Uma Luz No Coração Da Escuridão

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Os olhos do Hyakuhei escureciam com seus pensamentos. A última vez que chegou tão perto do misterioso cristal da lenda, a menina que carregava o cristal poderoso detectou sua intenção. Antes que ele pudesse detê-la, ela se matou, levando o cristal consigo, além do alcance dele mais uma vez.

A mente dele voltou para o presente, com um sentimento de anseio. Tinha sido um grande desperdício, pois a jovem tinha uma beleza e pureza incomparáveis e imaculadas. Seu corpo esguio não fazia nenhum movimento enquanto ele vislumbrava vagarosamente a multidão, com seus olhos da meia-noite.

O cristal só reaparecia a cada mil anos, de acordo com os pergaminhos que ele havia tirado do mago Shinbe, antes de tomar sua vida. Seus lábios insinuavam um sorriso cruel, lembrando-se daquele crime em particular, muito delicioso.

Contando os anos a partir daquele momento, a donzela escolhida que agora guardava o cristal perto de seu coração teria vinte e um anos, possivelmente um pouco mais nova. Hyakuhei sentira isso na vizinhança da universidade e agora aqui na multidão de universitários na boate.

O fato de que esta cidade foi construída no mesmo terreno onde o cristal tinha desaparecido apenas comprovava que seria o mesmo lugar para o seu renascimento.

Se ele não achasse quem guarda o Cristal do Coração Guardião, recrutaria alguém que fosse aceito entre os jovens e o ajudaria em sua procura. Uma pessoa não humana, uma criatura da noite, acima de tudo, poderia detectar o poder que ele queria e desejava para si mesmo.

Um sorriso malicioso agraciou seus lábios perfeitos em antecipação da excitação da caçada. Tendo chamado seus filhos mais favorecidos para se juntarem a ele, desta vez ele teria o que desejava. Ele estava na escuridão tempo demais e até mesmo as coisas mais prazerosas começaram a aborrecê-lo.

Hyakuhei queria algo novo e um desafio era exatamente o que precisava para despertá-lo de sua vida de sono. Ele pôde sentir vagamente uma perturbação no ar e sorriu com entendimento. Não haveria nenhuma pressa, pois o que é o tempo para um vampiro?

*****

Tasuki viu com surpresa Kyoko acabar com o último gole de seu chá gelado. Seus olhos agora castanhos e suaves olharam para sua própria bebida que ainda estava cheia, um olhar preocupado em seu rosto.

— Ah, Kyoko, se você está com sede, posso buscar chá de verdade no bar, se quiser — sorriu ele sorriu ao ver Kyoko corar por ter percebido o que ela acabara de fazer.

Suki ergueu uma sobrancelha quando notou o copo vazio de Kyoko e se encolheu interiormente sabendo que Kyoko a mataria com felicidade por causa da ressaca. Ela deu um encolher de ombros mental, convencendo-se de que esta noite eles estavam comemorando e Kyoko a perdoaria, algum dia.

Olhando para Tasuki com a melhor expressão de "Por favor me ajude, estou com problemas", Suki concordou.

— Acho que pode ser uma boa ideia. — Ela piscou para ele com um ar de travessura, encorajando-o.

Ela sempre gostou de Tasuki e muitas vezes desejava que Kyoko saísse com ele mais vezes, em vez de Toya, de quem ela gostava, mas ele nem sempre tratava Kyoko tão bem como deveria. Ela estava contente por Kyoko receber o que dá e por não deixar Toya oprimi-la.

E também havia Kotaro, que poderia ir embora com a Kyoko e se casar com ela, se tivesse uma chance. Ele era legal e a tratava como uma deusa, mas Suki não estava confortável com a ideia de perder sua melhor amiga também.

Os olhos de Suki iluminaram-se ao pensar em armar para Tasuki e Kyoko ficarem juntos, especialmente depois do jeito como eles haviam dançado agorinha. Ela não se deixaria enganar, pois Kyoko podia ser bem assustadora quando fica muito zangada. A garota teria que ter coragem para namorar dois cabeças quentes como aqueles com que ela convivia. O sorriso de Suki suavizou ao pensar em seu próprio namorado, embora ela nunca admitiria tal título.

