Baralho Lido - Uma Novela Da Justice Security

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Capítulo dois


O Manny começou a balbuciar.

O meu telemóvel começou a tocar.

Deixei o Manny com o Sam, e saí para o hall para atender o telefone.

“Rooney.”

“Olá, Mickey!”

Demorei uns segundos a registar aquela voz. “Joey Justice! Que raio quer desta vez?”

“Temos de falar, Mickey. Acabei de falar com o Capitão Baker. O vosso voo parte assim que vocês chegarem a O’Hare. É o avião privado da Justice Security e aqui vai o que precisam de fazer…” Ele explicou sobre o portão privado e toda a informação pertinente. “e, ouça…tragam o Manny! Ele faz parte disto!”

“É engraçado que mencione o Manny. Estamos na…”

O Joey interrompeu-me. “Não interessa onde vocês estão! Não numa linha aberta! E também não use o seu Carocha para ir para o aeroporto. Se um carro patrulha não vos puder levar, apanhem um táxi. Eu reembolso-vos. Mas partam agora!”

Eu estava a ferver. “Eu quero saber…”

O Justice tornou a interromper-me. Não era uma coisa que se fizesse. “Eu sei que quer, e sei que está furiosa, Mickey. Digamos que ouvi umas conversas e estamos todos em perigo. Quanto mais rápido chegarem aqui, melhor para todos nós.” Fez uma pausa. “Mickey, por favor. Podemos discutir quando chegar, OK? Mas, acredite quando lhe digo que é urgente! Partam agora!”

Finalmente percebi o medo do Joey. Era quase um pânico. “Estamos a caminho, Joey.” E desliguei.

Voltei ao escritório do Manny. “Sam! Temos que ir agora!” Apontei para o Manny. “Tu também vens! Agora!”

“Deixa-me vestir…” começou o Manny.

Interrompi-o. “Não. Agora.” Gesticulei para um dos polícias a guardar a porta. “Traga o seu carro patrulha. Vai levar-nos a O’Hare o mais depressa que puder. Passe luzes vermelhas, se tiver que ser!”

***


NA MANHÃ SEGUINTE, o Lido acordou com um murro forte no estômago.

“Acorda, garçon! Tu e eu, vamos apanhar mais jacarés!” O Pierre ainda estava bêbedo da celebração da noite anterior, e aparentemente nem tinha ido para a cama.

Isto fez o Lido gelar. Isto era quando o pai se tornava mais perigoso.

Lido vestiu-se à pressa e agarrou em duas maçãs da cozinha. Desceu a escada e entrou no barco o mais depressa que podia.

“Agarra no remo! Vamos depressa!” disse o Pierre.

O homem e o rapaz empurraram o barco de fundo plano para o pântano. Por fim, pararam. A água tinha menos de um metro de profundidade e havia pequenas ilhotas cobertas de musgo à volta deles.

O Pierre agarrou numa corda e desequilibrou-se quando se voltou para olhar para o Lido.

“Vem cá.”

Lido moveu-se até ficar à frente do pai.

O Pierre amarrou a corda com firmeza em volta da cintura do Lido. O nó era forte.

Balançando-se no assento, o Pierre disse, “Entra na água.”

Os olhos do Lido esbugalharam-se. “Mas, papa…!”

O Pierre deu uma bofetada ao rapaz. “Entra na água!”

Com o lábio a sangrar, o aterrorizado Lido saltou do barco. A água chegava-lhe aos ombros. As mãos agarraram no lado do barco com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.

O Pierre disse, “Agora, afasta-te um pouco. Eu puxo-te antes do jacaré te apanhar.”

O terror do rapaz quase que o congelou no lugar. Por fim largou a borda do barco e começou a afastar-se. Quando estava a cerca de vinte metros de distância, o pai chamou-o.

“Está bem aí, garçon…fica aí.”

Lido parou. Os olhos arregalados com o terror, olhavam para todo o lado. Ele não confiava no pai para o puxar a tempo e horas, mas sentia que não tinha escolha. Tinha medo de acabar como a mãe, cortado aos bocados e atirado a jacarés esfomeados.

Passados uns minutos, o Lido ainda não tinha visto nenhuns jacarés. Relaxou … um bocado.

