro ergueu-se a toda a altura e caminhou até onde o suposto acompanhante de Kyoko estava, grunhindo para ele. Olhando ao redor e não a vendo em lugar nenhum, seu comportamento descontraído tornou-se tenso e Kotaro perfurou Toya com um olhar irritado.

— Onde está Kyoko? Pensei que ela estivesse com você esta noite.

Se tinha uma coisa que Toya odiava era ser confundido e agora ele não estava com a mínima vontade de o ser.

— Seu babaca! Pensei que ela tivesse saído com você — falou ele sem pensar.

A paciência de Kotaro agora estava seriamente esgotada. Kyoko disse que iria sair com Toya e ela havia mentido.

— Droga!

Sem nem dar uma olhada para Toya, ele saiu na direção em que Kyoko mora, esforçando-se contra a necessidade de usar sua velocidade sobrenatural. Por que ela mentiu para ele? Se ele soubesse que ela não estava com o idiota, ele a teria seguido.

Toya sentiu um momento de pânico quando viu que a preocupação se infiltrava nos olhos de seu rival e a maneira como ele partira a uma velocidade vertiginosa não o fez se sentir melhor. Algo dentro dele confiava em Kotaro completamente, mas ele nunca lhe diria isso.

Sem sequer pensar no que estava fazendo, ele partiu depois de Kotaro para ver aonde ele estava indo. Facilmente alcançando-o, mas notando a velocidade em que ambos estavam andando, algumas das suspeitas de Toya foram confirmadas. Kotaro era mais do que parecia ser. Eles tinham o mesmo DNA ou algo assim? — rangeu os dentes, detestando esse pensamento.

Dentro de um minuto, Kotaro estava batendo na porta do apartamento de Kyoko esperando com todas as forças que ela estivesse lá. Espancando as duas palmas contra a porta inocente, ele gritou:

— Droga, Kyoko! Onde você está? — O temor e a preocupação se infiltraram em cada poro de seu ser. — Isso não é bom — resmungou.

— O que não é bom? — Toya quis ficar logo atrás de Kotaro.

A intensidade das vibrações que Kotaro estava liberando estava fazendo o peito de Toya doer. Se ele soubesse que Kyoko não estava com Kotaro, ele teria vindo apenas para estar perto dela. Ele deveria ter seguido seus instintos e ido mesmo assim. Ele teria que colocar uma maldita coleira naquela garota mais cedo ou mais tarde.

Kotaro se virou, tendo esquecido completamente de Toya devido à pressa para chegar até Kyoko. Agora, tendo alguém em quem descontar sua raiva, ele atacou:

— Pensei que ela estava com você! — Kotaro apertou o punho e guardou a raiva dentro de si antes de ir longe demais. — E como diabos você conseguiu manter meu ritmo? Não importa, não responda.

Toya olhou para ele, surpreso pelo guarda de segurança ter percebido, mas deu de ombros.

— Sou só um idiota rápido.

Acalmando sua metade dominante, Kotaro abriu os olhos azuis e penetrantes, fixando-os na pessoa que o ajudaria a encontrar "sua Kyoko". Já era ruim o suficiente Toya não ter renascido um vampiro para que pudessem descontar a raiva brigando, mas agora Toya estava recuperando suas habilidades do passado e não tinha ideia do porquê. Para piorar as coisas, o melhor amigo de Toya era Shinbe e Shinbe também não tinha ideia de seu passado.

Kotaro esmagou a palma da mão contra sua testa, perguntando-se por que diabos ele confiou em Toya para cuidar dela, pela segunda vez, quando ele havia falhado na primeira. O fato de Toya não se lembrar de nada impedia que Kotaro desabafasse. Ele inalou profundamente, absorvendo a verdade. Ambos falharam com ela. Seus lábios se estreitaram enquanto ele olhava em silêncio.

 

Toya deu um sorriso meio sincero.