Shinbe era tão louco quanto os dois amigos de Kyoko, se não fosse mais louco ainda.

Trazendo seus pensamentos de volta ao presente, Suki levantou-se com um sorriso dissimulado.

— Vou falar com o DJ para tocar minha música favorita, já volto! — Com isto, ela deixou os dois a sós. Secretamente, ela esperava que o tempo a sós acendesse uma pequena chama ardente entre os dois.

Kyoko olhou para Tasuki, se sentindo com a cabeça vazia, e sorriu com culpa.

— Eu adoraria um chá, ou talvez um café seria ainda melhor. Mas, às vezes, a cafeína é quase tão ruim quanto o álcool. — Ela riu de sua própria piada. — Se você não se importa em comprar enquanto vou ao banheiro. — Ela pegou a mão estendida de Tasuki e o deixou ajudá-la a se levantar.

Kyoko piscou rapidamente quando as coisas começaram a parecer um pouco distorcidas e depois deu uma risadinha.

— Já volto. — Ela olhou para as paredes, procurando a direção do banheiro. Ao vê-lo mais perto da porta da frente, ela saiu, esperando não parecer tão bamba quanto sentia. Talvez se ela jogasse um pouco de água fria no rosto e não bebesse mais álcool esta noite, tudo ficaria bem.

O corpo de Kyou ficou tenso quando viu a cabeça da menina ir direto para o último lugar que queria que ela fosse: a entrada e o inimigo. Com seus assombrados olhos dourados matizados de rosa e com um rosnado agravado, sua forma desapareceu, como se ele nunca tivesse estado lá.

A mente enevoada de Kyoko se perguntou por que eles colocaram os banheiros lá na frente, perto da porta, enquanto ela via uma horda de gente que ainda entrava na boate. Alguns dos recém-chegados pareciam já estar em ritmo de festa, e o ruído dentro do salão de dança estava amplificado.

Yohji, um dos caras do campus, veio tropeçando, não vendo para onde estava indo. Seu irmão já o havia convencido a ir a alguns bares no fim da rua mais cedo e eles acabaram de sair do último para tentar este. Quando ele se virou para chamar seu irmão mais novo, Hitomi, ele esbarrou num corpo macio e quente.

Ouvindo um gritinho feminino, Yohji instantaneamente estendeu a mão e a pegou com os dois braços. Quando seus olhos se acenderam no rosto daquela que ele segurava, um sorriso selvagem se espalhou por seus lábios.

— Kyoko?

Quando a boate resolveu parar de girar e ficou nítida de novo, Kyoko olhou para o cara que esbarrou nela e depois deu um de herói tudo ao mesmo tempo.

— Yohji? Oi... — Kyoko corou quando ele a abraçou mais forte e ela imediatamente tentou se esquivar.

Nada bom! Nada bom — repetiu ela em algum lugar dentro de sua cabeça. Ela podia ouvir o alarme interno alto e claro.

Ela já havia encontrado várias vezes com Yohji na escola e, apesar dele ser bastante popular com as garotas, sendo extremamente bonitão e tudo o mais, ela sempre tentou evitá-lo. Ele era muito agressivo para o seu gosto e ela escolheu ficar bem longe dele e do grupo com o qual ele andava.

— Estou bem agora, Yohji, então você pode me soltar — sorriu ela, escondendo sua ansiedade, tentando ficar calma e não fazer cena.

Yohji não cedeu e deu um sorriso corrompido ao ver o desconforto da menina.

— Por que eu te soltaria agora que finalmente te tenho nos meus braços, Kyoko?

Seus olhos já estavam cheios de desejo, enquanto seu rosto tomava ares de um predador. Ele já estava atrás dela há muito tempo e ela nunca lhe dava uma chance. Bem, agora que seus dois guarda-costas não estavam por perto para detê-lo, ela não iria embora tão facilmente.