O Lido deitou um olhar ao pai, sentado no barco e a balançar. Ele nem ouviu nem viu o jacaré de seis metros que tinha estado estendido num monte de ervas a deslizar para a água. O jacaré nadava descontraidamente em direção ao Lido.

***


NÓS OS QUATRO ENTRÁMOS amontoados no carro patrulha. Sentei-me à frente com o polícia. O Sam sentou-se atrás com o Manny.

O Manny continuava a reclamar.

“Olha, Mickey, eu sei que tivemos os nossos problemas, mas protesto veementemente em ser arrastado convosco sem roupa!”

“Tens aí um cobertor muito janota… Aposto em como as senhoras hão-de ficar impressionadas.”

“Ah, pois, diz piadas, Mickey! Não ias ter vontade de gracejar se fosses tu no cobertor!” Ele parou com um sorriso travesso espalhado no rosto. “Já alguma vez estiveste entre os cobertores, Michelle?” perguntou, usando o meu nome próprio.

“Mais uma gracinha, Manny, e atiro-te para fora do carro!”

“Pois, e também não foste tu que levaste o tiro!” Retorquiu o Manny, quando a janela de trás explodiu.

“ARRANCA!” gritei para o patrulha estupefacto. “AGORA!”

Para seu crédito, o patrulha– Eric Limbird – arrancou como um morcego a fugir do inferno, luzes e sirene em ação. Quando me certifiquei que ninguém se tinha magoado, já estávamos a meio caminho do aeroporto.

***


LIDO NÃO SOUBE QUE sexto sentido o fez olhar para trás. Não tinha ouvido nada que o fizesse voltar-se.

O miúdo de oito anos urinou involuntariamente.

Tentou gritar pelo pai, mas o Lido não conseguia emitir nenhum som. De cada vez que tentava gritar, a voz embargava-se-lhe na garganta. O pânico crescia agora exponencialmente. Quando o jacaré ficou a seis metros de distância, o Lido deu um suspiro profundo e finalmente conseguiu gritar, “PAPA! PAPA!”

O Pierre virou-se, viu a jacaré a aproximar-se do filho e começou a puxar a corda para o barco. Mão a mão, parecia que o homem só conseguia manter o miúdo a uns centímetros do jacaré.

Agora que o Lido tinha reencontrado a voz, não conseguia parar de gritar em horror.

Destemido, o réptil continuou com o seu nado constante em direção ao menino.

Finalmente, o Pierre deu um enorme puxão à corda e puxou o menino um bom metro mais. Deu mais um puxão e o Lido estava a arrastar-se para o lado do barco.

O Pierre pegou na caçadeira e acertou no jacaré entre os olhos.

Lido enchia os pulmões com a respiração aterrorizada.

O Pierre sorriu para o rapaz. “Estás a ver, garçon? Nada para te preocupares!”

Lido olhou para o pai com o ódio a crescer, e soube ali que, um dia, ia matar este homem.

***


ENQUANTO O PATRULHA Limbird conduzia o carro rapidamente através do tráfego, eu avisava a polícia do Aeroporto pelo rádio, explicando o que precisávamos deles. Informaram-me qual o portão que o jato privado iria usar e avisaram-me que o avião estava para aterrar nos próximos vinte minutos.

Isso dava-nos tempo suficiente para encontrar o portão.

O Sam sentava-se muito direito no banco de trás.

Manny continuava agachado no chão do carro. “Oh, meu Deus, quem é que está a tentar matar-me? Porque é que eles me querem matar? Que raio é que se está a passar?”

O Sam disse, “Manny, cala a boca. Tenho a sensação de que quem está a disparar quer-nos matar aos três.”

O Manny ficou em silencio por um momento. “Achas?” Ele olhou para o Sam, e pôs-se de joelhos para olhar para mim. “O que é que vocês sabem? Despejem, gente!”

Olhei para o Manny por cima do ombro. “Mais tarde, Manny. Mais tarde, OK?” Olhei para Limbird. “Está tudo bem, Limbird?”

Limbird sorriu. “Oh, sim. Isto foi, até agora, o mais divertido que tive durante um plantão!”

Abanei a cabeça sem acreditar. Aparentemente o jovem patrulheiro não tinha sido suficientemente alvejado durante a vida.

Olhei lá para fora. Estávamos a entrar no terminal principal. O Limbird desligou as luzes e a sirene e disse, “O que é que eu ponho no meu relatório, Tenente?”