— Então, ela mentiu para você e te dispensou dizendo que estava saindo COMIGO. Ha! — Mesmo sabendo que ela tinha feito o mesmo com ele, ele não deixaria Kotaro saber disso.

Kotaro respirou fundo novamente, tentando manter seu temperamento sob controle. Era como falar com uma maldita criança.

— Isto não é uma droga de jogo, pirralho. Garotas estão desaparecendo a torto e a direito no campus e na cidade há mais de um mês. Agora, nenhum de nós sabe onde Kyoko está. — Kotaro podia ouvir o pânico em sua própria voz, mas ignorou. — Você tem alguma ideia para onde ela poderia ter escapado?

Toya podia sentir seu peito se esmagando com preocupação pensando que Kyoko estava em perigo.

— Droga! — virou-se para a porta de Suki e começou a bater até que ele ouviu a porta fazer um ligeiro som de quebra, fazendo-o aliviar as batidas. Ninguém atendeu.

— Merda! — Quase em estado de pânico, Toya procurou seu telefone celular esperando que Shinbe soubesse onde as meninas estavam. — Atende, seu tarado! — gritou ele para o telefone que ainda estava tocando. Depois do quarto toque, Shinbe finalmente atendeu.

— Shinbe! Você sabe onde Suki e Kyoko estão? — Ele deu uma olhada para Kotaro quando ele se aproximou como se estivesse esperando para ouvir a resposta.

Na outra extremidade do telefone, Shinbe deu um sorriso esclarecedor.

—Talvez...

*****

Kyou ficou escondido na escuridão enquanto observava a menina com seus amigos. Ele ficou sabendo que seu nome era Kyoko ao ouvir sua conversa. Até o momento, o menino chamado Tasuki tinha mantido as mãos quietas, o que era bom, considerando que Kyou decidiu deixá-lo viver, desde que ele não se aproximasse demais dela. Ele parecia inofensivo o suficiente, mas um pouco apaixonado demais por ela.

Chegaram à pista de dança e a menina e a amiga tinham começado a dançar juntas. A forma como elas estavam dançando era indecente.

— Deve ser o álcool que ela consumiu tão rapidamente — ele teve dificuldade em acreditar o contrário.

Um grunhido baixo vibrou em seu peito quando sua visão foi obstruída por um grupo de malandros humanos. Ouvindo seu aviso e depois vendo o congelante olhar dourado que ele enviou, eles rapidamente foram para o outro lado da boate. Os cantos dos lábios de Kyou indicavam um sorriso divertido quando ele viu o jeito como os malandros saíram em disparada.

Ele voltou sua atenção para a pista de dança, se concentrando na jovem que o deixava perplexo. A visão que teve fez seu sangue ferver com ira. Um grunhido cruel surgiu de algum lugar desconhecido enquanto olhos dourados zangados piscavam vermelho de sangue.

O inofensivo Tasuki estava dançando com Kyoko como se estivesse seduzindo-a.

*******

Kyoko foi se perdendo na sensação das mãos de Tasuki sobre seus quadris, acariciando a pele nua na cintura dela quando ele assumiu o controle da dança. Ele realmente estava sexy com o cabelo desarrumado e com a dança sensual que estavam fazendo. Uma risadinha escapou de seus lábios quando pensou nisso.

Ao senti-lo acariciar sua pele na base de sua coluna, ela notou que os olhos do rapaz estavam quase completamente pura ametista.

Suki, decidindo que precisava de algo frio e molhado, bateu na bunda de Kyoko.

— Ei, vocês dois! Preciso de algo refrescante - riu de sua frase tola enquanto arrastava o casal para a mesa que haviam ocupado anteriormente na esperança de outra bebida.

*****

Kyou estava tentando desesperadamente acalmar seu sangue furioso. Seu nervo de ferro e conduta calma desapareceram completamente ao testemunhar o garoto Tasuki dançando com Kyoko como se ele fosse seu amante.