Hyakuhei viu a cena acontecendo a poucos metros dele com interesse. Ele podia ver o homem perfeitamente, mas só conseguia ver as costas da garota.

— Aquela garota... — Seus olhos ganharam um brilho misterioso enquanto ele a observava. Ele podia sentir tão bem o cheiro do nervosismo e da pureza de Kyoko que isso estava superando seus sentidos.

Quanto ao cara que a segurava, seu desejo era tão espesso no ar que dava até para sentir o gosto. Os olhos de Hyakuhei se estreitaram quando a necessidade de matar o punk começou a queimar dentro de suas veias. Ele começou a avançar apenas para dar de encontro com um escudo de poeira de arco-íris bloqueando seu caminho. O brilho calmante se instalou quando ele se recostou contra a parede mais uma vez estreitando os olhos com desconfiança. Ela foi protegida pelo imortal?

Ele estendeu a mão e tocou o que restava da barreira e deixou que o sentimento calmante o banhasse. Um efeito tão calmo não suprimiria as suas más intenções por muito tempo.

— Garotinhos e seus jogos — sorriu ele quando seus olhos da meia-noite se voltaram para a garota.

A aura dela o pegou completamente desprevenido. Seu olhar percorreu o corpo adorável dela e a pele que brilhava como o orvalho em flor antes da primeira luz do amanhecer. A necessidade de tocá-la sobrecarregou seus sentidos e ele tomou outro passo desconhecido em direção a ela. Desta vez, ignorando o escudo de brilho protetor do imortal.

Quando ele estava prestes a pegar a menina em seus próprios braços, outra onda de possessividade o atingiu como um golpe físico. A aura familiar acariciava seus sentidos, uma que ele não sentira em décadas. Dando uma última olhada na garota que ele havia mentalmente tomado para si, seus olhos escuros se suavizaram brevemente ao tomar uma decisão. Ele a teria, em breve.

Um sorriso inclinou seus lábios astutos enquanto ele recuava na escuridão, fora de vista.

— Então, meu errático Kyou decidiu se juntar ao jogo. Deixe-me ver quais são realmente suas intenções.

 

******

Toya entrou rasgando no apartamento que ele compartilhava com Shinbe, mas quando ele não viu seu amigo, começou imediatamente a gritar.

— Shinbe, onde diabos você está? — Sua raiva era imensa e, por razões óbvias, ele tinha um mal pressentimento sobre a segurança de Kyoko, especialmente depois que Kotaro o informou sobre as outras garotas desaparecidas, tantas garotas.

Seus nervos já estavam a toda e, se ele não colocasse os olhos em Kyoko em breve, ele iria quebrar alguma coisa. Mas, quando ele colocasse os olhos nela, ela teria muita sorte se ele a deixasse sair de sua vista novamente. Se fosse para ele escolher, ele a amarraria permanentemente para tê-la sob sua custódia.

Shinbe saiu do banheiro abotoando sua camisa azul gelo e estava com ares de que iria para algum lugar.

— Estou aqui, qual é a emergência? — Ele se sentou no sofá e começou a colocar os sapatos como se nada o incomodasse.

Kotaro ficou em pé atrás de Toya esperando para ver se Shinbe tinha alguma informação sobre o paradeiro de Kyoko. Inclinando-se contra o balcão da cozinha, ele observou enquanto Toya se elevava sobre Shinbe.

Se Toya lembrasse o que Shinbe fizera por ele no passado, ele provavelmente demonstraria mais respeito ao homem. Kotaro inclinou a cabeça em um ângulo divertido, repensando nisso. Não, ele não faria — se corrigiu ele. Observar o temperamento do menino explodir teria sido divertido se Kyoko não estivesse desaparecida.

— Perdi Kyoko e agora também não consigo encontrar a Suki! — Toya se contraiu quando Shinbe nem olhou para ele.