“Ponha o que aconteceu, e direcione quaisquer perguntas para mim ou para o Detetive Tanner.”

“Sim, senhora.”

Dois polícias do Aeroporto dirigiram-se ao carro patrulha e um deles abriu-me a porta. O outro abriu a porta para o Manny e o Sam.

 

Saímos, agradeci a Limbird, e os polícias do Aeroporto escoltaram-nos para o portão do jato privado. Não houve segurança para atravessar, o que era uma boa coisa. O Manny teria dado um grande choque ao agente da TSA quando abrisse o cobertor para ser revistado.

Ambos os agentes do Aeroporto estavam a postos à porta que conduzia ao portão. Tinha-lhes dado ordens para não deixarem entrar ninguém na sala de espera, até nós partirmos.

Sam sentiu a minha preocupação. “O Joey sabe quem é que está por trás disto?”

O Manny ouviu e disse imediatamente, “Joey? Estão a falar do Joey Justice? Onde é que esse idiota nos meteu agora?”

Deitei ao Sam um olhar que dizia, “Tinhas que abrir essa boca?” O Sam parecia encabulado enquanto eu respondia o melhor que podia à pergunta do Manny. “Ainda não sabemos, Manny. Tudo o que sabemos é que ele nos chamou para a Justice Security. O Sam e eu tínhamos que te trazer. De início, só o Sam e eu íamos lá na sexta-feira, mas aparentemente tornou-se mais urgente depois da tua namorada ser assassinada. Foi quando nos disseram para te trazer.”

Olhámos, quando o jato privado em dois tons de castanho entrou pelo portão.

“Eu sabia. Eu sabia no primeiro minuto em que conheci o Justice que ele ia ser a minha morte.”

“Oh, cala-te e vamos embarcar.”

Levantámo-nos e caminhámos pela ponte suspensa para a entrada do jato. Uma mulher atrativa, mais ou menos da minha idade, estava à nossa espera.

“Olá. Sou a Capitã Gena Trotter, da Justice Security. Serei o vosso piloto hoje. Infelizmente, não tive tempo suficiente para arranjar um copiloto ou uma hospedeira, mas espero que me perdoem.”

Sorri e fiz as apresentações. Quando cheguei ao Manny, expliquei o que se tinha passado, menos a ejaculação, e perguntei se por acaso havia algumas roupas no avião.

“Não, desculpem, não há. Isto não é o tipo de coisa para a qual nos preparamos… pelo menos, não com muita regularidade.”

Subimos a bordo e sentámo-nos.

A Capitã Trotter apontou para o monitor montado na parede na parte da frente do avião. “Assim que estivermos no ar, ligo isto. O Joey já está à espera do outro lado. A linha é segura e ele vai poder explicar-vos o que se anda a passar.”

Agradeci-lhe com um aceno.

A piloto apontou para a parte de trás do avião. “As bebidas estão ali atrás, assim como fruta, queijo e outros snacks. Sirvam-se e eu vou pôr-nos a caminho.”

Assim que Trotter disse “bebidas”, o Manny já se dirigia para as traseiras do avião. Voltou com uma garrafa de Jack Daniels Tennessee Whiskey.

O Manny levantou a garrafa para mim e disse:, “É bom ver um velho amigo no bar.” Deu um longo golo diretamente da garrafa.

O Sam também se tinha servido. Voltou com um prato cheio de pastéis e uma variedade de fatias de queijo. Num dos lados do prato, tinha uma banana pequena e solitária.

Encontrei café previamente feito em copos de almirante. Como bebia o meu preto, não andei à procura de natas ou açúcar.

O avião começou a mover-se para a pista. A voz da Capitã Trotter ouviu-se no altifalante.

“Por favor, sentem-se e apertem os cintos. Agarrem bem nas vossas refeições – vamos subir depressa, e será uma viagem rápida para sul.”

Sentámo-nos, apertámos os cintos e observámos Chicago a desaparecer de vista.

***


QUANDO O LIDO BOUVIER fez doze anos, o pai percebeu que já não podia servir de isco para jacarés. O rapaz era tão alto como o pai, e demasiado pesado para o conseguir puxar pela corda.

Lido pediu ao pai para o ensinar a usar a caçadeira.