Nos recessos de sua mente, ele sabia que precisava acalmar-se rapidamente, caso contrário, Hyakuhei sentiria sua presença, se ele ainda não o tivesse feito. Respirando fundo para se acalmar, ele mentalmente repreendeu-se por sua tolice.

Durante séculos, ele havia sido um demônio da noite, frio e indiferente. Sua determinação era como uma montanha que nunca oscilava e jamais poderia ser forçada à submissão. Suas emoções eram mantidas pelo seu exterior frio e inquebrável por uma razão, para que ele pudesse esconder sua aura do verdadeiro inimigo.

Em uma noite, a presença de uma jovem, além de inocente e pura, tinha feito ele vacilar pela primeira vez em sua vida de morto-vivo.

Indiferentes ao enfurecido vampiro de cabelos prateados, o trio voltou para suas cadeiras. O riso inocente de Kyoko flutuou para ele, mal acalmando sua raiva. Sua tensão aliviou um pouco e ele se questionou por que havia reagido de forma tão possessiva em relação à garota.

Seu olhar estreitou-se, atirando punhais ao menino com ela, prometendo uma morte lenta e agonizante se ele sequer demonstrasse sair da linha de novo. Ela precisava de um guardião.

Kyou não conseguia entender a imensa força que ela exercia sobre ele, mas observá-la tornou-se um vício. Sua beleza e inocência o hipnotizaram e ele começou a se perguntar se sua pele era tão suave quanto parecia. Se zangou ao ver outro copo de bebida colorida parar diante dela.

Com cada gole que ela tomava, o resplendor da luz pura que a rodeava parecia vacilar e enfraquecer. Já estava bem mais difícil detectá-la. Se ela continuasse a beber a água do diabo diante de si, logo ela iria cair na escuridão.

Como se estivesse desafiando-o, ele viu quando a menina tirou o canudo do copo e drenou o resto do líquido poluído.

Kyou fez algo que não fazia há séculos: sorriu, sabendo agora que o segredo dela estaria a salvo do mal que tinha acabado de entrar na boate. Talvez esconder a aura pura de uma menina tão impossivelmente inocente e linda não era tão ruim, afinal.

Kyou recuou para as sombras assim que seu inimigo emergiu delas.

*****

Hyakuhei atravessou a porta sem dar atenção aos mínios que seguiam em sua sombra. Eles poderiam procurar sua própria diversão hoje. Eles só prejudicariam seus planos se ele permitisse que os mínios se juntassem a ele. Seus olhos carmim avistaram a demonstração de corpos quentes diante de si com interesse.

Ele havia sentido vida aqui, escondida em algum lugar entre os humanos. A vida tinha chamado por ele como um amante que anseia por seu toque, mas agora a sensação de carícia quase acabara, como se fosse extinta.

Ele havia se alimentado bem na noite anterior e não estava sentindo nenhuma necessidade de se alimentar. Não, hoje ele tinha outra coisa em mente. Esta cidade guardava o poder do lendário Cristal do Coração Guardião, ele tinha certeza.

Todas as estradas que ele pegou, buscando a luz escondida, o levaram até aqui. Mesmo agora, ele podia sentir uma luz esquiva escondida sob a escuridão enquanto ele se encostava na parede, observando os humanos.

Vários dos mortais inocentes já o haviam notado e ele sabia que eles iriam até ele, oferecendo suas almas por engano.

A simples atração pelo alto, sombrio e bonito sempre facilitava capturar sua presa. Seus longos cabelos escuros fluíam ao redor dele em ondas, como pano de fundo para sua aparência incomparável. Ele podia sentir a luxúria emanando dos humanos, mas hoje à noite ele não lhe deu atenção.

Às vezes, ele transformava uma alma inocente só para matá-la na noite seguinte. Ele só dava o dom da vida eterna quando lhe era útil e isso acontecia apenas uma vez em cada século. Mas esta noite, ele iria procurar alguém que o ajudaria em sua busca para determinar quem guardava o Cristal do Coração Guardião.