O sorriso presunçoso de Shinbe estava definitivamente dando nos nervos de Toya. Se Shinbe já não estivesse com apenas meio cérebro de tanto apanhar de Suki, Toya teria aumentado o dano cerebral. Mas agora ele queria que seu amigo ficasse consciente e respondesse suas perguntas.

Shinbe terminou de amarrar seus sapatos sabendo que Suki o odiaria por isso, mas ele não se importava. Ele a compensaria depois. Eles sempre se divertiram depois de uma briga. Seu olhar se perdeu neste pensamento agradável. Fazer as pazes seria legal...

Ouvindo um grunhido perigoso, Shinbe rapidamente voltou sua atenção para o amigo, levantando uma sobrancelha calmamente.

— Quê?

— Shinbe, que droga! Não estou brincando! Onde diabos estão Suki e Kyoko? — Toya surtou, seus olhos dourados perfurando seu amigo como uma faca. Se Shinbe não o respondesse logo, ele sabia que iria explodir.

Shinbe franziu a testa confuso quando notou Kotaro encostado na bancada. Toya e o chefe da segurança nem se toleravam, muito menos saíam juntos. Seu peito apertou.

— Não sei com certeza, mas Suki me dispensou esta noite dizendo que estava saindo com uma amiga, mas não me disse com quem.

Quando Toya começou a xingar novamente, Shinbe levantou-se.

— Espera, não terminei, então não surte. Enquanto eu estava no apartamento dela antes, vi um folheto em seu balcão sobre a Midnight Club e a data de hoje estava circulada. Ele sorriu lascivamente.

— Eu estava me arrumando para ir lá e ver se eu a encontrava.

Kotaro suspirou enquanto Toya começava a vociferar algo sobre garotas idiotas. Não querendo perder tempo, ele se virou para a porta.

— Obrigado, Shinbe — disse ele sobre o ombro enquanto saía agora mais preocupado do que nunca. Ele só esperava que Kamui estivesse com ela, protegendo-a de alguma forma.

Shinbe inclinou a cabeça para o lado olhando sobre o ombro de Toya quando Kotaro partiu, e então ele se endireitou para franzir a testa para Toya.

— O que está acontecendo e por que Kotaro estava aqui? — A preocupação brilhou em seus olhos de ametista. Ele sempre gostou de Kotaro, mas não podia confessar isso a Toya sem ser rotulado como um traidor.

Toya tirou as chaves do bar enquanto respondeu:

— Vou te contar no caminho.

Ele virou-se e partiu para a porta, sequer se preocupando se Shinbe estava indo atrás. Ele odiava estar sem Kyoko. Isso sempre fazia com que ele se sentisse confuso. Era hora de encontrá-la e colocá-la de volta no seu lugar: ao lado dele.

Capítulo 5

Kyoko não gostou da forma como Yohji estava reagindo ao rubor dela e sentiu seu ressentimento começar a surgir. Empurrando o máximo que pôde com as palmas das mãos pressionadas contra o peito dele, seus olhos dispararam faíscas irritadas enquanto tentava novamente fazê-lo soltá-la.

— Olha, quero que me solte agora, Yohji! Estou aqui com alguém. — Seus olhos se arregalaram quando ele simplesmente deu uma olhada presunçosa e a prendeu de novo.

— Merda! - Kyoko enfureceu-se e pisou forte com o pé, tentando atingir o dedo do pé de Yohji.

Do outro lado do salão, Tasuki levava um chá normal de volta à mesa. Olhando para a porta para ver se ele podia detectar Kyoko, seus olhos escureceram ao notar que Yohji a assediava. A maioria das pessoas que o conhecia acreditava que Tasuki era um típico americano, meigo, companheiro e o mais popular na escola, mas ele tinha um temperamento oculto.

Yohji estava à beira de testemunhar isso se ele não tirasse as mãos de Kyoko.

A ira de Tasuki estava estampada em seu rosto enquanto ele atravessava o salão para resgatar sua doce Kyoko. Ele sabia, depois de ouvir outros conversarem na faculdade, que Yohji e seu irmão eram agressivos com as meninas e até foram acusados de estupro mais de uma vez.