O Pierre olhou para o filho com olhos embriagados. “Para que queres tu usar a arma, rapaz?”

O Lido tinha conseguido desenvolver uma boa expressão de poker. Não mostrava qualquer emoção que o pai pudesse interpretar. “Eu posso ser uma grande ajuda, Papa.”

O Pierre estudou o filho o melhor que pode no seu estado embriagado. Por fim, assentiu. “Começamos amanhã, oui?”

O Lido assentiu. “Oui, Papa.”

***


ASSIM QUE O AVIÃO ESTABILIZOU, a Capitã Trotter anunciou mais uma vez, “OK, podem soltar os cintos. O Joey Justice vai aparecer no ecrã, ele consegue ver-vos e ouvir-vos, portanto sintam-se à vontade de dizer o que precisarem.”

O grande monitor deu sinal de vida, e lá estava o Joey Justice. Outro homem, de pequena estatura, estava sentado ao lado dele. O homem tinha feições de rato e parecia nervoso. O Joey sorriu-me.

“Olá, Mickey.”

“Olá, para si também.”

Os olhos de Joey moveram-se para o Sam. “Alô, Sam! Já avisei a cafetaria sobre a sua chegada. Já começaram a preparar a comida.”

A face do Sam tornou-se sonhadora. “Ahhhhh…obrigado, Joey!”

O Joey olhou para o Manny. “Manny…o homem que me salvou a vida. Estou feliz por termos chegado a si a tempo.”

Manny acenou com a garrafa de uísque ao Joey. “Asno.”

O Joey riu-se. “Agora que estamos no ar, deixem-me dizer-lhes o que se anda a passar.”

Os meu olhos dispararam faíscas. “Seria a primeira vez. Só tenho uma pergunta, Joey – é o Fernandez outra vez?”

O Joey deitou a cabeça para trás e tornou a endireitá-la. “Mais ou menos. O Fernandez contratou um assassino para nos fazer desaparecer, se não nós os quatro, pelo menos três de nós.”

Olhámos todos para o ecrã.

Joey disse, “É o Lido Bouvier.”

“O, merda,” murmurei eu.

***


PARA SURPRESA DO PAI, Lido provou ser bastante eficiente com a caçadeira. Ele nunca falhava, depois disso.

No seu décimo quinto aniversário, o Lido e o Pierre tornaram a sair no barco para caçar jacarés.

O pai do Lido tinha parado de abusar dele, quando o rapaz ficou tão alto como ele. Pierre tinha notado os músculos jovens, tinha visto o ódio de cada vez que lhe batia e tinha medo que o rapaz se virasse contra ele.

E o Pierre tinha razão.

Esta seria a última viagem para os dois, embora Pierre não o soubesse na altura.

O Pierre estava embriagado. Parecia que estar bêbedo tinha-se tornado o seu estado normal. Como resultado, tinha envelhecido terrivelmente.

Quando o barco se embrenhou no pântano, o Lido disse: “Papá.”

Pierre virou-se para o Lido, balançando-se enquanto se virava. “Oui, garçon.”

Lido entregou-lhe uma ponta da corda. “Ata isto à volta da cintura.”

Os olhos de Pierre esbugalharam-se “Não farei tal coisa!”

Lido levantou a caçadeira. Estava apontada à cabeça do Pierre. “Ou então eu dou-te um tiro. Não me importo o que é que escolhes.”

Pierre viu a verdade nos olhos do jovem. Colocou, lentamente, a corda à volta da cintura.

“Entra na água, Papa.”

Pierre, balançando, olhou do Lido para a água, e olhou em volta da área em que eles tinham parado. Vários jacarés descansavam em pequenas colinas e árvores caídas.

“Há aqui jacarés, garçon.”

“Oui. E tu vais ser o isco.” Lido sorriu sem humor. “Não te preocupes, Papa. Eu puxo a corda antes do jacaré te morder.”

Pierre desceu do barco, tentando não fazer nenhum som. Agarrou-se à borda do barco com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos.

“Agora, afasta-te do barco,” disse o Lido. “Eu digo-te quando estiveres a uma distância boa.”

E o Pierre moveu-se vagarosamente para longe do barco. O pavor quase que o paralisava. Ele não sabia qual mais temia – os jacarés, ou o filho.

Quando já se tinha afastado uns sete metros, um enorme espirro irrompeu ao lado de Pierre. Ele voltou-se para olhar para o filho, e viu o jovem a sorrir.

“Fui eu. Atirei uma pedra.”

Os jacarés viraram-se todos na direção do som, e viram o homem na água. Vários deles deslizaram preguiçosamente para a água e começaram a nadar em direção a ele.

O Pierre chamou, “Prepara essa corda, Lido!” Quando ele olhou para o filho, o Lido agarrava nos restos da corda e atirava-os para o pântano.

“Bem, olha para isto! Papa, deixei cair a corda! Ups!”

O Pierre não queria acreditar no que estava a ver. Ele começou a tentar correr com a água pela cintura, enquanto os jacarés fechavam o círculo. Lançou um último olhar ao filho.

O Lido tinha a arma apontada a Pierre. Disse, “Esta é pela Maman, vous connard!”

Lido puxou o gatilho, e a cabeça do Pierre explodiu…no momento exato que os jacarés se juntavam para saborear a refeição.

Lido remou calmamente de volta para a cabana.

Lido tinha ouvido o pai falar sobre as saídas do pântano. Também o tinha ouvido falar dos barcos a vapor no grande rio a sudeste do pântano. Ele balbuciava durante uma bebedeira, mas o Lido gravou cada palavra.

Lido refletiu sobre o pouco que o pai lhe tinha ensinado, além de disparar a caçadeira. Ele sabia lutar com a faca – ainda tinha nas costelas a cicatriz que o pai lhe tinha dado. Ele sabia fazer contas e a matemática básica. Sabia ler e escrever. Jogava todos os tipos de poker, sabia rolar dados com perícia. Ele também tinha aprendido que a vida só valia o dinheiro que ele poderia obter por ela.

O coração frio de Lido, e a vontade – quase jubilosa – de matar, iria ditar-lhe o resto da vida dele.

Isso, e uma necessidade descontrolada de jogar.

E quando Lido atingiu o grande rio, descobriu que tinha perdido o barco desse dia, mas que haveria outro dentro de dois dias.

No entanto, isso foi tudo o que ele perdeu. Olhou em volta e absorveu tudo o que viu. Ele era conversador com aqueles que encontrava, e deixou-lhes a informação de que gostava de jogar às cartas por dinheiro.

Deram ao Lido a morada de um sítio onde poderia jogar poker por dinheiro. Ele tinha algum dinheiro, restos escondidos pelo pai em boiões de pickles debaixo da cabana.

Lido ganhou montes de dinheiro.

Quando os outros jogadores reclamaram por o Lido ganhar todas as suas moedas, as facas foram sacadas.

O Lido deixou-os mortos e ensanguentados no chão. Também se serviu do resto do dinheiro que ele não tinha ganho. Não fazia sentido nenhum deixá-lo ali.

O Lido gradualmente plantou a informação de que estaria disposto a eliminar seres humanos problemáticos… por um preço, claro.

E o Lido ficou a ser conhecido em certos círculos como o “Lido Baralho”… e um dos melhores assassinos da redondeza.

Tornou-se um homem alegre, usando o seu passado Cajun para esconder a sua maneira fria e calculista de ganhar a vida.

Também ganhou fama como Jogador, e tornou-se viciado. Não só viciado em cartas e dados, mas em lutas de braço-de-ferro com bandidos. Quando o Lido jogava com eles, chamava-lhe “agarrar a maçaneta”. Por vezes ganhava, e ganhava em grande. A maior parte do tempo perdia tudo com eles.

Mas o Lido não conseguia parar. Por fim, o homem retirou uma pequena fortuna deste negócio. Parou com o jogo e tinha quase arrecadado o montante necessário para se reformar.

Só precisava de mais um trabalho. Só mais um, e seria o suficiente

Foi então que o Esteban Fernandez lhe telefonou.

***


“PRESUMO QUE JÁ OUVIRAM falar de Bouvier?” perguntou o Joey.

“O ‘Lido Baralho’,” respondi.

“O que é o ‘Lido Baralho’?” perguntou o Manny.

“Bouvier e conhecido por se mudar constantemente de sitio para sitio enquanto persegue as vitimas. Ele ‘embaralha’ os esconderijos, os métodos como mata, e embaralha os sítios onde executa as vítimas” respondi. “Já usou pistolas, navalhas e garrotes. As mortes podem ser horríveis ou limpas.”