Quando ele se aproximou deles, viu o irmão de Yohji, Hitomi, ao lado dele, mas Tasuki não deixou que isso o impedisse. Aqueles dois caras eram venenosos e ele sabia disso. Os olhos de Tasuki ganharam uma sombra iluminada de ametista enquanto avançava. Sua adrenalina estava alta e ele travou os dentes ao ver Kyoko lutar para se libertar.

A sobrancelha de Kyoko começou a se contrair quando a mão de Yohji percorreu suas costas e segurou sua bunda firmemente, forçando-a a encaixar-se nele. Ela podia sentir sua lascívia enquanto ele sorriu maliciosamente para ela.

— Chega! — Ela ergueu a mão com tanta rapidez que Yohji nem viu, até que ele ouviu o estalar em sua orelha.

O irmão de Yohji, Hitomi, ouviu o som e se virou para olhar o rosto vermelho de seu irmão. Ele sorriu, entendendo, mas depois olhou por cima de Yohji e viu o menino chamado Tasuki vindo em direção a seu irmão com um olhar lívido no rosto.

Sabendo que seu irmão poderia cuidar da menina relutante sozinho, Hitomi deu um passo para frente e ficou diretamente no caminho de Tasuki.

— Onde pensa que está indo, garotinho?

Tasuki olhou além de Hitomi, seus olhos se chocando com os de Yohji. Ele podia ver a mão de Yohji acariciando Kyoko. Sem pensar, ele jogou todo o seu peso no soco dado no estômago de Hitomi. Para seu espanto, o outro menino mal se moveu.

Sendo muito maior do que o calouro da faculdade, Hitomi deu um soco em Tasuki, fazendo-o voar em direção à parede do corredor. Ele encolheu os ombros, imaginando que o garoto não voltaria e se voltou para ver o seu irmão curtir seu novo brinquedo.

Ver a luta da menina para se soltar trouxe um sorriso aos lábios de Hyakuhei.

— Então, essa garota não é fácil de ser domada. Terei prazer em amansá-la. — Olhando para o jovem que tinha vindo defender a honra de Kyoko, Hyakuhei decidiu quem ele queria como seu mais novo recruta.

Ele rapidamente pegou o garoto chamado Tasuki antes que ele se chocasse com a parede.

Seus sentidos lhe disseram que o menino ainda era puro, virgem. Que estranho. Rapidamente escondendo-os na escuridão para evitar que os outros vissem, Hyakuhei olhou para ele. Ele havia observado como Tasuki interagia com esta menina e várias outras. Ele seria uma boa escolha.

— Bem-vindo à escuridão, meu filho — sussurrou enquanto afundava suas presas na veia de Tasuki. Os olhos de Hyakuhei se arregalaram com o sabor do sangue do menino. Um poder escondido? Tinha gosto de ametista. Ele agarrou o menino mais apertado, querendo mais.

Tasuki tomara o golpe no rosto com segurança, já que tinha tanta adrenalina pulsando dentro de si. Ele planejou revidar, mas, como havia braços o envolvendo por trás, tudo ficou escuro e ele se sentiu paralisado por um medo imediato. Uma voz suave e quase sedutora deu-lhe as boas-vindas à escuridão.

Ele ofegou quando sentiu dentes afiados em seu pescoço. À medida que sua vida se esvaía, seus últimos pensamentos foram em Kyoko e o quanto ele precisava chegar até ela. Ele estava estendendo a mão em uma última tentativa de ir até ela quando o esquecimento veio, tomando seu último suspiro.

*****

A mão de Kyoko ainda queimava do impacto que tinha feito com o rosto de Yohji. Ela queria se encolher agora que podia sentir muitos olhos curiosos sobre ela. Não ajudou nada o fato da bofetada ter soado como um tiro.