“Então ele é muito bom no que faz?”

“Manny, ele ter-te-ia matado esta manhã se não te tivesses agachado na cadeira quando o fizeste,” disse-lhe. E para o Joey, disse, “Como é que descobriu isso?”

 

“Ainda bem que pergunta.” O Joey fez um gesto para o homem ao lado dele. “Gostava de vos apresentar o Snickers. Snickers está em…bom, computadores. E ele é a principal fonte de informação do submundo. Ele geralmente consegue descobrir qualquer coisa que vocês precisem de saber no mundo da atividade criminosa.”

Sorri. “Olá, Snickers.”

O Sam disse, “Prazer em conhecê-lo.”

O Manny, agarrado à garrafa de uísque, balbuciou, “Tudo bem?”

“Prazer em conhecer-vos, gente. Sabem, eu, sabem, já ouvi muitas histórias sobre você,” disse o Snickers.

Resfoleguei. “Não me espanta nada!”

O Sam soltou um gargalhada enquanto o Joey tentava parecer ofendido.

“Não tente negar nada, Joey Justice!” Disse eu. “Você fez-me explodir, lembra-se?”

“Eu não. Isso foi a porta que nos atirou contra a parede!”

“É a mesma porcaria! Atirou-nos por causa da explosão!”

O Joey riu-se. “Foi animado, não foi?”

Tentei não sorrir. “Cale-se. Snickers, diga-nos por favor como é que apanhou estas noticias?”

“Bem, eu estava, entende, na cidade para dizer adeus ao , entende, Dexter, e …”

“Espere, o quê? O que é que aconteceu ao Dexter?”

“Oh, ele teve que, entende, deixar a cabeça esfriar, agora que lhe faltava, entende, a Megan e tudo isso.”

“A Megan? Que raio é que aconteceu à Megan?” Esperava não parecer tão surpreendida como me sentia.

O Joey disse, “Longa história, Mickey. Eu conto tudo quando chegarem aqui.”

“Espero bem que sim!”

Após uns segundos, o Snickers continuou. “Portanto, fui parar ao, entende, McFeelme, e…”

“Mcquê?” Perguntei eu.

“McFeelme…oh. O nome verdadeiro do bar é, entende, McFeely’s, mas situa-se em, entende, Hooker Hollow, por isso ficou com a alcunha de, entende…”

“McFeelme,” terminei eu.

“Asnos.” Conseguiu dizer o Manny sem enrolar as palavras.

“Então, eu, entende, fui lá parar, e dei dois dedos de conversa a um tipo que não via, entende, há algum tempo. Ele perguntou-me se eu ainda, entende, estava interessado em cenas sobre, entende, o Fernandez. Eu disse claro, e ele disse-me, entende, que havia rumores, entende, que o Fernandez tinha contratado um assassino.” Snickers gesticulou com a mão. “Perguntei-lhe quem, entende, é que ele tinha contratado, e o tipo disse que era, entende, O Lido Baralho.”

O homem deu um golo da garrafa de água que tinha na mesa, e continuou. “Eu, entende, perguntei quem é que ele queria matar e o tipo riu-se, entende, e disse que eu devia estar a tentar, entende, roubar o trabalhinho. Eu disse ao tipo, entende, pôrra, não, não estava a tentar roubar nenhum trabalhinho e ele riu-se e, entende, disse-me que eram 4 alvos. Alguns estavam em, entende, Shytown, e o outro era, entende, o Joey. Voltei para contar ao Joey assim que pude.”

“O Joey Jushtish é um ashno.” O Manny estava à beira duma comatose alcoólica. Não o podia culpar. Se eu tivesse sido o alvo de tiros e me tivesse ejaculado para cima duma mulher morta, também me embebedava.

“Porque é que o Manny está tão bêbedo?” perguntou o Joey.

Por isso, expliquei ao Joey o que tinha acontecido ao Manny nessa manhã, a ejaculação acidental, e o tiro que estilhaçou a janela do carro patrulha.

“Ah, mal posso esperar para dizer ao Louie! O Manny nunca mais vai ter paz!”

ups, pensei eu, e sorri.

Olete lõpetanud tasuta lõigu lugemise. Kas soovite edasi lugeda?