Dane-se tudo! Isso foi o que ela tentou evitar, mas não, Yohji tinha que ser um idiota. Falando em idiotas, ele ainda não havia tirado as mãos de cima dela. Ela lentamente olhou de volta para ele. Pelo olhar irritado nos olhos dele, ela viu que ele não planejava soltá-la.

Ela devolveu o olhar enfurecido, esperando para ver se ele revidaria ou a soltaria. Se ela fosse apostar, escolheria a primeira opção.

Kyou sabia que o pequeno tapa de uma garota não era compatível com a lascívia que vinha do cara que a segurava com tanta força. Ele mentalmente destruiu o pervertido por ousar tocar o que ele pretendia reivindicar como sua posse. De repente, tomou uma decisão, não se importando mais se Hyakuhei o detectou ou não. Assim que Kyou se moveu para sair das sombras, com a intenção de afastá-la do assediante, ele ouviu um grunhido profundo.

Momentaneamente atordoado, Kyou sabia que esse tipo de rosnado só pertencia a um licantropo. Seus olhos dourados seguiram o som para sua origem. O som continuava a vibrar da entrada, a apenas alguns metros da menina. A raiva do lobo inundou o corredor cheio de gente.

Os olhos de Kyou se estreitaram na cena, imaginando se ele podia confiar em uma força atemporal estando tão perto da garota. Ele não via um licantropo desde que havia sido transformado pela primeira vez e, depois, ele apenas se distanciou. Se lembrou de ter dito uma vez para Toya que vampiros e lobisomens não se misturavam. Toya perguntou-lhe por que, mas ele não havia respondido porque só estava repetindo as palavras de Hyakuhei e não sabia o motivo.

Kotaro deu uma olhada em Yohji tateando "sua mulher" e enlouqueceu. Num piscar de olhos, Yohji foi arremessado contra a parede com a mão de Kotaro em sua garganta, levantando-o vários centímetros no ar. Ele havia lidado com os irmãos pervertidos antes e onde um estava, o outro sempre seguia.

Seus sentidos estavam em alerta quando sentiu o cheiro de Hitomi e sabia que ele estava vindo por trás. Com um chute bem colocado, Kotaro fez Hitomi voar, para depois cair como um amontoado no chão do corredor. As pessoas se espalharam e o corredor rapidamente ficou vazio.

Kyoko sentou-se no chão com os olhos arregalados, mal acompanhando o que acabava de acontecer, já que foi tudo muito rápido. Seu olhar foi do corpo amassado de Hitomi para a forma furiosa de Kotaro, que segurava o pescoço de um Yohji que estava ficando azul.

Sabendo que ela tinha que parar Kotaro antes que ele realmente machucasse alguém, Kyoko ofegou e começou a se levantar. Ao pressionar as mãos no chão, ela tropeçou atrás de Kotaro, pousando uma mão no ombro dele enquanto tentava acalmá-lo.

— Obrigada, Kotaro, mas estou bem agora, então você pode soltar o Yohji, tá? —Sua voz era suave, mas seu pânico aumentou quando os dedos de Kotaro apertaram a garganta de Yohji. Kotaro virou o rosto para Kyoko e ela deu um passo assustado para trás, vendo o tom vermelho em torno dos olhos azuis dele.

— Vi onde as mãos dele estavam, Kyoko, e acho que é hora de levar o lixo para fora. — Kotaro resmungou quando ele se voltou para Yohji e ouviu com um fascínio mórbido quando o menino fazia sons guturais e assumia uma tonalidade azul assustadora.

O temperamento de Kotaro estava satisfeito com a cor mais escura, dando-lhe o controle suficiente para perceber que Kyoko o estava olhando chocada. Precisando aliviar o medo dela, ele agarrou Yohji pela gola da camisa e se dirigiu para a porta para ensinar ao bastardo alguns bons modos. Ela não precisava ver o resto.

 

Kyoko piscou quando a porta se fechou atrás de Kotaro. Perplexa, ela ainda estava em um torpor devido ao choque. Nossa! Kotaro podia ser realmente assustador quando estava bravo. Ela até sentiu pena de Yohji naquele momento.

Olhando por cima do ombro, viu o irmão de Yohji, Hitomi, ainda deitado onde Kotaro o tinha deixado no chão. Pela primeira vez, ela não se importou que Kotaro fosse seu protetor. Ela estremeceu e tentou não pensar no que poderia ter acontecido se Kotaro não tivesse aparecido na hora.

Kyou observou ela roer o lábio inferior como se estivesse incerta sobre o que fazer. Quando o olhar dela viajou de volta à porta, ele pensou. Então, ela tem a proteção do licantropo. Ele se perguntou que outros mistérios cercavam a menina. Este não era um lobo normal, aquele que ela chamara de Kotaro, ele podia sentir que era tão velho quanto ele.

Kyoko aproximou-se das portas de vidro olhando para o estacionamento escuro, imaginando onde Kotaro tinha ido. Colocando a mão na maçaneta, ela começou a abrir a porta, mas um jovem entrou na frente dela, bloqueando seu caminho. Ela permaneceu imóvel por um momento quando o garoto fixou seus olhos nos dela. Foi o sentimento mais esquisito que já experimentara.

O menino tinha cabelos brancos sólidos e um tom de pele que era quase igual aos cabelos. Mas essa não era a pior parte. Seus olhos eram tão negros que pareciam continuar para sempre, dando a Kyoko a sensação de que ela estava mergulhando neles. O garoto sorriu suavemente, mal descobrindo suas presas desumanas e por um momento, Kyoko realmente acreditava que as viu.

Uma mão saiu do nada e agarrou o ombro de Kyoko fazendo com que um grito aterrorizado ficasse preso em sua garganta quando ela se virou para ver de quem era a mão.

*****

Kyou saiu da escuridão quando viu o servo de Hyakuhei do outro lado da vidraça. Ele sabia do menino enganador. O mais jovem que parecia tão inocente era muitas vezes o mais mortal.

Avançando atrás de Kyoko, seus olhos sangraram e suas presas se alongaram, deixando o fantasma do menino saber que ele não morderia essa garota sem perder sua própria vida imortal.

A mão de Kyoko se acalmou na porta sem ter certeza se queria abri-la. Algo sobre o jovem estava realmente lhe dando medo. Assim que ela começou a dar um passo para trás, uma mão pesada saiu do nada e agarrou seu ombro. Um grito aterrorizado subiu sua garganta enquanto se virava para ver quem era.

Kyoko esqueceu de respirar quando olhou para os olhos dourados. Os longos cabelos brancos moldavam o rosto e os ombros. Ele era poucos anos mais velho e seu cabelo estava perdendo a cor escura em meio às mechas prateadas, mas ele quase se parecia...

— Toya? — sussurrou Kyoko hesitantemente, sabendo que estava errada, mas o mais importante, por que o salão estava girando?

Assim que seus olhos se chocaram, Kyou sentiu-se atraído por eles. Ela estava olhando para ele como se ela o conhecesse. Mas isso não era tão perturbador quanto ela sussurrar o nome de seu irmão morto. Os braços dele a envolveram, vendo-a ficar tonta sob a influência do líquido contaminado que ela havia consumido anteriormente.

Quando suas mãos deslizaram por sua pele nua, onde sua blusa era muito curta para cobrir, ele sentiu uma agitação dentro de seu sangue de vampiro, sussurrando para que ele a protegesse.

A visão de Kyoko não estava boa o suficiente agora. Parecia desafiar sua vontade quando o homem começou a ficar desfocado enquanto ela olhava para ele com curiosidade. Mesmo não conseguindo ver bem, ela ainda podia sentir o corpo dele apoiando-a.

Elevando os dedos para tocar no rosto dele, ela falou:

— Você não é o Toya. Quem é você? — Antes que ela pudesse obter uma resposta, Buda ou qualquer outro deus que continuasse fazendo piada com ela apagou as luzes e ela mergulhou no inconsciente.

Kyou a apertou fortemente quando o corpo dela ficou imóvel em seus braços. Ela desmaiou, mas pelo menos não foi nos braços de um inimigo. Sua cabeça caiu para trás, expondo a suave curva alva de sua garganta e Kyou lutou contra seus instintos. Ele silenciosamente se perguntou se ela não estava mesmo nos braços do inimigo. Suas presas começaram a alongar-se e ele dominou a tentação. Este era um ser muito puro para aquela escuridão.

Ele então sentiu sua cólera se acender contra a garota ingênua. Se ele não estivesse aqui para protegê-la, o que teria acontecido com ela? Ele, convenientemente, esqueceu seus próprios impulsos apenas alguns momentos antes. Se o lobo tivesse sido um protetor adequado, ele não a teria deixado. Ele olhou em volta percebendo que os amigos com quem tinha estado antes também a abandonaram.

Expandindo seus sentidos, Kyou ainda podia sentir seu próprio inimigo, Hyakuhei, dentro do prédio. Sentindo o mal vindo de algum lugar acima, ele sabia que Hyakuhei estava no segundo andar.

*****

Shinbe saltou do carro ainda em movimento. Uma coisa o empurrou para frente e levou-o direto para a entrada principal da boate em disparada. Ele não conseguiu tirar da cabeça a ideia de Suki e Kyoko se tornando uma dessas garotas desaparecidas e isso estava aterrorizando-o.

Toya havia contado sobre o que Kotaro lhe havia dito e, quando ele pusesse as mãos em Suki, ele não a soltaria nunca mais. Onde no corpo dela ele iria pôr a mão ele não conseguia dizer, mas ele tinha que encontrá-la primeiro.

Shinbe parou de repente quando ele avançou pelas portas da frente da Midnight Club.

No meio do corredor havia um homem segurando Kyoko e ela não parecia bem. Ela estava imóvel e muito pálida. E mais, o homem também não parecia tão normal. Pele pálida era um eufemismo para ele, o que fez Shinbe parar nervosamente quando ele percebeu que o homem o fez se lembrar de seu melhor amigo.

O cabelo prateado e os olhos dourados... os cabelos de Toya eram escuros como a meia-noite, mas dentro deles havia as mesmas marcas de prata, iguais aos do homem à sua frente. Essas eram características muito incomuns e ele sabia que só Toya tinha esse tipo de combinação incomum.

Percebendo o homem se movendo para sair com Kyoko, Shinbe afastou a sensação de desconforto. Toya o mataria se ele não impedisse o sequestro de Kyoko.

— O que diabos você está fazendo com Kyoko? — Olhos de ametista brilhavam quando Shinbe gritou, sentindo que seus pés se moviam de novo sem pensar. Ela pode não ser sua namorada, mas ela era muito querida, mais do que ele admitiria e, além disto, ela era a melhor amiga de Suki. Não havia chance desse cara levar Kyoko em suas garras.

Kyou deslizou o braço sob os joelhos de Kyoko e ergueu-a sem esforço. Ele a embalou como um bebê, debruçando a cabeça dela sobre seu ombro, com cuidado para não a incomodar. No momento em que a cabeça dela tocou seu ombro, ela se aconchegou em seu abraço, suspirando suavemente.

Ele podia sentir a confiança e o contentamento sendo emitidos da aura dela enquanto se acomodava em seus braços. Esta mulher-filha o perturbava muito, e quanto mais ele a observava dormindo, mais ele queria escondê-la de todos. Ele sabia que conseguiria, se ele realmente quisesse, e a tentação era imensa. Ele nunca transformou ninguém no que ele era, mas se ele quisesse, ele conseguiria.

Seu instinto protetor para com a menina, bem como a necessidade possessiva de ficar com ela o surpreenderam e Kyou rosnou suavemente para suas ações. Como essa garota poderia afetá-lo assim? Tirando o olhar de seu rosto angélico, ele olhou para o jovem que gritava com ele. Parece que os homens que a queriam continuavam a entrar em seu caminho.